~~No precursor horizonte chinês, Sun Tzu (544 – 470 a.C.), o Maquiavel da China, no clássico A Arte da Guerra, ensina que a substância é pura estratagema: “Se o seu adversário é de temperamento irascível, procure irritá-lo. Finja estar fraco e ele se tornará arrogante. Se ele estiver tranqüilo, não lhe dê sossego. Se suas forças estão unidas, separe-as. Ataque-o onde ele se mostrar despreparado, apareça quando não estiver sendo esperado” (p. 20). Já na narrativa grega, no texto Alexandre o Grande, Plutarco (46-119) nos revela um conquistador perdido após a morte de Heféstion – claro sintoma de perda de poder e de comando: “Como a água, que enche sempre as partes baixas, essa paixão insinua-se nas consciências desanimadas, enchendo-as de loucura e de terror; foi esse o efeito produzido em Alexandre” (p. 158-159). Também ensinaria “Como tirar proveito de seus inimigos”; uma auto-ajuda contra o poder. No contexto romano-latino, Thomás de Aquino (1225 -1274) descreveria o homem como ser dotado de razão e à procura de seus fins. Assim, todos têm interesse em seu objetivo – o que gera entropia, com todos apregoando legitimidade aos seus quereres e querências: “Portanto, precisa o homem de um dirigente para o fim” (Escritos Políticos, p. 126). O poeta Petrarca (1304-1374), no poema Triunfos, e de quem Maquiavel se serviu, indaga: seria o amor mais sublime do que o poder? Para responder: “Os dois cheios de medo e de suspeito” (p. 37). Para Maquiavel (1469-1527), criador da Ciência Política, o político deve se portar como leão e raposa: força e astúcia. Em O Príncipe: “Vertù contra furore / Prenderà l’arme, e fia ‘l combatter corto’ — o valor tomará armas contra o furor; que a luta se espraie bem depressa!” (p. 94). Conquiste depressa, com pouca dor.
O germânico Martinho Lutero (1483-1546), sistematizador religioso da posse/propriedade do capital, no livro Da Liberdade do Cristão, enuncia duas verdades sobre a liberdade: “Um cristão é um senhor livre sobre todas as coisas e não se submete a ninguém. Um cristão é um súdito e servidor de todas as coisas e se submete a todos” (p. 25). Queria nos dar uma lição de obediência ao Estado. Fato bem compreendido pelo francês Étienne de La La Boetie (1530-1563), no ácido Discurso sobre a Servidão Voluntária, ao enfatizar que há uma fraqueza humana: “temos frequentemente de nos curvar perante a força, somos obrigados a contemporizar, não podemos ser sempre os mais fortes” (p. 21). Para o inglês Thomas Hobbes (1588-1679), no livro Leviatã, o homem é perverso por natureza, “homo homini lúpus”, por isso criou o Estado; para proteger-se de si mesmo e das retaliações. Em pleno absolutismo, o Poder Político é a essência do “Leviatã homini lúpus”: um monstro político devorador de homens crédulos. Por sua vez, o suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), no Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade, adverte que a bondade nunca existiu. O Mal vem permeado pelo desejo de ter e possuir; primeiro o que de direito seria seu; depois, o desejo pela posse comum, por exemplo, dominar os campos de caça; e, por fim, querer o que é do outro. Esta é a fonte de toda injustiça.
A democracia é um artefato da perfectibilidade (sua fórmula tende à perfeição), assim como a autonomia (auto + nomos: dar normas a si) é a essência da condição humana. Como quer autonomia, o homem é mal e, sem isonomia (iso + nomos: igualdade, equiparação jurídica), é a sede do egoísmo. Como disse o Cristo (Lucas: 22): 36. "Mas agora, se vocês têm bolsa, levem-na, e também o saco de viagem; / e, se não têm espada, vendam a sua capa e comprem uma. / 38. Os discípulos disseram: ‘Vê, Senhor, aqui estão duas espadas’. / ‘É o suficiente!’, respondeu ele”. No realismo da luta pelo poder, os maus têm espadas e os bons, ingenuidade. Só há lobos e cordeiros.
Não!
Pós-Doutor em Ciência Política e em Direito. Coordenador do Curso de Licenciatura em Pedagogia, da UFSCar. Professor Associado II da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Departamento de Educação- Ded/CECH. Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade/PPGCTS/UFSCar Head of BRaS Research Group – Constitucional Studies and BRaS Academic Committee Member. Advogado (OAB/108390).
Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi
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