EM-SINA
A rigor, ninguém ensina nada a ninguém. O aprendizado é uma via de mão dupla. E o professor, mesmo o melhor deles, é apenas um facilitador, não um mágico que irá abrir sua cabeça a machadadas e colocar o conhecimento ali dentro (sem matar o aluno no processo). O professor te oportuniza o contato com o conhecimento. Ele marca o encontro. É preciso que você vá. Assim, você pode ter o melhor professor do mundo, mas, se você não tiver predisposição para aprender, se você não quiser realmente aprender, ele pode plantar bananeira e fazer mil outras firulas que tornem a aula mais agradável e, mesmo assim, você não irá aprender. O aprendizado é como uma ponte de duas folhas. Baixe a sua metade. Senão, mesmo que o professor baixe o lado de lá da margem, nenhum conhecimento transitará sobre uma ponte pela metade, ou, na melhor das hipóteses, muito pouco chegará até você.
Ir para a aula, sem atentar para o assunto, é fazer nada. Ir para a aula, atentar para o assunto e não estudar em casa o mesmo número de horas de cada aula assistida é fazer apenas metade. O assunto é difícil?! Se um só outro ser humano entendeu certo assunto (ainda que seja o próprio teorizador daquele mesmo assunto), o fato de você dizer que o assunto é difícil não apenas não resolve o problema, como faz de você mesmo, e não do assunto, o obstáculo para o aprendizado. E não é lá uma atitude construtiva, nem mesmo racional, olhar para um problema e dizer que ele é difícil, esperando que isso baste para que, como num passe de mágica, a solução caia do céu. Se um único outro alguém aprendeu, se houver uma única exceção, já basta, já prova que você também pode aprender, não importa quanto tempo demore. Você é um ser humano tão capaz quanto qualquer outro: pode, deve e vai chegar lá... se quiser.
E é uma verdade inconteste que aprendemos com mais facilidade tudo aquilo a que atribuímos valor. Assim, pela lógica, se você der valor a todo e qualquer conhecimento, tornará mais propício o aprendizado de todos eles, quer sejam tidos como difíceis, ou não. No mínimo, isso eu posso prometer, tornará mais agradável o caminho a ser palmilhado até alcançar o conhecimento a que se almeja. É bem verdade que fixamos o conhecimento com a repetição, seja em que área for da vida: um esportista, por exemplo, aprimora seus movimentos através do treino e da repetição, até que os movimentos se tornem automáticos, fluidos, até que ele não precise mais pensar para fazê-los, e ele (o movimento) simplesmente aconteça – ágil, preciso e decisivo. Assim também é com o conhecimento intelectual: repetição e treino, sempre. Isso me lembra uma fala de ‘Tyrion’, o anão, da obra ‘Guerra de Tronos’, que diria: ‘...uma mente necessita de livros da mesma forma que uma espada necessita de uma pedra de amolar se quisermos que se mantenha afiada (...) é por isso que leio tanto...’
Assim, em minhas aulas, vou sempre falar muito, vou sempre fazê-los ler muito, vou sempre ditar muito e fazê-los escrever muito, a despeito do choro e das lamúrias de alguns. Não, não é um fazer agradável (do ponto de vista do aluno), mas com resultados certos para quem se submeta a eles: o aprendizado a que se almeja. E, como professor, é nos resultados que centro meus esforços e nunca em agradar a meus alunos. Educar quase sempre guarda o caminho oposto ao de causar impressão de agrado. Já nos asseverava Aristóteles, muito tempo antes, que “as raízes da árvore do conhecimento são amargas, mas seus frutos são doces.” E eu completaria: não colherá fruto doce algum no amanhã, aquele que não se concentrar em plantar raízes amargas no agora. Quanto a mim, eu só forneço as sementes e ensino a plantar da melhor forma que posso. E, acreditando, como acredito, que o homem seja um ser do conhecimento, crendo ainda que isto seja um direito fundamental (e, portanto, indisponível), vou continuar fazendo assim, a despeito mesmo do eventual querer contrário de alguns pupilos.
Dizem que ser professor é ser pai de muitos. E um pai empurra ‘goela abaixo’ o medicamento, sob os protestos e o choro do filho, ciente de que lhe fará bem. É que o pai, assim como o professor, foca a cura futura e duradoura que o medicamento possibilita; ao passo que o filho, como o aluno, só enxerga o amargor temporário e imediato do medicamento.