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A era da informação e o mundo do trabalho

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1.3O capitalismo informacional

As tecnologias da informação tornaram-se as ferramentas indispensáveis na geração de riquezas, transformando, a partir de sua lógica, todos os domínios da vida social e econômica. Se no modo industrial de desenvolvimento a produtividade residia nas fontes de energia, no modo de desenvolvimento informacional a fonte de produtividade está na tecnologia de geração de conhecimentos e de processamento da informação e da comunicação.

Ou seja, ocorre algo inusitado na história das sociedades: a atuação do conhecimento sobre o próprio conhecimento preexistente constitui-se per se na fonte de produção primária que alimenta todo o sistema, num círculo de interação entre as fontes de conhecimentos tecnológicos e a aplicação da tecnologia assim obtida para incrementar o processamento da informação e a geração de mais conhecimentos.

A este processo de acumulação de conhecimentos para gerar mais conhecimentos CASTELLS denomina "informacionalismo", o qual tem por finalidade o desenvolvimento tecnológico para gerar níveis superiores de conhecimento e formas mais complexas de processamento da informação. À forma de desenvolvimento que tem por base o informacionalismo, CASTELLS denominou "Capitalismo Informacional"[36]. Nas palavras de RUIZ:

"Trata-se de um capitalismo muito mais duro em seus objetivos, porém, incomparavelmente mais flexível que qualquer um de seus predecessores em seus meios. ‘Informacional’, então, porque mais do que nunca está fixado na cultura e é propulsado por essa tecnologia".[37]

O Capitalismo Informacional pode ser entendido como o sistema cuja base da produção é a informação e as tecnologias de informática e de telecomunicações. Isto permite que os processos de produção sejam descentralizados e atuem de forma independente em relação aos Estados. Esta característica torna o capitalismo informacional o motor da globalização e vice-versa.

Neste contexto, o Capitalismo Informacional é essencialmente distinto do capitalismo industrial, em que cada Estado possuía sua própria política industrial, quase sempre atrelada a seus projetos políticos e militares. Tal sistema, por estar baseado nas tecnologias de informação e de comunicação, prescinde de uma base nacional.

Por conta disto, o poder desloca-se dos Estados para as grandes corporações globais, que só lograrão êxito em obtê-lo se a supremacia estatal estiver eliminada ou, pelo menos, relegada a um segundo plano. O Estado, outrora fiador do capitalismo, tornou-se um empecilho a ser afastado.

Isto porque, após o fim do mundo bipolarizado, os Estados tornaram-se obstáculos à globalização devido a seu papel na imposição de regras, tarifas e barreiras comerciais, bem como na elaboração e fiscalização do cumprimento de leis trabalhistas. Tudo isto explica os atuais discursos sobre "Estado mínimo" e as idéias sobre "desregulamentação" e leis trabalhistas "flexíveis". Também neste contexto insere-se o apoio a órgãos supranacionais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, num esforço para neutralizar o papel dos Estados, reduzindo-os a meros prestadores de serviços nas áreas de segurança, saneamento básico, saúde e educação. De fato, a impossibilidade dos Estados em prover de forma adequada estes serviços tornou-se sinônimo de incapacidade estatal ao invés de significar a conseqüência lógica do surgimento do Capitalismo Informacional.

A interação destes processos produziu, nas duas últimas décadas do século XX, uma redefinição histórica das relações de produção e poder, cujos reflexos negativos se fazem sentir, sobretudo, no mundo do trabalho. Esmagado pela tecnologia, que o desfigura e desvaloriza, o processo de venda da força humana de trabalho encontra-se, além disso, à mercê de Estados indiferentes, comprometidos com o Neoliberalismo. Disto decorre o recrudescimento inexorável do desemprego, flagelo de todas as sociedades neste início de milênio.


Referências Bibliográficas

01 SANTOS, Boaventura de Sousa. A crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência. 4ª ed. São Paulo: Edit. Cortez, 2002. P. 41.

2 CASTELLS, Manuel - A Era da Informação: economia, sociedade e cultura. Vol. I: A Sociedade em rede. Trad.: Klauss Brandini Gerhardt e Roneide Venâncio Majer. 2ª ed. São Paulo: Edit. Paz e Terra, 2000. P. 50.

3 Ibid. p. 71. CASTELLS define o espaço de fluxos como a "organização material das práticas sociais de tempo compartilhado que funcionam por meio de fluxos". Para ele, a lógica e o significado dos lugares físicos como áreas em que se dá a produção de conhecimentos e a geração de riquezas cedem lugar ao que ele denomina espaço de fluxos.

4 ARON, Raymond. Democracia e Totalitarismo. Lisboa: Edit. Presença, 1966.

5 MARCUSE, Herbert. Cultura e Sociedade. Trad. Wolfgang Leo Maar, Isabel Maria Loureiro e Robespierre de Oliveira. 2ª ed. São Paulo: Edit. Paz e Terra, 1997.

6 Pereira, Carlos Alberto Messeder. O que é contracultura. 8ª ed. São Paulo: Edit Brasiliense, 1992.

7 ANDRADE, Carlos Drummond de. A Rosa do povo. Trecho do poema "Nosso Tempo". 18ª ed. Rio de Janeiro: Edit. Record, 1997. P. 30.

8 CASTELLS, Manuel - A Era da Informação: economia, sociedade e cultura. Vol. III: Fim de Milênio. Trad.: Klauss Brandini Gerhardt e Roneide Venâncio Majer. 2ª ed. São Paulo: Edit. Paz e Terra, 2000. P. 26.

9 CASTELLS, Manuel. A Era da Informação: economia, sociedade e cultura. Vol. I: A Sociedade em Rede Trad.: Klauss Brandini Gerhardt e Roneide Venâncio Majer. 5ª ed. São Paulo: Edit. Paz e Terra, 2001. P. 38.

10 CASTELLS, Manuel. A Era da Informação: economia, sociedade e cultura. Vol. I: A Sociedade em Rede Trad.: Klauss Brandini Gerhardt e Roneide Venâncio Majer. 5ª ed. São Paulo: Edit. Paz e Terra, 2001. P. 91.

11 John Maynard Keynes (1883-1946), economista britânico. Fundador da moderna macroeconomia, que se constituiu a partir da obra A Teoria Geral do Emprego, Juros e Moeda (1936). Keynes rejeitou a idéia de que cortes nos salários sejam uma solução confiável para o desemprego. Se a disposição do setor privado em investir não fosse adequadamente incentivada, o governo deveria intervir realizando gastos em obras públicas ou outros auxílios diretos. Fonte: Nova Enciclopédia Ilustrada da Folha de São Paulo.

Disponível em: http://www1.uol.com.br/bibliot/enciclop. Aces so me 24/05/2005 as 18 hs:16 mins.

12 Higgott, Richard A. Non-state actors and authority in the global system. New York: Routldege, 2000.

13 HYMER, Stephen. Empresas multinacionais: a internacionalização do capital. 2ª. Ed. São Paulo: Edit. Paz e Terra, 1983.

14Ibid. p. 187.

15 FARIA, Carlos Aurélio Pimenta de. Uma Genealogia das Teorias e Modelos do Estado de Bem Estar Social. Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais nº 46, Rio de Janeiro: 1998 – 2º semestre. Disponível em http://www.anpocs.org.br/bib/bib46.htm. Acesso em 20/05/2005 às 08 as. 36 mins.

16 MYRDAL, Gunnar. O estado do futuro o planejamento econômico nos estados de bem-estar e suas implicações internacionais. Rio de janeiro: Edit. Jorge Zahar, 1962.

17 COCCO, Giuseppe. Trabalho e cidadania: produção e direitos na era da globalização. 2ª ed. São Paulo: Editora Cortez, 2001.

18 HOBSBAWM, Eric. A era dos extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Edit Cia das Letras, 1995. Pgs. 223 a 281.

19 CASTELLS, Manuel. A Era da Informação: economia, sociedade e cultura. Vol. I: A Sociedade em Rede. Trad.: Klauss Brandini Gerhardt e Roneide Venâncio Majer. 5ª ed. São Paulo: Edit. Paz e Terra, 2001.p. 36.

20Ibid. p. 46.

21 FRANCO, Gustavo. Ph.D. em Economia pela Universidade de Harvard. Foi Presidente do Banco Central do Brasil (1988). Disponível no site oficial da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio): http://www.econ.puc-rio.br/gfranco/Veja90.htm. Acesso em 13/05/2005 às 11 hs. 12 mins.

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22 PEREIRA, Luis Carlos BRESSER. Professor Titular do Departamento de Economia da Escola de Administração de Empresas da Universidade de São Paulo. Em 1987, foi Ministro de Estado dos Negócios da Fazenda. Em 1995, foi Ministro da Administração Federal e Reforma do Estado e também Ministro da Ciência e Tecnologia. Presidente do Conselho Científico do CLAD - Consejo Latinoamericano de Administración para el Desarrollo, Caracas desde 1998. Artigo "Reconstruindo um novo Estado na América Latina". Disponível em Erro! A referência de hyperlink não é válida. mins.

23 CASTELLS, Manuel. A Era da Informação: economia, sociedade e cultura. Vol. I: Sociedade em Rede. Trad.: Klauss Brandini Gerhardt e Roneide Venâncio Majer. 5ª ed. São Paulo: Edit. Paz e Terra, 2001. P. 69.

24 FRIEDMAN, Meyer. As dez maiores descobertas da medicina. Trad. José Rubens Siqueira. Revisão técnica: Dráuzio Varella. São Paulo: Editora Cia das Letras, 2001.

25 BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Trad. Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Edit. Jorge Zahar, 2001.

26 A geladeira, por exemplo, está presente em 92,9% dos domicílios do Sudeste e em 92,4% do Sul, em contraste com proporções bem mais baixas nos domicílios das regiões Nordeste e Norte (63,2% e 67,9%, respectivamente). Rádio ( 87,4%), televisão ( 87,0%) e geladeira ou freezer ( 83,2%) são os bens mais comuns nos domicílios brasileiros. De acordo com as informações deste mesmo Censo, o abastecimento de água por rede geral atendia a 77,8% dos domicílios; o esgotamento sanitário por rede geral ou fossa séptica permanecia sendo o serviço menos abrangente, representando 62,2% dos domicílios e a coleta de lixo cobria 79% das moradias. Dados IBGE - Censo 2000. Fonte: Site do Ministério do Planejamento.

Disponível em: http://www.planejamento.gov.br/NOTICIAS/conteudo/geral/resultado_censo_2000.htm. Acesso em 02/05/2005 às 10 hs. 43 mins.

27 SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências na transição para uma ciência pós-moderna. São Paulo. Revista do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. 2ª edição.V. 3. P. 49.

28Ibid. p. 51.

29 PLASTINO, Carlos Alberto. Os horizontes de Prometeu. Considerações para uma crítica da modernidade. Cadernos - Teoria Política Moderna, PUC-RJ, ano II, nº. 01, 1996. P. 07.

30 CASTELLS, Manuel. A Era da Informação: economia, sociedade e cultura. Vol. I: Sociedade em Rede. Trad.: Klauss Brandini Gerhardt e Roneide Venâncio Majer. 5ª ed. São Paulo: Edit. Paz e Terra, 2001. P. 24

31

Ibid. p. 25.

32Ibid. p. 71.

33

Ibid. p. 68.

34 ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito da internet e da sociedade da informação. 2ª ed. Rio de Janeiro: Edit. Forense, 2002.

35 Boop, Keli Lynn. Castells: O Caos e o Progresso. Fonte: Jornal Extra Classe - SINPRO RS. Disponível em:

http://www.softwarelivre.org/news/3751. Acesso em 19/04/2005 às 12 hs. 48 mins.

36 CASTELLS, Manuel. A Era da Informação: economia, sociedade e cultura. Vol. I: Sociedade em Rede. Trad.: Klauss Brandini Gerhardt e Roneide Venâncio Majer. 5ª ed. São Paulo: Edit. Paz e Terra, 2001. P.

37 Ruiz, Osvaldo López. Manuel Castells e a era da informação. Revista Eletrônica de Jornalismo Científico.

Disponível em:

http://www.comciencia.br/reportagens/internet/net16.htm. Acesso em 17/04/2005, às 15 hs 31 mins. Osvaldo López Ruiz é sociólogo, professor da Universidade Nacional de Cuyo, Argentina, e doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP.
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Sobre a autora
Amelia Cristina Oliveira Perche

Escrevente Judiciária do Tribunal de Justiça de São Paulo. Especialista em Direito e Processo do Trabalho pela Universidade Mackenzie

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

PERCHE, Amelia Cristina Oliveira. A era da informação e o mundo do trabalho. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 15, n. 2591, 5 ago. 2010. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/17108. Acesso em: 27 abr. 2024.

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