Ainda é cedo para prever quando o Brasil e o mundo estarão livres da pandemia da Covid-19. Mas quando chegar esse momento, poderemos identificar, com alguma precisão, os erros e acertos adotados pelos Estados e respectivos líderes.
Certamente a economia mundial estará em frangalhos. Haverá falência de empresas, desemprego e tantas outras conseqüências nefastas. Entretanto, após a tempestade pandêmica, empresas serão reerguidas, empregos serão recriados e tantos outros problemas serão solucionados.
O grande desafio, que se imporá às instituições, à Ciência e à sociedade organizada está em fazer com que as lições vivenciadas resultem em avanços sustentáveis. O risco de isso não ocorrer existe e os seus indícios estão nos recentes noticiários, que mostram pessoas ignorando as recomendações de isolamento social nas ruas e áreas de lazer público, como se a existência da Covid-19 já estivesse naturalizada no cotidiano.
Já bastam as milhares (talvez milhões) de vidas que ainda se perderão e que os Estados e respectivos líderes poderiam ter salvado, caso as medidas certas tivessem sido tomadas no momento oportuno.
Salvar vidas deve ser o foco orientador das políticas públicas a serem adotadas pelos países. E salvar vidas não é custo. É dever de todo e qualquer gestor público.
O custo econômico para que isso ocorra será imenso, mas não inédito. Os Estados possuem – e podem criar mais – instrumentos destinados a promover essa reconstrução, exatamente como aconteceu em calamidades humanitárias pretéritas, sobretudo no século XX, que viu programas como o New Deal e o Plano Marshall ajudarem o mundo a se reerguer após a Grande Depressão de 1929 e a Segunda Guerra Mundial.
O componente inédito está reservado à reflexão que o flagelo viral nos impõe. Emergiremos dele instigados a rever com seriedade conceitos e realidades, em questões centrais das relações sociais e de trabalho, da ocupação dos espaços urbanos, da habitação popular, dos transportes de massa e dos comportamentos. Enfim, da cultura em sentido lato. Tal reflexão deverá gerar um amadurecimento penosamente profícuo.
A transformação será importante especialmente para as nações semiperiféricas, como o Brasil. Veja-se, por exemplo, como a população incorporou práticas de higiene que há mais de um século são defendidas pela Ciência como profiláticas de doenças.
Tome-se também como o exemplo o Judiciário. Para ele, a pandemia está sendo um laboratório de mudanças há muito ensaiadas, mas até agora não consolidadas. Felizmente, a instituição foi hábil e ágil em se apoiar na tecnologia e, mesmo com tribunais, Varas e Juizados fechados, continua trabalhando e proferindo decisões, muitas das quais relacionadas à pandemia, inclusive em sessões colegiadas virtuais.
Equilíbrio e serenidade devem nortear a necessária ponderação entre as medidas associadas a impedir a disseminação do vírus (a quarentena, por exemplo, que é fundamental) e aquelas que objetivam salvaguardar a manutenção das atividades econômicas, que, embora importantes, não se podem sobrepor ao propósito último: a preservação da vida humana.