AS VIRTUDES ARISTOTÉLICAS COMO INFLUENCIADOR DA MORAL HUMANA

27/03/2014 às 11:26
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ARISTOTELES - Ética a Nicômaco. Texto Integral, São Paulo; Coleção Obra Prima de cada Autor, v. 53, Ed. Martin Claret, Trad. Pietro Nassetti, 2007.

Aristóteles, grande filósofo grego, nasceu em 384 a.C., na cidade de Estágira, e morreu em 322 a.C.. Durante sua vida, foi autor de várias obras e frases filosóficas. Aos 17 anos, Aristóteles foi viver em Atenas, onde conheceu Platão, tornando seu discípulo. Durante alguns anos trabalhou como preceptor do imperador Alexandre e fundou em Atenas a escola Liceu que era voltada para o estudo das ciências naturais. Aristóteles apreciava a inteligência humana, pois para ele era a única forma de alcançar a verdade.

Aristóteles escreveu sobre diversas áreas do conhecimento: política, lógica, moral, ética, teologia, pedagogia, metafísica, didática, poética, retórica, física, antropologia, psicologia e biologia. Publicou muitas obras de cunho didático, principalmente para o público geral. Valorizava a educação e a considerava uma das formas crescimento intelectual e humano. Entre suas obras, as principais foram: Ética e Nicômaco, Política, Órganon, Retórica das Paixões, A poética clássica, Metafísica, De anima (Da alma), Magna Moralia (Grande Moral), Ética a Eudemo, Física, Sobre o Céu, entre outras.

Durante a sua vida, escreveu diversas frases que se imortalizaram tanto no meio acadêmico como no dia a dia, como por exemplo: "O verdadeiro discípulo é aquele que consegue superar o mestre."; "A principal qualidade do estilo é a clareza."; "O homem que é prudente não diz tudo quanto pensa, mas pensa tudo quanto diz."; "O homem livre é senhor de sua vontade e somente escravo de sua própria consciência."; "Devemos tratar nossos amigos como queremos que eles nos tratem."; "O verdadeiro sábio procura a ausência de dor, e não o prazer."; "A educação tem raízes amargas, mas os frutos são doces".

 ÉTICA A NICÔMACO

A obra Ética a Nicômaco de autoria de Aristóteles é composta por 10 livros onde tratou do tema “Ética”, sendo este dedicado ao seu pai, Nicômaco. O livro “Ética a Nicômaco” principia tratando do assunto do bem, pois de acordo com Aristóteles todos os homens tem em vista a busca constante do bem, e este impera sobre todas as outras coisas. Tendo em vista o que foi dito, serão explicitados de forma lacônica os dez livros tratando da ética e como conseguir ser ético de modo apropriado.

LIVRO I - O QUE É O BEM PARA O HOMEM

No primeiro livro, Aristóteles descreve de modo extraordinário sobre a virtude humana. O autor dividiu a virtude em duas: virtudes éticas (morais) e as virtudes dianoéticas (intelectuais), sendo que esta se refere à inteligência que podem ser desenvolvidas através do estudo e aquela se refere ao hábito. Aristóteles cita que toda arte e toda a investigação tende a um bem qualquer, fazendo com que todas as outras coisas tendam também a ele, ou seja, tudo o que o ser humano faz é em busca de um bem, pois essa é a eterna busca do homem.

Aristóteles também cita que muitas são as ações do homem e todas têm a sua finalidade: “...Mas como muitas são as ações, artes e ciências, muitas também são suas finalidades. O fim da medicina é a saúde, o da construção naval é um navio, o da estratégia militar é a vitória, e o da economia é a riqueza...”. Isso significa dizer que o homem não faz nada que não tenha um propósito, uma finalidade, e isso é o diferenciam dos outros animais, pois o homem define o que é sensato, o que deve ser analisado com mais ou menos primazia e o que realmente deve ser lecionado, ou seja, o que deve ser passado adiante.

A respeito da felicidade, ainda no livro I, Aristóteles cita que: Ora, parece que a felicidade, acima de qualquer outra coisa, é considerada como um sumo bem. Ela é buscada sempre por si mesma e nunca no interesse de uma outra coisa; enquanto a honra, o prazer, a razão, e todas as demais virtudes, ainda que as escolhamos por si mesmas (visto que as escolheríamos mesmo que nada delas resultasse), fazemos isso no interesse da felicidade, pensando que por meio dela seremos felizes. Mas a felicidade ninguém a escolhe tendo em vista alguma outra virtude, nem, de uma forma geral, qualquer coisa além dela própria”. Aqui que a razão da vida é a busca pela felicidade, pois muitos a buscam incansavelmente por almejarem o reconhecimento de uma vida honesta. Aristóteles expressa que muitas são as formas de se buscarem a felicidade tendo em vista que o homem feliz é aquele que busca a felicidade durante a sua vida e que até mesmo nos momentos mais difíceis age com moral e nobreza. A felicidade, portanto, é indubitavelmente uma virtude.

LIVRO II – A VIRTUDE

No livro II da obra “Ética à Nicômaco” Aristóteles aborda a virtude de um modo bem peculiar, visto que a mesma só se realiza quando o homem passa a agir com justiça. Para o autor, a virtude não é considerada como um dom e pode ser adquirida por meio do estudo, da análise e para que o homem se torne virtuoso necessita de ser educado.

Como já relatado anteriormente, a virtude intelectual é adquirida com o tempo e a virtude moral é adquirida pelo hábito, visto que o homem tem uma capacidade infinita de posse e aperfeiçoamento das virtudes. Para confirmar o que foi dito, Aristóteles cita: “Não é, portanto, nem por natureza nem contrariamente à natureza que as virtudes se geram em nós; antes devemos dizer que a natureza nos dá a capacidade de recebê-las, e tal capacidade se aperfeiçoa com o hábito... Isso fica bem claro no caso dos sentidos, pois não foi por ver ou ouvir repetidamente que adquirimos a visão e a audição, mas, pelo contrário, nós as tínhamos antes de começar a usá-las, e não foi por usá-las que passamos a tê-las. No entanto, com as virtudes dá-se exatamente o oposto: adquirimo-las pelo exercício, tal como acontece com as artes.”

Resumindo, a virtude precisa ser exercitada diariamente. Também vale ressaltar que a virtude não julga, visto que ela é responsável a dar dignidade aos atos do homem, pois a mesma busca o meio termo, nunca o excesso ou a falta, ou seja, nesse caso a prudência, a temperança é o que prevalece.

LIVRO III - O ASPECTO INTRÍNSECO DA VIRTUDE MORAL: CONDIÇÕES PARA A RESPONSABILIDADE PELA AÇÃO.

No livro III Aristóteles examina o valor das ações voluntárias e involuntárias. A virtude relaciona-se com as paixões e ações voluntárias, pois de acordo com o autor, “...apenas as paixões e ações são louvadas ou censuradas, ao passo que as involuntárias recebem perdão e às vezes inspiram compaixão, parece necessária a quem estuda a natureza da virtude a distinção entre o voluntário e o involuntário.”

As ações involuntárias são aquelas que acontecem quando há coação ou por estupidez o que sempre acarreta sofrimento e arrependimento. Deste modo fica fácil concluir que o homem é o principal, senão único responsável por seus atos, ou seja, o homem é responsável por sua virtude e por seus vícios.

Sendo assim, Aristóteles define as virtudes como coragem e temperança, pois esta se refere como um meio termo em relação aos prazeres e aquela é um meio termo em analogia ao medo e temor.

LIVRO IV - VIRTUDES RELACIONADAS COM O DINHEIRO

Neste livro IV, são descritas certas virtudes éticas, definidas como liberalidade, que o homem deve possuir em relação ao dinheiro. Aqui o termo liberalidade é usado tendo em vista os bens materiais do homem, pois essa virtude, a da liberalidade, não existe na quantidade de bens do homem e sim na questão da generosidade desde que essa generosidade seja proporcional aos seus bens.

Esclarecendo, essa virtude não acompanha o homem mesquinho nem tampouco os que se utilizam dos seus bens de modo excessivo, ou seja, aquele que gasta ou dá tudo o que tem ou mais do que realmente tem. Sendo assim, tem-se a generosidade como meio termo em relação à riqueza e a magnificência. Já a ambição é o desejo por honra. A calma é o meio termo para a cólera.

Vale ressaltar que o homem que é considerado magnânimo é aquele que se avalia como um homem digno de grandes coisas. Em contrapartida, o homem considerado indigno é o que se considera temperante e não magnânimo. Destarte, o homem considerado magnânimo é aquele considerado bom e nobre.

LIVRO V – JUSTIÇA

A abordagem que Aristóteles se dirige neste livro é a justiça. Aqui, no que tange a justiça, o autor a define como virtude completa, por isso, a justiça é muitas vezes considerada a maior das virtudes, sendo, no entanto, o mais pleno das virtudes, pois a mesma é completa por poder exercê-la para si próprio bem como em relação ao próximo.

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Para Aristóteles, justiça é a disposição de caráter que torna as pessoas aptas a fazer o que é justo. Vale ressaltar que a justiça só existe para que a segue, ou seja, para os homens que tem suas relações administradas pela lei e também só ocorre entre os quais injustiças podem ocorrer.

LIVRO VI - A VIRTUDE INTELECTUAL

A virtude intelectual trata da inteligência do homem, sendo esta adquirida com estudo e são classificadas por Aristóteles em: ciência, arte, cautela, inteligência e astúcia e/ou sabedoria, sendo que a ciência revela os fatos, a arte visa a criação, a cautela é fundamentada no ponderação e na razão, a inteligência visa o conhecimento e a astúcia e/ou sabedoria voltadas para as ações ou reflexões.

Convêm mencionar que um homem com sabedoria prática possui uma virtude e não uma arte, ou seja, entende-se que as pessoas consideradas ignorantes são mais astutas que aquelas possuidoras de sabedoria teórica, pois elas atuam de modo natural, enquanto que as circunspectas atuam com plena consciência do que faz. O desempenho do homem só torna-se perfeita quando este desempenho une-se com a sabedoria prática e com a virtude moral, pois não é presumível ser dono de uma sabedoria prática sem ser bom.

 LIVRO VII - CONTINÊNCIA E INCONTINÊNCIA

Para Aristóteles, o vício deve ser evitado bem como a incontinência e a bruteza. A incontinência se refere ao homem que age de modo errôneo por seguir suas paixões, ou seja, a incontinência só ocorre quando o homem se deixa levar por suas emoções. A partir desse argumento surge uma pergunta: devemos ter compaixão ou não por homens que não controlam suas emoções? Do nosso ponto de vista não, pois a compaixão só deve ser voltada para aqueles em que a ignorância predomina e não em para quem tem plena consciência do que faz.

O Livro VII dessa obra assume como escopo, estabelecer as altercações entre o homem continente e incontinente. Como já dito, o homem incontinente realiza atos segundo suas paixões, porém o continente que conhece seus desejos perversos, mais mesmo assim se recusa a segui-los por seguir a razão e o bom senso.

Em suma, a continência é o que leva o homem a sustentar uma opinião de acordo com sua consciência, seu bom senso. Já a incontinência leva o homem a mudar de opinião de acordo com suas emoções.

 LIVRO VIII E IX - AMIZADE.

Os livros VIII e IX tratam da amizade e o amor. Esse devido ser um assunto agradável e que interessa a todos, são os livros mais conhecidos de Aristóteles e um dos que possui a leitura mais fácil. Para Aristóteles, a amizade é uma virtude essencial, imprescindível para a vida do ser humano e é através do amor e da amizade que o homem pode se proteger e buscar a felicidade. Para o autor, em geral, a amizade perfeita é aquela que é comungada entre homens semelhantes na virtude, pois sendo semelhante, o sentimento de desejar o bem é recíproco.

Para que se compreenda melhor o tema amizade, vale ressaltar que a maior parte do sistema moral de Aristóteles está situado no próprio homem, pois é próprio do ser humano costuma desejar o bem do próximo por amor ao amigo, e não como um meio para sua felicidade.

Sintetizando, as formas de amizade referidas por Aristóteles, estabelecem que a amizade é baseada no amor do homem por si próprio. O que se pôde notar nesse livro é que Aristóteles mostra que o egoísmo de um homem bom possui precisamente as mesmas características do altruísmo. Deste modo, as relações que são feitas de forma amigável com o seu semelhante, definem as características pelas quais as amizades derivam das relações do homem para consigo mesmo.

 LIVRO X – PRAZER E FELICIDADE

Este é o ultimo livro onde o assunto é a felicidade, bem supremo procurado por todos os homens, onde se ressalta o prazer. Assim depois sobre os vários tipos de virtudes e como obtê-lo, convêm relatar sobre o prazer e sua relação com a vida humana. O prazer descrito por Aristóteles é o bem que qualquer homem deseja, pois o mesmo é definido como o prazer que é conquistado em favor de um bem maior que só pode ser acrescentado pelo próprio bem.

Todos esses atributos fazem com que o filosofo seja o mais feliz dos homens. O ser humano tem que se realizar tendo como base aquilo em que acredita, pois viver bem é viver de conforme suas crenças e com a razão, para que a mesma possa dominar as paixões e criar bons hábitos.

AVALIAÇÃO CRÍTICA

“Ética à Nicômaco” é uma obra surpreendente, que nos prende a atenção e nos faz imaginar que talvez, com um pouco de esforço esse mundo pode ser mudado. Depois de concluída a leitura e interpretação da obra notou-se que Aristóteles sempre esteve à frente de tudo e de todos. De todos os livros presentes na obra, o que mais nos chamou a atenção foi o livro que trata da justiça.

Ao conceituar justiça Aristóteles a definiu como virtude completa e que por isso, a justiça é muitas vezes considerada a maior das virtudes e mais plena. De acordo com Aristóteles e com total concordância com o nosso pensamento, a justiça é o principal fundamento da ordem do mundo e todas as virtudes estão subordinadas à ela. Isto significa que a Justiça é o objeto principal de todas as instituições da sociedade.

Hoje a Justiça aristotélica está ativamente presente tanto no mundo acadêmico como na vida cotidiana de todo ser humano tendo como principal intuito fazer com que todos entendam e pratiquem a Justiça da forma mais correta possível, pois a justiça é a lei e que se a mesma for seguida a justiça estará sendo praticada.

Assim, pode-se concluir que a Justiça é o que nos torna aptos a realizar atos justos e sendo que cada um pensa por si só, cada um tem seu próprio conceito de Justiça, e como não poderia deixar de acontecer, muitas vezes estes conceitos entram em conflitos com os conceitos dos outros.

Ao leitor cabe a árdua tarefa de pelo menos tentar colocar o pensamento de Aristóteles em prática, enquadrando-a na nossa rotina diária, pois para que se consiga viver em uma sociedade justa, tem que haver uma dedicação intensa da sociedade e não somente esperar pelos governantes, que é o que acontece de um modo geral.

Aristóteles nos forneceu o remédio, agora só basta que haja a cura, e essa cura só acontecerá se seguirmos os conselhos aristotélicos tal qual uma receita médica.

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Aristóteles apreciava a inteligência humana, pois para ele era a única forma de alcançar a verdade.

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