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Gás Natural Veicular (GNV).

Opção para redução de custos com a frota pública

Agenda 01/06/2000 às 00:00

Apresentação

O presente trabalho foi elaborado pioneiro "Concurso de Textos da I Semana do Serventuário da Justiça" (dezembro de 1999), organizado pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Seu conteúdo merece especial apreciação das autoridades do Poder Judiciário Fluminense, e até de outras entidades públicas e privadas, pela significativa economia projetada com despesas de abastecimento - no caso da frota oficial do TJERJ, cerca de meio milhão de Reais por ano.

A ponderação dos prós e contras da adoção do GNV como combustível alternativo, inclusive os seus pontos fracos (geralmente omitidos pelo mercado), interessa também a motoristas particulares que cogitam fazer a conversão de seus automóveis. Entre muitas informações úteis, há uma tabela comparativa discriminando o consumo, despesa e a economia projetada, segundo a quilometragem.


Introdução

Inúmeras organizações mantém frota própria de veículos em razão de suas atividades operacionais. O administrador público ou privado sabe que as despesas com o abastecimento e a manutenção destes veículos drenam uma parcela considerável dos seus recursos, cada vez mais exíguos em tempos de déficit público e concorrência globalizada.

Há alguns anos, o Gás Natural Veicular (GNV) vem despontando como uma alternativa econômica e ecológica aos combustíveis líquidos tradicionais - gasolina, álcool e diesel. A conveniência de sua adoção demanda estudos sérios e imparciais, cuja abordagem não deve restringir-se à mera relação custo-benefício da conversão da frota; há também variáveis políticas, mercadológicas e de infra-estrutura.


Sobre o GNV

Política Governamental

Com a crise do petróleo, na década de 70, e a alta das taxas de juros internacionais, a política energética nacional foi redirecionada no sentido da substituição do petróleo importado por outras fontes de energia. Decorre daí o fomento da produção nacional e do uso do gás natural, cuja participação na matriz energética nacional deverá elevar-se para 11,8% em 2010, contra os atuais 2,5%, segundo a meta do Governo Federal.

Atualmente, o mercado interno é exclusivamente abastecido por jazidas nacionais, sendo o Estado do Rio de Janeiro responsável por 39% do gás produzido no Brasil. As reservas nacionais conhecidas seriam suficientes para mais de três décadas de consumo, segundo dados da Petrobrás.

A publicação do Decreto nº 1.787 (DOU 12.01.96), classificando a comercialização de GNV como atividade de utilidade pública, e liberando o seu uso em veículo particular; a liberação de carros movidos a gás no rodízio estadual em São Paulo; e a inauguração do gasoduto Brasil-Bolívia, são alguns indícios do interesse governamental.

Combustível Limpo

Não abordaremos as características técnicas que embasam as qualidades do gás natural, para não tangenciar a discussão. Em síntese, os especialistas são unânimes ao elencar os seguintes pontos favoráveis à sua adoção, sob o ponto de vista econômico e ambiental:

Consumo - Santana 2000 1.8

Motor

Gasolina

Álcool

Cidade (km/l)

10,8

8,1

Estrada (Km/l)

15,6

11,4

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Fonte: Volkswagen.

O veículo convertido para GNV recebe vários equipamentos, além do cilindro de gás, instalados obrigatoriamente por oficinas credenciadas pelo INMETRO. O veículo passa a ser bi-combustível: uma chave comutadora alterna entre o gás e o combustível original.

Algumas montadoras nacionais de automóveis oferecem a opção de conversão de fábrica, com garantia, mas no web site da Volkswagen, por exemplo, não há informações claras sobre o sistema, embora algumas concessionárias as disponibilizem.

Desvantagens

São vários os pontos relevantes a serem observados na tomada de decisão:

Santana a Gás 1.8 Mi - Características Técnicas

Motor

Gasolina

GNV

Potência máxima (cv/rpm)

100,5/5500

68,7/5500

Aceleração - 0 a 100 km/h (s)

11,6

18,0

Velocidade máxima (km/h)

177

154

Fonte: Concessionárias Volkswagen.

Receptividade

Observa-se uma crescente adesão ao GNV tanto na iniciativa privada quanto na Administração Pública. Programas de conversão vêm sendo desenvolvidos em São Paulo (SP), Curitiba (PR) e no Espírito Santo, além de outras localidades, visando à substituição gradual da frota de transporte coletivo urbano a diesel.

No âmbito legislativo, há entusiastas como o Deputado Federal Ayrton Xerêz (PSDB-RJ), que encaminhou projeto de lei neste sentido, e do Vereador Fernando Gusmão (PC do B-Rio), que fez constar no orçamento de 2000 verba para a conversão de toda a frota oficial da Prefeitura do Rio de Janeiro [1].

A procura maior, entretanto, causada principalmente pelos sucessivos aumentos de preço da gasolina, é por parte de frotistas, taxistas e donos de vans, estimulados pelo retorno do investimento, diretamente proporcional à quilometragem e à vida útil do veículo. A economia mensal permite, em geral, amortizar o próprio financiamento da conversão, que custa entre R$ 1,6 mil (Gol e Santana) e R$ 1,9 mil (Kombi), nas oficinas credenciadas do município do Rio de Janeiro [2].

As empresas também vêem no GNV uma proteção contra as fraudes e os desvios, comuns em frotas abastecidas por combustíveis líquidos. Uma das fontes consultadas citou, como exemplo, o caso em que o consumo de certo veículo de uma organização fazia apenas 4 km por litro de gasolina, bastando que seu responsável fosse orientado a submetê-lo a uma revisão para que, abruptamente, o consumo subisse para 8 km por litro [3].

Além da Bolívia e do Brasil, em outros países observa-se o mesmo fenômeno. A Argentina é o país com a maior frota de veículos convertidos no mundo (mais de 600.000). Na Venezuela, a conversão triplicou, entre janeiro de 97 e setembro de 98, passando de 8.100 para 24.002 veículos por mês. Estados Unidos, Itália, Espanha, Nova Zelândia e Paquistão são outros países onde o mercado de gás combustível também mostra-se bastante desenvolvido.


A Frota do TJERJ

As despesas com o abastecimento da frota do Poder Judiciário Fluminense ultrapassaram a barreira de um milhão de Reais, em 1998. A projeção para este ano é de que os gastos permanecerão no mesmo patamar (a despeito dos aumentos substanciais no preço da gasolina, registre-se):

Frota Oficial do TJERJ - Despesas de Abastecimento / Manutenção

Item

1998

1999 [1]

Combustíveis (R$)

1.032.215,00

907.497,50

Manutenção interna [2] (R$)

418.652,62

408.093,95

Viaturas em Uso

Modelo

Santana

Kombi

Gol

Outros

Total

Quantidade

160

125

28

53

366

Fonte: Departamento de Transportes do TJERJ.

(1) Até outubro de 1999.

(2) Peças, óleo, pneus, etc. Não foram incluídas despesas com a manutenção externa - serviços em concessionárias autorizadas.

Estudos internos foram realizados recentemente, visando à busca do consumo médio (km/l) por modelo de viatura. Com base nestes dados, e em estimativas médias encontradas no web site de uma empresa de conversão para gás natural, encontraríamos as seguintes hipóteses de custos unitários de abastecimento, para um percurso diário de 100 km:

Quadro Comparativo - Despesas com Abastecimento - Percurso: 100 km

Gasolina

GNV

Economia

Modelo

Consumo (km/l) [1]

Custo (R$)

Consumo (km/m3) [2]

Custo (R$)

Diária (R$)

Mensal [3] (R$)

Anual [3] (R$)

Kombi

8

15,62

9,75

5,64

9,98

219,56

2.634,72

Gol

10

12,50

13

4,23

8,27

181,94

2.183,28

(1) Departamento de Transportes do TJERJ.

(2) Gás Motors do Brasil. Estimativas de consumo médias, variáveis em função das condições mecânicas do veículo e da forma de se dirigir.

(3) Considerando-se apenas 22 dias úteis ao mês. Preço médio da Gasolina: R$ 1,25/l. GNV: R$0,55/m3. Referência: postos do Rio de Janeiro, RJ, em 02/12/1999

A tabela acima foi concebida dentro de parâmetros internos plenamente aceitáveis: a análise do controle de saídas de viaturas referente ao expediente de 25/11/1999, Forum da Capital, revela um percurso médio de 152,90 km por viatura.

Um dos princípios contábeis fundamentais é o do Conservadorismo - nunca antecipar lucro. Estimando-se uma margem de 50% de economia com a conversão para o GNV, contrapondo-se à média de 70% propalada pelo mercado, e com base nas informações disponíveis, é perfeitamente razoável supor que a reformulação da política interna proporcionaria, apenas com o abastecimento, a economia da ordem de um milhão de Reais no biênio 1998/99, reversíveis em prol de outras necessidades da comunidade judiciária.


Aspectos Sociológicos

As organizações devem conciliar seus interesses organizacionais com os interesses das sociedades nas quais elas se encontram inseridas. O surgimento das instituições de proteção aos consumidores, dos movimentos ecológicos e de cidadania, e de cada vez mais regulamentações legais, denotam um processo evolutivo da sociedade, que exige das organizações uma maior responsabilidade social, além de visão sistêmica quanto à finitude dos recursos naturais e da capacidade de absorção, pela natureza, das ações humanas.

Embora este fenômeno não se mostre tão intenso nos países subdesenvolvidos, urge que o gestor moderno esteja antenado com esta nova realidade. O administrador público, especificamente, ainda que não precise gerenciar pressões ideológicas de consumidores, deve preparar estrategicamente sua organização para o atendimento de futuras diretrizes e princípios complementares ao da Eficiência, impingido pela Emenda Constitucional nº 19 à Administração Pública.


Conclusão

Com a atual modernização e informatização do Departamento de Transportes do TJERJ, levada a efeito pela sua própria equipe, a aquisição do novo sistema informatizado de gerenciamento de frotas, em processo de licitação, e a eventual colaboração de renomados institutos técnicos universitários, será possível consolidar os dados preliminares ora discutidos.

Inúmeros fatores merecem um estudo mais aprofundado: a expectativa do retorno do investimento; o impacto da valorização sobre os custos com seguro; a necessidade da preservação das viaturas de escolta, em função da perda de potência; estudo dos exemplos (benchmarking) de outras entidades públicas e privadas; instalação de bombas de abastecimento nas próprias instalações das comarcas, a exemplo de empresas de ônibus e das Forças Armadas; a valorização da frota à época da venda em hasta pública; a opinião dos usuários, e outros fatores pertinentes.

Os benefícios do GNV mostram-se sedutores, apesar de seus pontos desfavoráveis. Doravante, a oportunidade e conveniência de sua implantação deve ser ao menos considerada no planejamento estratégico do Poder Judiciário Fluminense, visando à realocação de recursos financeiros e consequente melhoria dos serviços prestados à sociedade e à comunidade judiciária.


BIBLIOGRAFIA

Sobre o autor
Edésio Portes

agente da Guarda Judiciária do TJ/RJ, no Rio de Janeiro (RJ)

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

PORTES, Edésio. Gás Natural Veicular (GNV).: Opção para redução de custos com a frota pública. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 5, n. -1126, 1 jun. 2000. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/1698. Acesso em: 7 nov. 2024.

Mais informações

Texto elaborado para o Concurso de Textos da I Semana do Serventuário da Justiça, organizado em conjunto pelas seguintes instituições do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro: ESAJ - Escola de Administração do TJERJ; ABATERJ - Associação Beneficente dos Amigos do TJERJ; AMAERJ - Associação dos Magistrados do Estado do RJ; e EMERJ - Escola da Magistratura do Estado do RJ. Alguns trechos foram atualizados posteriormente

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