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Lições para aprender com um jovem

Agenda 11/12/2014 às 18:40

O que aprendi com este jovem não têm preço.

~~ É muito difícil comparar as situações, a realidade das pessoas. Basicamente porque sempre são contextos heterogêneos e dependem de condições objetivas que, por sua vez, independem – em grande parte – de nossas ações. Contudo, vale uma reflexão.
Gabriel Guimarães, 20, estudante de computação em Harvard – uma das melhores universidades do mundo –, é considerado um gênio por lá. Não vou comparar sua inteligência com a do homem médio brasileiro em sua vida comum. Mas, sim, as diferenças marcantes na dinâmica das coisas: primeiro, ele é apaixonado pelo que faz. Adora estudar e se divertir. Não é um nerd comum, valoriza o que tem e quer voltar ao Brasil para ajudar o país. Segundo, tem apenas três horas de aulas diárias. Em contrapartida, dedica 50 horas por semana em trabalhos acadêmicos. Terceiro, ocupa seu tempo com atividades produtivas: é monitor de um curso super avançado de informática; portanto, não faz de conta que é um estudante-colaborador.
Em quarto lugar, tem algo diferente. Diz que o talento nasce da dedicação. Ou seja, não se satisfez com o que ganhou da natureza e da genética de seus pais. Quinto: consegue se dedicar integralmente aos estudos. Não precisa fazer bicos ou trabalhar para crescer. Não se perde nas mazelas da condição humana. Sexto: não se depara com falta de material e de recursos humanos, para viver ou estudar. Não tem professores reclamando de salários ou em greve (sempre justa).
Sétimo: além de estudar computação, diversifica seu aprendizado. Gosta de esportes, música e de matemática pura. Oitavo: não tem tempo para se vangloriar por ser um gênio. Desafia a si mesmo, sempre, para se superar. Nono: tem os pais, os amigos sempre ativos na memória.
Por fim, e talvez seja o mais importante: tem caráter. É altruísta. Antes de ir aos EUA, traduziu um curso do inglês para o português – um curso que tinha acabado de fazer – e, com autorização, replicou o aprendizado gratuitamente para quem quisesse. Disse que não queria patrocinadores e nem cobrar os custos, uma vez que o projeto sempre fora mais importante do que os tostões que receberia.
Este ponto e a vaidade que não lhe subiu à cabeça me lembraram de Montaigne e o Discurso sobre a Vaidade. Confesso que comecei a ler agora. Contudo, como a vaidade não tem tempo e nem idade, é bom pensar que um jovem altruísta vale por milhares daqueles que se sentam sobre a própria história. Uma das grandes diferenças de um jovem como este, em relação à vaidade tola dos velhos, é que ele tem mais futuro do que passado.
 Se todos pensassem um instante sobre o futuro que lhes está sendo reservado, é possível que a vaidade fosse algo útil. Vaidade de ter contribuído para o desenvolvimento dos outros, por exemplo. Todos ganham, porque este para quem você construiu vetores positivos, amanhã, poderá ser seu colaborador. Aliás, esta é uma marca distintiva da educação e um fator extremamente comum entre professores. Alunos hoje, depois de algum tempo, serão parceiros de trabalho, de produção, publicação e de aprendizado mútuo.
 Sem dúvida, esta é parte mais bacana, essencial, da educação, aprender com quem você, um dia, pode ensinar alguma coisa. Sem isso, não há educação. Em todo caso, as lições que aprendi com este jovem não têm preço. 
Vinício Carrilho Martinez
Professor da Universidade Federal de São Carlos
 

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Sobre o autor
Vinício Carrilho Martinez

Pós-Doutor em Ciência Política e em Direito. Coordenador do Curso de Licenciatura em Pedagogia, da UFSCar. Professor Associado II da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Departamento de Educação- Ded/CECH. Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade/PPGCTS/UFSCar Head of BRaS Research Group – Constitucional Studies and BRaS Academic Committee Member. Advogado (OAB/108390).

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