Aplicação do programa Safestart para trabalhadores de instalções de exploração de petroleo e gás offshore

Exibindo página 2 de 2
16/04/2015 às 20:12
Leia nesta página:

3. O QUE É O PROGRAMA SAFESTART®

Safestart é um programa de formação de segurança muito aplicado em todo o mundo que foi desenvolvido empiricamente, porém com grande parcela de metodologia científica. Foi extraído do "mundo real" por meio da investigação de lesões verdadeiras sofridas por mais de 20.000 pessoas ao longo de duas décadas. Na década de 1990, seu principal desenvolvedor Larry Wilson era apenas um consultor de segurança e de comportamento de jovens, no Canadá, quando iniciou um trabalho de pesquisa sobre as formas de diminuição de acidentes e redução de lesões em jovens. Seu objetivo inicial era eliminar os riscos deliberados e identificar os erros mais frequentes que levavam os jovens a sofrer lesões. Foi porém através da análise do comportamento de trabalhadores regulares que Larry concluiu que existem estados comportamentais, mais tarde classificados por ele como: pressa, frustração, cansaço e complacência, os quais contribuem decisivamente para a ocorrências de determinados erros humanos, superando em muito a falta de conhecimento. Ao explorar o papel dos tais estados comportamentais em relação aos erros, concluiu também que os tais quatro estados que por sua vez resultam nos quatro erros comuns, eram responsáveis por mais de 90% das dos acidentes e lesões.

Diante desta conclusão e da evidente correlação entre comportamentos e consequências, ele usou sua vasta experiência como consultor de segurança para desenvolver técnicas de conscientização e identificação dos erros críticos para conseguir uma redução de sua ocorrência. Tais técnicas simples se mostraram muito eficientes e tornaram-se o âmago do programa Safestart. Com notável habilidade ele desenvolveu um curso e ajudou a escrever livros e roteiros de vídeo simples, bem-humorados e cativantes divulgando o programa e fazendo dele um sucesso mundial cujos resultados ajudaram a reduzir entre 30% e 70% as taxas de acidentes e danos ao equipamento nas empresas que o adotaram.

Além do ambiente de trabalho o programa também foi adaptado para situações no lar. Pessoas interessadas na prevenção de acidentes em família levaram o programa Safestart para situações domésticas e cotidianas e assim como no mundo corporativo ele tornou-se um sucesso e foi disponibilizado em cursos on-line, disponíveis gratuitamente para as famílias. Atualmente, este revolucionário método de diagnóstico e prevenção de acidentes e lesões é utilizado não apenas para treinamento da segurança no trabalho, mas também para educação comunitária, em todo o mundo, sendo disponibilizado em 32 línguas e adotado em mais de 60 países, atingindo um público total de cerca de 3 milhões de pessoas.

O programa fundamentalmente tem como objetivo criar uma ferramenta avançada de conscientização sobre segurança e demonstrar que os estados comportamentais caracterizados pela pressa, frustração, cansaço e complacência são responsáveis pelo cometimento de erros que fazem com que riscos menores se tornem maiores. Ele ajuda as pessoas a evitar os erros e incidentes que em um primeiro momento não queriam cometer. Não trata de políticas, procedimentos ou riscos específicos, mas sim sobre como manter esses riscos em mente e sempre à vista.

Ter conhecimento de um perigo não será de grande ajuda se a pessoa não estiver pensando nele ou não possa vê-lo. Por meio de treinamento, o programa mostra às pessoas quando estão mais propensas a cometer um erro que pode lesioná-las e o que fazer para que não cometam este erro. O foco não é a energia perigosa mas sim o estado da mente no qual a pessoa se encontra.

Em síntese, ele mostra às pessoas que os quatro estados citados: pressa, frustração, cansaço e complacência, podem causar ou contribuir decisivamente para o cometimento de quatro erros críticos que são: olhos longe da tarefa, mente longe da tarefa, linha de fogo e equilíbrio/ tração/ firmeza (Ver figura 10).

Figura 10 - Diagrama Safestart

Fonte: 2011 Safestart Workshops

Ensinar as pessoas a reconhecer que estes padrões comportamentais conduzem ao erro e sem dúvida alguma aumentam o risco de acidentes, é um dos componentes essenciais dos treinamentos.

Em última análise, o programa possibilita a aplicação de técnicas de redução de erros críticos e capacita as pessoas a:

  • Conscientizar-se do estado (ou da quantidade de energia perigosa) para não cometer um erro crítico;

  • Analisar os quase acidentes e os pequenos erros (para não cometer os grandes) e

  • Melhorar seus hábitos

O programa é apresentado normalmente em um workshop com dois dias de duração no qual as palestras interagem com público e apresentam a teoria e as técnicas que compõe seu conteúdo. No primeiro dia, basicamente são apresentados em detalhes os conceitos, técnicas de aprendizagem projetadas e utilizadas no programa para ajudar a melhorar a consciência sobre a segurança das pessoas dentro e fora de seu local trabalho. Não se trata de normas de segurança, procedimentos, ou de engenharia de segurança – trata-se de fomentar a melhoria dos conhecimentos de segurança pessoal, para que as pessoas possam evitar incidentes antes que eles ocorram. Tanto no autodescobrimento como nos exercícios em grupo, as pessoas aprenderão sobre os riscos, os quatro erros críticos que levam à maioria das lesões; os quatro estados que podem causar ou contribuir para os quatro erros críticos, além das técnicas propriamente ditas para redução de erros críticos necessários para combater esses estados e erros.

No segundo dia é feito um treinamento para multiplicadores. São definidos líderes que coordenarão pequenos grupos, aproveitando sua própria experiência e transmitindo-a diretamente ao respectivo grupo. Neste dia serão realizados exercícios práticos nos quais serão desenvolvidos o espírito de equipe e liderança. A capacitação porém irá se concentrar no ensino “em campo” das técnicas e ferramentas do programa. De qualquer forma, os participantes terão uma oportunidade única de passar o segundo dia num pequeno grupo com os líderes do workshop, além de um tempo de discussão individual sobre o treinamento, a segurança, as dificuldades e fatores críticos de sucesso.

3.1. O PORQUÊ NO AMBIENTE OFFSHORE

O Safestart é um programa adaptável a qualquer ambiente de trabalho e desta forma já foi testado e aprovado em diversas atividades profissionais, contudo, o ambiente das atividades offshore nos parece perfeitamente adequado a implantação deste modelo prevencionista.

A Atividade offshore, além de privar o trabalhador do convívio familiar e social durante longo período (escalas de 15 dias), confina-o em um ambiente restrito, levando o profissional a um dos estados propícios a um evento crítico (frustração).

O cumprimento de tarefas que implicam em prazos, fundamentais a atividade de exploração e armazenamento de petróleo e gás é, sem dúvida, outro fator relevante (pressa).

As extenuantes rotinas de quem permanece embarcado por longo período é também peculiar a este tipo de atividade, afinal, que outra profissão exige escalas de trabalho tão incomuns com 15 dias de trabalho ininterruptos para o gozo do descanso? (cansaço)

E, por fim, a ação repetida de tarefas comumente desempenhadas pelos trabalhadores, refletem estado de confiança exagerada e perda da concentração (complacência), o que contribui em muito para os acidentes.

Se considerarmos contudo o porquê da adequação do método ter perfeita aplicabilidade nesta atividade, não basta reconhecermos os pontos em comum que orientam o método Safestart mas especialmente, a cultura de segurança já arraigada nestes profissionais que reconhecem a peculiaridade de seu trabalho e a necessidade real de prevenção para controlar o ambiente e a atividade normalmente tão insalubre.

A prova desta preocupação tem início no treinamento obrigatório, desde a admissão, de todos que embarcam nestas instalações alertando-os para os aspetos de que a segurança é, sem dúvida, a primeira das preocupações, criando desta forma, uma receptividade maior aos temas que ajudem ou amplifiquem as condições de sua própria segurança.


CONCLUSÃO

O Conjunto de informações consideradas para analisar a viabilidade da aplicação do programa Safestart, concorrem para um cenário muito consistente de que o programa seria muito bem sucedido, entre outras razões pelo fato de encontrar um ambiente ideal para implantação de medidas inovadores em prol da segurança.

A complexa malha de normas, procedimentos e rotinas ligadas a prevenção de acidentes e lesões ao qual o “mundo offshore” é submetido é sem dúvida um cenário de inovação e audácia para implantação de novidades em termos de motivação e conscientização das pessoas.

A projeção para a implantação de programas que incentivem o surgimento de alertas, desencadeadores dos estados de pressa, frustração, cansaço e complacência, produto da convivência do grupo de empregados que trabalham em condições particulares em instalações offshore e muito expostos a situações que podem provocar erros críticos.

O programa Safestart baseia-se em aspectos bastante explícitos e facilmente perceptíveis por remontar a estados e fatores que em algum instante o trabalhador vai reconhecer em si experiências de “quase acidentes”.

Com sustentação no reconhecimento que os fatores desencadeadores convergem para os seguintes pontos: olhos longe da tarefa, mente longe da tarefa, linha de fogo e perda do equilíbrio/tração/firmeza, fica muito mais fácil o desenvolvimento de técnicas para reconhecimento de erros críticos (TRECs).

Sua aplicação pode evitar que ações cotidianas e rotinas estressantes que favoreçam a ocorrência de erros e danos. A ideia deste artigo foi de demonstrar a viabilidade da aplicação do programa em cinco posições de trabalho consideradas mais críticas dentro de uma plataforma de petróleo ou navio de perfuração (instalações Offshore), para depois avaliar os resultados e apontar riscos que serão reconhecidos pelos próprios trabalhadores e também por seus supervisores imediatos, servindo como ferramenta de prevenção primária de potenciais erros.


REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 14724: informação e documentação: trabalhos acadêmicos: apresentação. São Paulo, 2010. 6p.

FRANÇA, Júnia Lessa et al. Manual para normalização de publicações técnico-cientificas. 6. ed. rev. e ampl. Belo Horizonte: UFMG, 2003. 230 p.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia cientifica. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 1991. 270 p.

PESSANHA, R. M. O Trabalho Offshore Inovação Tecnológica, Organização do Trabalho e Qualificação do Operador de Produção na Bacia de Campos, RJ. Dissertação de Mestrado. UERJ: Rio de Janeiro. 1994.

Fique sempre informado com o Jus! Receba gratuitamente as atualizações jurídicas em sua caixa de entrada. Inscreva-se agora e não perca as novidades diárias essenciais!
Os boletins são gratuitos. Não enviamos spam. Privacidade Publique seus artigos

MORAIS, José Mauro de. Petróleo em águas profundas: uma história tecnológica da Petrobras na exploração e produção offshore. Ipea: Petrobras, Brasília. 2013.

SAFESTART, Guia do Lider, versão 2.5, 2010 , Treinamento Avançado de Conscientização de Segurança.

Internet

<https://www.training.dupont.com.br/pdf/SafeStart/workshop-brochure-2011.pdf>

<https://segprevi.blogspot.com.br/2011/04/cursos-em-plataformas.html>

<https://www.sindipetro.org.br/w3/>

<https://fotospublicas.com/imagens-60-anos-petrobras>

<https://agenciabrasil.ebc.com.br/pesquisa-e-inovacao/noticia/2015-02/petrobras-recebe-premio-otc-o-mais-importante-da-industria-do>

<https://www.osetoreletrico.com.br/web/component/content/article/58-artigos-e-materias-relacionadas/324-instalacoes-offshore-pioneirismo-brasileiro.html>


Notas

2 Pessanha, R. M. O Trabalho offshore. Inovação tecnológica, organização do trabalho e qualificação do operador de produção na bacia de Campos, RJ. Dissertação de Mestrado. UERJ: Rio de Janeiro.1994. p. 36.

3 Sindicato dos Petroleiros do Estado do Rio de Janeiro. Secretaria de Meio Ambiente, Segurança e Novas Tecnologias. Disponível em <https://www.sindipetro.org.br/w3/>. Acesso em 07Abr2015.

4 A Norma BS 8800 é origem inglesa (British Standards) e é direcionada para os Sistemas de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho, sendo considerada o que há de mais atual em todo o mundo para a implantação de um sistema eficaz de gerenciamento das questões relacionadas à prevenção de acidentes e doenças ocupacionais. Tem esta norma para a área prevencionista a mesma importância que as Normas ISO 9.000 para a área de Qualidade Total e ISO 14.000 para a área de Gestão Ambiental. N.A.

5 ISM CODE – INTERNATIONAL SAFETY MANAGEMENT CODE ou Código Internacional de Gestão de Segurança destina-se a estabelecer padrões de gestão de segurança na operação dos navios. Uma das principais linhas de força do Código ISM é a obrigatoriedade, em caso de acidentes envolvendo navios, da existência de um relatório, sob a forma de Relatório de Avaria (Failure Report), que será analisado e objeto de resposta ao navio (feedback), sendo depois arquivado na Companhia para eventual consulta futura e para poder ser inspecionado em auditorias constituindo prova de que os canais de comunicação entre o navio e a Companhia e vice-versa são efetivos. N.A.

6 Idem2.

7 Larry Wilson – É um ex-ator de cinema canadense abandonou a carreira e se dedicou a estudar as causas e efeitos das lesões sofridas por pessoas tanto no lar quanto no ambiente de trabalho, relacionando-as com o nível de atenção e motivação para a realização de tarefas cotidianas. Atualmente é vice-presidente da empresa Electrolab Training Systems, com sede na cidade de Belleville, Ontario, Canadá. É autor do programa SafeStart e também de vários artigos e coautor de um livro sobre segurança no trabalho. Ele se apresenta regularmente em todas as grandes conferências norte-americanas de segurança e saúde e também em grandes conferências internacionais.

8 Morais, José Mauro de Petróleo em águas profundas: uma história tecnológica da Petrobras na exploração e produção offshore. Ipea: Petrobras. Brasília. 2013. p 46.

9 Agência Brasil. Petrobras recebe o mais importante prêmio da indústria de petróleo. Disponível em <https://agenciabrasil.ebc.com.br/pesquisa-e-inovacao/noticia/2015-02/petrobras-recebe-premio-otc-o-mais-importante-da-industria-do>. Acesso em 02Abr2015.

10 Goeking, Weruska. Instalações offshore: pioneirismo brasileiro. Portal do Setor Elétrico. Disponível em <https://www.osetoreletrico.com.br/web/component/content/article/58-artigos-e-materias-relacionadas/324-instalacoes-offshore-pioneirismo-brasileiro.html>. Acesso em 01Abr2015.

11 Fonte: Falck Safety Services – Treinamentos em Segurança Marítima. Macaé – RJ. Disponível em <www.falcksafety.com>

12 Pena, Anderson Córdova. Relato de pesquisa: a influência do contexto ambiental nos trabalhadores offshore de uma plataforma petrolífera. Monografia apresentada no Curso de Psicologia, orientada pela Professora Adjunta do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora -UFJF, Dra. Sônia Maria Guedes Gondim.2002.


IMPLEMENTING SAFESTART® FOR WORKERS ON FACILITIES OF OIL AND GAS OFFSHORE EXPLORATION

Abstract: This article discusses the possibility of applying a program called SafeStart for workers in offshore facilities of the oil and gas industry (activities on board). This environment of exploration and production oil and gas has unique conditions which makes it different from any other sectors of the industry. This article will work with a projection of the implementation of programs that encourage new alerts for triggers of the rush, frustration, fatigue and complacency states, that are results of the coexistence for a group of employees working in special conditions on offshore installations that can cause critical errors . The SafeStart program is based on the following metters: eyes away from the task, mind away from the task, the fire line and loss of balance / traction / firmness. Its application can prevent that daily actions and stressful routines will encourage the occurrence of errors and damage. The idea is to demonstrate the feasibility of implementing the program in five working positions considered most critical in an oil rig or drillship, and then evaluate results and point out risks that will be recognized by the workers themselves and also by their immediate supervisors serving as primary prevention of potential errors.

Keywords: safety, accident prevention, reduction of injuries

Sobre o autor
Walmir Corrêa Leite

Graduado em Direito pelas Faculdades Integradas de Guarulhos. e |Em Engenharia Civil pela Universidade de Guarulhos. Pós Graduado pela Pontificia Universidade Catolica (PUC) Em Gestão de Politicas Publicas em Segurança. Pós Graduado em Engenharia de Segurança do Trabalho pela Universidade de Guarulhos. <br>

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!
Publique seus artigos