O nazismo brasileiro

08/10/2014 às 14:28
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O Brasil está bestial demais.

~~ Como o alemão, o nazismo brasileiro é educado formalmente, tem os melhores empregos e se julga no direito de pregar a “castração química” de pobres, negros, analfabetos ou de baixa qualificação e, acima de tudo, quer um "holocausto" entre os eleitores de Dilma Rousseff - candidata do PT à presidência. Quem prega isso são cem mil médicos ou estudantes de medicina. Contudo, seguem a cartilha do ex-presidente FHC: “temos de tirar essa gente do poder”; “o PT ganhou nos grotões da ignorância”. A primeira frase do sociólogo foi dita antes da eleição; a segunda, depois. A primeira aligeira o pensamento coronelista que não admite a perda do poder e o quer de volta, seja com golpe constitucional - impeachment e variáveis, como no Paraguai em 2012 - ou quartelada militar: o que estiver mais à mão. “Essa gente” mata a Constituição e não pede desculpas. Pela segunda via, parecem requerer o retorno do voto censitário – exclusividade de ricos –, uma vez que FHC não criou universidades federais para tirar o povo pobre da ignorância de sua própria miséria de vida. Professores federais ficaram dez anos sem um único centavo de aumento, até o fim do governo-FHC (PSDB). Vai me dizer que não há relação entre o juramento de hipócritas dos médicos nazistas e a fala de FHC? “É a guinada da direita, e vamos rumo à Presidência”, concorda o deputado eleito Jair Bolsonaro (PP/RJ).
No passado, os médicos também foram por demais nazistas – e como foram -, a começar de Josef Mengele, que amarrava juntas as pernas de mulheres judias grávidas, para saber quanto tempo viveriam sem conseguir parir o parto. Um livro que relata a limpeza étnica nazista é “Ciência Assassina: como cientistas alemães contribuíram para a eliminação de Judeus, Ciganos e outras minorias”, de Müller-Hill. A ciência pode ser muitas coisas: libertadora ou nazista. Filósofos e juristas igualmente prestaram juramento ao III Reich, como Heidegger e Carl Schmitt. Sociólogos, no Brasil de 1964, pensaram modelos societais sem a incômoda presença dos pobres: “política é caso de polícia”. Alguns alemães revelaram-se exímios administradores e contabilistas da morte nos campos de extermínio. Um deles foi caçado e julgado em Israel, pelos precursores do Mossad: grupo judeu que abatia nazistas pós-Segunda Guerra Mundial. Seu julgamento foi relatado pela filósofa judia-alemã Hannah Arendt, radicada nos EUA: “Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal”. Os cem mil médicos que assinam essa lista do Mal querem erradicar os nordestinos. Não há coincidência na história, a não ser como farsa - diria Karl Marx, pensador alemão do século XIX. Nossa farsa é total; capaz de eleger tiriricas e ervas daninhas. Porém, nem esses supostos médicos conseguiriam avançar um passo em seu desatino castrador – porque interromperiam “atividades lucrativas” –, nem o Nordeste será separado do país. Sinceramente, no começo, quando escrevia sobre essa tal brasilidade, sentia-me decepcionado; hoje, tenho profunda vergonha de ser brasileiro. Dá nojo pensar que no século XXI - seja em universidades públicas, seja com as bolsas PROUNI e FIES -, o dinheiro público (federal) seja gasto com a formação de nazistas. “Essa gente” precisa ser julgada por incitação ao ódio social e racismo, esses sim, crimes de “lesa pátria”: inquestionáveis e imprescritíveis. No exterior, dá vontade de dizer que sou português de Lisboa. O Brasil está bestial demais. [Se tiver estômago, leia mais em: http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2014-10-07/comunidade-medica-prega-holocausto-no-nordeste-em-campanha-contra-dilma-na-web.html].
 

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Sobre o autor
Vinício Carrilho Martinez

Pós-Doutor em Ciência Política e em Direito. Coordenador do Curso de Licenciatura em Pedagogia, da UFSCar. Professor Associado II da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Departamento de Educação- Ded/CECH. Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade/PPGCTS/UFSCar Head of BRaS Research Group – Constitucional Studies and BRaS Academic Committee Member. Advogado (OAB/108390).

Informações sobre o texto

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