Velozes e Furiosos 7: a saga de Dominic "Pernalonga" Toretto

03/04/2015 às 08:18
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O cinema norte-americano tal como deve ser visto e raramente alguém vê.

Os filmes e os desenhos animados eram diferentes. Entre os próprios filmes havia diferença. Entre as décadas de 1920 e 1950, por exemplo, os dramas e épicos históricos eram considerados obras de arte. Eles eram os filmes “classe A” e, portanto, cuidadosamente  realizados. Nestes filmes trabalhavam os melhores atores, diretores, cinegrafistas, maquiadores e roteiristas. As produções eram cuidadosas e custavam caro. Os filmes de ficção eram produções “classe B”, seus orçamentos raramente eram elevados e os efeitos especiais eram simplórios.

Em algum momento os dramas e épicos saíram de moda e os filmes de ficção passaram a ter a importância que tem nos dias de hoje. A computação gráfica apenas reafirmou esta tendência. Hoje os dramas e comédias românticas custam bem menos do que os filmes de ficção, alguns dos quais são realizados com orçamentos de centenas de milhões de dólares. Como não poderia deixar de ser, estes novos filmes “classe A” (herdeiros ricos dos paupérrimos filmes “classe B”) atraem os melhores atores, diretores, roteiristas, cinegrafistas, maquiadores, especialistas em efeitos especiais e programadores de computador.

Filmes policiais são realizados e apreciados desde a "Era de Ouro de Hollywood". Algumas vezes eram bem produzidos e contavam com bons atores e diretores, outras vezes não passavam de “filmes B”. Em geral custavam menos do que as grandes produções.

A série Velozes e Furiosos parece ser herdeira dos antigos filmes policiais, que sempre tiveram perseguições de carro. A gangue ou família de Dominic Toretto, entretanto, faz mais do que disputar corridas com policiais e outros bandidos. A cada filme da série, Velozes e Furiosos fica menos parecido com os filmes policiais.

Em Velozes e Furiosos 7, por exemplo, uma explosão joga o policial Luke Hobbs e sua parceira para fora de um prédio e ambos caem abraçados de uma altura de vários andares sobre o capô de um carro. Eles sobrevivem e Hobbs tem algumas fraturas. Toretto rola centenas de metros num abismo e sofre alguns arranhões, a passageira apenas desmaia e perde um sapato. No Oriente Médio, Torreto e Brian O'Conner voam com um carrão esportivo entre dois prédios a dezenas de andares do chão e repetem o feito em seguida saltando para um terceiro prédio. O vilão Ian Shaw sempre aparece do nada armado até os dentes e desaparece ileso apesar dos tiros e pancadarias. Pouco antes do final ele é soterrado por um prédio e sobrevive. Internado, Hobbs  vê pela televisão que Torretto está em apuros. O policial doente se levanta, quebra o gesso flexionando o braço quebrado e vai ajudar o amigo dele. Os caros dos amigos de Dominc Torretto são um a um destruídos por mísseis e eles sobrevivem.

Ninguém precisa ser um especialista para concluir que a Física e a Biologia são duas ciências totalmente desprezadas nas cenas de ação de Velozes e Furiosos 7. A lógica deste filme estrelado por Vin Diesel lembra menos os filmes policiais do que os desenhos animados. Afinal, os personagens destes também recebem pauladas, caem de penhascos, batem carros, são atropelados, recebem tiros, são soterrados, prensados, explodidos, congelados, fervidos e queimados, mas nunca morrem. Eles rapidamente recuperam sua forma e seguem em frente. Entre um desenho animado e a realidade não há semelhança. Quando há alguma realidade num desenho a mesma só tem uma finalidade: tornar a narrativa infantil ainda mais inverossímil.

A infantilização da dramaturgia cinematográfica norte-americana é um fato. O cinema certamente evoluiu como negócio e se tornou mais rentável do que jamais foi. Como forma de arte, porém, o cinema “made in USA” tem involuído. Os filmes da série Velozes e Furiosos provam este fato. O personagem Dominc Torreto pode ser musculoso, ágil, corajoso, leal, brutal e amável, mas no fundo não passa de um novo Pernalonga.

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Sobre o autor
Fábio de Oliveira Ribeiro

Advogado em Osasco (SP)

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