Capa da publicação Rei X conselheiro: análise de  parábolas
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Artigo Destaque dos editores

A instável relação entre a figura do rei e a de seu conselheiro.

Análise do conto "Lo que sucedió a un rey y a un ministro suyo", de Dom João Manuel

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Resumo:


  • O trabalho aborda a relação histórica entre conselheiros e aconselhados ao longo do tempo, destacando estereótipos e tensões presentes nessa interação.

  • Utilizando a parábola como recurso, o autor discute a importância da fidelidade, humildade e prudência na relação entre conselheiro e líder, exemplificando com histórias como a de Nabucodonosor e José do Egito.

  • A análise realizada a partir do conto "Lo que sucedió a un rey y a un ministro suyo" destaca a complexidade e os desafios presentes na função do conselheiro, evidenciando a importância de orientar sem se deixar levar por ambições pessoais.

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

4. A PARÁBOLA DE PATRÔNIO

O Conde Lucanor apresentou ao seu conselheiro a seguinte questão:

- Patronio, un hombre ilustre, poderoso y rico, no hace mucho me dijo de modo confidencial que, como ha tenido algunos problemas en sus tierras, le gustaría abandonarlas para no regresar jamás, y, como me profesa gran cariño y confianza, me querría dejar todas sus posesiones, unas vendidas y otras a mi cuidado. Este deseo me parece honroso y útil para mí, pero antes quisiera saber qué me aconsejáis en este asunto (D. Manuel, 2004, p. 32).

Ressabiado, o conselheiro respondeu:

- Señor Conde Lucanor, bien sé que mi consejo no os hace mucha falta, pero, como confiáis en mí, debo deciros que ese que se llama vuestro amigo lo ha dicho todo para probaros y me parece que os ha sucedido con él como le ocurrió a un rey con un ministro. (D. Manuel, 2004, p. 32).

Nesse momento começa a relatar, em forma de parábola, a existência de certo reino, cujo principal ministro era homem de muito valor. Os seus pares, todavia, receosos da influência dele junto ao rei, tentaram fazê-lo cair em desgraça. Inventaram boatos e fofocas para que o rei perdesse a confiança e começasse a duvidar da lealdade do servidor. Inclusive disseram que o referido ministro estava planejando a morte do rei e que colocaria o filho deste como sucessor do reinado. Desta forma, sendo tutor do infante, ficaria indiretamente como todo o poder em suas mãos.

Então, os conselheiros, vendo que o rei estava vacilante em relação à fidelidade do ministro, propuseram-lhe testar a lealdade do servidor. Para tanto, o rei fingiria estar deprimido, afirmando que estaba cansado de la vida de este mundo, pues le parecía que todo era vanidad [...]. Esto se lo dijo tantas veces y de tantas maneras que el ministro creyó que el rey estaba desengañado de las vanidades del mundo y que no le satisfacían ni las riquezas ni los placeres en que vivía (D. Manuel, 2004, p. 33). Em um primeiro momento, o ministro contra-argumentou:

Le dijo al monarca que, si se retiraba al desierto, ofendería a Dios, pues abandonaría a cuantos vasallos y gentes vivían en su reino, hasta ahora gobernados en paz y en justicia, y que, al ausentarse él, habría desórdenes y guerras civiles, en las que Dios sería ofendido y la tierra destruida. También le dijo que, aunque no dejara de cumplir su deseo por esto, debía seguir en el trono por su mujer y por su hijo, muy pequeño, que correrían mucho peligro tanto en sus bienes como en sus propias vidas (D. Manuel, 2004, p. 33).

O rei, contudo, disse que já tinha tudo planejado, pois sabia que sua família ficaria bem guardada e o reino seguro nas mãos de um homem tão prudente quanto o seu conselheiro real, por lo que confiaba en él más que en ninguno de sus privados y consejeros, le encomendaría la protección de la reina y del infante y le entregaría todos los fuertes y bastiones del reino, para que nadie pudiera levantarse contra el heredero (D. Manuel, 2004, p. 33). O ministro, quando ouviu isso, ficou feliz, pois, humano que era, deixou-se levar pela oportunidade única que se lhe aparecia. E, embora não estivesse fazendo nada ilegal, foi atingido pela cobiça.

No entanto, ele tinha em sua casa um servo, homem sábio, com quem às vezes conversava sobre os temas da corte. Ao escutar a narração, de imediato compreendeu a cilada, admoestando o amo. Quando o ministro ouviu as razões do escravo, percebeu o quanto havia sido tolo, ele, logo ele, acostumado a dar conselhos ponderados e julgado por todos sábio e prudente! Isso demonstra a verdade das palavras do profeta Jeremias quando afirma ser o coração fonte de males, pois faz com que o homem se deixe levar pela concupiscência, enganando-se a si mesmo. O escravo, vendo o problema desde uma perspectiva externa, orientou o ministro, dando-lhe as diretrizes para sair do embrolho. Deveria o funcionário real ir ter com o rei usando roupas esfarrapadas e mostrando-se amargurado com as decisões tomadas pelo soberano:

aquella misma noche, se hizo rapar la cabeza y cortar la barba, se vistió con una túnica muy tosca y casi hecha jirones, como las que llevan los mendigos que piden en las romerías, cogió un bordón y se calzó unos zapatos rotos aunque bien clavados, y cosió en los pliegues de sus andrajos una gran cantidad de doblas de oro. Antes del amanecer encaminó sus pasos a palacio y pidió al guardia de la puerta que dijese al rey que se levantase, para que ambos pudieran abandonar el reino antes de que la gente despertara, pues él ya lo estaba esperando; le pidió también que todo se lo dijera sin ser oído por nadie. El guardia, cuando así vio al privado del rey, quedó muy asombrado, pero fue a la cámara real y dio el mensaje al rey, que también se asombró mucho e hizo pasar a su privado (D. Manuel, 2004, p. 34).

O rei, impressionado, perguntou-lhe sobre o porquê daquilo. E ele respondeu:

Puesto que el rey le había expresado su intención de irse al desierto y como seguía dispuesto a hacerlo, él, que era su privado, no quería olvidar cuantos favores le debía, sino que, al igual que había compartido los honores y los bienes de su rey, así, ahora que él marchaba a otras tierras para llevar vida de penitencia, querría él seguirlo para compartirla con su señor (D. Manuel, 2004, p. 35).

Quando o monarca ouviu tais palavras, teve a certeza de que seu funcionário lhe era fiel. Com isso, o ministro conseguiu resgatar o favor do rei porque mais do que saber aconselhar soube ser aconselhado. Foi humilde em aceitar os conselhos de um servo: ouviu, ponderou, refletiu e concluiu sabiamente. Ele, sendo um ministro do reino, poderia muito bem chamar de insolente aquele servo que ousava dar-lhe conselhos e o repreendia veementemente. Além disso, reconheceu haver sido engando e, também, levado pelo amor ao poder.

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Por fim, Patrônio comentou a parábola:

Vos, señor conde, es preciso que evitéis caer en el engaño de quien se dice amigo vuestro, pero ciertamente lo que os propuso sólo es para probaros y no porque piense hacerlo. Por eso os convendrá hablar con él, para que le demostréis que sólo buscáis su honra y provecho, sin sentir ambición ni deseo de sus bienes, pues la amistad no puede durar mucho cuando se ambicionan las riquezas de un amigo. (D. Manuel, 2004, p. 37).

De fato, consegue dar uma ideia bastante clara das relações sociais de poder e de como as pessoas estão testando-se constantemente. Diz ao rei que se deve evitar manter afastado do desejo de querer as coisas alheias, mesmo que estas pareçam lícitas.

Não é por acaso que a figura do conselheiro é tão misteriosa, pois ele deve manter fidelidade, tentando quebrar a natureza humana. Ele, sempre diante da figura onipotente do rei, tendo que abaixar a cabeça, ouvir comentários rudes e calar-se, ele que fica em silêncio para não ofender, que fica preocupado em dar orientações equivocadas e ser chamado a atenção. Como ele não seria provocado a querer estar no lugar do rei? E é justamente esse desejo de poder que tanto assusta aos que já estão no poder.

A parábola termina por ser uma ferramenta usada pelo conselheiro para facilitar a transmissão de sua mensagem, mas, também, um discurso de autoridade, mostrando ao rei que, naquela situação, outros já se encontraram, devendo o rei ser prudente para tomar as decisões corretas.


REFERÊNCIAS

CAMBRIDGE. Dictionary Cambridge. Disponivel em: https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles-portugues/parable?q=PARABLE Acesso em em 02 jun. de 2021.

RAE. Diccionario Panhispánico de Dudas. Ed. Santillana, Madrid, 2005.

REED, Maud. IULIA, A latin reading book. The Macmillan Company, Nova Iorque, 1941.

DON JUAN MANUEL. El Conde Lucanor. Disponível em: https://www.cervantesvirtual.com/obra-visor/el-conde-lucanor--0/html/00052e2a-82b2-11df-acc7-002185ce6064_1.html#I_1_ acesso: 13.07.21. Alicante, 2004.

SANOKI, Koichi. Parábola: um gêNero literário. Revista Eletrônica Espaço Teológico ISSN 2177-952X. Vol. 7, n. 12, jul/dez, 2013, p. 102-112. Disponível em: 17365-43345-1-SM.pdf. Acesso em 02 jun. de 2021.

SANTA BIBLIA. Nueva Reina-Valera. Editorial New Life, Buenos Aires, 2003.


THE UNSTABLE RELATIONSHIP BETWEEN THE FIGURE OF THE KING AND THAT OF HIS ADVISOR FROM THE ANALYSIS OF THE TALE LO QUE SUCEDIÓ A UN REY Y A UN MINISTRO SUYO, BY DON JUAN MANUEL

Abstract: The fulcrum of this work is the historical relationship between the figure of the counselor and his advisors, it doesnt matter if hes a monarch, an earl, a president or any other powerful person. Historically, the relationship between the two has not always been cordial. The counselor, not infrequently, creates subterfuges and instruments of protection for himself and his family, in case of wrongly advising. Behind the scenes, the advisee himself, seeing the cunning of his advisers, can feel manipulated by them. There are two stereotypes of counselors: on the one hand, that of a prudent, silent and loyal man like the prophet Daniel; on the other hand, that of a dark individual, half Machiavellian, like Rasputin or Richelieu, always plotting in secret in order to impose his will. In the book El Conde Lucanor, written by Don Juan Manuel, the relationship between Patrônio, the counselor, and Count Lucanor, the counselee, is cordial, resembling the first type of stereotype. However, between the lines, there is a certain conflict, as Patrônio is an employee of the Count, being obliged, therefore, to point out suitable paths, without showing superiority, being modest and humble in each word or gesture, that is, one must diminish so that the Count may be exalted. Being both men, moved, therefore, by passions and ambitions, this situation is tense. In this article, we will analyze only one of the short stories from the aforementioned book, the one entitled Lo que sucedió a un rey ya un Ministro suyo, seeking, from it, to discuss the complex, and sometimes dangerous, relationship between monarchs and their advisers. As a method, the analytic-historical was used, tracing an overview of the idiosyncrasies and dilemmas attributed to the role of counselor over time. In order to do so, we sought to find, in the picturesque and famous cases, such as those of Daniel, Nebuchadnezzar, Joseph of Egypt, Moses, Caligula and Nero, the basic historical reference for the analysis of the tale in question.

Keywords: counselor, counselee, power, relationship.

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Sobre o autor
Elton Emanuel Brito Cavalcante

Doutorando em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente - UNIR; Mestrado em Estudos Literários pela Universidade Federal de Rondônia (2013); Licenciatura Plena e Bacharelado em Letras/Português pela Universidade Federal de Rondônia (2001); Bacharelado em Direito pela Universidade Federal de Rondônia (2015); Especialização em Filologia Espanhola pela Universidade Federal de Rondônia; Especialização em Metodologia e Didática do Ensino Superior pela UNIRON; Especialização em Direito - EMERON. Ex-professor da rede estadual de Rondônia; ex-professor do IFRO. Advogado licenciado (OAB: 8196/RO). Atualmente é professor do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia - UNIR.

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

CAVALCANTE, Elton Emanuel Brito. A instável relação entre a figura do rei e a de seu conselheiro.: Análise do conto "Lo que sucedió a un rey y a un ministro suyo", de Dom João Manuel. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 28, n. 7239, 27 abr. 2023. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/95977. Acesso em: 22 dez. 2024.

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