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Linguística como ciência

04/08/2017 às 09:40
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Em 1916 Ferdinand Saussure publica seu Curso de Linguística Geral e a linguística passa a ser estudada como ciência autônoma, tendo como objeto de estudo a langue.

A linguística é o estudo científico da linguagem humana. Desde a antiguidade clássica até o início do século XIX a pesquisa linguística estava inserida em outras ciências, tais como a lógica, psicologia e filosofia, não sendo reconhecida como ciência autônoma. Em 1916 Ferdinand Saussure publica seu Curso de Línguística Geral e a linguística passa a ser estudada como ciência autônoma, tendo como objeto de estudo a langue. Identificamos, assim, que ao proporem novos parâmetros os estudiosos permitem a evolução científica, como ocorreu com a linguística, e que a “proliferação de versões téoricas e de paradigmas concorrentes” se faz necessária no cenário científico, visto que “é a comunidade ciêntifica que propõe os parâmetros, que escolhe e determina se uma teoria ou experiência é válida ou não” (apud CORACINI, 2007).

O estudo da linguística passa por diversos períodos históricos e, percebe-se que a mudança de parâmetros se faz necessária para a evolução científica. Saussurre torna a linguística uma ciência autônoma, realizando recortes da realidade para a análise observacional da langue, de modo imparcial-neutro. Assim, houve uma mudança de paradigma, na medida em que se abandona o histórico comparativo do século XVIII e o estruturalismo desponta no século XIX. Segundo Kuhn (apud CORACINI 2007), períodos de estabilidade ou “ciência normal” sucedem transformações, marcadas por rupturas, e geram períodos de ciência extraordinária”, visto que paradigmas são quebrados ou alterados e novas estruturas despontam no cenário para discussão e estudo, assim como ocorreu com a linguística.

Para se fazer ciência não se pode ter um único parâmetro, ou paradigma, pois isso levaria a uma estagnação social e impediria a evolução da ciência, ou de qualquer campo do conhecimento humano, visto ser no momento em que o paradigma concorrente entra em crise é que o conhecimento científico desponta de modo extraordinário.

É o que ocorre novamente no campo científico da linguística, na segunda metade do século XIX, quando Chomsky apresenta sua teoria gerativista, que, sob uma perspectiva “biologizante”, considera como ponto central o falante. A linguística deixa de ser analisada como sistema e passa a ser analisada como competência. Segundo Kuhn, citado por Coracini (2007): “são os períodos de crise, que precedem as chamadas revoluções científicas, que provocam o aparecimento de novas teorias e de paradigmas concorrentes, com o intuito de criar uma alternativa mais adequada”.

Saussure e Chomsy buscam a cientificidade, pois ambos consideram a linguística uma ciência autônoma e homogênea. Porém, possuem olhares diferentes sob o objeto de estudo, sendo que o primeiro estuda apenas a langue, o segundo inclui a parole. Saussure dedica-se ao estudo da langue, independente dos falantes e do meio social. Por sua vez, Chomsky considera que a estrutura não é estática, amplia o objeto de estudo e realiza a análise do ponto de vista do falante e o considera ouvinte ideal, pois, apesar deste estar diante de uma estrutura complexa e homogênea, conhece a sua língua perfeitamente e não é afetado pelas limitações de memória, distrações, desvios de atenção ou erros. Logo, a linguística se adapta à realidade ou personalidade do observador-pesquisador, que se assemelha a um camaleão, como afirma Tarallo (1986).

Na segunda metade do século XX, Labov (1966), em continuidade ao estruturalismo e gerativismo, propõe um olhar pautado no aspecto social, a sociolinguística variacionista, realizando uma abordagem integrativa, em que a linguística passa a ser estudada no seio do contexto social. Percebe-se um novo paradigma despontando no cenário científico, trazendo benefícios ao estudo e aperfeiçoamento da ciência.

Essa virada pragmática que surgiu com Labov nos faz refletir sobre a variação de paradigmas no cenário linguístico, pois percebemos que a análise científica não pode se pautar em uma única teoria ou parâmetro, pois no estudo científico não identificamos algo pronto para ser investigado; é necessário construir-criar o seu objeto de estudo de acordo com a realidade em que está inserido para ser investigado.

O fato de os paradigmas dos estudos científicos da linguagem na área da linguística terem sido definidos pelo Estruturalismo de Saussure, pelo Gerativismo de Chomsy e pelo Sociolinguístico de Labov, sugere que a pluralidade teórica é indispensável para o avanço científico, como afirma Kunh, visto favorecer o desenvolvimento da ciência e possibilitar que os recortes da realidade sejam analisados de modo mais profundo, sendo que uma nova análise considera a anterior e dá continuidade ao ciclo.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARROS, L. Curso Básico de Terminologia. São Paulo. Editora da Universidade de São Paulo, 2004.

BEVILACQUA, C. R. A Fraseologia jurídico-ambiental. Dissertação (mestrado). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Curso de Pós-Graduação em Letras, Porto Alegre, 1996.

SAUSSURE, F. Curso de Linguística Geral. São Paulo, Cultrix, 1973.

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Sobre a autora
Daniela Galvão Araújo

Possui graduação em Direito pelo Centro Universitário Euripedes de Marília (2002), Pós-graduação em Direito Processual: Civil, Penal e Trabalho e Mestrado em Teoria do Direito e do Estado pelo Centro Universitário Euripedes de Marília (2005). Atualmente é professora e coordenadora do curso de Direito da UNILAGO (União das Faculdades dos Grandes Lagos). Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Teoria do Direito, Teoria do Estado, Direito Civil, Direito Processual Civil, Direito Penal, Direito Constitucional.

Informações sobre o texto

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