Aspectos motivacionais do terrorismo suicida

27/06/2021 às 14:57

Resumo:


  • O terrorismo suicida é a forma mais agressiva e violenta de praticar um atentado terrorista, onde o agressor tira a própria vida em nome de seus valores.

  • Os terroristas suicidas são pessoas normais, racionais e idealistas, motivados por fatores religiosos, políticos, sociais e ambientais.

  • A prevenção do recrutamento por organizações terroristas, através da integração social, redução de desigualdades e fortalecimento de lideranças pacíficas, é essencial para combater o terrorismo suicida.

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

Artigos sobre os fatores que motivacionais incidentes sobre terroristas suicidas.

1.  Aspectos gerais do terrorismo suicida.

O presente trabalho visa tratar dos fatores motivacionais que, de alguma forma, influenciam as pessoas a se juntarem a organizações terroristas e, com o fim de atingir os objetivos defendidos pela citada organização, perpetram atentados que culminam não só com a morte de inocentes, mas, igualmente, com a do próprio terrorista, que acaba dando a vida pela sua “causa”, praticando o que podemos denominar de atentado terrorista suicida.

Este tipo específico de se perpetrar um atentado terrorista é, sem margem para qualquer dúvida, a forma mais agressiva e violenta de praticar um atentado terrorista, em decorrência dessa disposição do agressor de ceifar a própria vida em nome dos seus “valores”, mas também no intuito de tirar o maior número possível de vidas inocentes, deixando claro o ímpeto destrutivo e homicida de sua ação, bem como o intento de causar o maior número possível de danos (principalmente de vidas), sempre no intuito de maximizar o poder de influência coercitiva que a organização da qual o terrorista suicida faz parte frente ao governo ou órgão internacional que os mesmos pretendem atingir, coagir ou influenciar. Em verdade, segundo Hassan (2007), o terrorismo suicida chega a matar 12 vezes mais que outras formas de atentado, e embora essa prática constitua apenas 3,5% dos atentados praticados, os atentados suicidas são responsáveis por quase 30% das mortes derivadas de ações terroristas.

Podemos observar, dessa forma, os elementos constitutivos dessa tática terrorista, sendo estas, em primeiro lugar, a disposição de matar outras pessoas (no caso o maior número possível das vítimas que são o alvo do atentado), e o segundo elemento é a disposição de tirar a própria vida, deixando claro que os terroristas suicidas são, de fato, assassinos-suicidas.

Efetivamente nas ultimas décadas esse tipo de comportamento (praticar um atentado terrorista suicida) acabou ganhando grande notoriedade, principalmente depois do ataque de 11 de setembro de 2001, quando a Al Qaeda perpetrou um ataque terrorista suicida às torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, atentado este que culminou não apenas na morte das vítimas diretas dessas ações barbaras (tanto os demais passageiros dos aviões que foram transformados em misseis pelos terroristas para atingir os citados prédios, bem como as vítimas que estavam naqueles prédios), como também dos próprios terroristas que se encontravam naqueles aviões.

Como todo tipo de atentado terrorista é bom que se deixe claro que o terrorismo suicida, assim como as demais formas de terrorismo visam, por meio desse ato, causar sentimentos na população, em geral sentimentos de medo, ansiedade, dor e desespero, assim como causar danos devastadores às vítimas diretas dessas ações (que acabam perdendo a vida junto com o terrorista suicida ou são gravemente feridas, sendo atingidas em sua integridade física, psíquica e patrimonial). Esse tipo de ação é motivada por razões de cunho políticas, religiosas, étnicas, dentre outras (o caso do atentado já citado, conhecido como 11-S, tem forte motivação religiosa, mas não podemos desconsiderar fatores políticos nesse fato, como comentaremos mais a frente).

Dessa forma podemos perceber que o terrorismo suicida, bem como as demais formas de terrorismo possuem dois tipos de vítimas, as vítimas diretas, que são o alvo dos próprios atentados (pessoas que são atingidas diretamente em sua vida, integridade física, patrimônio e liberdade), e as vítimas indiretas que seriam a população em geral que sofrem os efeitos psicológicos negativos da ação terrorista, posto que os atentados terroristas comumente geram um grande temor nas demais pessoas daquele grupo atingido, onde estas acabam tendo que conviver com o medo frequente de ser um futuro alvo desse tipo de ação devastadora.

Os danos diretos das ações terroristas e a criação de uma situação de insegurança generalizada não são o objetivo primordial do terrorismo suicida, mais um meio para atingir um fim, havendo sempre objetivos que a organização terrorista busca com a citada ação, sendo que podemos citar dentre estes objetivos, apenas a título exemplificativo: a expulsão de estrangeiros, provocar mudanças políticas, realizar retaliação e vingança, ganhar projeção local ou global, construir uma imagem de poder, angariar apoio público, recrutar novos voluntários, preservar território, cultura ou religião, dentre outras.

No próximo ponto trataremos dos diversos fatores que podem motivar um indivíduo a cometer atentados terroristas suicidas.

2. Fatores motivacionais para a prática do terrorismo suicida:

Existem vários motivos que podem levar um individuo à prática desse tipo de comportamento extremo de violência, e muitas vezes o terrorista suicida é impulsionado pela firme convicção de que seus objetivos, seja este qual for, devem ser alcançados a qualquer custo, mesmo que este custo seja a vida do próprio terrorista (e evidentemente dos muitos inocentes que também serão lesados pela sua ação).

Mas cabe a indagação: como um indivíduo pode deixar de lado um dos princípios fundamentais da própria natureza humana (que é a própria sobrevivência) e praticar um atentado terrorista suicida? Na verdade existem diversos móveis que atuam de forma conjugada para levar uma pessoa a um ato tão extremo.

Em primeiro lugar é comum que os terroristas pratiquem tais atos motivados pelas suas leis religiosas, isso sob uma perspectiva extremista (um verdadeiro fanatismo religioso), afirmando que seus atos de violência extrema não constituem mais que a defesa de sua fé, ou um ato de vingança pelo que a comunidade religiosa do mesmo tem sofrido, o que evidencia que existe uma racionalização do comportamento desses terroristas, que cometem tais atos em prol do bem comum de sua comunidade (seja ela religiosa, política, étnica, dentre outras).

Como fica evidente, e é bom que se deixe claro, os terroristas não são, como muitos veículos jornalísticos gostam de adjetivar (de forma errônea, diga-se de passagem) pessoas loucas e irracionais, é fato que os estudos levados a cabo acerca de possíveis problemas psicopatológicos não indicam que os terroristas tenham qualquer anormalidade psíquica (eles não são psicóticos nem sofrem de qualquer tipo de transtorno de personalidade), muito pelo contrário os terroristas são extremamente racionais, posto que para cometer muitos dos atos pelos mesmos perpetrados é exigido um grande grau de organização e planejamento, o que é completamente incompatível com pessoas com algum tipo de doença ou transtorno psiquiátrico grave.

Na verdade os terroristas suicidas são pessoas normais, como qualquer outra, são racionais, moralistas e idealistas, mas que por algumas razões, que traremos logo a frente no presente trabalho, acabam se convertendo em fanáticos dispostos a tudo para atingir os fins a que se dedicam.

Não há que se acreditar, outrossim, que o perfil dos terroristas suicidas sejam de criminosos violentos, muito pelo contrário, estes costumam ser jovens, geralmente tímidos, introvertidos e não violentos, mas que por viver em uma situação social de marginalização, onde estes passam por sérias privações, acabam nutrindo alguns sentimentos de vingança, frustração e ódio, sentimentos estes que, manipulados por grupos terroristas, acabam levando os mesmos a praticar ações de violência extrema.

Outra questão que merece ser levantada é que esses jovens sentem uma grande necessidade de serem aceitos pelo grupo do qual os mesmos fazem parte, no intuito de vencer o sentimento de marginalização que os mesmos sofrem (uma clara inadequação ao meio social), assim os mesmos tentam encontrar o seu espaço na sociedade, e na busca por essa adequação social acabam sendo captados por grupos extremistas para realizarem esses atos extremos de violência, vindo os mesmos a cometeram tais ações com vistas a obter a aprovação dos demais membros desse grupo (que o aceitaram como parte integrante dessa comunidade).

Assim chegamos, a outro ponto de motivação dos indivíduos que praticam um ato terrorista suicida, o fator ambiental ou grupal. No interior desse grupo (organização terrorista), os indivíduos, com todos esses sentimentos negativos, de frustração, ódio, desejo de vingança, e com um grande desejo de se adequar, acabam sendo aceitos, e se tornam comprometidos com os objetivos da organização, estes tem alimentada a ideia de que seus familiares e amigos sempre lembrarão dele como um corajoso herói, que morreu por uma causa que todos acreditam ser justa e moral, sendo, dessa forma, um orgulho para aquela comunidade. Nesse contexto, não realizar o ato terrorista suicida pode gerar a reprovação do indivíduo frente à sua comunidade, em decorrência do mesmo não ter tido coragem e a determinação necessária para atingir os fins da organização, e ele novamente voltará ao seu estado de inadequação social.

No que concerne aos terroristas suicidas islâmicos é muito comum os mesmos serem lembrados como mártires da defesa da citada religião, sendo estes glorificados em público, demonstrando uma forte motivação de cunho religiosa, onde a interpretação da fé islâmica, que condena o suicídio de forma veemente, acaba ganhando uma interpretação distorcida por parte de líderes religiosos radicais que afirmam aos suicidas que o sacrifício dos mesmos será recompensando pela divindade que os mesmos cultuam, onde o terrorista suicida, após a perpetração do citado ato, será levado ao paraíso para viver com 72 virgens.

Fica evidente que os jovens que tem dificuldade em achar o seu espaço na sociedade são um alvo fácil das ações de doutrinação de organizações terroristas radicais, e ao se sentir aceitos esses indivíduos acabam se entregando de corpo e alma para essa organização e os fins da mesma. É muito comum, por exemplo, que jovens islâmicos que imigraram para países europeus acabem se sentindo marginalizados e não aceitos pela cultura daquele país, em decorrência das diferenças que existem entre uma civilização europeia ocidental onde esse jovem reside e a cultura da civilização da qual o mesmo se originou. De outro lado, esse jovem também não se sente parte da comunidade que o mesmo deixou para trás, criando um sentimento de falta de identidade desse jovem que não se sente parte de nenhum desses “mundos”, o que acaba se tornando um terreno fértil para que o mesmo seja recrutado por organizações terroristas. Leve em conta que com a popularização da internet esse recrutamento se tornou cada vez mais fácil, posto que os terroristas tem usado redes sociais com vistas a potencializar o recrutamento de novos adeptos para a sua causa, não importando em que lugar do mundo esses potenciais recrutas estejam.

Nesse sentido Almeida et al. (2017) afirmam:

De qualquer modo, é inegável que o recrutamento tem avançado sobre jovens na Europa ocidental, principalmente homens, em busca de emoção, status, vingança e, sobretudo, identidade. A vulnerabilidade pela crise de identidade é um fator proeminente e que atinge muçulmanos de segunda geração, que não conseguem se adaptar à vivência entre duas culturas diferentes (a de sua família e a do país onde mora), e que se sentem tratados como estrangeiros tanto pelos europeus de sua nacionalidade quanto pelos cidadãos de nações mulçumanas.

Junte-se a isso um contexto social cheio de dificuldades, com falta de oportunidades e baixo nível sócio econômico, recrudescimento político do Estado muitas vezes sem qualquer oportunidade de participação política por meios democráticos com vistas a mudar a citada realidade social, ainda agravado pela perda de familiares e amigos em eventos traumáticos (como guerras, doenças, ou ações terroristas), o que acaba potencializando os já citados sentimentos de desesperança, raiva, desejo de vingança, e assim temos todos os ingredientes necessários para que um líder ultrarradical lápide nesse jovem um “herói suicida” em prol da causa (seja está social, política ou religiosa).

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Dessa forma, embora o fator religioso seja muito importante como fator motivacional no terrorismo suicida, não há que se deixar de lado, fatores de cunho social e político, posto que é da natureza dos atentados terroristas (e os de cunho suicida não são exceção) buscar impor uma ideologia política, bem como tentar modificar a realidade política e social. Não obstante a motivação de cunho religiosa dos atentados terroristas perpetrados pela Al Qaeda, que defendem a criação de um Estado Islâmico puro e alegam que suas ações extremas de violência foram realizadas em defesa da fé mulçumana, é fato que tais atentados tem um inegável objetivo político, como, por exemplo, fazer com que países como os Estados Unidos deixem o oriente médio, bem como derrubar os regimes monárquicos que existem na citada região.

Nesse diapasão, é importante comentarmos acerca de algumas características das lideranças das organizações terroristas, tendo em vista a importância destes para recrutar os terroristas suicidas. Estes líderes comumente são pessoas carismáticas e dominadoras que acabam atraindo com facilidade os jovens em situação de vulnerabilidade (com problemas de identidade, inexperientes, em delicada situação social) para a organização e, consequentemente, para cometeram os atos violentos extremos ora tratados. É comum que tais líderes façam uso de ideias polarizadas, onde o grupo do qual o terrorista suicida faz parte está do lado certo, enquanto o inimigo, claramente identificado (que pode ser o governo, um grupo étnico, a civilização ocidental, dentre outros), está do lado errado.

Dessa forma, fazendo uso de técnicas efetivas de recrutamento, persuasão e conversão, o líder do grupo acaba doutrinando esses indivíduos, sendo comum o uso de técnicas de condicionamento cognitivo para dissuadir o indivíduo à prática desse tipo de atentado terrorista, sendo comum que essa doutrinação também seja dirigida a familiares do terrorista, com vistas a reforçar a ideia no mesmo de praticar o atentado que culminará na morte deste.

Para Cardoso e Sabbatini (2001), é comum o uso de técnicas de lavagem cerebral por parte dos terroristas, com vistas a convencer o mesmo a praticar os atos extremos ora comentados:

A teoria de lavagem cerebral sustenta que a única forma de forçar uma mudança de atitudes em adultos é limpar as suas mentes - apagando crenças existentes por meio de uma combinação de indução de estresse mental e tensão nervosa, receptividade à sugestão, e exaltação frenética das massas. Sargant argumenta que essas técnicas têm sido usadas através dos tempos por agentes bem diversos, tais como pastores religiosos e treinadores de futebol americano. Através da lavagem cerebral, novas idéias podem ser introduzidas e firmemente fixadas mesmo em mentes que não estejam dispostas a recebê-las de início. Não é coincidência que as religiões fundamentalistas de todos os tipos usem essas técnicas, oferecendo uma mistura de salvação, redenção, promessas de recompensa eterna no céu, sentimentos de culpa, timidez e inadequação.

Um testemunho impressionante dessa conversão é mostrada por Abd Samad Moussaoui, o irmão de um homem suspeito de planejar o seqüestro nos ataques terroristas de 11 de setembro. Em 4 de outubro de 2001 ele deu uma entrevista na CBS "Ele um dia amou a América, mas foi lavado cerebralmente, foi feita uma lavagem cerebral por um grupo radical islâmico. Ele gostava de calças jeans, basquetebol e do cantor Bruce Springsteen, mas passou a odiar os Estados Unidos após se juntar ao grupo”.

Também devemos alertar que, por vezes, o recrutamento de indivíduos para integrar organizações terroristas e praticar atos extremos de violência ocorrem na infância, o que dispensa os sofisticados métodos de doutrinação já comentados, posto que o julgamento moral de crianças e adolescentes ainda não são devidamente formados, podendo as mesmas serem facilmente induzidas por familiares ou por lideres comunitários ou religiosos, sendo muito fácil para esses lideres imbuírem na mente de crianças e adolescentes as ideias da prática de atos cruéis, tais como o terrorismo suicida.

Questão que tem chamado muito a atenção foi a prática de terrorismo suicida por parte de mulheres, onde as mesmas, em decorrência de circunstâncias sócio econômicos, e da própria cultura da localidade onde as mesmas vivem, acabam sendo marginalizadas e estigmatizadas em seu meio social, o que as deixam vulneráveis ao recrutamento por organizações terroristas, que sob a promessa de que os atos pelas mesmas perpetrados (atentados suicidas) trarão recompensas às mesmas como a vida eterna em um paraíso e uma mudança radical do seu status social. Assim, se antes essa mulher era considerada uma vergonha para a sua família e o meio social, após o seu suicídio ela será considerada uma mártir, trazendo orgulho a sua família e comunidade, deixando claro como os fatores sócio ambientais acabam impulsionando essas mulheres marginalizadas pela sociedade onde vivem a praticar atentados terroristas.

Nesse sentido afirma Gonçalves e Reis (2017):

O terrorismo suicida também tem encontrado campo cada vez mais fértil entre as mulheres. Muitas vezes estas não possuem outra saída além da imolação pessoal e de outros. No caso da Palestina, por exemplo, essas mulheres se veem largadas pelos maridos com os filhos, sem possibilidade de se sustentar, e retornam à casa de seus pais, onerando a família. São Consideradas incompetentes, humilhadas, não podem trabalhar porque nunca puderam estudar ou ter uma profissão. Esses fatores determinam de forma especial a decisão em cometer um atentado suicida, mudando o seu status de “uma desgraça para a família” para de um “mártir”. Determinadas sociedades podem sim contribuir para alocação de mulheres para o terror suicida.

3. Conclusão.

Diante todo o exposto, fica evidente que são vários fatores que acabam motivando os indivíduos a virem a praticar um atentado terrorista suicida, dentre estes fatores psicológicos, sociais, ambientais, políticos e religiosos, atuando de forma conjugada para que o indivíduo vença a sua própria natureza de buscar a autopreservação em prol de objetivos de uma organização extremista.

A grande pergunta que se faz é: como modificar essa realidade? Essa sim, é a questão central ao problema ora discutido. No Brasil em 2016 editou-se, por exemplo, a sua legislação antiterror (lei 13.260/16), tendo em vista que naquele mesmo ano seria sediado, na cidade do Rio de Janeiro, as Olimpíadas daquele ano, havendo um temor de que o país pudesse vir a ser um alvo do terrorismo internacional devido a grande publicidade do citado evento.

Não obstante essa tentativa de prevenir e reprimir praticas terrorista com a edição de leis penais seja muito usadas por diversos Estados, é uníssono na doutrina especializada que o direito penal, por si só, não possui os mecanismos necessários para prevenir atentados terroristas, posto que, por mais que a legislação seja dura em face desse tipo de comportamento (e a legislação brasileira é muito dura em seu tratamento penal do terrorismo), no que concerne a prevenção geral negativa que se espera que uma lei penal possua frente à sociedade, no caso específico do terrorismo essa prevenção é limitada.

Se levarmos em conta que no terrorismo suicida o autor desse atentado não se importa em perder a própria vida nessa ação, chegamos à fácil conclusão de que estabelecer condutas criminais com penas severas não tem qualquer efeito para dissuadir o terrorista suicida a não praticar o atentado que o mesmo deseja cometer, pois se ele não tem medo de morrer ele não terá medo de qualquer pena privativa de liberdade.

Dessa forma, no que concerne ao terrorismo suicida acreditamos que a prevenção de situações que tornem os indivíduos vulneráveis ao recrutamento por organizações terroristas para praticar atentados terroristas suicidas é a medida mais efetiva. Assim, atacar os fatores que tornam tais indivíduos vulneráveis à doutrinação oriunda de organizações terroristas é fundamental para combater esse tipo de comportamento.

Em primeiro lugar uma mudança da realidade social onde se encontram inseridos esses indivíduos vulneráveis, com vistas a causar uma maior integração dos mesmos a sociedade da qual estes fazem parte, evitando assim sua marginalização, e dando a estes oportunidades para se desenvolverem e acharem seu lugar no mundo, a sua identidade como pessoas, pode deixar claro a estes que o atentado suicida não é a única saída do mesmo, deixando claro que existem modos pacíficos para estes se realizarem como pessoas, reafirmando para esses indivíduos o valor que os mesmos tem para a sociedade e que a vida destes é importante.

A redução das desigualdades sociais por onde muitos dos jovens recrutados por grupos terroristas vivem, bem como uma maior abertura de participação política dos países que se tornaram o berço de grupos terroristas também seria importante para diminuir os fatores que tornam tantos jovens vulneráveis ao recrutamento por grupos radicais.

É importante também tentar fortalecer as lideranças pacíficas dessa comunidade, para que estas possam trazer os valores que citamos para os jovens, afastando os mesmos da nefasta influência dos líderes religiosos e comunitários extremistas.

Só diante de uma modificação de todo o contexto social, politico e religioso, poderíamos criar as condições necessárias para que os jovens que são atraídos por organizações terroristas possam ter a força necessária para dizer não ao caminho da violência como meio de modificação da realidade em que vivem, e construir um caminho pacífico para a melhoria da realidade social dos mesmos.

BIBLIOGRAFIA:

1- Gonçalves, JB, Reis, MN (2017). Terrorismo: conhecimento e combate. Rio de Janeiro: Impetus.

2- Almeida, DS, Araújo, FR, Gomes, LF, Cunha, RS, Pinto, RB (2017). Terrorismo. Salvador: Juspodvim.

3- Cardoso, SH, Sabbatini, RME. A mente do terrorista suicida. 2001 Oct 21 [acesso em 2020 Mar 04] . Disponível em: http://www.cerebromente.org.br/n13/terrorist8.html.

4- Camargo, VL (2007). Matar-se em nome de Deus? Uma análise do suicídio praticado pelos homens e mulheres bombas no islamismo. [dissertação] [internet]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. [acesso em 2020 Mar 5] . Disponível em: https://tede2.pucsp.br/bitstream/handle/2022/1/Valeria.pdf.

5- Sabbatini, RME. A mente de um terrorista. 2001 Jul. 14 [acesso em 2020 Mar 03]. Disponível em: https://www.sabbatini.com/renato/correio/medicina/cp010914.html.

6- Hassan, R (2007). Suicide Bombing is effective – so expect more. The Sydney Morning Herald [internet]. 2007 Ago 17 [acesso em 2020 Mar 3]. Disponível em: http://www.smh.com.au/news/national/suicide-bombings-are-effective--so-expect-more/2007/08/14/1186857512096.html.

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Sobre o autor
Jonathan Dantas Pessoa

Policial civil do Estado de Pernambuco, formado em direito pela Universidade Osman da Costa Lins - UNIFACOL/ Vitória de Santo Antão. Pós - graduado em direito civil e processo civil pela Escola Superior de Advocacia Professor Ruy Antunes - ESA/OAB/PE - Recife/PE. Mestre em Psicologia Criminal com Especialização em Psicologia Forense pela Universidad Europea del Atlántico - Santander/ES. Pós graduado em Criminologia pela Faculdade Unyleya. Pós graduado em Psicologia Criminal Forense pelo Instituto Facuminas. Membro do Centre for Criminology Research - University of South Walles. Membro do Laboratório de estudos de Cognição e Justiça - Cogjus.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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