Agiotas modernos

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Banco é como agiota, porém, só atende com hora marcada ou mediante senha.

~~Outra diferença é que o banco compra de você, o seu próprio dinheiro. Se tiver dificuldades com o pagamento dos juros, o banco financia o (seu) dinheiro que já lhe foi emprestado uma vez. Contudo, se ainda não der, o banco refinancia o seu dinheiro de novo. Neste caso, você já terá pago a metade das parcelas – com juros escorchantes – e ele, o banco, cobrará as mesmas parcelas pagas, com mais juros, e isto implica que você pagará juros sobre juros, sobre o seu próprio dinheiro. Ou seja, o banco financia e refinancia indefinidamente para você, o que por direito já lhe pertence – o seu dinheiro. A usura é pecado capital, mas os bancos já demoliram as tradições, as religiões ou qualquer sentido moral que um dia habitou a cultura humana.
 Experimente você antecipar uma parcela do seu 13º. Em poucos meses terá devolvido ao banco o dinheiro que era seu, e mais 4% ou 5% de juros ao mês. Coloque esse dinheiro na poupança, e só ganhará 0,5% ao mês. Então, o banco pega a grana poupada a 0,5% ao mês e aplica em fundos que você nem imagina, porque pequenos investidores não podem participar, e ganha – somando o seu, o meu e outros tantos pequenos dinheiros – mais de cinco por cento no mesmo mês em que ele te pagou aquela miséria. Se tiver emergência, o banco emprestará o seu dinheiro poupado, e lhe cobrará juros de 20/30% ao ano – se você tiver muita sorte. Os juros do cartão de crédito são a ponta do iceberg, ainda que sejam a mais deslavada expropriação.
 O dinheiro do trabalhador, chamado de FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), é guardado todo mês, ou deveria, por seu empregador. Aí, desesperado pelo sonho da casa própria, você vai lá e financia uma parte do imóvel. Feliz da vida, se receber a moradia em dia e em boas condições, você correrá ao banco para ver o valor das parcelas que ainda pagará. Aí ficará triste. Ficaria muito mais triste se soubesse que você está usando seu próprio dinheiro, depositado por você e pelo seu empregador, e sobre ele pagará juros, taxas e multas, por atraso. Você usa seu dinheiro, paga juros por isso, tem descontos operacionais e administrativos do banco, e depois paga multa. Acha que é tudo? Poderá descobrir, depois de muitos anos, que ainda tem resíduo. O que é resíduo? Não sei, contudo, certamente é outra grana preta que você vai desembolsar para quitar o imóvel já pago com seu dinheiro. Se verificar os juros – no caso de financiamento – terá a certeza de ter pago duas vezes seu imóvel, e sem contar o tal resíduo. Esse só vem no final da sua vida.
No mundo todo é assim, o sistema financeiro mundial funciona como um imenso monopólio do dinheiro, do capital gerado por bilhões de trabalhadores, produtores e empresários. Gere nosso dinheiro, todo santo dia, ainda que o sistema financeiro não produza nada – além de ilusão. Não existem capitalistas mais improdutivos, como os agiotas comuns; apenas especulam com a riqueza produzida pelos outros. Exemplo retumbante vem de empréstimo dos bancos suíços, bem antes da Segunda Guerra Mundial. Ocorre que, desde 1939, tais bancos aceitaram – pelo Princípio da Imparcialidade – que os nazistas depositassem toda a riqueza roubada dos judeus e de todos os que não serviram ao Reich. As contas ainda estão lá, muitas jamais serão acessadas pelos descendentes alemães e, então, o sistema financeiro suíço deverá se apoderar do que não pode ser reclamado – uma vez que, na origem, esse capital decorre de crime de guerra.
 O assunto é batido – é quase bíblico. Os fenícios seriam os precursores: povo que se estabeleceu onde é o Líbano. No Renascimento, no tempo do que se chamava de Acumulação Primitiva, os Estados intervinham na economia de outra forma. Praticamente limitados à cobrança de tributos e fixando monopólios, como no caso das corporações de ofício, além de isentar a Igreja do Alto Clero. O Estado reservava o mercado a uns poucos empreendedores. Para aumentar a segurança na transferência do dinheiro, inventaram as Cartas de Crédito. O sujeito punha ali seu nome e o valor que aquele papel representava. O papel era fundamental, e é disso que derivou o Princípio da Cartularidade: uma espécie de preto no branco.
No Brasil, o sistema financeiro é descontrolado. Ou é controlado do jeito que lhe interessa. Por isso, cada vez mais os banqueiros e suas agências de representação ganham espaço na política. Os gestores do sistema financeiro não apenas regulam o mercado, definindo as taxas de juros, como também ocupam cargos da maior relevância no Estado. Estão lá para decidir/definir que taxas devem ser impostas a trabalhadores, consumidores, produtores e ao Estado. Por exemplo, quanto o Estado brasileiro deve pagar pelo dinheiro recolhido do povo, em poupanças, e que foi emprestado ao Poder Público por esses mesmos bancos? Nada se parece com o que temos hoje em dia: o banco falido no Brasil deixa a conta para os correntistas.
  Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto III da Universidade Federal de Rondônia
Marcos Del Roio
Professor Titular de Ciências Políticas da UNESP – FFC
 

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Sobre os autores
Marcos Del Roio

Professor. Livre-Docente do Departamento de Ciências Políticas e Econômicas da UNESP/Marília.

Vinício Carrilho Martinez

Pós-Doutor em Ciência Política e em Direito. Coordenador do Curso de Licenciatura em Pedagogia, da UFSCar. Professor Associado II da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Departamento de Educação- Ded/CECH. Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade/PPGCTS/UFSCar Head of BRaS Research Group – Constitucional Studies and BRaS Academic Committee Member. Advogado (OAB/108390).

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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