Anão diplomático sim, e com orgulho

05/08/2014 às 16:17
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Ao contrário do Brasil, Israel não renunciou à lógica perversa que levou o mundo à II Guerra Mundial.

A moderada reação brasileira contra o desproporcional e ilegal ataque militar de Israel contra a população civil de Gaza, que já acarretou a morte e mutilação de centenas de crianças, levou Israel a chamar o Brasil de “anão diplomático”. A expressão parece ofensiva, mas não é.

Antes da II Guerra Mundial os países competiam entre si e seus diplomatas tinham a ambição de ver suas respectivas nações reconhecidas como “potências internacionais”. A capacidade de impor a vontade a outro país com o uso de força militar conferia valor e força às palavras dos diplomatas, que não raro faziam ameaças e as faziam cumprir (invasão do Norte da África pela Itália, da Manchúria pelo Japão e anexação da Áustria e Sudetos pela Alemanha). A paz armada foi rapidamente substituída pelo conflito armado mundial quando Inglaterra e França resistiram à anexação da Polônia por Hitler. Ao fim de 5 anos quase todos os países europeus haviam sido devastados.

Apesar da tensão entre URSS e EUA ao fim da II Guerra Mundial, a ONU foi criada com dois grandes propósitos: o reconhecimento dos direitos humanos para limitar a ação dos Estados dentro e fora de suas fronteiras e a proibição de guerras de conquista territorial que havia dado causa às duas guerras mundiais precedentes. Pouco depois da criação da ONU, o Estado de Israel foi criado numa reunião da ONU presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha. O Brasil havia mandado tropas para ajudar a libertar a Europa dos nazistas e não era considerado um “anão diplomático”.

Antes e durante a II Guerra Mundial, os “anões diplomáticos” mantiveram a neutralidade e foram poupados dos horrores do conflito. O Uruguai, por exemplo, poderia ter sido devastado pelas embarcações alemãs às quais negou porto e, mesmo assim, não teve sua capital bombardeada. A Suíça foi poupada dos tapetes de bombas que deixaram imensos rastros de destruição e de sangue nos seus vizinhos. Os “gigantes violentos” (Alemanha, Itália e Japão) tiveram seus territórios devastados. Os “gigantes vitoriosos” (EUA, França, China e URSS) também tiveram sua cota de destruição e sofrimento. De todos os envolvidos na II Guerra Mundial o que sofreu menos e mais lucrou com a II Guerra Mundial foi os EUA. E é justamente os EUA que há décadas apóia abertamente a belicosidade desmedida e criminosa de Israel contra os palestinos.

O grande legado da II Guerra Mundial foi a constituição de uma ordem internacional que privilegia a Diplomacia e o respeito às Leis Internacionais. Os Estados membros da ONU renunciaram à lógica que fomentou o conflito planetário, aceitaram voluntariamente usar a força apenas em casos excepcionais e nunca contra civis desarmados. Israel é uma trágica exceção. Ao contrário de alguns de seus vizinhos, Israel tem ambições territoriais e usa constantemente a força para satisfazê-las. Nos últimos dias, sem qualquer respeito pelos direitos humanos dos habitantes de Gaza, o regime de Tel Aviv trava uma guerra à moda antiga, como se fosse um verdadeiro “gigante violento”.

O Brasil está em paz e permanecerá em paz. A lógica que move Israel não é e não será a nossa. Nosso país ajudou a criar Israel, mas não ajudará Israel a destruir Gaza. Temos o direito de protestar contra as ilegalidades cometidas por Israel e não devemos renunciar a adoção de outras medidas pacíficas para obrigar aquele país a cessar fogo. A expulsão do embaixador de Israel do Brasil é uma destas medidas, a cessação de comércio com o “gigante violento” é outra. Como brasileiro devo dizer que não me senti ofendido ao ver meu país ser chamado de “anão diplomático”. Ofensa seria ser chamado de “gigante assassino de crianças” como Israel.

  

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Sobre o autor
Fábio de Oliveira Ribeiro

Advogado em Osasco (SP)

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Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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