Toda violência política tem sua dimensão estética e musical. Ao se expandir, o Império Romano espalhou aquedutos, templos, fóruns, ginásios, teatros e arenas pela Europa, África e Ásia Menor. Em pleno século XIX início do século XX a arquitetura romana ainda inspirava a construção de prédios públicos (em Washington, por exemplo).
A geração de jovens norte-americanos que lutou no Vietnã e contra aquela guerra segue até hoje unida na grande síntese delirante e musical daquela época: Woodstock. Bill Clinton disse que fumou e não tragou, algo do que até os amigos dele duvidam.
No Brasil, a ditadura militar dividiu o país entre os velhos autoritários que gostavam de músicas com letras melodramáticas e os jovens que adoravam a bossa nova e rock and roll. Os dois grupos antagônicos, que eventualmente se sangravam - sempre em proporção desigual, pois os militares tinham mais armas e muito mais sadismo - só se uniam no carnaval.
A situação em que nós nos encontramos é curiosa. Na ante-sala de uma guerra civil sangrenta, a música não nos divide. Os petistas com mais de cinqüenta anos que defendem Dilma Rousseff e os velhacos tucanos, peemedebistas e caterva que aderiram ao golpe de estado do Michel Temer gostam do mesmo tipo de música. O que os uniu nas décadas de 1960 e 1970 não será capaz de dividi-los em 2015.
É evidente que trilha sonora para a tragicomédia encenada em Brasília poderá ser a mesma para vitoriosos e derrotados. Por isto, antes de chegarmos a um ponto de não retorno os contendores podem e devem se reunir para uma última pajelança ao som de Deep Purple https://www.youtube.com/watch?v=BamOGaIz20M. Depois, eles poderão se matar uns aos outros e todos os mortos poderão, enfim, encontrar a mesma paz no cemitério como disse Platão.