Guarda de menores: um conflito interdisciplinar.

Um olhar interdisciplinar sobre o conflito envolvendo a negociação dos cuidados com filho menor

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22/10/2015 às 15:06
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3. EM TERRA DE CEGO QUEM TEM UM OLHO AJUDA BEM MAIS NA GUARDA DE MENORES

Relembrando o propósito desta investigação, temos como objetivo investigar os recursos linguísticos apresentados pelo profissional do direito em seu primeiro atendimento a partes envolvidas em um conflito de renegociação dos cuidados com filhos em comum, acreditamos que a pesquisa ira trazer reflexões quanto à atual gestão dos conflitos pelos advogados/estagiários e possibilitará inúmeras iniciativas para aperfeiçoar o atendimento em observação.

Em analogia aos diversos campos do conhecimento vamos buscar manter ao longo das entrevistas e análises do material de pesquisa, uma visão multidisciplinar do conflito envolvendo a guarda de menores. Toda a investigação se pauta sobre o primeiro atendimento advogado/estagiário e busca verificar o quanto deste atendimento se volta, exclusivamente, para a visão jurídica do conflito ou se outras visões do conflito podem ser identificadas nessa entrevista: parte - profissional jurídico.

Encerrando este capítulo, venho propor uma última visão do nosso elefante Conflito. Uma visão de cooperação na qual os nossos seis cegos, entendam que seus pontos de vistas se complementam e não se excluem e nesse espírito proponho um final inédito para a parábola dos cegos e do elefante.

Imaginemos que no meio da conferência em que os nossos seis amigos gritam, argumentam e quase chegam a se agredirem, chega um ancião alguém que conta com o prestígio e confiança de todos, ou quase todos, naquela comunidade de cegos. Esse ancião é famoso não só por sua sabedoria, mas também por ter um olho.

O velho caolho entra na sala comunal, cumprimenta os amigos, se apresenta aos desconhecidos e ouve todos os relatos. Depois de respeitar a fala de todos os deficientes visuais e sem conseguir evitar o riso típico daqueles que sabem como resolver um problema de forma simples, o sábio caolho se pronunciou.

-- Amigos, confiem em mim, ao longo de minha mocidade eu vi muitos elefantes e por mais estranho que pareça, os nossos bravos amigos que contaram sua história tem total razão. Dito isso, os burburinhos começaram alguns falavam: -- Esse ancião está louco, outros traziam expressões de espanto, mas logo o silêncio voltou e o ancião continuou.

-- Infelizmente os elefantes são criaturas selvagens e não temos como trazer um outro animal para que todos o apalpemos para tirar as nossas dúvidas, mas posso lhes narrar como é este estranho e grande animal. Agora muitos dos ouvintes bradaram curiosos: - Por favor ancião! Conte-nos como é o elefante. Não demorou muito o ancião continuou.

-- Amigos, o elefante é um animal de imensas proporções muito grande e muito alto, por isso um de vocês o comparou com uma montanha e está certo quando assim o fala. Já no lugar do nariz o elefante tem uma tromba, que é uma coisa bem esquisita, que realmente parece com uma cobra, vejam então que o nosso colega não mentiu ao comparar o elefante com esse outro animal. Do outro lado do elefante fica o rabo dele, ao contrário da tromba que é muito grande o rabo do elefante é pequenininho e tem na ponta alguns pêlos, por isso se assemelha a uma corda e dá total veracidade ao relado de mais um de vocês.

-- E quanto a espada? Como pode? Gritou um dos mais jovens, afoito pelo desfecho da história.

-- Calma meu jovem já chego lá, e depois de se remexer no lugar o ancião continuou. --- A espada pontiaguda que quase feriu nosso amigo vem das presas do elefante, são muito brancas feitas de marfim e o elefante as usa para se defender. E o nosso amigo, além de muito corajoso, em momento algum faltou com a verdade. Agora faltam a árvore e o tapete com vida, pois bem. O tapete com vida são as orelhas do elefante elas são imensas e o animal não para de mexê-las em momento algum, creio que tenha sido difícil tocar nelas e por fim o amigo que comparou o elefante a um troco de árvore deve ter se agarrado as pernas do animal, que são grossas e roliças como a sua descrição. Enfim amigos, por mais estranho que pareça cada um de vocês falou a verdade, porém se prenderam a diferentes partes de um animal imenso.

Espero que tirem algum proveito do que aconteceu na aldeia de vocês, percebam que duas verdades podem existir e que eu não preciso estar errado para que o colega esteja certo.

Desse dia em diante a colônia de cegos prosperou e se tornou uma referência para a tolerância e cooperação e como não podia deixar de ser. Viveram felizes para sempre.

Mesmo parecendo um pouco ingênuo acredito que os profissionais que buscam uma maior compreensão das múltiplas faces do conflito estão bem mais capacitados a melhor atender os seus clientes e por consequência contribuem bem mais para a pacificação de conflitos.

Então para encerrar o quebra cabeças multidisciplinar do conflito, peço, um esforço para buscar a melhor gestão possível, como nos sugere a administração, uma tentativa de resgatar na filosofia a superação do conflito e nunca a aniquilação do outro. Com a comunicação vamos aprender a dialogar e não a debater, da sociologia busquemos extrair a compreensão de que o conflito deve ser bem manejado para nos levar a aproximação social. Dá psicologia vamos sorver o autoconhecimento para romper com ciclos de conflito e controlar nossos ids egos e superegos e por fim com o direito vamos buscar decisões justas que nos levem a paz.

Enfim, que a cooperação aprendida com elefantes e cegos se desdobre para multidisciplinariedade apresentada e irradie para que as Márcias e Joões aprendam a respeitar e coexistir de forma a gerir de forma positiva seus conflitos tendo como norte a proteção de seus Pedrinhos.


REFERÊNCIAS

BÍBLIA, Português. Bíblia Sagrada. Versão Linguagem de Hoje. São Paulo: Paulinas Editora, 2005. 1472p.

CARNELUTTI, Francesco, Instituições do processo civil in MARQUES, José Frederico. Instituições de direito processual civil. 1. ed. rev. e atual. São Paulo: Millennium, 2000. p.2.

SIMMEL, Georg, A natureza sociológica do conflito, in Moraes Filho, Evaristo (org.), Simmel, São Paulo, Ática, 1983. Disponível em: <https://www.iseg.utl.pt/aula/cad95/A%20Natureza%20sociologica%20do%20conflito.pdf> acesso em: 11 fevereiro 2015.

GARDNER, Richard Alan, O DSM-IV tem equivalente para o diagnóstico de Síndrome de Alienação Parental (SAP)? Tradução de Rita Rafaeli, 2002, 20p. disponível em: <https://fc243dbe-a-62cb3a1a-s-sites.googlegroups.com/site/alienacaoparental/textos-sobre-sap/Aliena%C3%A7%C3%A3oParental-RichardGardner.pdf> acesso em: 11 fevereiro 2015.

FELLIPELLI, Consultoria e Diagnóstico. O Lado Bom do Conflito, 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=o57AnAlMrmA> acesso em: 11 fevereiro 2015

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DESCONHECIDO, Seis Homens Cegos e o Elefante. [ano desconhecido]. 1. gravura.

TAHAN, Malba. Lendas do Céu e da Terra, disponível em: <https://www.possibilidades.com.br/parabolas/cegos_elefante.asp> acesso em: 10 fevereiro 2015.

DIDIER JÚNIOR, Fred. Curso de Direito Processual Civil, 13. Ed. rev. e ampl. Salvador: Editora Jus Podivm, 2011.

TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para operadores do Direito, 3. Ed. rev. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009.

HANSEN, Gilvan Luiz. Gestão de conflitos. In: HANSEN, Gilvan Luiz et alii. Gestão Universitária. Niterói: EDUFF, 2012.


Notas

1 Adaptado pelo autor com base na obra Lendas do Céu e da Terra de Malba Tahan, parábola extraída de sítio na internet. Disponível em: <https://www.possibilidades.com.br/parabolas/cegos_elefante.asp> acesso em: 10/02/2015

2 Transcrição do material de divilgação da ferramente extraída de vídeo disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=o57AnAlMrmA> acesso em: 11/02/2015

3 As diferenças apontadas foram extraídas de trabalho elaborado por Shelley Berman, com base em conversas do Grupo de Diálogo dos Educadores para a Responsabilidade Soial - Educators for Social Responsibility (ESR). Disponivel em: <https://www.odec.umd.edu/CD/ACTIVITI/BERMAN.pdf> acesso em 11/02/2015.

Sobre o autor
Tiago Duque de Almeida

Mediador de Conflitos junto ao Grupo de Mediação do Ministério Público do Rio de janeiro. Advogado, Bacharel em Direito (2005) pela Universidade Federal Fluminense. Mestrando em Direito e Sociologia pela Universidade Federal Fluminense (PPGSD). Pós graduado com especialização em Direito Público e Privado (2009) através de convênio EMERJ (Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro) e Universidade Estácio de Sá. Experiência em Direito de Família com ênfase em Mediação e Resolução de Conflitos.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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