Era uma vez... um país chamado Brasil

14/10/2016 às 15:05
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O golpe de 2016 e a PEC são apenas sintomas de uma desagregação maior que ainda irá ocorrer.

A população brasileira foi drogada pela imprensa durante uma década.

O resultado desta “bad trip” jornalisticamente induzida está apenas começando.

Hoje o povo vê inimigos onde eles não estão (no PT) e vê amigos onde eles nunca poderiam estar (na imprensa, no PMDB, PSDB e no DEM).

Quando o povo começar a acordar, o Estado já terá sido desmantelado. Aqueles que não perderam seus empregos terão perdido direitos sociais, trabalhistas e previdenciários.

Em algum momento futuro, a reação ao golpe vai começar a se intensificar. Mas quando isto ocorrer os criadores de ilusões já terão se apropriado das riquezas do país transferindo-a para paraísos fiscais como ocorreu durante o governo FHC.

Frustrada e faminta, a população se tornará mais e mais violenta. Mas não terá um partido popular capaz de organizar as aspirações políticas de maneira construtiva. O resultado, do vácuo será uma espiral insuportável de brutalidade policial/militar e de reações destrutivas de grupos isolados cada vez mais fanáticos.

A destruição do Estado comandada por Michel Temer engendrará uma cultura de destruição pela destruição. A oferta de bens e serviços será afetada pelo clima de caos. E os lucros começarão a declinar de maneira consistente reduzindo a arrecadação tributária. Mesmo que queira o Estado não estará em condições de intervir na economia de maneira positiva. Excluídos e marginalizados os pobres irão rejeitar qualquer tipo de organização institucional. O crime se tornará mais organizado e menos civilizado.

O prestígio das carreiras jurídicas irá desaparecer. A imprensa que drogou a população contra o PT, não é capaz de inventar um antídoto.  E a figura do “justiceiro implacável” se tornará cada vez mais comum, substituindo o Juiz de Direito e o político eleito. Este fenômeno que já ocorre nos morros cariocas se espalhará pelo país. E então até mesmo Sérgio Moro e seus colegas irão correr o risco de ser julgados nas ruas com padrões de justiça que eles mesmos inventaram (nenhum processo legal, acusação mediante convicção, tortura para obter a prova e, é claro, execução sumária em nome de algo mais elevado).

As igrejas evangélicas irão proliferar como cogumelos. O alucinógeno que elas distribuem se tornará mais e mais tóxico sectário. Conflitos entre líderes religiosos provocarão pequenas guerras civis. Antes que o STF perceba ou possa fazer algo, a dinâmica que domina a vida cotidiana no Oriente Médio terá se tornado a única Lei vigente no Brasil.

Nenhuma constituição escrita terá valor. Nenhum privilégio senhorial poderá ser desfrutado em segurança. Assim como a polícia brutaliza a periferia, gangues politizadas ou não comerão a brutalizar os bairros nobres. O tráfico de drogas e de armamentos militares irá explodir dentro do país e nossas fronteiras se tornarão mais porosas em razão da corrupção associada à guerra civil não declarada.

Todos contra todos. Nenhum líder será capaz de governar. A imprensa irá lutar para sobreviver fazendo aquilo que ela já faz (extorquindo dinheiro estatal), mas a droga que ela distribui não irá mais fazer efeito. Outras drogas estarão conquistando corações e mentes. Demente, o país começará a esfarelar.

Ódios hoje expressados pelos sudestinos no Facebook e no Twitter  irão despertar ódios nordestinos. A capital será vista como uma terra de ninguém passível de ser invadida e saqueada por quem quer que seja. Hoje isto é feito por bandos de políticos. No futuro os bandos serão outros e provavelmente arregimentarão contingentes das Forças Armadas.

Ninguém vai querer defender um país indefensável. O Brasil de fato já não pode mais ser defendido, pois está sendo sistematicamente destruído por aqueles que chegaram ao poder através de um atalho. Insubordinação, desagregação, roubo e comércio ilegal de material bélico se tornarão coisas normais nas Forças Armadas. Desarmado e desesperado o país será chantageado e saqueado mais rapidamente.

Experimentos sociais que deram certo por algum tempo sempre acabam provocando tragédia (como o nazismo e fascismo). Experimentos destrutivos como aquele que está sendo comandado por Michel Temer só produzirão desagregação e destruição irreparável.

Onde havia um país chamado Brasil algo novo irá nascer, crescer e vicejar. O separatismo se tornará programático e irá provocar conflitos dentro de outros conflitos que estarão explodindo. Durante todo este período o petróleo irá ser sugado do nosso litoral e levado para os EUA, onde uma elite brasileira começará a se instalar pretendo a inevitável barbarização do país.

Aqueles que viverem bastante verão nas ruas a face horrenda da guerra que hoje ocorre na Síria e vivenciarão dentro de suas casas cenas dos filmes de terror que gostam de ver nos cinemas. Ainda bem que já estou velho e não terei que ver muita coisa.   

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Sobre o autor
Fábio de Oliveira Ribeiro

advogado em Osasco (SP)

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