~~ A Islândia é um país nórdico insular, retesado no Oceano Atlântico Norte e ao sul do Círculo Polar Ártico; é acordado por atividades vulcânicas moderadas e tem população de cerca de 320 mil habitantes. O pequeno país, sem calor, recentemente, passou por imensa crise de seus bancos. Sua população viu suas dívidas contraídas em empréstimos consignados ou empréstimos imobiliários indexados à inflação disparar para a estratosfera – isso em 2008, quando a coroa islandesa perdeu metade de seu valor. Desde 2013, ironicamente, o governo centrista que substitui o de esquerda vem tomando medidas para conter as superdívidas do povo. E o milagre aconteceu: “a maior medida tomada no mundo inteiro a favor de sua população”, disse o primeiro-ministro. E qual foi o milagre? Uma grande taxação sobre os bancos e ativos dos estabelecimentos financeiros liquidados em 2008. Ou seja, passaram a conta para os bancos estrangeiros pagarem – especialmente as massas falidas ou “credores abutres”, como se diz na Argentina também arruinada pelo capital financeiro. No Brasil, o lucro dos Bancos e congêneres chegou a 300%: trezentos por cento é quanto os bancos ganharam com o dinheiro do povo brasileiro.
Na Islândia, setenta por cento da população será resgatada de uma dívida que alcançaria seus descendentes de terceira geração. O absurdo maior é que o calote é de uma mísera cifra: 0, 376 % dos ativos penhorados. Todavia, vai significar muito para as economias populares. O restante virá do próprio Estado. O que também vai elevar a dívida pública e, no pior cenário, fornecer combustível aos consumidores vorazes, anteriormente endividados, voltarem a se endividar, uma vez que seus empréstimos foram liquidados sem esforço pessoal. Ação e reação. Contudo, é um alento que os bancos tenham de engolir o descontrole social e econômico gerado em grande medida por eles mesmos, sempre de olho na rapina e na miséria humana. A Islândia ainda tem o acesso à banda larga na internet como um direito constitucional fundamental. Por aqui, temos quinze por cento de analfabetos totais: perto de trinta milhões de brasileiros. É certo que é um país bem pequeno; porém, não há analfabetos e nem crise na saúde ou na segurança. Aliás, os policiais do dia a dia utilizam apenas bastões e gás de pimenta, via de regra, para conter os ânimos de turistas embriagados ou drogados.
Aqui, O BOPE (Batalhão de Operações Especiais Policiais), no Rio de Janeiro, treina franco-atiradores. Para se ter uma ideia da letalidade, devido aos rigorosos treinamentos, um sniper (franco-atirador) da Finlândia, em 1939, conhecido como “morte branca” devido à roupa que usava para se camuflar, matou, em cem dias de combate, 542 soldados soviéticos com seu rifle e outros 150 com ama metralhadora SMG. Em 02/12/2013, pela primeira vez na história islandesa, foi morto um indivíduo em troca de tiros com a polícia. No Brasil, nos habituados à negação do mais elementar direito humano, que é a vida; pois, ou morremos pela ausência total de capital, como dejeto humano, ou nas mãos dele, sugando-nos seiva, saúde, suor e sangue. Deveria ser condenado por crime hediondo quem nos coloca nas garras dos credores abutres. No popular, estamos de tanga no bico do urubu. Do seriado dos EUA, Homer Simpson diz que adoraria vir ao Brasil, mas que teme ser morto. Ou o Brasil é surreal ou são eles.
É um alento que os bancos tenham de engolir o descontrole social e econômico gerado em grande medida por eles mesmos
Pós-Doutor em Ciência Política e em Direito. Coordenador do Curso de Licenciatura em Pedagogia, da UFSCar. Professor Associado II da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Departamento de Educação- Ded/CECH. Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade/PPGCTS/UFSCar Head of BRaS Research Group – Constitucional Studies and BRaS Academic Committee Member. Advogado (OAB/108390).
Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi
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