No ano de 1827, Dom Pedro I criou os dois primeiros cursos de Direito no Brasil, um em Olinda, Pernambuco, e outro em São Paulo, no Largo São Francisco.
A lei, de 11 de agosto de 1827, dispõe o seguinte, conforme ortografia da época:
“Dom Pedro Primeiro, por Graça de Deus e unanime aclamação dos povos, Imperador Constitucional e Defensor Perpetuo do Brazil: Fazemos saber a todos os nossos subditos que a Assembleia Geral decretou, e nós queremos a Lei seguinte:
Art. 1º - Crear-se-ão dous Cursos de Sciencias Juridicas e Sociais, um na cidade de S. Paulo, e outro na de Olinda, e nelles no espaço de cinco anos, e em nove cadeiras, se ensinarão as matérias seguintes:”
Para se matricular no curso, o estudante tinha que contar quinze anos completos e aprovação em Língua Francesa, Gramática Latina, Retórica, Filosofia Racional e Moral e Geometria.
. A partir daí a sociedade paulistana sentiu-se mais importante, a ponto de os estudantes do “Largo São Francisco” serem considerados personas gratas, pois os comerciantes sentiam-se honrados com a sua presença em seus estabelecimentos.
Os estudantes de Direito eram obrigados a comparecer às aulas devidamente trajados, isto é, de paletó e gravata, e assim compareciam aos restaurantes do centro da cidade, onde eram recebidos com alegria pelos comerciantes, que ofereciam refeição de graça todo dia 11 de agosto para comemorar a data da instalação dos cursos jurídicos no país.
A instalação da Faculdade de Direito transformou São Paulo, que, sendo uma cidade provinciana e acanhada, desenvolveu com vigor sua vocação cosmopolita.
Com o aumento da população estudantil, as refeições gratuitas foram suprimidas, daí surgindo o famoso “Dia do Pendura”, quando os estudantes se fartavam nos restaurantes e entregavam aos comerciantes um ofício comunicando que era para “pendurar” as refeições, pois era 11 de agosto. A polícia sempre era chamada nessas ocasiões.
A partir da década de 1930, os estudantes de Direito passaram a frequentar outros locais mais distantes do centro, mais precisamente o badalado restaurante “Ponto Chic”, no Largo do Paissandu. Ali sempre se podia encontrar uma cerveja gelada, o que era novidade na época, porque não existiam refrigeradores, mas, sim, pequenos recipientes, onde eram colocadas barras de gelo sobre a bebida.
Foi no “Ponto Chic” que se criou o famoso sanduíche conhecido como “Bauru”, por ideia de um estudante chamado Casimiro Pinto Neto.
O professor e historiador Hernâni Donato, que viveu nessa época, nos conta que, além dos estudantes de Direito, compareciam ao “Ponto Chic” para saborear uma cerveja geladinha, algumas figuras de destaque na sociedade, entre elas, um alto funcionário da Light, de nome Ubirajara Martins, dono de uma barba imponente e que levava consigo uma tesourinha, com a qual ficava aparando a barba, enquanto aguardava a cerveja, sendo que nessa espera todos ouviam o “pique-pique” da tesoura.
De certa feita um Rajá indiano, de nome Timbum, visitou a Faculdade e, por vários dias, enquanto perdurou sua visita, os estudantes levaram-no ao “Ponto Chic”.
Como era preciso aguardar meia hora para gelar a cerveja, os estudantes marcavam o tempo no relógio e quando era chegado o grande momento exclamavam em coro: ”é hora, é hora” e chamavam o senhor da barba, por eles apelidado de “pique-pique” e também o Rajá Timbum.
Assim, gritavam em alto e bom som: “pique-pique, é hora, é hora, Rajá Timbum”, chamando-os para acompanhá-los na bebida.
Desta brincadeira, dos estudantes de Direito do Largo São Francisco, resultou a cantoria que até hoje se faz, também com muita alegria, nas festas de aniversário de crianças e adultos.
Assim, no clima de uma São Paulo alegre, ainda provinciana, somado à alegria contagiante dos estudantes de Direito, nasceram as tradições ainda muito vivas do “Dia do Pendura”, em 11 de agosto e do “pique-pique” cantado nas festas de aniversário.
Isto aconteceu porque, como é sabido, o Direito é a ciência das normas que regulam as relações entre os indivíduos na sociedade e é a mais universal das aspirações humanas, pois sem ele não há organização social e o Advogado é o seu primeiro intérprete.
Demais disso, os estudantes do Largo São Francisco desempenharam papel fundamental nos mais importantes movimentos do país, eis que a agitação cultural e política que trouxeram culminou com os movimentos abolicionistas e republicano, a campanha civilista, a Revolução Constitucionalista e a resistência às duas ditaduras que vieram posteriormente.
Por essas e outras, o dia 11 de agosto foi escolhido, com muita justiça, como o “Dia do Advogado”.