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Rede Globbels

Agenda 27/10/2014 às 04:41

O golpe nosso de cada dia.

~~Goebbels foi o poderoso Ministro da Propaganda na Alemanha Nazista, de 1933 a 1945. Se juntar ao codinome de um prestigioso canal de TV nacional, você matará a charada sobre o título do artigo. Replico-o de um comentário, em lista de discussão, sobre o Caso Veja – aquela que faturou o jornalismo para dentro do impeachment político. O que só reforça o perigo do fascismo de gabinete, aquele em que o fascista utiliza as mídias sociais para esculhambar a República. Se bem que, neste caso específico, faço uma diferenciação: 1) fascistas de pré-datado que enviam e retribuem mensagens igualmente fascistas; 2) fascistas de gravata que se utilizam de um Smartphone e têm conta sem limite fixo. Pobres e ricos alinhados. Se bem que ganham os alinhados no terno riscado de giz.
O que vimos na campanha de 2014 foi o cadafalso da informação e da consciência. A Rede Globbels triturou qualquer noção de decência. Contudo, tem Globbels pelo país afora, de verde e amarelo, na mídia impressa, na Internet e mais ainda na TV aberta. A TV fechada – tipo Globo – nem dá para assistir. Ninguém assiste. Aliás, só vejo de vez em quando, ao perceber que minha dose de masoquismo está baixa – bem abaixo da hipoglicemia. Nesses dias, penso que falta açúcar no sangue, para os famintos do Brasil, e paredão para os que ingerem cada vez mais gordura de poder. Porém, quem está com hipoglicemia mesmo são os meios de comunicação e a justiça (apequenada, em minúsculo). Não duvido que o escândalo da Petrobrás vá bombear as nets e teles: cobrando maior patrocínio com dinheiro público. Contudo, duvido que se ouça qualquer nota sobre o helicóptero de 50 milhões de cocaínas. Apelidado no Youtube de Helicoca, vem associado à família de um rico senador de Minas Gerais; além de grande provedor de certa campanha à Presidência. Por falar em aviõezinhos, olha que barco-furado. Nem Capitão Nascimento dá jeito. O Brasil não é verde-amarelo, nunca foi. O Brasil é branco. E não é de giz! A não ser que seja a pá de cal.
Outra imponderável lição do pleito é a paixão pelos golpismos. Não falo do golpe baixo de todos os lados; a citar “o aparelho excretor que não reproduz”. Desse lado sombrio da força, ainda me lembro dos vários(as) eleitores(as) que me disseram seu voto, afirmando que a corrupção campeia nos dois lados; ou seja, não foi o lacerdismo que inclinou seu voto. Portanto, o caso mais grave que sempre ronda a democracia brasileira de meia-tigela é o apelo ao impeachment. Há diferenças jurídicas que não trato aqui; porém, no Paraguai, quando a oposição não levou no voto, aplicou um bem arquitetado Golpe Constitucional. Entre nós, a brecha legal e a bola da vez é o impeachment. Esse tarugo jurídico, como todos sabem, foi usado contra Collor, depois que a Rede Globbels pintou umas caras inocentes da vida para fingir brasilidade.
Desde a morte de Getúlio, a meio-pau da deposição, quem está contra o poder tem esses lampejos jurídicos oportunistas. O próprio Getúlio deu Golpe de Estado, firmando-se no Estado Novo, e, em 1964, forças anti-getulistas tiveram sua vez. Contabilizando-se, são golpes sobre golpes. Como não cola mais o golpe militar, é a vez da ameaça de uma deposição jurídica. A coisa toda – ainda – não ganhou força porque a Rede Globbels não foi ferida em seus interesses. Por isso, pode-se apostar que, se até 2018 os gauleses não tiverem competência política, vão derrubar o Império Romano à força. A ironia final revelou que o “homo sacer” – alijado de direitos em Roma, era o próprio antidireito – está a favor do Império. O que não vimos em momento algum, é a nobre lição do senador Cícero: “Não é preciso ser como o povo; é preciso ser para o povo”. Nas suas trifetas de poder, Aristóteles também advertia que o maior perigo da democracia é a demagogia. No Brasil, basta-nos a hipocrisia. Tenho vontade de nunca mais publicar um artigo, mas a ansiedade é demais e sempre volto atrás. Da próxima vez, espero que não seja para tratar de impeachment ou de golpes macunaímicos.
Vinício Carrilho Martinez
Professor da Universidade Federal de São Carlos
 

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Sobre o autor
Vinício Carrilho Martinez

Pós-Doutor em Ciência Política e em Direito. Coordenador do Curso de Licenciatura em Pedagogia, da UFSCar. Professor Associado II da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Departamento de Educação- Ded/CECH. Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade/PPGCTS/UFSCar Head of BRaS Research Group – Constitucional Studies and BRaS Academic Committee Member. Advogado (OAB/108390).

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