CULTURAS DE MASSA E O BEM-ESTAR SOCIAL DO RURÍCOLA: A COMUNICAÇÃO COMO ELEMENTO DE (IN)EXCLUSÃO SOCIAL[1]
A Constituição Federal prevê o bem estar social de toda a sociedade como um dos seus objetivos fundamentais. E, por certo, a ideia de vida melhor em uma sociedade livre, justa e solidária, estende-se ao rurícola como um dos requisitos da função social da propriedade rural, também previstos na Carta Magna brasileira.
Propriedade rural, essa, que cumpre a sua função como fonte de trabalho, divisas, promoção social, distribuição de renda e, principalmente como garantidora da dignidade do rurícola - o homem da terra - e de sua família, a quem é preciso garantir trabalho adequado e sustento compatível com as necessidades básicas[2].
É bem verdade que, o homem do campo jamais conseguiria a satisfação da função social da sua terra se não se não se relacionasse com o “mundo ao seu redor”. E assim, ao se visualizar o rurícola como um ser social contemporâneo, que busca seu bem-estar a partir da função social da terra na qual ele trabalha, é inevitável ver a importância da comunicação nas suas relações em sociedade[3].
No entanto, em que pese à comunicação como elemento essencial da sociedade contemporânea, a frenética evolução dos meios tecnológicos e comunicacionais e a massificação consumerista midiática, fazem surgir verdadeiros “bolsões” de excluídos do acesso à comunicação, à informação e, até mesmo, dos seus direitos como cidadãos[4].
Dessa forma, apesar dos meios de comunicação terem a tarefa de informar, educar, preservar e, principalmente, instigar os cidadãos na busca de seus direitos, tal ofício não tem progredido igualitariamente na cidade e no campo. Ao contrário disso, por vezes, tem sido instrumento de alienação e exclusão social do rurícola.
Ocorre, na verdade, uma massificação do direito ao consumo como um dos elementos de inclusão social na ordem atual, levando as pessoas a condicionarem a sua “in(ex)clusão”, na sociedade ao seu “poder de compra”, o que faz da influência midiática e dessa padronização dos costumes consumeristas, uma verdadeira cultura de massa[5].
Isso, por que, na cultura de massa, os indivíduos vão perdendo a espontaneidade, a capacidade de ação, de usar as palavras para se comunicar entre si, e passam a se comportar sem discutir, passivamente, de tal forma que o conjunto resulta numa massa homogeneizada, que apenas reage (e não age) de forma padronizada a estímulos externos.
E, com isso, o rurícola, como ser social contemporâneo que é, em busca desse bem-estar prometido para toda a sociedade, livre, justa e solidária, também acaba se tornando vítima da massificação cultural capitalista, à mercê de aculturações e significativas padronizações, que, fatalmente contribuem para excluí-lo do processo de comunicação atual, pois ele, homem do campo, com sua força de trabalho voltada à lida da terra, de sol a sol, dificilmente conseguirá acompanhar as exigências, as complexidades, a velocidade e os custos do mundo consumerista atual. Afinal, os urbanos, já não damos conta!.
[1] Ana Paula Vasconcelos Sousa: Bacharel em Direito e Comunicação Social; Pós-graduada em Direitos Sociais e Políticas Públicas com foco em Direito e Processo do Trabalho pela Faculdade Darcy Ribeiro.
[2] BARROS, Wellington Pacheco. Curso de Direito Agrário. 5ª edição. Porto Alegre:2007.
[3] Idem.
[4] SIQUEIRA, Denise do Castro Oliveira. Persuasão, Poder e Dialética em Relações Públicas p. 119, in Desafios Contemporâneos de Comunicação. Organizadores Ricardo Ferreira Freitas e Luciane Lucas. Summus Editorial, São Paulo, 2002.
[5] BOSI, Eclea. Cultura de massa e cultura popular. Rio de Janeiro: Vozes, 2000. p. 102