O golpe que era sólido desmanchou no ar

25/04/2016 às 10:16
Leia nesta página:

A oposição terá que iniciar uma guerra civil caso queira realmente chegar ao poder.

Há uma semana a Câmara dos Deputados aprovou o Impedimento de Dilma Rousseff. Esta decisão é ilegítima, pois a presidenta não cometeu nenhum crime de responsabilidade e a Constituição do Brasil não permite o afastamento do presidente só porque ele não tem maioria parlamentar ou porque uma maioria parlamentar não gosta do chefe de governo eleito pelo povo brasileiro.

A decisão da Câmara foi comemorada pela imprensa brasileira. Mas a imprensa internacional denunciou a existência de um golpe de estado. Quase todos os veículos de comunicação norte-americanos e europeus admitiram que Dilma Rousseff está sendo injustamente deposta e a própria presidente reforçou isto ao discursar na ONU.

Esta disputa em torno da representação pública e publicada do golpe ficou evidente na carta enviada pelo dono da Rede Globo ao jornal Guardian, reclamando do jornal inglês ter chamado o golpe de golpe e não de Impedimento como ele gostaria. O “autoritarismo sem fronteiras” do dono da maior rede de TV brasileira foi exposto ao ridículo, pois o Guardian publicou a carta dele na caixa de comentários da matéria que ele impugnou.

O golpe do Impedimento não era sólido e desmanchou no ar em menos de uma semana. Dilma Rousseff continua sendo respeitada fora do Brasil e o apoio a ela tem crescido exponencialmente nas ruas brasileiras.

A respeitabilidade da Câmara dos Deputados, contudo, foi irremediavelmente destruída pela imprensa internacional. Eduardo Cunha, protegido pela imprensa brasileira, ganhou na Europa e nos EUA a imagem que ele merece: o presidente da Câmara não passa de um gangster procurado pela justiça que comanda uma quadrilha de parlamentares. O Brasil não é visto mais como uma República. Nem poderá ser visto como uma “república de bananas”. De fato, o Brasil se tornará um “sindicato de ladrões” se o golpe não for derrotado.

O Senado ainda não apreciou o golpe do Impedimento e deverá levar em consideração três coisas ao fazer isto. A primeira é a Constituição em vigor que foi desrespeitada pela Câmara. A segunda é a possibilidade de sua própria imagem ficar comprometida caso se alie ao golpe de estado desencadeado pelos bandidos liderados por Eduardo Cunha. E a terceira é se tornar irrelevante caso sua própria decisão seja contestada e revogada pelo STF.

A credibilidade do próprio STF também está derretendo rapidamente. O Tribunal auxiliou indiretamente o golpe de estado na medida em que se recusou a afastar do cargo o bandido que preside a Câmara e comandou o golpe de estado. A imprensa internacional, com justiça, já começou a questionar o STF. Isto também tem sido feito dentro do nosso país por jornalistas de renome como Janio de Freitas.

Se houver uma guerra civil, o sangue dos brasileiros irá respingar nas malditas togas dos juízes que permitiram ao “sindicato de ladrões” comandado por Eduardo Cunha controlar a presidência? Esta pergunta não precisa ser respondida. Todos já sabem a resposta. Quando a política entra no Tribunal por uma porta, a Justiça sai dele por outra como disse Guizot.   

Assuntos relacionados
Sobre o autor
Fábio de Oliveira Ribeiro

advogado em Osasco (SP)

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!
Publique seus artigos