José Cláudio Rocha[i]
As tristes cenas que estamos assistindo nos últimos dias em Salvador com as chuvas que inundam a cidade, não são fruto de um desequilíbrio ecológico ou ambiental, mas de um desequilíbrio causado pelo ser humano. Todo esse caos é gerado por um processo contínuo de impermeabilização do solo que atinge a todas as grandes cidades do Brasil, inclusive, Salvador, fruto de um modelo de desenvolvimento que não tem nada de sustentável.
A impermeabilização significa a perda da capacidade de absorção da água pelo solo. Este processo acontece principalmente nas grandes cidades em razão do asfaltamento, calçamento de ruas e calçadas, da construção de edificações e da cimentação dos quintais e jardins das casas. Forma-se assim uma espécie de capa sobre o solo, impedindo que a água seja absorvida pela terra.
Assim, nas áreas urbanas, como a água da chuva não é adequadamente absorvida pelo solo e a rede de drenagem pluvial se mostra insuficiente ou está obstruída (quase sempre pelo lixo acumulado outro problema ambiental) ocorre que em dias de chuvas intensas e prolongadas, às águas correm pelos solos impermeabilizados e a enxurrada vai descendo desde as partes altas até as partes mais baixas, gerando as inundações que assistimos perplexos nos últimos dias.
Sobra, portanto, asfalto, cimento e concreto onde falta educação ambiental, consciência ecológica e respeito ao meio ambiente. Não existem mais áreas verdes e solos descobertos por onde às águas pluviais (águas da chuva) possam escoar e o resultado são ruas inundadas, prejuízos materiais, doenças e às vezes até mortes que atingem, justamente, a população em maior situação de vulnerabilidade frente a este problema ambiental e social.
O problema não está só em Salvador, capital do estado, cidades da Região Metropolitana como Camaçari também passam pelo mesmo processo, ou seja, altos índices de impermeabilização do solo urbano que podem trazer consequências imprevisíveis. Todos esses problemas poderiam ser evitados se as autoridades públicas e construtoras dessem mais atenção aos órgãos ambientais e aos relatórios de impacto ambiental. Infelizmente, o poder econômico e o lucro de poucos, sempre prevalece sobre o interesse geral da preservação ambiental.
O problema central está no modelo de desenvolvimento das cidades, em trocar o verde das arvores pelo cinza do concreto, em como diz uma aluna em seu comentário na rede social: “ninguém mais querer colocar o pé na lama...”.
Esse modelo é ensinado nas universidades e depois reproduzido seja no setor público, seja no setor privado. É também aceito pela sociedade sem maiores questionamentos.
Tomara que os fatos que aconteceram nesses últimos dias despertem os gestores públicos para o problema, que estes invistam na educação da população, em especial na educação ambiental. Que o modelo de desenvolvimento seja repensado, que se criem formas de convivência onde as áreas verdes e os rios urbanos sejam preservados e admirados. Que Salvador tenha uma cosmovisão mais sintonizada com a proteção e preservação ambiental, onde problemas dessa natureza sejam evitados.
Mbote !
[i] José Cláudio Rocha é advogado, economista e professor titular da UNEB.