As campanhas eleitorais eram diferentes quando as pesquisas não eram realizadas? Gostaria de saber a resposta, mas confesso que não tenho condição de responder esta pergunta. Desde que me registrei como eleitor e comecei a votar as pesquisas são feitas e desempenham uma importância crescente nas disputas eleitorais.
Na imprensa as discussões produzidas pelas pesquisas (os diferentes critérios utilizados para a realização das amostras, as discrepâncias entre os resultados apresentados pelos diversos institutos de pesquisa, etc...) ocupam um grande espaço. Talvez até um espaço maior do que o destinado à discussão das propostas dos candidatos. Os próprios candidatos se encarregam de usar as pesquisas como ferramentas eleitorais, sugerindo aos eleitores que votem no vencedor. Ontem vi de relance a propaganda ao Senado de José Serra e bingo: lá estava estampada uma pesquisa que o coloca bem a frente do seu concorrente.
Vivemos numa sociedade obsedada por estatísticas. Quando não estão preocupados com as pesquisas eleitorais, os jornalistas medem as realizações dos governantes e as possibilidades eleitorais dos candidatos com base na variação da Bolsa de Valores. E, no entanto, apenas uma pequena fração de empresas tem suas ações negociadas na mesma. O número de cidadãos que negociam diariamente no pregão é irrelevante se considerarmos os 142 milhões de eleitores aptos a votar em 2014 cujos interesses públicos não são e nunca serão idênticos aos interesses privados dos investidores.
Política não se resume à economia, o resultado das eleições não deveria ser produzido pelas pesquisas assim como a própria Economia não é apenas estatística. A verdade é que as pessoas não comem PIB como disse com propriedade a economista Maria Conceição Tavares ao jornal O Globo [[1]]. Mas no universo do jornalismo político-eleitoral-econômico os números desempenham um papel quase místico.
Os jornalistas querem que os eleitores votem de acordo com o mercado. O mercado, porém, só cuida dos seus próprios interesses, mesmo que para fazer isto venha a produzir desemprego, concentração de renda, fome, deterioração da capacidade do Estado de cumprir suas obrigações. O empobrecimento de uma parcela da população pode gerar lucro? No problem! O mercado não se preocupa com o bem estar de muitos o tempo todo, mas apenas com o bem estar de alguns durante todo o tempo. A fome pode ser objeto de estatística, mas geralmente não atinge aqueles que se beneficiam da concentração de renda e nem precisam estar empregados.
Nestas eleições como em outras não seremos convocados a decidir o passado. A única coisa que a urna nos perguntará é que futuro nós queremos? Alguns querem a maximização dos lucros mesmo que isto custe o sofrimento de dezenas milhões de brasileiros. Felizmente, porém, são os próprios afetados em potencial pela ganância do mercado que tem o poder de decidir as eleições no primeiro turno contrariando as pesquisas que querem empurrar Marina Silva ou Aécio Neves para uma segunda disputa desnecessária.
Portanto, ignorando os magos das pesquisas, irritando os místicos das estatísticas e desafiando deliberadamente o mercado, digo que Dilma Rousseff deveria ser eleita já no primeiro turno. Sob seu governo a fome não é uma realidade e o pleno emprego beneficia a maioria dos brasileiros. Mesmo que o crescimento do PIB seja pequeno e desagrade aos privilegiados estamos no caminho certo.