Ninguém deve se surpreender com as cenas de violência e os assassinatos que estão ocorrendo no Espírito Santo. Em breve veremos o mesmo ocorrer em todos os Estados brasileiros.
A verdadeira crise no Brasil é histórica.
O Estado brasileiro foi criado para servir apenas os colonos e seus descendentes.
Vem daí as três principais características institucionais do Brasil:
- a primeira é que as autoridades vivem protegidas numa bolha dentro de uma bolha e raramente tem qualquer contato com a realidade;
- a segunda é a violência produzida pela exclusão e pela reação dos contingentes populacionais excluídos do Estado;
- a terceira é a natureza seletiva da Justiça, que não pode e não quer tratar todos igualmente;
Lula e Dilma se esforçaram para remediar estas distorções. Mas os descendentes dos colonos se sentiram preteridos e a pressão deles se tornou irresistível.
O resultado aí está.
Voltamos, pois, aos "bons tempos" do Estado excludente. Todavia, agora a população não aceita mais ser excluída.
O remédio será aquele que vem sendo ministrado há cinco séculos contra índios hostis, negros fugidos e pobres recalcitrantes: violência genocida aplicada contra o "inimigo interno" por uma tropa colonial (que será a PM ou, se for o caso, as Forças Armadas).
Vivemos num Estado eternamente fracassado em que o conceito de povo é uma ilusão, a justiça é inexistente e o desrespeito aos direitos humanos é essencial à hierarquização de uma sociedade dividida entre os que tem tudo (inclusive o Estado) e aqueles não nunca terão nem mesmo cidadania (e que agora perderão seus direitos trabalhistas e previdenciários).
Felizmente já tenho mais de cinquenta anos. Com a redução da expectativa de vida e a destruição do SUS não terei mais que viver muito tempo neste Estado fracassado. Tomarei cuidado para não deixar nenhum rebento aqui.