As ciências sociais ganharam um intenso debate a respeito dos aspectos que envolvem a metodologia desenvolvida dentro das concepções positivista, historicista e marxista, que, de certo modo, contribuíram para a construção de um conhecimento crítico, tendo em vista a diferenciação nos procedimentos aplicados. Como exemplo prático disso, temos o conceito de “ideologia”, afinal é abordado dentro dessas noções de conhecimento de maneira distinta. No caso do positivismo, essa expressão foi tratada como sendo uma “ciência das ideias”; no campo do marxismo é anexada a uma “falsa consciência” e na visão do historicismo esteve atrelada como um sistema que representa a preservação de uma ordem política que vigora. Em suma, temos que uma mesma palavra apresenta significações diferenciadas ou até contraditórias dentro de uma ciência social, variando o conceito conforme o pensamento e a questão axiológica de cada sociólogo.
A metodologia positivista está alicerçada em princípios como os seguintes:
"1. A sociedade é regida por leis naturais, isto é, leis invariáveis, independentes da vontade e da ação humanas; na vida social, reina uma harmonia natural.
2. A sociedade pode, portanto, ser epistemologicamente assimilada pela natureza (o que classificaremos como "naturalismo positivista") e ser estudada pelos mesmos métodos e processos empregado pelas ciências da
natureza,
3. As ciências da sociedade, assim como as da natureza, devem limitar-se à observação e à explicação causal dos fenômenos, de forma objetiva, neutra, livre de julgamentos de valor ou ideologias.” (p. 17)
O surgimento do positivismo viu-se atrelado à ascensão da burguesia entre os séculos XVIII e XIX, sendo abordado com um viés revolucionário frente as atitudes absolutistas de então; no entanto, com o passar do tempo assumiu uma postura conservadora. Com base nesse caráter adquirido, percebe-se que a dimensão valorativa do positivismo se aparta do envolvimento histórico-social, passando a tratar seu estudo apenas sob uma perspectiva científica; ou seja, o positivismo não se fundamenta na relação entre o pensamento científico e as relações sociais, mas sim focando no estudo do saber. É notório que tal fato seja uma herança da filosofia iluminista, tendo em Condorcet um dos enciclopedistas que influenciou demasiadamente essa corrente.
De todo modo, a convicção do positivismo sob uma ciência neutra é na tentativa de livrar as “paixões” do estudo metodológico, assim como é feito pelas ciências naturais, ou seja, há um interesse das ciências sociais em se aproximarem dos aspectos envoltos nas “ciências físicas”. Por conseguinte, se apartar de dogmas supersticiosos como os colocados pela Igreja na doutrina social e na política do feudalismo. Saint Simon, então, traz a ideia de filosofia social; esta é elaborada a partir de fatos que foram observados na sociedade, apresentando, de certa forma, um caráter crítico ao absolutismo e reforçando a necessidade de uma nova ordem. A grande questão é que seu pensamento se afasta ciência e fala em nome da moral e da religião, fazendo-se elaborar, portanto, um novo cristianismo que se apresenta como um socialismo utópico.
Notamos, então, que não podemos considerar Condorcet nem S. Simon como sendo os fundadores do positivismo, mas sim Augusto Comte; posto que ele vai transformar o pensamento positivista em ideologia, por meio de um sistema com conceitos e aspectos axiológicos para defender esse estudo. De toda forma, Comte delineia seu estudo sob a ótica da nova ordem – a industrial – que traz em questão a temática do progresso envolvendo a indústria e a ciência. Assim, “tem por objeto o estudo dos fenômenos sociais como sujeitos a leis naturais invariáveis, cuja descoberta é o objetivo específico de suas pesquisas.” (p. 23) Comte, então, passa a chamar o saber sociológico de “física social”, visto que, não há diferenciação entre ciências sociais e naturais. Vale salientar, que a questão da concentração de renda entre os chefes industriais é trabalhada por ele como sendo natural e que deve ser reconhecida pelos proletários, devendo estes respeitarem e reforçarem essas leis que seriam, sob sua ótica, naturais. Uma reflexão que deve-se levar em conta é que o mesmo positivismo que foi um recurso revolucionário, configurou-se como justificativa da ciência para a ordem social vigente.
O termo “sociologia” foi inventado, de certa forma, por Augusto Comte, mas quem de fato deve ser considerado o pai da sociologia é Émile Durkheim, pois foi a partir dele que o positivismo se caracterizou enquanto disciplina científica. Em seu pensamento, Durkheim, assim como seu precursor, advogou que os fenômenos sociais são como os físicos, que estão submetidos a leis que a vontade humana não pode pôr fim. Ao relatar o aspecto da desigualdade social, ele, analogicamente, associou a sociedade a um ser vivo, de modo que os órgãos por serem diferentes um dos outros, desempenham um papel específico para o funcionamento do todo. Dessa maneira, Durkheim, teorizou o fato privilegiado conferido a algumas partes da sociedade em relação às demais, visto que isso dependeria dos atributos naturais, mas que se dava de maneira funcional e necessária. É válido evidenciar que, assim como Comte, Durkheim têm conhecimento do caráter conservador de seu pensamento, que apesar dos fatos serem naturais, eles não são modificáveis conforme o desejo humano.
Já a visão de Max Weber se distancia um pouco da metodologia empregada no positivismo, mas converge no tocante ao ponto capital. De toda maneira, ele não considerava a universalidade dos valores, mas sim um relativismo histórico. Desse modo, ele critica veemente o positivismo, alegando que por este se preocupar estritamente com os aspectos naturais, esqueceu de descobrir a problemática da sua própria perspectiva social. Em suma, Weber denota a existência de uma ciência social que esteja apartada de julgamentos axiológicos. Isto é, o estudo sociológico pode, de certo modo, neutralizar os conflitos valorativos.
Por fim, outro pensador importante é Karl Popper, que relatou a questão positivista com um posicionamento distinto ao abordado por Durkheim, visto que ele expôs a questão dos mitos do conhecimento científico. De toda forma, que a ciência não possuiria neutralidade e objetividade, fatores esses primordiais para uma abordagem consideral imparcial conforme apresentado por seus precursores.
LÖWI, Michael. As Aventuras de Karl Marx contra o Barão de Münchhausen:Marxismo e positivismo na sociologia do conhecimento. 5. ed. São Paulo: Cortez Editora, 1994. (Introdução e I Capítulo: O positivismo ou o princípio do Barão de Münchhausen, p. 7-62)