Bordado humano: a nova moda pela internet de automutilação que pode matar

20/07/2017 às 14:04
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Por meio deste texto. procuramos alertar os responsáveis por crianças e adolescentes, para que se afastem desses jogos e desafios, os quais se prestam a satisfazer o prazer de pessoas perversas que buscam impingir sofrimento alheio.

Após o susto provocado na sociedade pelo jogo Baleia Azul, uma nova moda toma conta da Internet na China, o bordado humano.

Em matéria[1] veiculada pelo site da rede britânica BBC, o denominado human embroidery (bordado humano), está motivando diversos jovens à realizarem automutilação. Esta nova onda, aparentemente é inspirada em um “mangá” japonês (história em quadrinhos), conhecido como Tokyo Ghoul.

Nesses quadrinhos, um de seus personagens, denominado Juzo Suzuya, faz desenhos no próprio corpo e depois costura a própria pele fazendo bordados, sobre esses desenhos, usando agulha com linha vermelha. O personagem justifica que é um tipo de modificação corporal, como se fosse uma tatuagem, inspirando comportamentos que copiam essa mutilação.

Este mangá é tão violento que foi proibido na China, pois, além do bordado, e outras aberrações, apresenta criaturas canibais, consumindo carne humana. Apesar da proibição, esses quadrinhos possuem grande popularidade entre os adolescentes chineses e circulam de maneira clandestina no país.

O grande problema é que, seguindo tais exemplos, jovens passaram a criar desafios entre si, praticando essas costuras na pele, fotografando-as e divulgando as imagens das mutilações pelas redes sociais (Sina Weibo), o que está colocando as famílias em alerta, pois vários jovens já fizeram esses bordados, nos braços, pernas, mãos e lábios, com fios de várias cores.

Essa conduta pode levar o indivíduo à morte, pois, ao realizar bordados em seu corpo, sem qualquer esterilização, a pele inflama e pode infeccionar, com alto risco de septicemia e, consequentemente, de morte.

Uma das justificativas para essa nova moda na China é a popularidade alcançada pelo jogo Baleia Azul entre os jovens. Inclusive, ocorreu a prisão de um chinês que publicava imagens e comentários, incentivando jovens a participar desse jogo. No Brasil, tivemos recentemente a realização da operação Aquarius, que também levou criminosos, curadores do jogo Baleia Azul, à prisão.

A matéria da BBC registra um dado alarmante, pois, após a divulgação da notícia e imagens do bordado humano, cerca de 40 mil pessoas comentaram sobre o tema nas redes sociais na Ásia.

Diante dessa realidade, importante alerta deve ser feito, antes que essa nova onda chegue ao Brasil, advertindo os pais para prevenir seus filhos, pois, como verificado no caso do jogo Baleia Azul, esses desafios rapidamente se disseminam pela Internet, vitimando muitos adolescentes.

Esse tema “bordado humano” novamente traz a discussão jurídica da falta da criminalização do induzimento à autolesão corporal. Infelizmente, no Brasil, induzir alguém à automutilação não é crime, pois o nosso Código Penal não prevê essa conduta. Por conta disso, fizemos tal proposta quando da popularização do jogo Baleia Azul em nosso país.

É urgente o aperfeiçoamento do nosso Código Penal para estabelecer, expressamente, a criminalização da conduta de induzir outrem a se lesionar, estabelecendo a respectiva punição, lembrando que, na maioria dos casos, as vítimas são crianças e adolescentes.

É sabido que os jovens atravessam fases de descobertas e de autoafirmação, o que os torna vulneráveis e possíveis vítimas desses jogos e desafios, com absoluta impunidade para o desafiante criminoso, que os induz.

Portanto, se verifica, mais uma vez, a necessidade de adequação das leis a essas novidades criminosas que a Internet traz para dentro dos lares, reclamando a atuação do legislativo para suprir essa lacuna.

Estabelece-se, assim, o importante alerta a ser transmitido às crianças e adolescentes, para que se afastem desses jogos e desafios, os quais se prestam a satisfazer o prazer de pessoas perversas que buscam impingir sofrimento alheio.


Nota

[1] http://www.bbc.com/news/world-asia-china-40382127

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Sobre o autor
Luiz Augusto Filizzola D'Urso

Advogado especialista em Cibercrimes e Direito Digital, Professor de Direito Digital no MBA de Inteligência e Negócios Digitais da FGV, Coordenador e Professor do Curso de Direito Digital da FMU. Presidente da Comissão Nacional de Cibercrimes da ABRACRIM. Conselheiro da Digital Law Academy. Coautor do Livro Advocacia 5.0. Professor em diversos cursos de Direito Digital e Cibercrimes em todo o país. Coordenador da Cartilha "Todos contras as Fake News" da Câmara Municipal de SP. Pós-Graduado pela Universidade de Castilla-La Mancha (Espanha). Pós-graduado pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (Portugal). Pós-Graduado em Direito Digital e Compliance pelo Instituto de Direito Damásio e Ibmec - SP. Auditor no Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) do Futebol do Estado de São Paulo. Membro do Grupo de Estudos de Direito Digital da FIESP. Membro do IBCCRIM e integra o escritório D’Urso e Borges Advogados Associados. Instagram: @luizaugustodurso

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