A participação das mulheres no mercado de trabalho: Avançamos ou estagnamos?

23/03/2018 às 18:30
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A proporção de trabalhadores em ocupações de até 30 horas semanais é maior entre as mulheres e isso pode estar relacionado à predominância feminina nos afazeres domésticos, aos quais as mulheres trabalhadoras dedicam 73% mais horas do que os homens. 

Seja no conjunto da população, seja no universo do trabalho, as mulheres são mais escolarizadas que os homens, mas ganham 30% menos que eles. Além disso, no Brasil apenas 37,8% dos cargos gerenciais (públicos ou privados) são ocupados por mulheres e, em 18 países, elas ainda precisam da aprovação formal do marido para trabalhar. 

Um recente Relatório da ONU avaliou que, no ritmo atual, homens e mulheres terão oportunidades, participação e salários iguais somente em 170 anos. Isso quer dizer que nossas filhas e nossas netas não viverão em uma sociedade igualitária. 

Existem, sim, grandes diferenças biológicas, de estrutura corporal e química entre homens e mulheres, mas tais distinções não podem conferir posições de superioridade. São diferentes, mas não desiguais. 

O que vemos é uma sociedade que atribui essencialmente à mulher a responsabilidade pelos cuidados inerentes à família, sendo a sobrecarga caracterizada pelos dois turnos (trabalho profissional e trabalho no lar) uma forma de discriminação, pois admite que a tarefa apenas lhes pertence.

A própria exigência de que a legislação nos diferencie (com base apenas no gênero e não nas nossas diferenças biológicas) reforça esse cenário, uma vez que a justificativa é sempre a nossa “jornada dupla”. 

Particularmente, não vejo como algo positivo, já que teremos uma legislação diferenciada, que contribui para nossa exclusão do mercado do trabalho e, quando conseguirmos um emprego, continuaremos tendo a tal “jornada dupla”, pois não se vê esforços para mudar a mentalidade comum. 

Recente estudo do Peterson Institute for International Economics sugere que a presença de mulheres em posições de liderança pode melhorar o desempenho financeiro das empresas. Os ganhos são maiores quando é maior a proporção de mulheres na chefia. Companhias que aumentaram a presença de mulheres em até 30% em cargos de alta hierarquia viram, em média, um crescimento de 15% em sua rentabilidade.

E isto é algo que deve ser estimulado desde a infância, já que os países com um maior número de meninas que tiveram altas notas em testes de ciências exatas foram os mais propensos a ter empresas com mulheres em cargos de gestão.

A justificativa? Inclusão significa representatividade, algo que faz uma organização ser respeitada, aumenta o seu ritmo de inovação e, principalmente, a performance dos seus colaboradores. 

Precisamos caminhar a passos largos. 

Precisamos honrar a nossa história e agir com mais sororidade, confiando e acreditando mais umas nas outras. Não temos esses 170 anos que os estudos apontam e já está mais do que provado que as mulheres são perfeitamente capazes de cuidar de si, de conquistar aquilo que desejam e de provocar mudanças profundas no curso da história.

Sobre a autora
Kerlen Caroline Costa

Advogada inscrita na OAB/RS sob o nº 66.121, graduada em direito pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões no ano de 2004, pós graduada em direito do trabalho e direito processual do trabalho pela mesma instituição e especialista em direito previdenciário pela Fundação Getúlio Vargas. <br>Advogada integrante da Equipe Trabalhista e Gestão de RH do Scalzilli.FMV Advogados Associados, localizado na cidade de Porto Alegre/RS, mas com atuação em todo o país.<br><br>

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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