Caro Thiago. Nem precisa pedir vênia para responder minha colocação nos termos por você expressos.
A impressão que tenho é que o ateísmo é crença. E não religião. Cabe ao Estado proteger a crença até dos ateus. Mas não promovê-la.
O motivo pelo qual não concordo com a posição sobre símbolos religiosos é outra. Embora batizado como católico romano não me considero um católico praticante. E talvez muitos católicos nem me considerem católico. E muitos cristãos nem sequer me considerem cristão. Talvez até me considerem ateu.
De forma que minha avaliação é objetiva ainda mais diante de fatos que tenho presenciado. Na minha opinião os símbolos religiosos em locais públicos não representam nada. Quando muito representam a crença de quem aí os colocou. Nenhum custo há para o Estado de forma que não se pode falar em subvenção. E em não sendo feita qualquer cerimônia religiosa em tal local pelo menos de forma corriqueira não estaria caracterizado promoção de culto religioso pelo Estado. Abramos exceção a celebração de missa de vez em quando em festividades religiosas. Já fui funcionário da Petrobrás e houve ocasiões em que foi celebrada missa nas dependencias da empresa. E houve ocasiões em que houve cerimonias ecumenicas com primeiro um padre católico, depois um pastor protestante e depois um líder espírita. Também ninguém foi obrigado a assistir. Assistia quem queria. E numa greve que houve o padre, a favor dos grevistas, chegou a rezar na rua frente a entrada da empresa. Não sei se isto caracteriza interferencia na vida religiosa do cidadão ou mero respeito à liberdade de expressão que engloba também a expressão religiosa. Hoje tendo a achar que é uma forma de expressão lícita. Desde que não extrapole os limites da civilidade e do bom senso. Algo que reconheço nem sempre ocorre.
Quanto à subvenção alguns aspectos da questão.
Em primeiro lugar os feriados religiosos. O feriado de Nossa Senhora Aparecida não foi criado no Império e sim sobre a República laica com Getúlio Vargas. Na época mais de 90% da população se considerava católica. Para mim é um caso claro que não há separação perfeita entre religião e Estado. Só o Estado pode instituir feriados. Mas não se pense que só os católicos instituem feriados religiosos. Embora as outras religiões não tenham condições de instituir feriados nacionais já ouvi falar de Municípios do Rio Grande do Sul com maioria alemã em que o dia em que Lutero instituiu a Reforma Protestante é feriado municipal.
E ninguém reclama destes feriados. Jamais. Parece que isto faz parte da crença de todos. Até dos ateus. Afinal ninguém é de ferro. Um descanso de vez em quando até que é bom. Se não for para rezar, para ir à praia e outras coisas mais prazerozas.
Quanto a monumentos mantidos pelo Estado. O Cristo Redentor que eu saiba foi feito na República laica e não no Império com religião oficial católica. E sua manutenção corre por conta do Estado. Há um livro intitulado 1420- O ano em que a China descobriu o Mundo que relata como uma esquadra Chinesa fez a rota inversa de Vasco da Gama e chegou até a descobrir o Brasil. Isto muito antes de Cabral. Parece não ter havido interesse para exploração e os portugueses, espanhóis e depois ingleses e franceses colonizaram o chamado Novo Mundo. Não fora isto talvez fossemos o maior país budista ou confucionista do Mundo (ou será confusionista). E teríamos no Rio de Janeiro uma estátua de Buda ou Confúcio e não de Cristo. Para mim parece ser o Cristo Redentor mais uma forma de subvenção do Estado à religião católica. Também a esta altura ninguém vai propor sua demolição por causa disto.
Agora não se pense que só ocorre com monumentos católicos. Na minha cidade Rio Grande, Rio Grande do Sul, há uma estátua representando Iemanjá, entidade da umbanda, colocada em local público numa praia daquele município chamada Cassino. Foi adquirida pelo Município e mantida pelo Município até hoje. Você acha que em nome da laicidade deve ser demolida esta estátua?
Agora não sei o motivo de só ser questionada as expressões de crença dos católicos, justamente a crença majoritária. O resto passa ao largo.
Despeço-me desejando-lhe e a outros participantes do fórum um bom fim de semana.