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Mulheres na história da filosofia

Resumo:


  • As mulheres têm uma presença histórica na filosofia, embora muitas vezes não sejam reconhecidas; a mitologia grega, por exemplo, apresenta deusas que simbolizam aspectos como o amor, a agricultura e a inteligência.

  • Alguns filósofos, como Kant e Rousseau, tinham visões limitadas sobre as mulheres, atribuindo-lhes apenas papéis domésticos e restringindo sua participação na esfera pública, enquanto outros, como Hume e Condorcet, reconheciam as injustiças sofridas por elas.

  • Existem muitas filósofas notáveis ao longo da história, desde Enheduana no século XXIII a.C., considerada a primeira autora do mundo, até pensadoras contemporâneas como Hannah Arendt, e no Brasil, figuras como Nísia Floresta e Marilena Chauí.

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

O seguinte trabalho apresenta grandes feitos de mulheres presentes na história da filosofia, desde o surgimento da primeira filosofa até os tempos atuais.

Resumo: Quando pensamos em grandes filósofos logo a imagem masculina vem em nossa cabeça, seguida de nomes de Homens consagrados na filosofia, isso acontece porque na grade curricular escolar ou universitária pouco se nota a participação de mulheres que tenham se notabilizado como filósofas, esse artigo visa mostrar que a mulher sempre esteve presente em toda a história da filosofia.

Palavras-chave: Mulheres; filosofas; feminismo; filosofia; mitologia.


A mulher na filosofia e mitologia

A história da filosofia demonstra a presença de várias mulheres filósofas. Seus trabalhos não foram reconhecidos e difundidos por questões culturais, mas a filosofia desde as suas origens pertenceu ao gênero humano independente de gênero.

A figura das mulheres na mitologia grega é exposta na imagem das deusas Afrodite (símbolo do amor), Deméter (símbolo da agricultura), Hera (símbolo do casamento), Atena (símbolo da inteligência), entre outras.

Apesar de sempre haver uma presença feminina na mitologia, a deusa que representa a inteligência surgiu da cabeça de Zeus. Isto demonstra a visão de que o pensamento e a inteligência pertenciam à figura masculina.

Essa visão não aparece apenas na mitologia grega, mas nos próprios diálogos de Platão. No diálogo preparatório da morte de Sócrates, não há presente nenhuma mulher. As mulheres não participaram dos diálogos e discussões proferidas pelos homens. Permanecia se então nesses acontecimentos, a ausência das mulheres, por não atribuir se a elas a capacidade do pensamento. (FERREIRA; As Mulheres na Filosofia, Lisboa, colibri, 2009 p.27)


A figura feminina segundo o pensamento de alguns filósofos

Kant e Rousseau, apresentam uma ideia restrita em relação às mulheres, atribuindo as somente funções domésticas (mãe e esposa), excluindo as de qualquer esfera pública.

Os dois justificam tal pensamento no conceito de natureza. Para Rousseau, há dois pontos importantes que justificam as atribuições dadas as mulheres segundo Gaspar, em seu livro A Representação das Mulheres no Discurso dos Filósofos: Hume, Rousseau, Kant e Condorcet:

“o primeiro é que as mulheres são fisicamente menos fortes que os homens; o segundo é que elas têm a seu cargo a produção de crianças e esse ‘trabalho’ limita sua independência.”

(GASPAR, Adília Maia. A Representação das Mulheres no Discurso dos Filósofos: Hume, Rousseau, Kant e Condorcet. Rio de Janeiro. Uapê: SEAF, 2009. P.35.)

A justificativa de Kant está focada na questão racional, nas palavras de Gaspar:

“Para kant o critério distintivo da humanidade é a capacidade racional e, embora não a negue às mulheres, defende que nelas está se encontra diminuída.”.

(GASPAR, Adília Maia. A Representação das Mulheres no Discurso dos Filósofos: Hume, Rousseau, Kant e Condorcet. Rio de Janeiro. Uapê: SEAF, 2009. P.61.)

Hume e Condorcet possuiam uma opinião diversa sobre as mulheres, pois percebem as injustiças sofridas por elas. Hume, segundo Gaspar,

“coloca-se numa perspectiva igualitária: homens e mulheres têm vontade de domínio e, para o provar, utiliza a lenda das Scytias que teriam mesmo sacrificado a vaidade de serem admiradas pelos homens a essa vontade de poder, cegando-os, para melhor os conseguirem dominar.”

(GASPAR, Adília Maia. A Representação das Mulheres no Discurso dos Filósofos: Hume, Rousseau, Kant e Condorcet. Rio de Janeiro. Uapê: SEAF, 2009. P.22)

Condorcet, diferentemente de Kant, não atribui as mulheres uma racionalização distinta do homem, além de considerar que ambos possuem uma racionalidade igual, incluí a eles também, a sensibilidade.

Na comparação a cima não se busca desconsiderar as contribuições que tais filósofos fizeram ao longo da história. O que se busca é, por meio da análise desses textos, compreender a situação de dificuldade das mulheres ao longo dos anos.


Mulheres na filosofia

Muito se fala sobre Enheduana, ela foi a primeira a assinar suas próprias obras, por isso foi a primeira pensadora da História, cogita se que a primeira autora do mundo tenha sido ela, uma mulher.

Isso aconteceu no Séc. XXIII a.C. Ela era conhecida como sacerdotisa do templo da deusa lua e tinha várias atividades como arte, comércio, ensinava ciências, matemática e o movimento das estrelas e dos planetas.

Enheduana escreveu inúmeros hinos para a deusa Inana, por isso ela é uma das principais fontes da mitologia suméria, embora Enheduana não seja uma filosofa, muitos a consideram.

A primeira Mulher considerada filosofa da história viveu no século VI a.C, seu nome era Temistocleia uma matemática e profetisa de Delfos, um dos mais importantes oráculos da Antiguidade grega.

Outros nomes de filósofas importantes também surgiram na Grécia, como o de Melissa, que foi filósofa e matemática pitagórica do Século VI a.C.

Safo de Lesbos (VII-VI a. C) uma poetisa e educadora nascida em Mitilene, na ilha de Lesbos. Da sua obra conservaram se dez livros.

Theana (546 a. C.) Nascida em 546 a.C., viveu na última parte do século VI a.C, acredita-se que Theana tenha assumido a escola pitagórica após a morte de seu marido Pitágoras.

Aspásia teve grande sua influência política sobre Péricles, que é encontrada nas obras de Platão.

Asioteia de Filos (393 – 270 a C) Eensinava física na Academia de Platão ao lado de outras mulheres que frequentavam a escola.

Hipátia de Alexandria (415 d C) era estudante de matemática, filosofia, medicina e astronomia. Foi a primeira mulher a ter uma biblioteca em seu nome. Hipárquia de Maroneia Aristocrata, é elogiada por Diógenes Laertios pela cultura e raciocínio, comparando a com Platão. Escreveu: “Cartas e Tragédias”.

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Além dessas grandes mulheres gregas, podemos conhecer outras grandes mulheres como as obras da francesa erudita Louise Labé. Nascida em 1524, literata e musicista, em um dos seus livros escreveu uma dedicatória em espécie de manifesto das reivindicações femininas: o direito das mulheres à ciência e outros conhecimentos.

Podemos falar também de Oliva Sabuco; além de filósofa também foi médica, a espanhola mostrava a necessidade de unir a filosofia e medicina, demonstrando que corpo, alma e mente trabalham juntos e podem afetar a saúde humana. Ela também foi pioneira em medicina psicossomática e escreveu uma obra holística com sete tratados, publicada em 1587.

Em de 1718 nasceu Maria Gaetana Agnesi que foi uma linguista, matemática e filósofa italiana. Ela é reconhecida por ter escrito o primeiro livro que tratou do cálculo diferencial e integral, também escreveu a obra Proposições Filosóficas. Mas se tornou notável por sua análise algébrica e infinitesimal.

Olímpia de Gouges escreveu mais de quatro mil páginas de manifestos revolucionários, peças de teatro, sátiras, panfletos, novelas e filosofia. Por ter questionado a escravidão dos negros e tomar posição em favor dos direitos da mulher como maternidade, divórcio, liberdade religiosa e educação, foi apreendida ela é conhecida até hoje por ter defendido os oprimidos e humilhados com tal audácia que foi condenada à guilhotina. Em suas obras se destacam “Carta ao Povo”, “Memórias de Mme. De Valmont” e “Os Direitos da Mulher e Cidadã”.

Já nos tempos modernos podemos ver o nome de Hannah Arendt, uma filósofa que fez diversas reflexões sobre os acontecimentos da época, ela pensou em um modo novo da política e criticou a tradição filosófica de seu tempo e seus contemporâneos. Tem diversas obras como “Crises da República, “A condição Humana”, “Entre o passado e o futuro”, e “A vida do Espírito. O pensar, o querer e o julgar”.

Já no Brasil, a presença feminina na filosofia é muito recente. Pode se dizer que ela iniciou em 1810, após a chegada da família real ao Brasil, nasceu Nísia Floresta. Natural do Rio Grande do Norte, viveu em diferentes estados e chegou a morar na Europa, onde conviveu com Augusto Comte, filósofo que inaugurou o pensamento positivista.

Inspirada por suas ideias, Nísia fundou, aos 28 anos, uma escola para meninas no Rio de Janeiro, onde lecionou filosofia. Foi o início de uma nova fase, em que a mulher poderia estudar.

Nísia Floresta é considerada a primeira feminista do Brasil e também a primeira mulher a publicar textos em jornais. Em suas obras, questionou o papel social das mulheres e defendeu direitos para negros e índios.

Nísia foi contemporânea de outra pioneira, Maria Firmina dos Reis, nascida em 1822 no Maranhão, conhecida como primeira mulher a escrever um romance no país.

Essa primeira geração de pensadoras foi de extrema importância para a construção das bases que garantiriam a crescente presença da mulher não só no mundo acadêmico, mas na produção filosófica brasileira.

Com o tempo, apesar dos homens ainda serem grandes destaques na filosofia, muitos nomes femininos se destacaram entre elas Creusa Capalbo. Nascida em 1934 no Rio de Janeiro, formou se em filosofia na Bélgica e passou a lecionar em universidades brasileiras.

Foi um dos grandes nomes da fenomenologia no país, corrente que fez muito sucesso entre psicanalistas e psiquiatras, e atuou na Academia e Instituto Brasileiro de Filosofia, entidades que coordenaram e fomentaram o crescimento da produção filosófica no Brasil.

E em 1941 nasceu a paulistana Marilena Chauí, considerada a mais importante filósofa brasileira, dadas as dimensões de seus trabalhos. Especialista em Baruch Espinosa, escreveu obras que são amplamente adotadas no ensino da filosofia. É professora da USP desde a década de 1980 e presidente da Associação Nacional de Estudos Filosóficos do Século XVII.

É errado pensar que existem poucas mulheres na história da filosofia. Além desses, muitos, outros nomes contribuíram enormemente para o desenvolvimento da educação e da pesquisa desde o princípio da história, a filosofia vai muito além da grade curricular e para achar essas mulheres basta se aprofundar nas pesquisas sobre a história da filosofia que é tão importante no desenvolvimento humano.


Bibliografia

Conheça 10 filósofas influentes na história (canaldoensino.com.br) acesso: 08/09/2021

Enheduanna - Centro de Tradições Filosóficas e Ecumênicas acesso: 08/09/21

https://editora.pucrs.br/anais/semanadefilosofia/XIII/ acesso: 08/09/21

Filosofia no Ceará: Temistocleia de Delfos (filosofianoceara.blogspot.com) acesso: 09/09/21

Lista: as seis mulheres reunidas na série ‘Filósofas brasileiras’ - Geledés (geledes.org.br) acesso: 09/09/21

Mulheres filósofas na Grécia Antiga - Uma Brasileira na Grécia (umabrasileiranagrecia.com) acesso: 09/09/2021

Revista Inspire-C | As mulheres e a filosofia brasileira (revistainspirec.com.br) acesso: 09/09/2021

Vista do Feminismo é humanismo: a questão das mulheres na Filosofia (ufsc.br) acesso: 09/09/2021

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Sobre os autores
Gleibe Pretti

Pós Doutorado na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina- nota 6 na CAPES -2023) Link de acesso: https://ppgd.ufsc.br/colegiado-delegado/atas-delegado-2022/ Doutor no Programa de pós-graduação em Direito da Universidade de Marília (UNIMAR- CAPES-nota 5), área de concentração Empreendimentos Econômicos, Desenvolvimento e Mudança Social, com a tese: APLICAÇÃO DA ARBITRAGEM NAS RELAÇÕES TRABALHISTAS, COMO UMA FORMA DE EFETIVIDADE DA JUSTIÇA (Concluído em 09/06/2022, aprovado com nota máxima). Segue o link de acesso a tese: https://portal.unimar.br/site/public/pdf/dissertacoes/53082B5076D221F668102851209A6BBA.pdf ; Mestre em Análise Geoambiental na Univeritas (UnG). (2017) Pós-graduado em Direito Constitucional e Direito e Processo do Trabalho na UNIFIA-UNISEPE (2015). Bacharel em Direito na Universidade São Francisco (2002), Licenciatura em Sociologia na Faculdade Paulista São José (2014), Licenciatura em história (2021) e Licenciatura em Pedagogia (2023) pela FAUSP. Perícia Judicial pelo CONPEJ em 2011 e ABCAD (360h) formação complementar em perícia grafotécnica. Coordenador do programa de mestrado em direito da MUST University. Coordenador da pós graduação lato sensu em Direito do CEJU (SP). Atualmente é Professor Universitário na Graduação nas seguintes faculdades: Faculdades Campos Salles (FICS) e UniDrummond. UNITAU (Universidade de Taubaté), como professor da pós graduação em direito do trabalho, assim como arbitragem, Professor da Jus Expert, em perícia grafotécnica, documentoscopia, perícia, avaliador de bens móveis e investigador de usucapião. Professor do SEBRAE- para empreendedores. Membro e pesquisador do Grupo de pesquisa em Epistemologia da prática arbitral nacional e internacional, da Universidade de Marília (UNIMAR) com o endereço: dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/2781165061648836 em que o líder é o Prof. Dr. Elias Marques de Medeiros Neto. Avaliador de artigos da Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Editor Chefe Revista educação B1 (Ung) de 2017 até 2019. Colaborador científico da RFT. Atua como Advogado, Árbitro na Câmara de Mediação e Arbitragem Especializada de São Paulo S.S. Ltda. Cames/SP e na Secretaria Nacional dos Direitos Autorais e Propriedade Intelectual (SNDAPI), da Secretaria Especial de Cultura (Secult), desde 2015. Mediador, conciliador e árbitro formado pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Especialista nas áreas de Direito e Processo do Trabalho, assim como em Arbitragem e sistema multiportas. Focado em novidades da área como: LGPD nas empresas, Empreendedorismo em face do desemprego, Direito do Trabalho Pós Pandemia, Marketing Jurídico, Direito do Trabalho e métodos de solução de conflito (Arbitragem), Meio ambiente do Trabalho e Sustentabilidade, Mindset 4.0 nas relações trabalhistas, Compliance Trabalhista, Direito do Trabalho numa sociedade líquida, dentre outros). Autor de mais de 100 livros na área trabalhista e perícia, dentre outros com mais de 430 artigos jurídicos (período de 2021 a 2024), em revistas e sites jurídicos, realizados individualmente ou em conjunto. Autor com mais produções no Centro Universitário Estácio, anos 2021 e 2022. Tel: 11 982073053 Email: [email protected] Redes sociais: @professorgleibepretti Publicações no ResearchGate- pesquisadores (https://www.researchgate.net/search?q=gleibe20pretti) 21 publicações/ 472 leituras / 239 citações (atualizado julho de 2024)

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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