Resenha do Texto: Matrix Iluminismo e afins. De Adriana Moreira

16/01/2018 às 17:00
Leia nesta página:

Resenha do Texto

O texto se propõe fazer uma ligação entre o filme Matrix, fenômeno da indústria cinematográfica, baseado na publicação do filósofo francês Jean Baudrillard, Simulacros e Simulação, Iluminismo e a busca da verdade.

A autora vai demonstrando através de diálogos dos personagens e passagens do filme as ligações entre o que seria um filme hollywoodiano e o teor filosófico estabelecido na obra de Baudrillard, analisando questões como a teoria da ideologia de Marx, o dualismo antropológico, a filosofia da técnica de Heidegger, o argumento sobre o gênio maligno de Descartes entre outras questões implícitas na trilogia.

O interessante no texto é exatamente essa ligação entre a história do filme e toda a análise filosófica por traz do enredo ou norteador do roteiro, a influência direta de Baudrillard nos idealizadores do projeto Andy e Larry Wachowsky, é esmiuçada no decorrer do texto.

As influências filosóficas são sugeridas quando diz que os autores devem ter lido Lacan ou que Matrix seria a personificação extrapolada da Kulturindustrie, a substância social reificada e alienada (do capital) diretamente dominando tudo, colonizando nossa própria vida interior, usando-nos como fonte de energia.

Ponto interessante é a ligação entre o mundo real e a Matrix e o Deserto do Real, a fábula de Borges citada no livro de Baudrillard como a mais bela alegoria da symulação que dizia que cartógrafos do império esforçaram-se por não ser minuciosos no mapa que este acaba por cobrir exatamente o território, que com a ruína do império, resta apenas o mapa, como um modelo do real sem origem nem realidade: Hiper-real.

A ideia de simulacro vem da Grécia, remetendo a Platão e sua caverna, seria assim o simulacro uma ligação entre realidade e ilusão, no caso do filme o personagem Neo se iguala aos prisioneiros da caverna, no entanto, a volta à realidade é diferente, onde o real se encontra destruído, ainda nessa análise sobre aceitação da realidade, a autora cita ainda a liberdade e a não aceitação da realidade, pois para o livre agora, aquela nova realidade não seria a verdadeira, nesse ponto a ligação com o filme é estabelecida através de diálogos entre Cypher e o Agent Smith, onde o primeiro prefere a ignorância e a volta para a Matrix.

A busca pela verdade real, ou a definição de realidade é estabelecida no texto citando passagens como Morpheus apresenta a Neo: O que é real? Como você define o real? Essa definição de realidade, da verdade é um quesito filosófico que sempre foi presente e continua sendo ponto de questionamento e debate.

Baudrillard diz que não é mais uma questão de imitação, nem de duplicação, nem mesmo de paródia. É uma questão de substituir a realidade pelos signos da realidade, chega assim à conclusão que a própria cultura contemporânea é artificial, é fruto da fabricação de uma civilização hiper-real que constrói cenários ilusórios, nesse quesito a autora faz ligação com a questão do programa Big Brother e a Disneylândia como formas de domínio do hiper-real e da simulação.

A ligação entre mapa e território e a Matrix do filme é demonstrada quando diz que os seres humanos conectados a esse programa de simulação só conhecem os fatos da sua cultura e “realidade” por intermédio de um programa de computador, pois a realidade em que esse se baseou de início não mais existe. Num sentido bem literal, então, “o território não precede o mapa, nem sobrevive a ele”. O que os humanos sempre conheceram foi só o mapa, ou o modelo.

Nesse sentido é a ilusão de vivência da realidade do ser humano, nesse aspecto estaríamos vivendo uma ilusão onde a verdade não é conhecida e há muito perdida ou que nunca mesmo existira. O texto ainda traz o Iluminismo para o debate afirmando que os teóricos do último prometem liberação de vários tipos de autoridade externa: familiar, religiosa e política, mas uma conseqüência não pretendida com a implementação das teorias do Iluminismo é a eliminação da liberdade, Hibbs fala da eliminação da liberdade quando acreditamos apenas naquilo que é verificável através das ciências naturais, matemáticas e mecânicas.

Essa busca da certeza objetiva, altamente racional é questionada, principalmente na pós modernidade, onde a busca pelo entendimento do pensamento humano vem aos poucos sendo mais constante no campo social-filosófico, com a aceitação de outros modos de pensar e de estabelecer um questionamento a toda imposição de pensamento préfabricado.

A busca pela liberdade é bem exposta no texto, quando diz que Morpheus quer libertar os humanos da Matrix e de sua pseudo-liberdade que não passa de ilusão, Cypher quer se libertar da Nabucodonosor e de Morpheus, e o Agente Smith que libertar os computadores, essa liberdade norteia todo o pensamento, mas no entanto a presença de simulacros é presente, nesse sentido o texto tem seu encerramento fazendo analogia entre o Reality Show e a Matrix, dizendo que o primeiro seria uma hiper-realidade consciente, onde somos cúmplices do simulacro criado, bem fundamentado e de audiência garantida. Inseridos na Matrix, somos ignorantes da nossa condição de “baterias” – a não ser, claro, que Morpheus cruze o nosso “destino”.

Assine a nossa newsletter! Seja o primeiro a receber nossas novidades exclusivas e recentes diretamente em sua caixa de entrada.
Publique seus artigos

A busca por uma liberdade e a procura pela verdade é basicamente a ideia norteadora do texto, criticando a condição atual de aceitação das imposições nos dadas, até mesmo por ignorância, que vem há muito passada por gerações e hoje caracteriza-se como hábito, cultura ou até mesmo uma pseudo-realidade.

Assuntos relacionados
Sobre o autor
Ronaldo Paulino Filho

Mestre em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco, Especialista em Direito Constitucional, Especialista em Direito Processual Civil, Advogado, Professor de Direito e Pesquisador.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Leia seus artigos favoritos sem distrações, em qualquer lugar e como quiser

Assine o JusPlus e tenha recursos exclusivos

  • Baixe arquivos PDF: imprima ou leia depois
  • Navegue sem anúncios: concentre-se mais
  • Esteja na frente: descubra novas ferramentas
Economize 17%
Logo JusPlus
JusPlus
de R$
29,50
por

R$ 2,95

No primeiro mês

Cobrança mensal, cancele quando quiser
Assinar
Já é assinante? Faça login
Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!
Colabore
Publique seus artigos
Fique sempre informado! Seja o primeiro a receber nossas novidades exclusivas e recentes diretamente em sua caixa de entrada.
Publique seus artigos