A dor física, a dor emocional e a dor social

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06/02/2020 às 13:47
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Notas Complementares:

[1] Síndrome de Riley-Day

Há uma raríssima desordem do sistema nervoso autônomo, denominada Síndrome de Riley-Day, e, dentre seus diversos sintomas, inclui-se a insensibilidade à dor e a incapacidade de produzir lágrimas.

[2] Dor e Sofrimento

ARTHUR SCHOPENHAUER e PAUL RÉE são reconhecidos filósofos com ensinamentos dotados de extremo pessimismo em relação à vida.

Consoante os ensinamentos de JADE SUELEN (Dor, Sofrimento e Satisfação em Paul Rée e Arthur Schopenhauer, disponível em https://colunastortas.com.br/dor-sofrimento-e-satisfacao-em-paul-ree-e-arthur-schopenhauer/), “ARTHUR SCHOPENHAUER e PAUL RÉE são considerados filósofos com escritos pessimistas, pois acreditavam que tanto sofrimento quanto a dor fazem parte da existência e da essência humana e, portanto, da própria natureza do homem”.

“O animal (humano é) malvado por excelência e seus atos estão sempre marcados pelo egoísmo, pelo conformismo, pela inveja e pela vaidade; o amor é um sentimento muito raro (...); a religião é apenas um instrumento de controle social e os sacerdotes não passam de simuladores, alguns conscientemente, outros menos; a felicidade é uma ilusão destinada a desaparecer muito em breve e a pior coisa que pode acontecer a quem tem o passatempo de refletir sobre a vida é que tenha tempo para fazê-lo.” (DOMENICO M. FAZIO. A Ética na Escola de Schopenhauer: O caso de Rée. Revista Ethica, Nº 6/2012, Florianópolis, ps. 87-98)

Segundo o psiquiatra vienense VIKTOR FRANKL, “o sofrimento deixa de ser sofrimento quando ganha sentido” e a importância de sua descoberta para suportar situações dolorosas é o que permite influenciar na capacidade de agir sobre seus efeitos. Já para GAUTAMA BUDDHA, “o sofrimento surge do ato de desejar e de sua libertação”. Tais afirmações têm em comum o significado e o desejo, fatores associados à linguagem, como forma de interpretar os fatos, e a satisfação, elemento que se contrapõe à ilusão, assunto tratado na tese de PAUL RÉE, a respeito da felicidade completa e perfeita que os homens desejam.

Partindo do ponto de vista do significado, o Psicólogo DAN GILBERT explica que pessoas infelizes se encontram nessa condição por causa da maneira que definem a própria felicidade, contrapondo-se às teses de SCHOPENHAUER:

“Quando o desejo e a satisfação se seguem em intervalos que não são nem demasiados longos nem demasiados curtos, o sofrimento, resultado comum de um e de outro, desce ao mínimo: e essa é a vida mais feliz, visto que existem muitos outros.” (DOMENICO M. FAZIO; A Ética na Escola de Schopenhauer: O caso de Rée, Revista Ethica, nº 6/2012, Florianópolis, ps. 87-98)

A vontade é dor e também a sua causa, porque não haverá satisfação total do desejo. Enquanto não se concretiza, a ilusão e a esperança possibilitam a espera da sensação que o sentimento de felicidade pode proporcionar:

“Na alternância entre os desejos saciados e os surgimentos incessantes de outros, a vontade move-se em uma cadeia de aspirações infinitas que conduzem ao sofrimento, ou senão quando esse desejo for satisfeito logo surge o tédio, a apatia e a dor muito pior que o necessitar.” (KARLA SAMARA S. SOUSA; Principais elementos do pessimismo Schopenhauriano, Revista Lampejo, nº 10/2012, Paraíba, ps. 114-129)

O sofrimento, erroneamente, é entendido como sinal de patologia e não como parte da experiência da existência humana. A busca pela comodidade mental e física sempre resta evidente. No entanto, como entende o psicólogo ROLLO MAY, a vida é o espectro, e o sofrimento parte do que existe. Além disso, diz que a rotulação das experiências, que podem trazer desenvolvimentos, é prejudicial, no sentido de opor-se a processos naturais que trazem crescimentos de teor psicológico.

“Viver é sofrer com a esperança de que os ‘momentos felizes’ sejam constantes, o que, na realidade, não existe: ‘Somos infelizes porque não possuímos os objetos que desejamos: mas isso é suportável. Somos infelizes porque a posse de nossos desejos não nos torna felizes: e isso é insuportável’”. (DOMENICO M. FAZIO; A Ética na Escola de Schopenhauer: O caso de Rée, Revista Ethica, nº 6/2012, Florianópolis, ps. 87-98)

Evitar a dor é impossível, mas, para os filósofos trabalhos, é possível ser menos infeliz. Mesmo não sendo provável ensinar a como ser feliz, é viável reduzir o sofrimento e valorizar pequenos ou grandes momentos de felicidade que estão ligados, segundo Rée, “aos estados de ânimos e ao temperamento” (ob. cit.).

[3] Definição Simplificada de Resiliência

Resiliência é um conceito que tem sido (amplamente) utilizado para explicar fenômenos psicossociais referentes a indivíduos, grupos, organizações ou instituições que superam ou transcendem situações adversas.

[4] Definição Simplicada de Depressão

Em uma linguagem simples a depressão pode ser definida como a inexistência de perspectiva subjetiva. Em outras palavras, ocorre quando não mais vislumbramos, para cada um de nós, um futuro existencial.

[5] Histeria e Suas Origens Históricas

SIGMUND FREUD e BREUER desenvolveram estudos no final do século XIX com o intuito de evidenciar a existência de uma doença de origem psicológica, com manifestações orgânicas - Histeria. Inicialmente tratada como um problema meramente feminino (o termo “histeria” é uma palavra de origem grega que significa útero), a psicanálise foi evoluindo este conceito no decorrer dos anos, chamando-o atualmente de síndrome de conversão, que é exatamente a transformação de uma dor psicológica em uma dor física, que atinge ambos os gêneros.

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Sobre o autor
Reis Friede

Desembargador Federal, Presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (biênio 2019/21), Mestre e Doutor em Direito e Professor Adjunto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Graduação em Engenharia pela Universidade Santa Úrsula (1991), graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1985), graduação em Administração - Faculdades Integradas Cândido Mendes - Ipanema (1991), graduação em Direito pela Faculdade de Direito Cândido Mendes - Ipanema (1982), graduação em Arquitetura pela Universidade Santa Úrsula (1982), mestrado em Direito Político pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1988), mestrado em Direito pela Universidade Gama Filho (1989) e doutorado em Direito Político pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1991). Atualmente é professor permanente do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Local - MDL do Centro Universitário Augusto Motta - UNISUAM, professor conferencista da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, professor emérito da Escola de Comando e Estado Maior do Exército. Diretor do Centro Cultural da Justiça Federal (CCJF). Desembargador Federal do Tribunal Regional Federal da 2ª Região -, atuando principalmente nos seguintes temas: estado, soberania, defesa, CT&I, processo e meio ambiente.

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