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Por que votei em Dilma?

Agenda 30/10/2014 às 18:08

A derrota de Aécio reflete o cansaço do individualismo Neoliberal.

O PT é um partido de massa que, diferentemente dos tucanos, tem criado projetos sociais destinados à população carente. É claro que nós, classes média e alta, egoístas e individualistas, vemos tal iniciativa com ironia e deboche.

Esta revolta, este repúdio a tais projetos, não faz parte da democracia no seu sentido original, mas de uma política neoliberal, construída e reconstruída pelos tucanos, que incutiu em nós o sentimento de “ter” em detrimento da própria coletividade. Somos individualistas por concepção e formação. Políticas sociais, direcionadas à coletividade, são, no nosso sentir, desnecessárias, eleitoreiras e amamentam a pobreza ociosa.

Aécio Neves foi o melhor visual que o PSDB encontrou para derrubar Dilma e o PT. Descendente de Tancredo, altivo e eloquente, cínico e irônico, aparência de homem bem sucedido e rico, Aécio era um marketing mágico que depunha contra a imagem ultrassocial criada pelo Partido dos Trabalhadores.

Imaginem que o eleitor via em Neves justamente o avesso da pobreza e da marginalização: um “playboy da política” não apoiaria a pobreza nordestina, tão pouco manteria o bolsa família e outros projetos sociais. Aécio é a figura do individualismo em sua máxima expressão.

O golpe quase deu certo. Notem que Aécio é tão metido em escândalos políticos que sequer venceu a eleição em seu curral eleitoral (Minas Gerais). Mas se o PT é corrupto e Aécio também é, porque só acredito na corrupção petista e voto nos tucanos? Porque a corrupção do tucano vencido é elitista, elegante, quase imperceptível. Talvez um meio Malufismo: “Rouba, mas faz por nós, classes média e alta”. Dilma, em sentido diametralmente oposto, não tem carisma para a elite, se roubar, vai ser uma espécie de Robin Hood.

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Acabo de ler em rede social uma frase atribuída à finada Margareth Thatcher, uma das mentoras do neoliberalismo moderno: “Para cada pessoa que recebe algo sem trabalhar há uma pessoa que trabalha sem receber”. É insensata a crítica aos projetos petista. Nítida é a conotação individualista e egoísta da frase. Esquecem - se que as desigualdades sociais contribuem para esta forma de divisão das riquezas. Afinal de contas, só se tem bolsa família para alcançar a pobreza que proporciona nossos elevados salários. Erradicar a miséria é autorizar a igualdade social e se isso acontecer não teremos pronatec ou bolsa família, mas também não gozaremos do status social que hoje alcançamos.

O resultado da eleição foi democrático, pois atendeu às necessidades daquela parcela da população que, as duras custas, nos incluem nas classes média ou alta. Não reclamem, portanto. 

Sobre o autor
Rodrigo Alves da Silva

mestre e doutor em Direito. É pesquisador e parecerista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Advogado,regularmente inscrito na OAB/SP (204.358), docente da Escola Superior de Advocacia (ESA) e Professor Universitário.

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