2018 é um ano triste, trágico. É uma pena que não possa ser esquecido. O custo de esquecer é praticar de novo, com agravantes. Por isso, talvez seja melhor chamar de Ano da Mentira. O crescimento das notícias falsas em cenário político, as Fake News, dá o tom da questão. O Facebook, por exemplo, depois de amargar denúncias gravíssimas de violação de privacidade, começou a retirar mensagens e páginas alegadamente falsas – só não coibiu os endereços nazistas de sua plataforma. Alegou-se tratar de liberdade de expressão. Claro, dirão alguns, seu presidente é o Trump: o mesmo renegado por primos alemães que “não escolheram seus parentes”.
Vou noticiar alguns casos para depois me concentrar em um deles: no dia 01.8 esgotaremos os recursos previstos para o ano todo, e isto quer dizer que consumimos os recursos naturais mais rapidamente do que a Terra pode regenerar; neste exato momento estão em operação “novas” tecnologias – com base em inteligência artificial (IA) – que resultarão em milhões (depois bilhões) de desempregados pelo mundo afora; o fascismo soube melhor utilizar as mídias digitais do que a democracia, por isso cresce tanto nas ruas, nas casas, no trabalho, nas polícias; todos nós já estamos fichados pela Matrix de Inteligência Artificial .
Alguns ainda sustentam que há base material para o desenvolvimento de tecnologias (IA) capazes de dirigir politicamente um país. Isto significa tanto “administrar” a vida comum do homem médio quanto tomar o poder. O Golpe de Estado digital teria início com a derrubada dos sistemas inteligentes mais sensíveis do país em questão: nem precisaria ser a segurança, bastaria levar o caos e a catástrofe para a saúde pública. - Se bem que neste quesito somos especialistas.
Infelizmente, o ver para crer aqui é um “absoluto desanimador”. Fato é que a IA já produz pequenos recursos e petições mais simples – dispensando-se o uso de advogados. Não se trata de buscar um modelo online e preencher, pois agora o usuário apenas insere seus dados e algum código (multa de trânsito, cálculo trabalhista) e a plataforma faz o restante – até impetrar a ação judicial. Porém, também os médicos especializados em análise de ultrassom correm contra o tempo: a IA acerta a “leitura” em 99% dos casos – talvez mais do que o erro médico permita.
Avaliar avanços na ciência e na tecnologia nunca foi tarefa fácil: desde a sabotagem na era da industrialização nascente, até o Unabomber dos anos 1990. É óbvio que preferimos a modernidade a (sequer) pensar no Amor Romântico. No entanto, é o conjunto da obra que aterroriza. E ainda que os problemas do presente já sejam de boa monta – como o aquecimento global e a desertificação do mundo da vida pública e privada –, o futuro não parece limpo e suave.
Particularmente, cresci sabendo que “a humanidade não se coloca problemas maiores do que possa resolver” (Marx); todavia, os mais jovens nem imaginam o que isto quer dizer. Também não acredito no suposto fim da história; porém, apenas com base em que fui educado sob o Princípio Teleológico. E, de novo, teríamos de começar pelos dicionários para refletir sobre isso.
O fato global é que a modernidade nos ensinou (vírgula) a viver o presente, a consumir, a tomar para si, a reter e deter o máximo possível de recursos, dinheiro e poder. Não aprendemos (vírgula) a olhar para frente “como se não houvesse amanhã”. Haverá amanhã? Certamente. Será como queremos ou imaginamos? Seguramente que não. Diante de tudo que podemos ver sobre o hoje, o amanhã é uma caixa escura. A Pandora, cheia de surpresas, plenamente aberta, e tendo sumido a chave, consome a Terra e as expectativas de vida muito mais rapidamente do que seria suportável.
Então, falar da vida futura é mais ou menos como falar da morte. Quem gosta de falar disso? Salvo exceções, ninguém gosta ou está preparado para se entreter com a morte. Pois é, a Terra também não está. Nosso planeta foi projetado para morrer junto com o Sol, isto é, daqui alguns bilhões de anos. Mas, estamos antecipando vertiginosamente este curso. Logo teremos de enfrentar o problema da morte muito claramente, e duvido que calmamente, na iminência de uma guerra global pela água potável. Primeiro falaremos dos sistemas políticos encerrados digitalmente, na Era da tecnologia do Bitcoin, depois enfrentaremos o destino da raça humana.
Para os desavisados, no entanto, sugiro buscar informações qualificadas antes de atacar o artigo com sarcasmo. Tudo que descrevi está bem documento na rede mundial de comunicação. Nem precisa sair do sofá, basta clicar. Esse é o lado bom da modernidade. Mas, lembremos que o Eu Robô, de Isaac Asimov, já está firme e operante. Então, boas leituras – digitais ou físicas.
Vinício Carrilho Martinez (Pós-Doutor em Educação e Ciência Política)
Professor Associado da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/CECH
Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade/PPGCTS
Departamento de Educação/Ded