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O recente colapso do paradigma neoliberal. A crise mundial de 2007/2009.

Perspectivas para o Estado de Bem- Estar Social

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3.O NOVO COLAPSO DO PARADIGMA LIBERAL – A CRISE MUNDIAL DE 2007/2009. NOVAS PERSPECTIVAS PARA O EBES NA EUROPA E NOS PAÍSES EMERGENTES.

- A crise de 2007/2009: traços característicos.

Na introdução do livro "O ABC DA CRISE", Sister informa que apesar de os autores da obra serem filiados a uma ideologia não-liberal, há divergências quanto à natureza da crise e seus desdobramentos, ou seja, quanto aos seus traços característicos.

Uma parcela dos autores aponta que a crise se deu no mercado financeiro e se expandiu para a economia real. Entre esses, podem ser citados o próprio Sister e Singer.

Sister coloca, inicialmente, que não dá para prever com clareza a extensão das consequências da crise. De toda forma, ele aponta que para se entender a crise corrente e tentar compreender seus desdobramentos é preciso atentar para dois fatores:

1) A demanda dos consumidores norte-americanos, mesmo que em menor escala do que no passado, ainda mobiliza direta e indiretamente fábricas, fazendas, mineradoras, usinas e toda ordem de bens e serviços do mundo todo;

2) O enorme aumento da quantidade de recursos em moedas fortes – gerados em boa medida pela venda dos produtos do mundo inteiro para os Estados Unidos (EUA) – provoca a procura de alternativas rentáveis, uma vez que as taxas de remuneração pagas nos títulos mais seguros são declinantes.

Relata, ainda, que de todas as riquezas apuradas pelos EUA (aproximadamente 15 trilhões de dólares), 70% (10,5 trilhões) dizem respeito ao consumo das famílias e, por outro lado, a população vem gastando mais do que ganha (afinal, para que poupar com tantas linhas de crédito barato?). O mesmo se passa com o Governo norte-americano, que tem despesas largamente superiores à arrecadação.

Assim, na sua visão, a máquina financeira para manter esses norte-americanos abastecidos é pródiga.

No que tange ao Estado, o problema é resolvido com a venda de dólares e títulos do tesouro (que são emitidos pelo próprio Governo norte-americano) a quem poupa muito com gastos públicos (como China e Japão).

Em relação aos consumidores, afirma:

"há uma base de empréstimos bancários multiplicadores, que tem origem na casa própria. Com um bem imóvel financiado que dá como garantia (hipoteca), o americano tem acesso a um mundo de outros créditos para comprar carros, eletroeletrônicos, pacotes de viagem e tudo que as vitrines e os catálogos do universo do consumo colocam a sua disposição". (SISTER, 2009:57)

Todavia, a crise aconteceu porque essa equação supracitada foi se tornando crítica. Por um lado, à medida que os títulos do governo americano foram mais procurados e, logo, passaram a oferecer taxas menores de rentabilidade, uma parte dessa liquidez passou a ser canalizada para ativos com lastros efetivos (como as bolsas de valores de todo o mundo; fundos de investimento e títulos de tesouro mais rentáveis, de países como o Brasil, por exemplo). Lado outro, ocorreram negócios insustentáveis no mercado imobiliário dos Estados Unidos, que passou a incluir na clientela pessoas que visivelmente não poderiam pagar pelas casas, aprovando-se crédito mesmo sem qualquer comprovação de renda.

Cita com exemplo a seguinte situação: uma empresa imobiliária proporciona um empréstimo para um consumidor comprar uma casa. Esse "ativo a receber" é transformado em título pelo banco (que tem como garantia o próprio imóvel) e vendido para fundos de pensão, fundos de fundos e toda sorte de investidores em qualquer parte dos EUA ou do planeta. Mais adiante, esse primeiro título (de solvência muito discutível) se transforma em outros títulos, agora de instituições aparentemente mais confiáveis, com boas notas de avaliação pelas agências de risco e todo mundo passa a confiar plenamente neles. Dessa forma, aquele cidadão que comprou a casa, dando em garantia a própria casa (hipoteca), consegue mais linhas de crédito para comprar outros produtos e serviços (como eletroeletrônicos, carros, viagens, etc.). Então, aquela prestação da casa que antes era, ilustrativamente, de mil dólares por mês, passa a ser de dois mil dólares por mês para pagar aquilo que foi consumido. O consumidor então começa a ter dificuldades de pagar tudo que deve (e o lastro ainda é o mesmo imóvel). Por conseguinte, sua renda começa a diminuir, pois os seus vizinhos estão na mesma situação e a atividade econômica como um todo começa a reduzir.

Conforme Sister, quando o referido exemplo começou a se repetir muito, os grandes investidores mais atentos começaram a vender esses títulos de alguma forma vinculados ao subprime, provocando uma contínua redução da rentabilidade dos papéis. Enfim:

"Enquanto uma parte considerável de mutuários deixava de pagar as prestações (uma insolvência que pode facilmente ultrapassar os 2 trilhões de dólares), os maiores bancos de poupança, seus financiadores e seguradores passam a ser olhados com desconfiança e a perder depósitos e créditos". (SISTER, 2009:59).

E foi assim que acentuou a quebradeira em 2008, nos EUA, destacando-se o caso do Lehman Brothers e, posteriormente, atingindo demais bancos e seguradoras norte-americanos. E como estas instituições eram financiadas por bancos de outras partes do mundo, a crise se alastrou para Inglaterra, Alemanha, França, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, com respingos pela Ásia, Oriente Médio e Austrália. Em dado momento,

"todo mundo ficou desconfiado de todo mundo e o crédito praticamente parou no globo inteiro. Fundos e investidores de toda parte recolhem o quanto podem de seus recursos espalhados pelas bolsas e bancos do universo e, nova ironia, voam para a "segurança", para o tesouro americano, em busca de seus títulos cada vez mais mal pagos". (SISTER, 2009:60).

Sister relata que:

"Tudo o que acontece em seguida resume-se à tentativa de restabelecer a confiança no sistema financeiro que sobreviveu e, ao mesmo tempo, reduzir ao máximo o impacto da crise na economia real, mitigando ao máximo os efeitos recessivos". (SISTER, 2009:60)

Na tentativa de socorrer o sistema, os governos das economias mais ricas, colocaram bilhões de dólares, a baixos juros (algo em torno de 6,8 trilhões de dólares), à disposição das instituições.

Diante do quadro narrado, Sister aponta que a única certeza é a redução do consumo e da atividade econômica nos grandes países consumidores, como EUA, Inglaterra, Alemanha e França e, ainda, alerta:

"Seja como for, parece óbvio que a economia mundial vai reduzir a demanda por alimentos, matérias-primas, combustíveis, bens industriais e serviços. E é por isso que os preços das principais commodities entraram em queda". (SISTER, 2009:62)

Em linha semelhante, Singer relata que o âmbito financeiro e a economia real são dois mundos distintos.

No mundo financeiro "circulam monetários denominados genericamente de ativos porque são créditos, a cada um dos quais corresponde um passivo (ou débito)" (SINGER, 2009 : 71). Já, no da produção e consumo/valores de uso "circulam bens e serviços que satisfazem as necessidades de seres humanos, que por isso se dispõem a pagar para adquiri-los". (SINGER, 2009 : 71)

Todavia, esses bens e serviços também são valores monetários. Então, a diferença entre ativos e mercadorias é que os ativos são valores virtuais, ou seja, não satisfazem qualquer necessidade diretamente. Lado outro, as mercadorias são valores reais, prontos para serem utilizados ou consumidos.

Conforme ensina Singer,

"As finanças prestam serviços à economia real: recebem em depósito a poupança de famílias e empresas (sem falar dos governos) e lhes oferecem empréstimos. Serviços financeiros são basicamente de intermediação entre famílias e empresas que têm poupanças e outras que necessitam de dinheiro. As finanças recolhem o dinheiro sobrante das primeiras e os emprestam ás últimas. Mas sua atividade principal é emprestar a governos e empresas para que possam fazer investimentos". (SINGER, 2009:72)

Ademais, para ele,

"o que efetivamente importa é que os intermediários podem emprestar mais dinheiro do que captaram do público ou de outros intermediários. Eles podem fazer isso porque gozam de crédito por parte do público que aceita em pagamento os ativos avalizados por bancos". (SINGER, 2009:72)

Feitas essas considerações, Singer relata que há um ciclo de conjuntura, composto tanto pela economia real, quanto pelo âmbito financeiro.

A fase de alta do ciclo, em geral, começa pela economia real, caracterizada por inovações tecnológicas de grande impacto sobre a produção e/ou consumo ou por mudanças institucionais (como a instauração de sistemas de previdência social, de assistências à saúde ou de transferência de rendimentos à população mais pobre).

Essas inovações tecnológicas exigem investimentos vultosos, elevando as demandas de financiamento por parte das empresas. Por outro lado, quando iniciativas governamentais de redistribuição de renda elevam os gastos de consumo de amplos setores da sociedade, também são requeridos investimentos para ampliação da capacidade de produção dos bens e serviços consumidos por esses setores.

Crescendo a demanda por empréstimos, as finanças ficam animadas a farejar oportunidades para bons negócios. Com a alta cíclica da economia real ocorre um efeito manada sobre as finanças e todos os banqueiros se entusiasmam, acreditando que os riscos de inadimplência de empréstimos tornaram-se insignificantes.

Com o pagamento pontual dos empréstimos, o entusiasmo cresce e transforma-se em euforia. Empresas pequenas (microempresas), que não podem oferecer as garantias normalmente exigidas, passam a receber também empréstimos apenas em função do seu potencial, supostamente bom.

A euforia contagiante (que pode ter começado na economia real e contaminado as finanças ou vice-versa) permanece enquanto o potencial das inovações tecnológicas ou das mudanças institucionais não estiver esgotado e "a fase de alta do ciclo se eleva cada vez mais, graças à interação simbiótica das finanças com a economia real". (SINGER, 2009 : 74)

Até que se chega então a um teto, causado pelo: esgotamento da capacidade de expansão da oferta de mercadorias; pela falta de mão-de-obra; pela falta de oferta de energia ou capacidade de transporte e armazenagem; pelo esgotamento da necessidade das mercadorias cuja produção está em perene aceleração; ou por tudo isso em conjunto.

O esgotamento da necessidade das mercadorias cuja produção está em perene aceleração foi o caso da bolha imobiliária, "que está na origem da atual crise financeira". (SINGER, 2009 : 74)

A demanda por habitação chegou a um limite e como a construção de casas e prédios é relativamente prolongada, quando o esgotamento da demanda se tornou visível e manifesto, a quantidade de construções em andamento estava no auge (interrompê-las seria extremamente custoso, mas as levar a cabo implicaria mais investimentos numa mercadoria que provavelmente só seria vendável a um preço muito abaixo do custo ou que seria mesmo invendável).

Ademais, a alta atividade de construção irradia toda a economia, pois causa também maior demanda por material de construção, equipamentos, mão-de-obra, mobília, eletrodomésticos, objetos de decoração, etc.

Além disso, o estouro da bolha imobiliária atinge drasticamente as finanças porque imóveis são objetos privilegiados para a especulação, pois, em teoria, são garantias em si. Com isso, uma parte da intermediação financeira se especializa no financiamento hipotecário e no auge da bolha esse setor atrai quantidades enormes de dinheiro, dinheiro este que é investido na especulação fundiária.

Assim sendo, finalmente, a oferta de imóveis ultrapassa a demanda: "o preço tanto dos terrenos como das construções despenca, acarretando grandes prejuízos não só aos investidores, mas também às instituições que os financiam".

Diante de tal situação, Singer explica que:

"No caso da atual crise financeira, a peculiaridade é que, durante a alta, instituições financeiras fizeram empréstimos à população de baixa renda, que implicam riscos maiores do que os normais. Por isso os títulos de crédito dessas operações recebem a classificação de subprime, o que significa algo como "abaixo dos melhores". (SINGER, 2009:75)

E para vender esses títulos de subprime com bons preços, as instituições "os empacotaram com outros títulos de risco considerado menor, em uma manobra conhecida como de diluição de riscos".

Tal operação teve sucesso e

"títulos no valor de muitos bilhões de dólares foram incorporados às carteiras de ativos de numerosos bancos de investimento não só dos Estados Unidos, mas também da Europa. Quando o ciclo imobiliário entrou em baixa, o preço de compra e venda e o aluguel das residências sofreram forte queda, tornando desproporcionalmente onerosa a dívida assumida por milhões de famílias pobres". (SINGER, 2009:75)

Em outras palavras, Singer ressalta que o prejuízo do estouro da bolha foi colocado nos ombros dos mais pobres e eles não conseguiram honrar suas dívidas.

Dessa maneira, o prejuízo bilionário da crise imobiliária acabou voltando ao colo dos especuladores financeiros, que também não conseguiram suportá-lo, gerando, assim a quebra de bancos, em destaque, o Lehman Brothers.

Com entendimento diverso, Oliveira, não concorda que a presente crise seja somente financeira e tampouco que a sua origem esteja nos mercados financeiros centrais. Para ele, trata-se de uma crise da globalização do capital, que decorre da incorporação da mais-valia gerada na China e na Índia nos últimos vinte anos e, ratifica: "o sintoma financeiro é sua manifestação mais evidente, mas não a sua essência". (OLIVEIRA, 2009:83)

Conforme os ensinamentos de Oliveira, nesses últimos vinte ou até trinta anos foram introduzidos no mercado capitalista de produção China, Índia e os países da antiga União Soviética, colocando trabalhadores de todo o mundo em concorrência internacional direta, pela primeira vez na história.

Nesse período, os trabalhadores dos países ocidentais tradicionais tornaram-se minoria num mercado mundial que ganhou 1,2 bilhão de operários adicionais.

Por conseguinte, 350 milhões de trabalhadores do ocidente, treinados e mais caros, responsáveis pela maior parte da produção global até recentemente, encontraram-se na situação de sem emprego e salário.

Atualmente, metade das 3 bilhões de pessoas economicamente ativas do mercado global ganha menos de 3 dólares por dia.

A parcela de riquezas destinada aos salários é a mais baixa desde 1960 (primeiro ano avaliado) contra a riqueza destinada aos detentores do capital financeiro, que vinha batendo recordes até o início da presente crise.

Em síntese, para Oliveira o custo da mão-de-obra no planeta hoje é extremamente baixo e "Estamos diante de uma crise clássica de realização do valor, amplificada; uma crise da globalização capitalista. O colapso das hipotecas nos Estados Unidos é a manifestação disso". (OLIVEIRA, 2009:84)

Vale ressaltar que quando a produção chinesa e indiana baratearam o consumo para os norte-americanos, forma criadas sobras de capital na China e na Índia, que passaram a financiar o Tesouro dos Estados Unidos (a China tem sozinha mais de 1 trilhão de dólares aplicados em títulos do Governo americano). Esse dinheiro, segundo Oliveira, "é mais-valia extraída do operário chinês que não realiza lá porque o custo de reprodução da mão-de-obra local é baixíssimo". (OLIVEIRA, 2009:84)

Em resumo, para Oliveira, com a chegada de países como China e a Índia ao mercado global, o mercado encharcou-se com produtos que a maioria das pessoas não tinham condições de comprar, justamente, porque a mão-de-obra era mal remunerada e aí sim está a verdadeira crise do sistema (muitos bens e serviços disponíveis e pouca gente que pode pagar por eles), razão pela qual se trata não apenas de uma crise financeira, mas de uma crise de realização do valor.

Guido Mantega também pontua que a crise atual não é só financeira apesar de detonada pelo setor financeiro, retrata também desequilíbrios econômicos que vinham se acumulando há muito tempo, próprio do sistema capitalista.

Assim, Mantega acredita que a crise relaciona-se, fundamentalmente, com a própria dinâmica do capitalismo, cercado de crises, sendo que cada qual têm as suas peculiaridades.

Ao falar sobre esses desequilíbrios, Mantega cito como exemplo o caso dos EUA: "Os Estados Unidos, a maior economia do mundo, vivia à custa dos financiamentos dos outros, da poupança dos outros países. Que tinha um volume de gastos muito elevados, sem consistência". (MANTEGA, 2009:127)

Na sua visão, a crise passou a ser mais grave no lado financeiro em razão do acúmulo de montanhas de capital fictício.

Ao discorrer sobre a crise financeira, Paul Krugman mencionou o denominado "sistema bancário de sombra".

De acordo com este economista, o antigo mundo dos bancos, em que havia o empréstimo de dinheiro a longo prazo, desapareceu em grande parte e foi substituído pelo sistema bancário de sombra e explica:

"os bancos de depósitos dos edifícios de mármore limitam-se agora a desempenhar um papel menor na canalização de recursos dos poupadores para os tomadores; a maior parte dos negócios é feita mediante complexos acordos elaborados por instituições sem depósitos, como os finados Bear Stearns – e o Lehman". (KRUGMAN, 2009:95)

Krugman destaca a crença de que o novo sistema funcionaria melhor diluindo e reduzindo os riscos. Entretanto, com a eclosão da crise da habitação, os riscos ficaram evidentes e os investidores acabaram constatando o grau de exposição ao qual haviam se submetido.

Krugman se vale do exemplo dos investidores que aplicaram em valores mobiliários lastreados por empréstimos subprime [06]. Esses investidores acreditavam que estavam adquirindo ativos extremamente seguros, mas de repente depararam com o fato de que tinham em mãos títulos de alto risco.

Guido Mantega explica que as perdas nesses ativos em lastro, como também nos empréstimos imobiliários subprime, acabaram gerando a desvalorização de todos os ativos, afetando, consequentemente, o crédito em geral.

Segundo Ministro, esse afetamento do crédito acontece pelo fato de que todos pegam de volta os empréstimos concedidos, que acarreta na diminuição mundial da disponibilidade de recursos. Deste modo, a falta crédito para investimento atingem as empresas, que têm de diminuir as suas atividades e o consumidor que fica com menos financiamentos para a aquisição de bens.

No Brasil, ainda de acordo com Mantega, os consumidores foram contagiados pelo medo, causado pelas notícias ao redor do mundo:

"o medo contagiou a todos. Pela virulência da crise, nos Estados Unidos, ela causa medo no investidor, medo no consumidor. Lá, mesmo aquele que tinha dinheiro, parou de comprar com medo do que lhe poderia acontecer, de ficar sem recurso, de ficar sem emprego. Isso em parte nos contagiou, contagiou o consumidor brasileiro. Hoje você tem todas as informações do mundo, a todo momento. Aí vem: desempregaram 500 mil trabalhadores em Dezembro nos Estados Unidos, 500 mil na Europa, só notícias ruins acabam ajudando a criar um cenário de medo, receio. Ainda que desde o primeiro momento tenha ficado claro que a economia brasileira se distinguia das economias avançadas e mesmo dos emergentes. O Brasil foi um dos últimos países a desacelerar a economia. Até Setembro do ano passado, nossa economia vinha a uma velocidade de Cruzeiro. Ninguém ligou muito. O investidor estava confiante porque colhia resultados. Mas quando, em Setembro, começou a escassez forte de crédito, nós também sentimos o impacto". (MANTEGA,2009:133)

De acordo com Márcio Pochamann, a trajetória do desenvolvimento econômico e social, consubstanciada no EBES, mostrou-se incapaz de incluir a todos, uma vez que apenas um terço da população mundial teve algum acesso ao padrão civilizatório produzido pela sociedade industrial do século XX.

Além disso, de acordo com o economista, o padrão de produção e consumo em larga escala leva à insustentabilidade ambiental, devido seu caráter altamente destrutivo.

Pochamann entende que "o projeto de sociedade existente não pode ser universalizado, salvo na forma do subdesenvolvimento que gera o mito de permitir a absorção de alguns simultaneamente à exclusão da maioria." (POCHAMANN, 2009:156).

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A atual crise econômica é sistêmica e estrutural, tendo se iniciado no sistema monetário-creditício, contaminando o tecido produtivo de forma generalizada, com drásticos efeitos sociais e políticos, sem precedentes nos últimos setenta anos.

Segundo Jefferson José da Conceição, a base da crise financeira atual encontra-se nas políticas de desregulamentação e da autorregulamentação do mercado. (CONCEIÇÃO, 2009:22/23)

Afirma ele que o sistema financeiro alicerçado na crença de que controlaria, por si só, a emissão dos títulos financeiros, com fundamento em critérios rígidos de avaliação de crédito e da necessária relação da emissão dos títulos com a geração de riqueza real, as autoridades econômicas de diversos países, tendo à frente os EUA, despreocuparam-se em monitorar e regulamentar as "inovações" do mercado financeiro. Por exemplo, no caso dos chamados títulos subprime ou "derivativos".

Conceição relata que a liberdade de funcionamento do mercado e a ausência de controles mais rígidos eram vistas como peças necessárias para a construção de mercados financeiros "globais". Então, o modelo neoliberal estimulou o processo de financeirização da economia capitalista, que é a riqueza produzida na forma de "papeis" (títulos públicos, ações, títulos derivativos, etc.) descolada da riqueza produzida na economia real/produtiva.

Aponta também que outro motivo para o descuido dos bancos centrais com o processo de financeirização da economia foi sua ênfase excessiva e praticamente exclusiva no controle da inflação. (CONCEIÇÃO, 2009:22)

Por fim, cita o artigo de Antônio Martins, no Le Monde, de 6/10/2008, em que há a sintetização da interpretação de François Chesnais, que argumenta que na base da crise financeira atual esta um crise de superprodução.

Morris, de nacionalidade americana, advogado e ex-banqueiro, em sua obra "The Trillion Dollar Meltdown", segunda edição, esta traduzida para o português sob o título "O crash de 2008: dinheiro fácil, apostas arriscadas e o colapso global do crédito", analisa a trajetória da economia americana em direção à sua crise, que ora assola a economia global, bem como apresenta uma agenda parcial para re-regular as finanças [07].

Afirma que, somente em 2008, os mercados entenderam que o mundo estava ameaçado por uma recessão apavorante diante da brutal escassez de crédito e acrescenta:

"Pela primeira vez, ministros das finanças se deram conta de quanto os instrumentos financeiros americanos haviam penetrado nos portfólios de investimento globais; e de até que ponto seus próprios bancos, especialmente na Europa, tinham chegado na imitação dos gigantes americanos". (MORRIS, 2009:30/31)

Impossível não transcrever o trecho em que o Autor, de forma bastante irônica, caracteriza a crise global fabricada pelos Estados Unidos (EUA) e as recomendações feitas por esta superpotência aos países latino-americanos e asiáticos :

"(...) uma festa regada a dívida, marcada por um excesso de bens de consumo importados e pelo pavoneamento de uma ostentosa nova classe de super-ricos que não inventara nem construíra nada, a não ser complicadas correntes de direitos no papel que pessoas obtusas tomaram por riqueza. Esses, é claro, eram os mesmos Estados Unidos que tinham pregado o tacanho "Consenso de Washington" – aumentar a poupança, equilibrar os orçamentos, obter superávits comerciais - na esteira das crises latino-americana e asiática das décadas de 1980 e 1990" (MORRIS, 2009:31/32)

Para prefaciar a versão traduzida dessa obra de Morris, a escolha foi pontual e fiel: Luiz Gonzaga Belluzzo [08], grande estudioso da expansão do poder americano.

Segundo Belluzzo, a trajetória de expansão econômica americana ocorrida no século XIX, pautou-se nos seguintes pilares: inserção "virtuosa" na divisão internacional do trabalho alinhavada pela hegemonia britânica, finança doméstica desregulada, protecionismo comercial e privilégios concedidos pelo Estado aos promotores de negócio. (BELLUZZO, 2009:11)

Nas décadas finais desse século, embora os EUA não dispusessem de uma legislação comercial adequada, os seus bancos de investimento já promoviam a fusão entre o capital industrial e a alta fiança, de tal forma que todos os setores da economia estavam submetidos ao domínio das grandes empresas.

Dessa forma, os EUA terminaram o século XIX "como a maior economia industrial do planeta, tornando-se um poderoso competidor nos mercados mundiais de alimentos, matérias-primas e manufaturados" e, ainda assim, como protagonizantes de frequentes e severas crises financeiras e cambiais, decorrentes do posicionamento de subordinação do dólar, da precariedade institucional de seus sistemas bancários e das práticas arriscadas e especulativas dos bancos de investimento na promoção dos negócios.

Essas práticas financeiras especulativas e os reiterados momentos de deflação de preços implicaram surtos violentos de centralização do capital, de maneira que consolidou uma face "moderna" do sistema econômico, o "capitalismo trustificado" marcado pelo surgimento e desenvolvimento da grande corporação americana e, posteriormente, pelo desdobramento transnacional do grande capital.

Nesta seara, aparece, inclusive, um novo patamar de estratificação da sociedade, formado pela "classe financeira", em que os grandes bancos passaram a deter um "poder crescente no manejo estratégico das relações internas e externas da economia".

Já na virada do século XX, diante da expansão contínua dos lucros excedentes, os EUA observaram a necessidade de buscar mercados externos, não só para difundir suas mercadorias, como também viabilizar a internacionalização do capital, por meio de investimentos diretos e exportação "financeira", sendo este fenômeno decorrente da estrutura da grande empresa e apto a condensar todos os mecanismos interiores de expansão.

Todavia, essa "Era Progressiva" vivenciada pelos EUA, encontrou como contraponto um momento de "rebelião democrática" representado pelos movimentos "populistas", que visavam a: "limitar o poder do big bussiness, tornar o sistema político mais representativo e ampliar o papel do governo na proteção do interesse público e na melhoria das péssimas condições sociais de pobreza". (CASHMAN apud BELLUZZO, 2009:13).

O New Deal, ao retomar e aprofundar estas reivindicações, também representou "uma fratura entre a classe financeira de Wall Street e as novas grandes empresas industriais fortemente atingidas pela depressão dos anos 30".

As décadas iniciais do século XX foram marcadas por uma estratégia de recuperação social e econômica, na Europa e nos EUA, frente à Grande Depressão e à Segunda Guerra Mundial.

No âmbito da finança e do crédito, "as desordens do entreguerras estimularam a imposição de regras de bom comportamento aos bancos e às demais instituições financeiras" e a palavra de ordem foi a regulamentação financeira, muito próxima da noção keynesiana de "moeda administrada".

Esse momento histórico, marcado pela "repressão financeira", foi capaz de evitar os desequilíbrios dos ciclos econômicos tão comuns no modo de ser capitalista, além de apresentar "grande capacidade de recompor as dívidas entre as empresas e os bancos e flexibilidade no que diz respeito ao acesso à liquidez junto ao banco central". (BELLUZZO, 2009: 15)

Nesse mesmo momento de ocorrência de "repressão financeira" e do forte movimento de internacionalização da corporação produtiva americana, surgia a resposta competitiva da Europa e do Japão nos mercados americanos.

No final da década de 1960, surgiram indícios de desorganização no sistema de regulação de Bretton Woods, que, na década seguinte, determinou o enfraquecimento da supremacia do dólar para transações e como reserva.

Ainda, a estagflação se instala na economia americana em meados da década de 1970 e os conservadores monetaristas veem nesta conjuntura "um pretexto para condenar peremptoriamente as incursões dos governos no sagrado território do livre mercado". (BELLUZZO, 2009: 10)

Diante do risco à liderança industrial e financeira dos EUA, no âmbito da concorrência global, a reação americana foi de elevação unilateral das taxas de juros (1979), com o propósito de revalorizar a sua moeda.

Embora a defesa do dólar tenha debilitado a indústria manufatureira americana, ao mesmo tempo, "deu novo vigor à expansão externa da grande empresa americana, além de restaurar a centralidade de Wall Street como praça financeira global". (BELLUZZO, 2009:16)

A partir dos nos anos 80, foi recuperada a soberania monetária americana e a integração financeira promovida pelos EUA, nas últimas três décadas, não teve precedentes. Nesse sentido, Belluzo aduz que "a prerrogativa de administrar a moeda-reserva conferiu aos Estados Unidos o privilégio de abrigar os mercados de dívida e de direitos de propriedade mais líquidos e profundos da cadeia de inter-relações financeiras". (BELLUZZO, 2009:17)

Ainda, no que tange à supremacia americana e à supremacia dos mercados financeiros desregulados, Belluzzo pontua que essas "não só agravaram a chamada assimetria do ajustamento entre os Estados Unidos e seus súditos emergentes, como desencadearam uma sucessão de crises parciais no mercado dominante" [09]. (BELLUZZO, 2009:17)

Ao lançar um olhar panorâmico sobre essas crises e as respectivas medidas de contenção/recuperação, Belluzo destaca que em todas estavam presentes "(...) os riscos implícitos na globalização, sob comando do dólar e da finança desregulamentada". (BELLUZZO, 2009:21)

Na década de 2000, claramente se verificou a construção de um espaço monetário conflitivo (EUA x Ásia x Europa), decorrente da hegemonia americana e seu enorme mercado nacional, acarretando, inclusive, a "separação" entre o consumo e o investimento. A criação de uma nova capacidade produtiva manufatureira passou a ser liderada pela Ásia [10], enquanto a expansão do consumo concentrou-se, principalmente, nos EUA.

Nos últimos cinco anos anteriores à eclosão da recente crise financeira, o consumo das famílias americanas passou a não mais depender da evolução da renda, particularmente dos salários e dos empregos, e, sim, do "efeito-riqueza" e do endividamento. Em outras palavras, "o circuito de valorização da riqueza-crédito-consumo criava poder de compra adicional para as famílias de baixa e média renda, ao mesmo tempo em que as aprisionava no ciclo infernal do endividamento crescente". (BELLUZZO, 2009:22)

Nesse contexto, no mundo comandado pela dinâmica dos mercados da riqueza, duas categorias sociais se predominaram: os credores líquidos e os dependentes crônicos da obsessão consumista e do endividamento. Estes, "permanentemente ameaçados pelo desemprego e obrigados a competir desesperadamente pela sobrevivência" e, aqueles, "consumidores de luxo" diante da "apropriação de frações cada vez mais gordas da valorização dos ativos reais". (BELLUZZO, 2009:23)

As alterações ocorridas ao longo dos últimos trinta anos, não só na estrutura da riqueza capitalista, como também na operação dos mercados financeiros, ampliou a complexidade da trajetória das economias e da contradição da gestão dos bancos centrais.

Em síntese, essas alterações "permitiram maior fluidez nas transações, estimularam a securitização gananciosa e "alavancagem imprudente", o que repercutiu em uma crise de liquidez atingindo o conjunto do sistema bancário. Assim, sem a mão invisível do governo e diante da ausência de socorro tempestivo, os bancos entregaram-se ao desespero da desalavancagem coletiva, "levando à contração do crédito, à ruptura do sistema de pagamentos e à corrida bancária". (BELLUZZO, 2009:27/28)

- Comparações com a crise de 1929: aproximações e diferenciações.

No ano de 1929, a Comissão sobre Recentes Modificações Econômicas, sob a direção do Presidente Hoover, apresentou um pronunciamento,confiante dizendo que "economicamente temos um terreno sem limite à nossa frente; há necessidades novas que abrirão incessantemente caminho para outras mais novas ainda, à medida que sejam satisfeitas. (...) Parecemos ter apenas tocado na orla de nossas potencialidades". Porém, este otimismo teve vida breve.

Os EUA, após a Primeira Guerra Mundial, assumiram a hegemonia econômica do mundo. De devedores passaram a credores, no mercado internacional, pois fizeram grandes empréstimos a outros países, vencedores ou vencidos. Muito contribuíram na reconstrução da Europa, e exportavam muito para este continente. O crescimento trouxe euforia social.

A crise de 1929 foi provocada pelas elevadas taxas de crescimento, e alastrou-se pelo mundo.

Profundas mudanças ocorreram no país. O Capitalismo liberal entrou em crise, passando o governo a desempenhar importante papel na organização da vida econômica. A estabilidade só chegaria com a política do "New Deal".

Conforme Maurice Dobb :

"Os sonhos de um paraíso econômico iriam ser rudemente desfeitos pelos acontecimentos de 1929 a 1931: pelo inicio de uma crise econômica sem paralelo mesmo na Grande Depressão das décadas de 1870 e 1888, e além disso mundial. Os próprios fatos desses anos sombrios, com suas falências repentinas, fábricas abandonadas e filas de gente a pedir pão, forçaram nos espíritos já refeitos a conclusão de que algo muito mais fundamental do que uma adaptabilidade lenta de desordenadas relações de preços devia estar errado no sistema econômico, e que a sociedade capitalista fora tomada por algo com todos os sinais de ser uma doença crônica e ameaçando tornar-se fatal". (DOBB, 1988, p.230)

Mas, a economia "sem rédeas", defendida pelo liberalismo, conduziu à maior crise do sistema capitalista, até então vista: a crise de 29, que iniciou-se nos EUA e se espalhou por todo o mundo (inclusive no Brasil, na questão do café, e contribuiu para a Revolução de 30. Com exceção da URSS).

Era necessário, portanto, a intervenção do Estado para regular os mercados, as empresas, garantir o equilíbrio entre produção e consumo, evitar o abuso do poder econômico, a dominação dos mercados, garantindo verdadeiramente a livre concorrência. Conforme cita Eric Hobsbawm:

O Brasil tornou-se um símbolo do desperdício do capitalismo e da seriedade da Depressão, pois seus cafeicultores tentaram em desespero impedir o colapso dos preços queimando café em vez de carvão em suas locomotivas a vapor. (Entre dois terços e três quartos do café vendido no mundo vinham desse país) (HOBSBAWM, 2001:97)

Afirma ainda, o autor que aqueles que não tinham controle ou acesso aos meios de produção (a menos que pudessem voltar para uma família camponesa no interior), ou seja, os homens e mulheres contratados por salários, a conseqüência básica da Depressão foi o desemprego em escala inimaginável e sem precedentes, e por mais tempo do que qualquer um já experimentara. O único Estado ocidental que conseguiu eliminar o desemprego foi a Alemanha nazista entre 1933 e 1938.

Conforme a análise de SINGER sobre a crise de 1929, esta teria sido uma crise da economia real, enquanto a presente se dá no âmbito financeiro:

"Uma eventual crise da economia real tem conseqüências sociais e políticas muito mais amplas, porque começa por lançar no desemprego, e logo mais na miséria, uma parcela substancial da sociedade. Uma crise da economia real é muito mais difícil de reverter por medidas de Estado, porque não basta recuperar a confiança da população em determinadas instituições. Seria necessário criar novas atividades capazes reinserir milhões de pessoas na economia mediante políticas de fomento e incentivo que somente poderão ser definidas por um processo prolongado de tentativa e erro. A grande crise de 1929 levou uma década para ser superada, e mesmo assim graças ao "auxílio" de uma guerra mundial". (SINGER, 2009:80)

Por outro lado, para Oliveira, ambas as crises, a atual e a de 1929 foram crises de realização de valor. Ou seja, nos dois casos a crise teria ocorrido pela impossibilidade de realizar-se o valor gerado pela mão-de-obra.

Todavia, observa também diferença entre as crises: a crise de 1929 estava circunscrita ao território das economias centrais, enquanto a atual se encontra diante do fenômeno da globalização financeira, de tal forma que repercute em todo o mundo capitalista globalizado, sendo impossível o controle de fluxo de capitais.

Paul Krugman defende a possibilidade concreta de que 2008 possa ser um 1931 revisitado.

Isto porque os efeitos econômicos da crise de 2007/2009 – congelamento do crédito, queda abrupta do valor dos ativos – são os mesmos das grandes corridas aos bancos da década de 1930.

O economista ainda relata que o mundo já se encontra na esfera da denominada economia de depressão. Por outro lado, ele acredita que provavelmente não seja vista uma taxa de desemprego que atinja o pico pós-Depressão de 10,7%, alcançado em 1982.

Consoante Carlos Eduardo Carvalho, a crise atual é provavelmente a maior e mais grave desde a Depressão dos anos 1929-1933, mas felizmente ainda está distante daquela em termos de efeitos econômicos e sociais:

"As semelhanças são fracas e há a solidez do dólar com reserva mundial. Pode ser esse um motivo para ainda não ter dado lugar a questionamentos fortes sobre os paradigmas de política econômica dominantes". Para tanto, talvez seja necessário um agravamento ainda maior dos problemas, a ponto de tornar insuficiente a aplicação desordenada de receitas aprendidas décadas atrás." (CARVALHO, 2009:176)

Jefferson José da Conceição informa que a crise de 1929, iniciada nos Estados Unidos e que se alastrou por todo o mundo, colocou em xeque as idéias econômicas liberais predominantes nos meios acadêmicos e governamentais desde as últimas décadas do século XIX. Estas teorias hegemônicas, até então existentes, baseadas na autorregulação do mercado, não contribuíram, para resolver a grave crise financeira e produtiva de então.

Lembra que novas teorias surgiram propugnando pela implementação de uma série de medidas de intervenção estatal, para que o "motor" do crescimento voltasse a funcionar. Dentre as ações sugeridas: aumento do investimento público e a redução das taxas de juros.

Conceição cita Keynes, que, em seu livro A Teoria geral do emprego, do juro e do dinheiro, de 1936, foi um dos primeiros a propor uma nova explicação para a crise, dizendo que o alto nível de desemprego verificado era fruto do baixo volume de investimentos privados, e não dos déficits públicos ou da "inflexibilidade salarial" gerada pela ação dos sindicatos, como diziam os economistas liberais, e, ainda, sugeriu que os investimentos públicos fossem elevados, ainda que por meio de déficits, como meio de solução da crise.

Frisa que foi a teoria de Keynes que serviu de base ao New Deal, do Presidente Franklin Delano Roosevelt, nos Estados Unidos, que ajudou este país a sair da crise nos anos 30.

Para Jefferson Conceição, há uma diferença importante entre a crise atual e a de 1929: seria a relativa rapidez com que, mesmo nos círculos mais liberais, houve o reconhecimento da necessidade de intervenção do Estado para por termo aos efeitos da crise ou ao menos mitigá-los.

Assim, diante da velocidade das informações, quaisquer informações, reais ou especulativas, tornam-se conhecidas em momento, causando imediata repercussão e grande repercussão no mundo todo, com impacto nas bolsas, nas decisões de investimentos e consumo e nas decisões governamentais. E, o quadro é agravado diante do "jornalismo de mercado" [11], posto que dentre os jornalistas que tratam da crise, além de poucos serem especialistas em economia são filiados aos grandes meios de comunicação, que por sua vez, são controlados por grupos econômicos com interesses econômicos e políticos próprios em jogo.

Todavia, para Márcio Pochamann, medidas keynesianas moderadas, até então adotadas, não possibilitaram a correção das causas da última crise mundial, mas, tão somente, seus efeitos. Não se trata, portanto de uma alternativa concreta e efetiva como fora durante a crise de 1929. Devido à profundidade da crise do capital globalizado, dificilmente a reprodução de medidas idênticas àquelas adotadas na crise de 1929 terão sucesso pleno.

Segundo o Ministro Maurício Godinho Delgado, a grande semelhança entre a crise atual e a de 1929 é o fato de ambas serem subsequentes a um período de hegemonia do pensamento ultraliberal e de desregulamentação da economia – que tinha na Justiça do Trabalho um "adversário privilegiado". "Supunha-se que o sistema capitalista funcionaria com tamanha perfeição que, sem intervenções, produziria um resultado mais eficiente, inclusive quanto à distribuição de riquezas e bem-estar na sociedade". (DELGADO, 2009)

- Influências das políticas de desregulamentação implementadas nos últimos 30 anos, presença do ideário ultraliberalista e a crise de 2007/2009.

Paul Krugman atribui à ideologia o motivo pelo qual nenhuma medida foi tomada de instantâneo para evitar a crise.

Para este economista, "as afirmações de que os mercados financeiros não regulamentados se cuidariam sozinhos mostram-se tão erradas quanto às alegações de que a desregulamentação reduziria os preços da energia elétrica." (KRUGMAN, 2009:93)

Conceição explica que a desregulamentação e liberalização dos mercados financeiros e cambiais iniciaram-se antes da ruptura do sistema de Bretton Woods e contribuíram para sua derrocada.

Em meados dos anos 60, já surgiram os primeiros sintomas de desorganização desse arranjo "virtuoso".

No que diz respeito aos sistemas monetários e financeiros, os fenômenos mais importantes na etapa de dissolução do consenso Keynesiano foram:

1.subida do patamar inflacionário, tornando insustentáveis os limites impostos às taxas de juros;

2.a criação do Euromercado e das praças off-shore, estimuladas pelo excesso de dólares produzido pelo déficit crescente do balança de pagamentos dos Estados Unidos e, posteriormente, pela reciclagem de petrodólares;

3.a substituição das taxas fixas de câmbio por um "regime" de taxas flutuantes, a partir de 1973.

Carvalho expõe que a grave crise desmoralizou as teses neoliberais sobre as supostas virtudes da autorregulamentação dos mercados:

"É verdade que a desregulamentação das finanças era uma das teses mais relevantes para a ideologia neoliberal, mas nada assegura que a crítica vigorosa em curso vá de fato conduzir a formas de regulação que limitem os interesses da grande finança. Da mesma forma, não é verdade que o neoliberalismo tenha de fato promovido políticas de redução de capacidade de intervenção do Estado nos países centrais. A receita de redução do Estado era para as periferias do mundo. Nos países em que a tese encontrou adeptos fervorosos, os resultados foram muito negativos". (CARVALHO, 2009:166)

Explica que a onda neoliberal iniciada há trinta anos nos países centrais acabou por ampliar a capacidade de intervenção discricionária do Estado. Na verdade, o Estado foi liberado de compromissos com os direitos sociais e econômicos. O Estado continuou forte, todavia, para cuidar do capital.

Assim, Carvalho defende que "o Liberalismo é um conjunto de idéias e valores bem mais amplo que as políticas econômicas que nele se referenciam, e não apresenta um conjunto rígido e bem definido de políticas a serem aplicadas. Nos governos ditos neoliberais há grande variedade de políticas econômicas específicas". (CARVALHO, 2009:166)

Para ilustrar, este economista faz uma comparação entre todos os tipos possíveis de políticas cambiais nos últimos anos, nos principais países da América Latina:

. Chile: câmbio flutuante "sujo", com foco no câmbio real e controle de capitais de curto prazo.

. Argentina: currency board rígido na Argentina de 1991 a 2001.

. Brasil e México: câmbio deslizante com desvalorizações prefixadas no Brasil de 1995 a 1998 e no México de 1988 a 1994; câmbio flutuante "sujo" no México a partir de 1995 e no Brasil a partir de 1999.

Ressalte-se que no Brasil e na Argentina foram implementados programas anti-inflacionários de choque, em 1991 e 1994, o México utilizou gradualismo com negociação, de 1988 a 1994, enquanto o Chile, de 1984 a 1999 procurou a redução gradativa sem choques e enfatizou a estabilidade da taxa de câmbio real.

Conforme os ensinamento de Carvalho:

"É verdade que o quadro é mais definido nas privatizações, mas não se pode esquecer que a desestatização radical da Argentina conviveu com a manutenção da grande estatal do cobre no Chile, cujas receitas apropriadas pelo Estado sustentaram grande parte das políticas de apoio às exportações, de privatização da Previdência e de regulação macroeconômica anticíclica. Esse intervencionismo ativo no Chile conviveu com a liberalização radical das importações e viabilizou o apoio firme às exportações. Além disso, o tamanho do setor público varia muito: a carga tributária brasileira é quase o dobro da Argentina e da Mexicana, com o Chile em posição intermediária, apoiado nas receitas na estatal do cobre". (CARVALHO, 2009:167)

Em suma, Carvalho acredita que o neoliberalismo se revela mais um conjunto de valores gerais para orientar as políticas econômicas a um conjunto articulado de políticas específicas, nos seguintes termos:

"É um paradigma forte o bastante para estabelecer limites rígidos para as orientações básicas das políticas a serem feitas, para estabelecer um campo de idéias difícil de ser rompido e contestado, mas é também um paradigma elástico e amplo o bastante para abrigar políticas específicas muito variadas e mesmo díspares entre si". (CARVALHO, 2009:167)

Neste sentido, destaca os seguintes traços gerais da agenda desse paradigma, em especial na América Latina:

1)Prioridade absoluta para os direitos do capital:

. ampliação dos direitos dos credores e dos investidores em títulos financeiros: "respeito aos contratos", "regras claras", transparência";

. ajuste fiscal para garantir o pagamento pontual das obrigações do Estado com a dívida pública;

. estabilidade do valor da moeda e do sistema financeiro, para evitar os riscos de desvalorização de ativos financeiros;

. liberdade cambial, livre movimentação de capitais, conversibilidade.

2)Ocultamento das relações capital-trabalho e responsabilização do indivíduo diante do capital:

. exclusão das relações de trabalho do debate público, colocadas como questão inexistente ou como questão privada, sobre a qual não se deve falar;

. proteção social tratada como questão individual, como decisão pessoal de prevenir-se; previdência pública apenas para os miseráveis, os que "não deram certo";

. direitos dos trabalhadores tratados como privilégios, fruto de populismo, e causa de desemprego e de ineficiência econômica;

. possibilidade de emprego como decorrência da qualificação e das aptidões do trabalhador, e não como função do desempenho da economia e da estrutura produtiva.

3)Despolitização da política econômica, tratada como técnica universal:

."fim da macroeconomia": políticas macroeconômicas apresentadas como técnicas rígidas, divididas apenas em "responsáveis" ou "populistas";

. transferência das preocupações com o crescimento, o emprego, a distribuição de renda, a eficiência e a produtividade, para programas localizados, "microeconômicos";

. independência e autonomia das instâncias públicas decisivas, em especial o Banco Central, de modo a deixá-las fora do alcance da sociedade e das instituições políticas democráticas.

4)Abertura de novos espaços para a valorização do capital:

. Privatização generalizada do setor produtivo estatal;

. Transferência da saúde, previdência e educação para o setor privado, pois o mercado é mais capaz de prover as necessidades individuais e sociais que o Estado.

5)Responsabilização dos países dependentes pelos efeitos da desordem financeira internacional:

. defesa da liberdade de circulação de capitais e da livre conversibilidade das moedas;

. responsabilização de fatores domésticos pelas crises cambiais: ausência do "ajuste fiscal necessário", falhas de regulação dos sistemas financeiros, políticas monetárias "frouxas".

Diante deste contexto, constata-se que o paradigma neoliberal opera-se firmemente em favor dos grupos mais influentes do capital e que "despolitiza a macroeconomia, a pretexto de haver técnicas inequívocas, mas convive com enorme diversidade de políticas". (CARVALHO, 2009:171)

De acordo com Guido Mantega, os desequilíbrios fiscais, financeiros e econômicos foram gerados no coração dos países mais avançados. O excesso de liberalidade do crédito, a acumulação de riquezas fictícias no mercado, a movimentação de montanhas de dinheiro que não tinha lastro efetivo na economia real, fruto da política neoliberal, acabou gerando um acúmulo de ineficiência econômica nesses países mais avançados.

Mantega menciona que "muitas empresas tradicionais, como as do setor automobilístico americano, estavam perdendo a concorrência externa havia muito tempo. E isso ajudou na produção de déficits comerciais e fiscais muito altos, ou seja, acumulação de dívidas". (MANTEGA, 2009:128)

Explica que os governos, ao serem adeptos da desregulamentação, permitiram a liberalização de vários tipos de mercado e exemplifica tal fenômeno ao citar o mercado de credit default swap, que permitia, sem regulamentação, que uma dívida fosse transformada em título e vendida para terceiros.

Mantega cita, ainda como exemplo, a criação de bancos de investimentos, que, ao contrário dos bancos comerciais, não têm limite de alavancagem. Deste modo, podem movimentar muitas vezes o seu patrimônio.

A ausência do limite de alavancagem acaba tornando os mercados completamente desprotegidos na hora de uma crise. Isto em razão da movimentação constante do capital, que acaba não propiciando a cobertura financeira necessária na hora de uma crise.

Mantega expõe que "basta uma pequena corrida mais forte de investidores para sacar dinheiro dos fundos ou alguma dificuldade para refinanciar as suas operações no mercado interbancário para quebrar".

Diante do exposto, Mantega conclui que a adoção das políticas de desregulamentação gera o enfraquecimento da economia. Consequentemente, cortes emprego.

Ressalte-se, ainda, que o aumento do desemprego propiciará novos cortes nos gastos dos consumidores. E, ainda dentro deste ciclo vicioso, sendo fracos os gastos dos consumidores, virão, cortes nos planos de investimentos das empresas.

Segundi Pochamman, os protagonistas da agenda global neoliberal são as principais agências multilaterais [12] que possuem suas respectivas ramificações nos espaços nacionais. Essas buscam promover regulação competitiva tanto na repartição da renda e da riqueza por parte das corporações transnacionais, quanto por meio no enxugamento do papel do Estado, que se transforma, cada vez mais, em um mero reprodutor das ações internas voltadas à regulação competitiva dos capitais e às políticas sociais distantes de caráter universal. [13]

O avanço tecnológico combinado com a difusão de múltiplas cadeias de produção em rede planetária aprofundou a distinção entre trabalho de concepção, que exige educação continuada e de qualidade compatível com remuneração e condições de trabalho mais civilizadas e o trabalho de execução, em um cenário de desgovernança global.

Geograficamente, promoveu-se uma nova divisão internacional do trabalho que concentrou, nos países ricos, o trabalho de concepção. Nos países periféricos, com as reformas liberais em maior escala, prevalece o trabalho de execução, geralmente pouco qualificado, sub-remunerado e em condições de exploração muito acentuadas.

Os organismos governamentais e as instituições ligadas aos grupos econômicos transnacionais voltaram-se à defesa de ações estatais pontuais e focalizadas na regulação social competitiva, à margem da regulação pública ou estatal, mas compatível com campanhas supranacionais de caráter assistencial e mercadológico envoltas na lógica da responsabilidade social e de estímulo voluntário e assistencial isolacionista.

A desregulamentação financeira e a globalização econômica desigual levaram ao surgimento de uma nova casta política e econômica mundialmente privilegiada, que se beneficiou dos ganhos da financeirização da riqueza em escala planetária. Para isso, o fundo público tornou-se a chave para a repartição de renda entre os detentores dos direitos da riqueza financeirizada e os dependentes das políticas sociais nacionais despossuídas de seu caráter universal.

Pochamann afirma que "o neoliberalismo representou um inegável esforço pela busca da acomodação política em contextos nacionais crescentemente marcados por maior polarização e exclusão social." (POCHAMANN, 2009:158)

Esse contexto foi responsável por sinais de regressão nas estruturas sociais durante o ciclo de desenvolvimento fordista do século XX que representou o "desaburguesamento" das classes médias e a "desproletarização" da classe operária.

Aprofundando-se o problema da desigualdade social, a nova polarização entre ricos e pobres tende a ser acomodada por medidas funcionais simultaneamente à pobreza e à riqueza.

A transformação do Estado Liberal em Estado de Bem-Estar Social dependeu da democratização política das estruturas de poder, produção e consumo, levadas avante por intensas lutas sociais. No entanto, não é mais cabível a concepção de um Estado que setorize as ações públicas de forma desarticulada, quando não competitivas entre si. No Estado de Bem-Estar Social do século XX, a soma das ações em partes oferecia um todo superior.

De acordo com Beluzzo "os fenômenos centrais do capitalismo destravado de nosso tempo são o acirramento da concorrência entre as grandes empresas internacionais, a escalada da financeirização e as rápidas mudanças na geoeconomia mundial." (BELUZZO, 2009: 119).

Na visão liberal conservadora, Estado e mercado deixam de ser instâncias da constituição do capitalismo como sistema histórico das relações sociais, políticas e econômicas e passam a ser alternativas abstratas da organização da sociedade.

A ideologia economista neoliberal defende ser necessário libertar as forças criativas da iniciativa privada e permitir a fluência mercantil, sem a imposição de restrições estatais. A escolha racional do indivíduo "utilitarista" deve ser limitada apenas por restrições impostas pela escassez de recursos e pelo funcionamento dos mercados competitivos. Sustentam que o Estado interventor criou uma clientela que deseja garantia de emprego, mas que as políticas intervencionistas produzem menos crescimento e geram desemprego a longo prazo.

Os mercados financeiros devem ser desregulamentados, eliminando-se as barreiras à entrada e saída de capital dos países de modo que a taxa de juro possa exprimir, sem distorções, a oferta e a demanda de poupança nos espaços integrados das finanças mundiais.

As empresas dos mercados de bens devem se submeter à concorrência global, eliminando-se os resquícios protecionistas ou quaisquer medidas de fomento. Os mercados de trabalho, por sua vez, devem ser flexibilizados, removendo-se cláusulas sociais, supostamente ineficientes e danosas para os trabalhadores.

As dimensões públicas das economias de mercado, moeda e finanças do Estado, devem ser administradas de forma que não perturbem o funcionamento das forças que conduzem a economia privada.

Com a presença da China e da Índia no comércio mundial, tornaram-se obsoletas as teses de benefícios do comércio mundial, segundo as quais, os países avançados produzem bens de alta tecnologia com mão de obra qualificada e os países menos desenvolvidos se dedicam aos setores menos tecnológicos com utilização de mão de obra não qualificada.

A internacionalização da economia é um fenômeno constitutivo do capitalismo, embora este fato não possa ser confundido com as limitações crescentes impostas aos Estados nação. As novas formas financeiras contribuíram para aumentar o poder das grandes corporações.

As fusões, aquisições e incorporações suscitaram um maior controle do mercado e promoveram perversas campanhas contra os direitos sociais e econômicos, considerados obstáculos à lei de livre concorrência.

A abertura do mercado e o acirramento da concorrência coexistem com a tendência do monopólio, além de restringirem a soberania nacional e impedirem que os cidadãos, no exercício da política democrática, tenham capacidade de decidir sobre a própria vida. O capitalismo financeirizado implica na pretensão dos bem-sucedidos de acumular tempo livre, sob a forma de capital fictício, ao mesmo tempo, que libera os dependentes para o desemprego, a precariedade do trabalho, queda dos salários reais e a exclusão social.

Segundo Beluzzo, a bolha imobiliária que originou a crise econômico-financeira, iniciada em 2007, ocorreu devido à mudança de modelo de negócios em Wall Street.

O Glass-Steagall Act, promulgado em 1930, determinava a separação entre os bancos comerciais e os bancos de investimentos.

Os primeiros recebem depósitos à vista e realizam empréstimos mantidos em carteira até o vencimento; são responsáveis pela criação da moeda; avançam o poder de compra, até então inexistente, aos proprietários da riqueza, a partir da avaliação dos riscos de crédito. Não são simples intermediários financeiros, mas detêm a prerrogativa de conceder empréstimos que excedem o valor de seus depósitos. Os bancos de investimentos, por sua vez, se dedicam ao aconselhamento de empresas nas emissões primárias de títulos de dívida e ações e na gestão desses instrumentos financeiros avaliados e negociados diariamente nos mercados de capitais, primários e secundários.

Ocorre que o Glass-Steagall Act foi rejeitado em 1999, o que permitiu que as instituições bancárias que cumpriam funções distintas criassem um tipo de sinergia entre as suas incompetências.

A desregulamentação financeira rompeu os limites impostos após a crise de 1929 e os bancos comerciais passaram a se valer de securitização de crédito, operação através da qual o banco empresta para uma pessoa e, com base no título de crédito assinado pelo tomador, emite um título de renda fixa que é vendido para investidores de mercado.

Segundo Beluzzo, "a nova configuração institucional acirrou a concorrência entre as instituições financeiras na atração da clientela e na aceleração das inovações financeiras." (BELUZZO, 2009:108).

Os bancos comerciais, os gestores de fundos de investimento e de fundos mútuos são constrangidos a exibir melhores performances para vencer a dura concorrência instalada. A disputa nos mercados financeiros desregulados implica na busca por rendimento máximo. Desta forma, é impossível negar que a ausência de regulação no mercado de hipotecas contribuiu de forma decisiva para a eclosão da crise.

O capitalismo americano tem como marca a omissão das autoridades diante das euforias dos mercados. Ocorre que as crises financeiras tornam-se graves quando as flutuações no valor da riqueza contaminam os bancos comerciais que funcionam como sistema de pagamentos na economia monetária.

Em setembro de 2008, os bancos cobravam entre si taxas exorbitantes nos mercados interbancários, onde são efetuadas as trocas de reservas que são operações de empréstimo entre bancos com excesso de caixa e bancos que necessitam de recursos para finalizar as operações do dia.

O aumento de tais taxas sinalizava uma forte contração no crédito, não obstante as maciças e sucessivas injeções de liquidez promovidas pelos bancos centrais. Quando isso ocorre, a economia trava, embora a intervenção dos bancos centrais tenha por objetivo estimular o crédito.

A corrida de investidores para os títulos do governo americano demonstra que os mercados estão prestando reverência à soberania monetária do Estado nacional, responsável pela gestão da moeda de reserva. Porém, os preços dos ativos decaem, as moedas fictícias se desvalorizam e o crédito desaparece. Essa preferência pela liquidez demonstra que a diversificação e o fracionamento da riqueza e das moedas sucumbem ao caráter central e centralizador do dinheiro universal.

A hesitação do Federal Reserve (FED) [14]e do Tesouro americano em tomar medidas necessárias para conter a crise provocou conseqüências desastrosas, uma vez que acelerou os saques nos fundos mútuos e fundos de hedge administrados por bancos de investimentos, induzindo tais instituições a queimar ativos ou bloquear as retiradas. Também precipitou a retirada de recursos das aplicações de curto prazo que financiavam as posições alavancadas nos ativos originados em empréstimos hipotecários e outras operações de crédito securitizadas. Ocorreram retiradas maciças dos depósitos das instituições menores e mais frágeis, concentrando-se estas em bancos de maior porte.

Os bancos mais sólidos adotaram os critérios mais rigorosos de concessão de crédito, ocasionando a derrocada das instituições ilíquidas, mas solventes.

Em momentos de crise financeira, a interação entre as instituições e os mercados pode levar a situações críticas em que os preços dos ativos não refletem os fluxos de receitas por estes gerados e sim a disposição do mercado em adquiri-los. A derrocada dos preços dos ativos afeta diretamente o valor das carteiras dos bancos, o que gera contágio e força os bancos à insolvência, mesmo se estes tiverem aptos a cumprir seus compromissos.

A crise de liquidez transforma-se em crise de crédito e, posteriormente, em um festival de insolvências. Nos países periféricos, isso ocasiona a fuga de moeda local e caos monetário.

A capacidade dos bancos, em conjunto, em expandir o crédito e criar depósitos que funcionariam como meio de pagamento, depende, em uma economia fechada, da demanda de público e das condições impostas pelo banco central para o abastecimento da liquidez aos integrantes do sistema bancário.

Beluzzo esclarece que:

"na história da economia mercantil, as incessantes transformações nos regimes monetários e financeiros resultam do conflito permanente entre as ‘regras’ do jogo e a compulsão dos possuidores de riqueza para transgredi-las. Não há, portanto, um ‘modelo’ e muito menos um conjunto de regras de gestão que possam ser tomados como absolutos".(BELLUZZO, 2009: 125)

A crença de que as decisões privadas são estabilizadoras uma vez que a escolha pelo modelo correto de andamento do mercado se dá de acordo com leis universais se mostra, desta forma, completamente falaciosa.

Os gestores de moedas nacionais são partícipes de um sistema universal e hierarquizado de pagamentos e de liquidez. Os que administram moedas conversíveis [15] estão relativamente protegidos das flutuações entre as suas moedas. Para elas existe sempre um ponto de compra ou mercados de hedge líquidos e profundos em que os agentes podem buscar proteção contra eventuais flutuações cambiais a um custo conveniente. Em um momento de fuga desabalada para a liquidez, os detentores da riqueza buscam moeda reserva.

Já os que emitem moedas inconversíveis, no mundo globalizado, estão obrigados a segurar as reservas em moeda forte e manter os excedentes comerciais de forma permanente, mas tais medidas não impedem as vendas maciças da moeda local. Expostos à fuga de capital, dificilmente são capazes de aplacar, com a elevação de juros, os movimentos abruptos de desvalorização do câmbio.

As autoridades reguladoras e os gestores da riqueza apoiaram-se em uma falsa avaliação sobre o funcionamento dos mercados. Sustentavam que os mercados tendem ao equilíbrio e que os desvios são apenas aleatórios. Isso permitiu a elaboração de produtos financeiros estruturados e produziu uma crise mais abrangente e de maiores proporções do que uma simples bolha imobiliária.

As autoridades reguladoras têm obrigação de conter as bolhas, antes que estas se tornem endêmicas. Não basta apenas utilizar a política monetária, através do aumento de juros, para controlar um ciclo de ativos e conter a expansão da bolha. É necessário que as taxas se elevem muito para conter as expectativas eufóricas dos investidores, o que pode provocar graves danos à economia.

É necessário operar o canal de crédito, modificando-se as exigências de reservas e de capital conforme a toada do ciclo econômico. O Banco Central deve recorrer à ampliação das exigências de capital e de liquidez para dar eficácia anticíclica às suas políticas.

-.Estratégias de enfrentamento da crise atual: traços característicos.

Sister lembra que o Governo de Obama acredita que ser preciso colocar dinheiro nas mãos dos mutuários para que possam pagar suas casas.

Singer defende que os governos nacionais devam tomar como primeira medida o restabelecimento do controle sobre a movimentação internacional dos capitais privados para que possam recuperar o controle sobre o capital financeiro.

Assim, considera que a crise financeira será incontornável enquanto a desregulação das finanças permanecer em vigor, mas num primeiro momento, é necessário conter a crise financeira, para que não contamine a economia real, posto que esta é muito mais grave e não pode ser combatida apenas com medidas que recuperem a confiança da população em determinadas instituições.

Segundo Singer, a crise da economia real não aconteceu ainda, sendo possível a sua prevenção , desde que adotadas políticas capazes de resolver em curto prazo a atual crise financeira e, ao mesmo tempo, devem ser lançados fundamentos de uma nova estrutura institucional capaz de evitar novas crises financeiras no futuro.

Para que a atual crise financeira seja contida, é necessário restaurar o crédito, mediante intervenção efetiva do Poder Público nos bancos.

Depois de superada a presente crise, defende:

"a estatização perene de todos os bancos que emitem os meios de pagamento do país, não só para preservar o meio circulante da especulação, mas, sobretudo, para garantir os valores dos depositantes e fazer que sejam aplicados onde são mais necessários, do ponto de vista do interesse geral da sociedade. O que pode implicar uma governança participativa do novo sistema financeiro, com forte presença dos assalariados, trabalhadores da economia solidária, além dos setores empresariais de praxe". (SINGER, 2009:81)

Dessa forma, SINGER propõe um comando unificado para as finanças, para que possam controlar a economia real, "impondo-lhe diretrizes sobre o que e quanto produzir e consumir, de forma semelhante ao que foi feito nos países do "socialismo real" no afã de planejar centralmente todas as atividades econômicas". (SINGER, 2009:81)

Por fim, ratifica que o mercado financeiro deverá ser reformulado, para coibir-se a especulação e igualmente para reconstruir-se "os laços entre o investidor privado e o empreendimento em que ele é sócio". (SINGER, 2009:81)

Noutro giro, Oliveira entende que o receituário keynesiano serviu para resolver uma crise em um contexto de economia fechada, na qual se podia conter a livre movimentação de capitais. No entanto, no atual contexto de globalização e circulação de capitais em nível mundial, as opções keynesianas não são suficientes.

Para ele a crise atual é longa e dura, de tal modo que exigirá a "reacomodação brutal de forças" e imporá "mudanças em todo o mundo e no Brasil também". (OLIVEIRA, 2009:86)

OLIVEIRA acredita que a solução para o Brasil seria a realização de algo como feito por Getúlio Vargas em 1930,

"uma soma de coragem política e investimento público pesado. Criar algo como cinco Embraer por ano em diferentes setores; promover uma superação do modelo ancorando-o agora em forças sociais da base da sociedade". (OLIVEIRA, 2009: 87)

Para MEDEIROS, o Brasil "reúne condições propícias para manter o novo ciclo duradouro de crescimento econômico acompanhado de redução de desigualdades sociais e regionais, já em curso". (MEDEIROS, 2009 : 147)

As referidas condições seriam: as reservas em divisas que ultrapassam 200 bilhões de dólares e a posição alcançada pelo Brasil de investment grade.

Segundo ele, esses fatores permitirão que o País volte a captar recursos com menores encargos financeiros e com prazos mais longos após a crise.

Ademais, MEDEIROS relata que as empresas estatais e privadas nacionais e transnacionais, de maneira geral, obtiveram lucros crescentes nos últimos cinco anos, o que lhes permite realizar investimentos com recursos próprios. Além disso, os fundos de pensão, os mútuos de investimentos e as instituições financeiras igualmente obtiveram elevada rentabilidade tanto em renda fixa quanto em renda variável nesse período.

Enfim, esses excedentes financeiros acumulados podem gerar fundos capazes de financiar investimentos de curto, médio e longo prazos e, ademais, complementar as tarefas do Orçamento Geral da União na construção e modernização da infraestrutura nacional.

Noutro giro, para o referido autor o Banco Central deve passar a compatibilizar metas de inflação com metas de crescimento de emprego e renda, bem como trabalhar para manter fortes e sólidas as instituições financeiras, avaliando-as individualmente, especialmente os níveis de consistência entre a composição dos passivos e ativos.

Explicitando mais profundamente suas opiniões a respeito da superação da crise, MEDEIROS sugere novos pontos estratégicos a serem enfrentados pelos bancos oficiais, que deverão ser capacitados para a liderança na indução do sistema financeiro privado, construindo-se um novo ciclo de crédito e de fortalecimento do mercado de capitais.

Além disso, MEDEIROS entende e sugere que:

Quanto à infraestrutura e ao processo de expansão/modernização de setores intensivos em capital e em tecnologia, que envolvem elevado custo de capital, com taxas de retorno mais baixas, será necessário presença do governo segundo o interesse dos empreendedores. A criação de uma Empresa Nacional de Ativos (Probr ou Probrasil) poderá ter, no Brasil, funções semelhantes às desenvolvidas pelo Instituto de Reconstrução da Itália (IRI). (MEDEIROS, 2009:149)

De acordo com Paul Krugman, para escapar da atual crise, será necessário que o governo federal ofereça estímulos econômicos na forma de aumento dos gastos e de ajuda aos que estão em dificuldade.

Guido Mantega relata que o grupo de países que formam o G-20(9) vem trabalhando, desde 2008, na criação de uma nova regulamentação financeira internacional, com a elaboração de propostas para reforma dos organismos internacionais e regulamentação financeira.

Na visão de Carlos Eduardo Carvalho, o paradigma neoliberal continua pautando os debates sofre o enfrentamento da crise e sobre as mudanças instituições e nas políticas econômicas.

A crítica do economista é no sentido de que os debates não visam a rever questões altamente relevantes, como por exemplo, a precarização do trabalho ou o direito dos bancos centrais de emitir dinheiro e comprar ativos desvalorizados, sem prestar contas a ninguém, muito menos a responsabilização dos governos centrais pelos danos que os capitais especulativos trazem aos países periféricos com a desregulamentação financeira.

Carvalho menciona que em países como o Brasil, não se consegue trazer à discussão a necessidade de colocar limites à autonomia do Banco Central e de cobrar responsabilidades de seus diretores, pela insistência em manter juros elevados enquanto a atividade produtiva afunda, como ocorreu nos últimos meses do ano de 2008.

Como estratégias de enfrentamento da crise, Carvalho menciona a política adotada pelo governo Obama: "o governo obama anunciou medidas fiscais que elevam a tributação sobre as pessoas de alta renda e sobre as grandes empresas para financiar a ampliação dos programas de saúde para a maioria dos cidadãos".

O governo Lula aderiu a tais medidas. Carvalho apresenta uma crítica à essa adesão: "trata-se de um verdadeiro tabu no Brasil, ao qual o governo Lula aderiu sem maiores reflexões". (CARVALHO, 2009:175)

De acordo com o economista:

"O Brasil mantém alíquota máxima de imposto de renda muito baixa, sob o pretexto de que os riscos aumentarão a evasão caso haja alguma tentativa de tributá-los, tese defendida longamente pelas agências internacionais que se orientam pelo neoliberalismo, como o Banco Mundial". (CARVALHO, 2009:175)   

Outra novidade, não menos importante, implementada no governo Obama é a exigência dos Estados Unidos de que os bancos suíços informem os nomes dos cidadãos norte-americanos que utilizaram o sigilo bancário suíço para acobertar a evasão de impostos.

Carvalho menciona que nunca ocorreu ao governo brasileiro adotar tais exigências, o que sem dúvidas permitiria reduzir a evasão de impostos e os esquemas de corrupção.

Finalmente, aponta a necessidade da regulação financeira, mais especificamente, nos limites à atuação do capital financeiro nos mercados internacionais.

Carvalho conclui que nada assegura que de tais medidas resultarão providências que ajudem os países da periferia a se proteger melhor contra as ameaças financeiras. Para o economista, tudo vai depender da extensão da crise e, principalmente, da luta política que se consiga desenvolver para, de fato, superar as mazelas que o sistema impõe sobre a maioria da humanidade.

Essa visão é compartilhada por Paul Krugman:

"No momento, todos olhos procuram uma resposta imediata para a crise. Será que o estímulo fiscal a ser empregado pela administração Barack Obama vai mudar a situação do emprego e da produção? Como todos nós estamos tão preocupados com essa crise, é difícil concentrar a atenção em questões de prazo mais longo – do tipo colocar um freio no nosso descontrolado sistema financeiro, assim como prevenir, ou pelo menos limitar, a próxima crise. A experiência da última década sugere que devemos nos preocupar com a reforma financeira, sobretudo com uma regulamentação do sistema bancário paralelo, no centro da atual desordem, o mais brevemente possível". (KRUGMAN, 2009:106)

Belluzzo entende ser necessário que os bancos centrais, como autoridades monetárias e representantes do interesse coletivo, garantam a abundante liquidez para os mercados em crise e alerta que a tentativa americana de reduzir o déficit externo pode ser desastrosa.

Pochamann afirma ser necessária a construção de uma nova agenda política mediante a coalizão interclasses sociais que abranja desde as famílias plenamente incluídas no atual padrão de produção e consumo até os segmentos mais miseráveis da população, pouco incluídos pelas políticas sociais tradicionais.

A maioria política será obtida através da aliança com atores sociais derrotados como o capital produtivo, defendendo-se a sustentação das atividades produtivas com redistribuição de renda e riqueza, acompanhada da democratização das estruturas de poder, produção e consumo.

O Estado deve ser restabelecido sobre novas bases, não cabendo o velho modelo do século XX, que se apresentava consentâneo com a problemática socioeconômica pertencente à sociedade industrial.

No começo do século XXI, na sociedade pós-industrial, onde mais de 70% das ocupações se referem a atividades intangíveis, a produtividade que mais cresce é aquela decorrente do trabalho imaterial, sendo assim, é necessário para o enfrentamento dessa crise novas receitas.

A transformação da propriedade em favor de todos, em especial as propriedades financeira e intelectual, impõe exigências como educação para a vida toda. Adultos e velhos necessitam estudar toda a vida, ainda mais se considerarmos que a expectativa média de vida deve superar os 100 anos de idade. O trabalho imaterial, ao contrário do trabalho material, pode ser exercido em qualquer lugar, pois a velha e rígida divisão fordista da atividade (trabalho) e inatividade (estudo) deixou de ser funcional.

Não há mais razões técnicas que justifiquem as longas jornadas de trabalho do século XX, mas para se aumentar o tempo livre se faz necessário o financiamento público, assim como este é necessário para as ações que envolvam descontaminar o trabalhador das novas doenças profissionais.

A tributação dos ricos deve aumentar, sobretudo dos novos detentores das riquezas imateriais. A defesa do espaço nacional, com exploração plena de todo o potencial econômico, impõe fortalecimento da iniciativa privada, com novas regras que permitam ampliar a competição, confrontando-se os 500 grandes grupos econômicos que atualmente controlam 50% do PIB mundial.

A sociedade pós-industrial pressupõe a construção de um Estado matriarcal, trans e intersetorial, capaz de fazer confluir o conjunto de especializações em ações totalizantes.

Esse novo tipo de aliança pode fortalecer o conjunto dos estratos sociais de baixa renda e nível médio para expressar resistências à condução neoliberal.

O fundo público deve ser originado pela luta política dos segmentos sociais mais organizados e vinculado às receitas originárias, permitindo favorecer a progressividade na tributação sobre a renda dos ricos com a universalidade da proteção social.

Morris alerta que no presente momento é extremamente oportuna a adoção pelos EUA destas medidas severas, pregadas há muito tempo a outros países, acredita ser inevitável, para não dizer desejável, a ocorrência de um período de recessão dura, nos moldes da estagnação decenal sofrida pelo Japão, e aconselha:

"Reenergizar os empréstimos e gastos de consumo com dinheiro barato é exatamente o que não devemos fazer. O consumo tem de cair no mínimo de 4% a 5% do PIB, e o dinheiro precisa ser deslocado para poupança e investimento. O hipertrofiado setor financeiro tem de sofrer um encolhimento drástico. E precisamos reduzir a enorme quantidade de dívida em dólar existente, produzindo, pela primeira vez em muito tempo, mais do que podemos comprar – de fato, trabalhando mais intensamente e vivendo com menos recursos". (MORRIS, 2009:42)

Morris reconhece as impossibilidades de reparação dos danos causados pela crise americana e, talvez, a de resgate da confiança global nos mercados americanos. Observa que o exercício da supremacia americana é marcado de surtos episódicos de irresponsabilidade e, ainda, esta última década caracteriza-se como a mais destrutiva de todas as demais, sendo que não só os EUA como o mundo inteiro pagarão o preço por muito tempo.

Todavia, valendo-se da teoria cíclica da política americana atribuída a Arthur Schlesinger pai [16], apresenta uma posição otimista ao crer na possibilidade de recuperação e prosperidade dos EUA, desde que as mudanças necessárias passem, no mínimo, por uma restauração razoável de regulação financeira concomitante com a quebra do dogma da Escola de Chicago, em que o governo é sempre o problema.

Neste sentido, Morris conclui que a crônica desenvolvida em seu livro sobre a amplitude do crash financeiro atual sugere que "chegamos ao ponto em que o dogmatismo de mercado é que se tornou o problema, e não a solução. E depois de um quarto de século, é hora de o pêndulo oscilar na outra direção". (MORRIS, 2009: 224)

Sobre os autores
Maíra Neiva Gomes

Advogada trabalhista. Assessora jurídica do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Belo Horizonte e Contagem. Assessora jurídica da Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos de Minas Gerais – FEM-CUT-MG. Especialista em Direito Material e Processual do Trabalho. Aluna em DI do Mestrado em Direito do Trabalho da PUC/MG.

Amanda Helena Guedes Azeredo

Mestranda em Direito do Trabalho pela PUC/MG. Especialista em Direito Civil. Assistente judiciária - Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais.

Flávio Carvalho Monteiro de Andrade

Mestrando em Direito do Trabalho pela PUC/MG. Assistente Judiciário do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais.

Isabella Vieira Botelho

Mestranda em Direito do Trabalho pela PUC/MG. Especialista em Direito Civil. Assistente judiciária do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais.

Maria Isabel Franco Rios

Mestranda em Direito do Trabalho pela PUC/MG. Especialização Direito e Processo Trabalho e Previdência Social. Especialização em Direito Processual Civil. Especialização em Direito Público. Especialização em Direito Civil. Especialização em Direito Material e Processual do Trabalho. Aperfeiçoamento e atualização em Direito e Processo do Trabalho. Aperfeiçoamento em Extensão em Direito do Trabalho.

Roberta Dantas de Mello

Aluna (D.I.) da Pós-Graduação strictu sensu em Direito do Trabalho pela PUC/MG. Especialista em Direito do Trabalho e Direito Previdenciário. Especialista em Direito Processual Constitucional. Advogada.

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

GOMES, Maíra Neiva; AZEREDO, Amanda Helena Guedes et al. O recente colapso do paradigma neoliberal. A crise mundial de 2007/2009.: Perspectivas para o Estado de Bem- Estar Social. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 14, n. 2328, 15 nov. 2009. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/13858. Acesso em: 5 nov. 2024.

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