Groucho Marx afirmou que “é difícil fazer previsões, sobretudo quando dizem respeito ao futuro” (grifei). Mas as ruas deram seu recado: Basta! Chega de corrupção! Mais: o maior partido hoje no Brasil se chama “Lava Jato”. Se Dilma sair por renúncia ou impeachment quem assume é o PMDB. O problema da corrupção vai continuar ou se agravar.
Mais: não há como confiar numa decisão rápida do TSE (para cassar a chapa Dilma/Temer). Gilmar Mendes vai assumir sua presidência e já se posicionou: o processo é lento. Mais ainda com Temer na presidência.
Aliás, vendo Michel Temer chegar na convenção do seu partido juntamente com Sarney, Renan Calheiros, Eduardo Cunha, Waldir Raupp, Jader Barbalho, Edson Lobão e outros tantos da mesma estirpe nacional, meu pensamento não resistiu: triste Brasil, a velha organização criminosa já não vai dividir, sim, agora vai assumir inteiramente o poder (e o orçamento público).
Nossa tese: não temos que lutar contra este ou aquele corrupto, sim, contra a corrupção. Leia-se: contra todos. Não importa o partido, temos que extirpar do poder o velho clube da cleptocracia, formado à sombra de todos os governos, desde a fundação da República (1889).
Tiro de misericórdia na Dilma e no Lula
O tiro de misericórdia contra Dilma e o lulopetismo virá com os bombardeios da Lava Jato (as próximas delações premiadas, sobretudo das empreiteiras Andrade Gutierrez, OAS e Odebrecht, são terrivelmente bombásticas).
O velho clube da cleptocracia (dos barões ladrões) está dando cartão vermelho ao lulopetismo. Vai excluí-lo da sociedade (da família, se diz na mafia).
Quem diria, o sistema penal (Polícia, MP, Juízes, delações etc.), que sempre investigou e perseguiu (preferencialmente) a criminalidade da base, de repente, está contribuindo para derrubar um governo! O Brasil não é mesmo para principiantes (dizia Tom Jobim).
A ciranda do fim do governo Dilma é a seguinte: as delações vão estimular mais vazamentos e mais vazamentos vão incendiar (cada vez mais) as ruas, que vão legitimar mais delações e por aí vai. Não há governo que suporte isso por muito tempo. O impeachment ou a renúncia vai amadurecer rapidamente.
A rebelião do clube da cleptocracia
A destruição do lulopetismo (que passou a fazer parte, em 2002, das elites dominantes e reinantes) se tornou necessária não só pela incompetência governativa (que gera prejuízos econômicos para o capital e para o trabalho), senão, sobretudo, porque ele teria sido incapaz de preservar a clássica impunidade dos membros do elitizado clube da cleptocracia (poderosos políticos, econômicos, financeiros e corporativos), que agora (com a Lava Jato) estão sendo importunados, empobrecidos (redução diária da riqueza), acuados, humilhados publicamente, investigados, processados e encarcerados.
Em 512 anos de prosperidade da impunidade (e do clube da cleptocracia) nada disso tinha ocorrido (na extensão da Lava Jato) nos governos anteriores (coloniais, imperialistas, ditatoriais ou republicanos).
O mensalão (no governo PT – 2012) foi a primeira disrupção (com a tradição de impunidade). Aí aconteceu a primeira fissura no dique. As elites cleptocratas (poderosos barões ladrões), que não toleram a ideia da democratização da prisão (tratamento igualitário), suportaram o PT na primeira vez, mas deram-lhe cartão amarelo. Agora chegou a vez do cartão vermelho.
Sete fatos ocorridos nos últimos vinte dias enterraram a vã e imaginária esperança dessas elites acuadas de que alguma solução de “compadrio” (tal como a que se pratica na macroeconomia) fosse encontrada pelo governo Dilma.
São eles: (a) o ministro José Eduardo Cardozo deixou o Ministério da Justiça (ou “teve que ser deixado”); (b) o líder do governo petista no Senado (Delcídio) fez delação premiada, com teor bombástico (contra o PT, PMDB e PSDB); (c) o presidente da Câmara dos Deputados (Cunha) se tornou o primeiro réu da Lava Jato no STF; (d) este mesmo tribunal mudou sua jurisprudência para admitir a execução da pena logo após o duplo grau de jurisdição; (e) o STF “barrou” o novo ministro da Justiça; (f) o ex-presidente Lula foi conduzido coercitivamente para prestar depoimento e acaba de ser denunciado e (g) acaba de ser objeto de uma denúncia criminal (com pedido de prisão preventiva).
Para destruir o governo petista (e salvar a própria pele) as elites do clube da cleptocracia, que é presidido pelo PT desde 2002, deliberaram fazer mais delações premiadas (algumas hecatômbicas). Paradoxalmente, o vômito das elites acusadas e encarceradas alimentará o estômago da Lava Jato (assim como da ira popular).
É assim que a Lava Jato está vencendo praticamente todas as batalhas da guerra histórica (contra-institucional, leia-se, contra as elites cleptocratas), primeira com essa dimensão, para reduzir drasticamente a corrupção megalomaníaca e gananciosa dos barões ladrões, encontráveis nas grandes empresas ligadas ao capitalismo de Estado e de compadrio assim como em praticamente todos os partidos políticos (que são os sustentadores do nosso elitizado sistema político liberal-ultraconservador, chamado de “pemedebismo” por Marcos Nobre).
Inovação: a submissão dessas elites poderosas assim como a queda do lulopetismo se tornou possível porque da velha lógica da repressão (que sempre beneficiou a cleptocracia, visto que ela não era atingida) mudou-se para o paradigma da premiação (delação premiada). Com isso deu-se o fim da “omertà”, que é o silêncio da máfia. É a revolução desarmada mais espetacular da Justiça criminal brasileira.
A reação das elites incriminadas (leia-se: do clube da cleptocracia) tornou-se absolutamente previsível. Todos os crimes, as falcatruas e as irregularidades, particularmente os relacionados com o financiamento e o caixa dois nas campanhas eleitorais da presidente(a) Dilma e do ex-presidente Lula, ficaram temporariamente mais ou menos abafados (sobretudo pelas empreiteiras), porque havia uma infundada e absurda esperança de um milagre do governo lulopetista, que supostamente poderia com eficácia interferir e reverter a complicada situação (Delcídio teria dito que até ministro foi nomeado para isso).
O milagre não aconteceu. Eis o fim do silêncio, o fim da “omertà” (sobretudo das grandes empreiteiras). Os delatores agora estão pisando em ovos porque, pelo novo suposto acordão (liberal-ultraconservador), seria preciso salvar Michel Temer. Porém, como, se sua campanha teve as mesmas fontes impuras da Dilma e do Lula? Como aprovar as contas de Aécio de Neves de 2014 com os mesmos vícios. O TSE, como se vê, tem tudo para adiar o máximo possível sua decisão. Não é fácil transformar excremento em obra purificada da Madre Teresa de Calcutá.
Pouca coisa se tornou mais evidente hoje do que a premonição de Joelmir Beting, que disse: “O PT é, de fato, um partido interessante. Começou com presos políticos e vai terminar com políticos presos”.
E por que o Brasil não vai mudar nada estruturalmente depois de Dilma? Porque não está no horizonte dos possíveis novos governos os dois pilares das nações prósperas: ética (singularmente a pública) e a educação de qualidade para todos (até os 18 anos, em período integral). Sem essa base sempre vamos girar em torno dos mesmos fracassos como nação.
| CAROS internautas que queiram nos honrar com a leitura deste artigo: sou do Movimento Contra a Corrupção Eleitoral (MCCE) e recrimino todos os políticos comprovadamente desonestos assim como sou radicalmente contra a corrupção cleptocrata de todos os agentes públicos (mancomunados com agentes privados) que já governaram ou que governam o País, roubando o dinheiro público. Todos os partidos e agentes inequivocamente envolvidos com a corrupção (PT, PMDB, PSDB, PP, PTB, DEM, Solidariedade, PSB etc.), além de ladrões, foram ou são fisiológicos (toma lá dá cá) e ultraconservadores não do bem, sim, dos interesses das oligarquias bem posicionadas dentro da sociedade e do Estado. Mais: fraudam a confiança dos tolos que cegamente confiam em corruptos e ainda imoralmente os defende. |