Símbolo do Jus.com.br Jus.com.br

A violência policial em foco: uma análise jurídico-social dos casos Marcelo Amaral e Gabriel Santos Costa

Agenda 22/12/2024 às 19:01

A violência policial no Brasil continua a desafiar os limites da legalidade e da ética, especialmente em casos onde a vida e a dignidade humana são colocadas em xeque. Os episódios envolvendo Marcelo Amaral, de 25 anos, em São Paulo, e Gabriel Santos Costa, de 17 anos, em Salvador, ilustram as graves falhas estruturais que permeiam as abordagens policiais ostensivas no país. Esses eventos levantam questões cruciais sobre o abuso de autoridade, discricionariedade excessiva e a desumanização de determinados grupos sociais.

Análise jurídica e social dos casos

No dia 2 de dezembro de 2024, Marcelo Amaral foi arremessado de uma ponte no bairro Vila Clara, em São Paulo, por um policial militar. Dominado e desarmado, ele sofreu um ato de evidente abuso de autoridade, que vai além de qualquer justificativa de legítima defesa. Já em Salvador, na madrugada de 1º de dezembro, Gabriel Santos Costa e outro jovem foram rendidos por um policial à paisana no bairro de Ondina. Mesmo obedecendo às ordens, Gabriel foi morto e seu companheiro gravemente ferido, ambos alvos de 12 disparos.

Sob a perspectiva jurídica, tais atos configuram violações gravíssimas aos direitos humanos e afrontam princípios fundamentais do Estado Democrático de Direito. O uso da força policial é regido pela proporcionalidade, que exige que os agentes atuem estritamente dentro dos limites da necessidade e da razoabilidade. Além disso, o Código Penal Brasileiro prevê punições severas para os crimes de homicídio qualificado (art. 121, §2º) e abuso de autoridade (Lei 13.869/2019).

Socialmente, esses casos refletem uma problemática maior: a perpetuação de um sistema que criminaliza a juventude periférica, reforçando estereótipos e naturalizando a violência policial contra corpos vulneráveis.

Impacto no ordenamento jurídico e na sociedade civil

Casos como esses evidenciam a urgência de uma reforma profunda nas instituições policiais. É fundamental a implementação de programas de formação que priorizem os direitos humanos, o controle externo rigoroso das ações policiais e a responsabilização efetiva dos agentes envolvidos em abusos.

A análise social demonstra que esses atos são sintomas de desigualdades históricas, onde o local de moradia e as origens sociais determinam as chances de sobrevivência em uma abordagem policial. A naturalização dessa violência estrutural mina a confiança da população nas instituições públicas, criando um ciclo de medo e impunidade.

Estratégias para a conscientização e o combate à violência policial

Além das medidas legais, a conscientização da sociedade civil é crucial para enfrentar essa questão. Aqui estão algumas ações que podem ser implementadas.

Conclusão

Os casos de Marcelo Amaral e Gabriel Santos Costa revelam a face mais cruel da violência policial no Brasil. É imperativo que o sistema jurídico e a sociedade civil trabalhem juntos para responsabilizar os culpados, prevenir novos abusos e construir uma sociedade mais justa e igualitária.

Referências Bibliográficas

  1. BRASIL. Código Penal Brasileiro. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 22 dez. 2024.

  2. BRASIL. Lei de Abuso de Autoridade. Lei nº 13.869, de 5 de setembro de 2019. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/l13869.htm. Acesso em: 22 dez. 2024.

  3. CARVALHO, Jessé Souza. A Elite do Atraso: Da Escravidão à Lava Jato. São Paulo: Leya, 2017.

  4. HUMAN RIGHTS WATCH. Relatório Mundial 2024: Direitos Humanos no Brasil. Disponível em: https://www.hrw.org/pt/world-report/2024/country-chapters/brazil. Acesso em: 22 dez. 2024.

  5. ZAVERUCHA, Jorge. Relações civil-militares no Brasil: limites e desafios. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 16, n. 45, p. 87-101, 2001.

  6. CANOTILHO, J. J. Gomes. Estado de Direito e Direitos Fundamentais. Coimbra: Almedina, 2003.

Sobre a autora
Bárbara Rastelli

Bárbara possui Graduação em Direito pela Universidade Candido Mendes (RJ) e Formação Pedagógica em História pela Iseed-Faved (MG). Também possui registro como jornalista (MG) e certificação em Psicoterapia e Coaching.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!