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A questão ambiental e a universidade:

uma proposta metodológica

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Agenda 01/11/2002 às 00:00

5. A BUSCA METODOLÓGICA PARA A EDUCAÇAO AMBIENTAL

5.1- O conceito de educação ambiental

É de fundamental importância discutir-se aqui um conceito de educação ambiental, antes de qualquer proposta de método para o seu desenvolvimento.

O ambiente, como objeto de estudo e como contexto próprio para o desenvolvimento de uma educação ambiental globalizada nos moldes antes propostos, deve se ampliado para compreender a totalidade das relações naturais e humanas na suas múltiplas facetas, em um espaço delimitado. Através da ampla visão de ambiente é que podemos falar em educação ambiental que resulta em falar do nosso cotidiano e do direito à vida. Por isso, no âmbito da ciência penal já se preocupa em sancionar os danos acarretados às gerações futuras, há uma amplitude no conceito de crime e de seu autor, tudo em virtude da necessidade de proteção aos interesses difusos especialmente os que estão ligados as questões ambientais.

Para SCARLATO "Educação ambiental é o conjunto de ações educativas, voltadas para a compreensão da dinâmica dos ecossistemas, considerando os efeitos da relação do homem com o meio, a determinação social e a evolução histórica dessa relação". [7]

5.2.- As atitudes conservacionistas do ambiente natural

A radicalização do impacto destrutivo do homem sobre a natureza, provocada pelo desenvolvimento do industrialismo, inspirou, especialmente ao longo do século XX, uma série de iniciativas.

A mais antiga delas é o conservacionismo, que é a luta pela conservação do ambiente natural ou de partes e aspectos dele, contra as pressões destrutivas das sociedades humanas.

Denúncias feitas em Congressos Internacionais geraram uma campanha em favor da criação de reservas de vida selvagem, que ajudaram a garantir a sobrevivência de muitas espécies ameaçadas.

Existem basicamente três tipos de recursos naturais: os renováveis, como os animais e vegetais; os não-renováveis, como os minerais e fósseis; e os recursos livres, como o ar, a água, a luz solar e outros elementos que existem em grande abundância.

O movimento ecológico reconhece os recursos naturais como a base da sobrevivência das espécies e defende garantias de reprodução dos recursos renováveis e de preservação das reservas de recursos não-renováveis.

No Brasil, o movimento conservacionista está razoavelmente estabelecido. Em 1934, foi realizada no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, a I Conferência Brasileira de Proteção à Natureza. Três anos mais tarde criou-se o primeiro parque nacional brasileiro, na região de Itatiaia RJ.

Além dos grupos conservacionistas, surgiu no movimento ecológico um novo tipo de grupo, o dos chamados ecologistas. A linha divisória entre eles nem sempre está bem demarcada, pois muitas vezes os dois tipos de grupos se confundem em alguma luta específica comum.

Os ecologistas, porém, apesar de mais recentes, têm peso político cada vez maior. Vertente do movimento ecológico que propõe mudanças globais nas estruturas sociais, econômicas e culturais, esse grupo nasceu da percepção de que a atual crise ecológica é conseqüência direta de um modelo de civilização insustentável.

Não se pode deixar de reconhecer que a preocupação com o ambiente natural é hoje objeto de diversas ações simultâneas em megaprojetos de saneamento e recuperação ambiental, onde se incrementa certa multidiciplinaridade. Mas, dita multidiciplinaridade tem o sentido apenas de identificar a atuação de diversas áreas de conhecimento em um mesmo problema, não significando, em hipótese alguma, que se trata de integração efetiva das diversas áreas ou de interdisciplinaridade.

Todas as recomendações, decisões e tratados internacionais sobre o tema evidenciam a importância atribuída por lideranças de todo o mundo para a Educação Ambiental como meio indispensável para se conseguir criar e aplicar formas cada vez mais sustentáveis de interação sociedade - natureza e soluções para os problemas ambientais. Evidentemente, a educação sozinha não é suficiente para mudar os rumos do planta, mas certamente é condição necessária para tanto. A Conferencia Intergovernamental de Educação Ambiental de Tbilisi estabeleceu princípios que constam deste documento, no item Orientação didática geral.

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Segundo o PCN: A preocupação em relacionar a educação com a vida do aluno seu meio, sua comunidade - não é novidade. Ela vinha crescendo especialmente desde a década de 60 no Brasil. Exemplo disso são atividades como os estudos do meio. Porem, a partir da década de 70, com o crescimento dos movimentos ambientalistas passou se a adotar explicitamente a expressão Educação Ambiental para qualificar iniciativas de universidades, escolas, instituições governamentais e não-governamentais pelas quais se busca conscientizar setores da sociedade para as questões ambientais. Um importante passo foi dado com Constituição de 1988, quando a Educação Ambiental se tornou exigência constitucional a ser garantida pelos governos federal, estaduais e municipais art. 225, ss1, VI 5 [8].

5.3. O essencial processo global de educação, integrador do individuo, da instituição de ensino e da comunidade.

Não se pode negar que há uma enorme preocupação em todos os âmbitos e níveis do conhecimento com a questão ambiental, mas, por outro lado, nota-se que as dificuldades observadas em se promover educação ambiental satisfatória decorre da desintegração do sujeito, da entidade de ensino e da comunidade, assim o pesquisados acha-se isolado em grupos de pesquisa ou estudo, a própria instituição de ensino não reconhece o relevante papel que exerce, e por outro lado, a comunidade acha-se apartada desses acontecimentos, daí decorre a falta de reflexão crítica sobre alguns princípios indissociáveis do processo de educação ambiental, que vai muito além das atitudes e ações preservacionistas do ambiente natural.

Assim, estamos tratando de uma proposta de ruptura com determinados paradigmas, como a classificação de prática educativa ambientalista em educação formal curricular e não-formal do distanciamento, no processo de extensão universitária, entre a pesquisa teórica e a prática.

DIAS afirma que: "... à Educação foi dada a incumbência de ser o agente de mudanças desejáveis na sociedade, e a ela se acoplaram as educações; sexual, antidroga, para o transito, para a saúde e higiene etc.Dentre elas, nenhuma tem um apelo tão premente e globalizador quanto e Educação Ambiental mesmo porque, pela sua própria natureza integradora, permeia varias áreas, e um efeito tão devastador quanto falha no seu objetivo de desenvolver da consciência critica pela sociedade em relação á problemática ambiental e aos seus aspectos sócio culturais, econômicos, políticos, científicos, tecnológicos, ecológicos e éticos" [9].

Acreditamos em um processo global de educação que faça a verdadeira aproximação entre a instituição de ensino e o pesquisador com a comunidade local, possibilitando a construção do conhecimento a partir de um contexto e de uma realidade específica.

A questão ambiental é particularizada para cada região e cada contexto. Somente será possíveis a integração objetivada na presente proposta com a efetiva participação da comunidade nas discussões em estudo. Participação esta que não deve ser compreendida como a simples possibilidade de se colher opiniões, através de entrevistas e outras técnicas, da comunidade, onde a comunidade apenas opina sobre algo que, não raro, conhece empiricamente, com certa dosagem de pré-conceitos distantes da realidade de vida e dos problemas mais relevantes que cercam o grupo estudado. Assim, estamos diante de uma proposta de participação que confere ao grupo estudado a igualdade de poderes através do respeito mútuo e compreensão entre o saber popular e o saber técnico-científico, tudo somado as diferentes experiências de vida.

DEMO nos coloca que " Participação é um processo de conquista, não somente na ótica da comunidade ou dos interessados, mas também do técnico, do professor, do pesquisador, do intelectual". [10]

As contradições entre o saber popular e o saber técnico-científico, devem, então ser abordadas dialeticamente, tudo em contraponto com as experiências de vida dos sujeitos do grupo estudado. Assim, com certeza, podemos falar em processo de vivência conjunta e participativa, que possui como objeto maior o exercício da plena cidadania. É o homem traçando o seu próprio destino, dentro das atuais exigências, determinantes da construção do conhecimento, já discutido no contexto da pós-modernidade.

CHARLOT contempla estas colocações quando afirma que: " a educação concebida como cultura deve realizar no homem a essência humana. Mas essa essência humana é inalienável. O homem é elemento de uma ordem cuja filosofia mostra que ele é eterno: ele próprio é, portanto, eterno. O homem está sempre no fundo do homem, por mais pervertido que este último possa parecer. Nenhum homem é a tal ponto corrompido que não deixe totalmente de ser homem; a humanidade sempre se manifesta de alguma forma no homem. Neste sentido, todo ser, por mais endurecido que seja, pode sempre converter-se." [11]

Em síntese, busca-se a metodologia que reflete o caráter político do processo educativo.

5.4.– Metodologia participativa e as fases da pesquisa.

As metodologias qualitativas de caráter participativo são as mais adequadas às atividades de pesquisa em uma Universidade comprometida com a sociedade.

DEMO aponta que "... participação é metodologia, algo comum a todas as políticas sociais redistributivas, porque é o caminho fundamental de todas. Não haveria sentido em imaginar uma determinada política social que fosse participativa e outra não, já que, não sendo participativa também não seria social". [12]

Essa linha metodológica, como opção epistemológica e política, vem fortemente criticar o positivismo e os moldes tradicionais que deixam de contribuir para as necessidades sociais.

Esta mesclada de procedimentos de caráter exploratório, de acordo com o que os participantes buscam, deixando de ser neutra, rompendo o positivismo e o empirismo, sendo construída na relação prática entre sujeito e objeto.

A metodologia participante parte da realidade e interesse do grupo, buscando integrar o conhecimento popular e o científico, atingindo a transformação social com a produção de novos conhecimentos.

LOUREIRO, coloca em seu artigo Educação ambiental e universidade: proposta metodológica para pesquisa e extensão que " um aspecto de interesse específico para a Educação Ambiental é o processo centrado na realidade local, que permite a formação de tecnologias alternativas, tão pregadas dentro do movimento ambientalista e dos modelos de ecodesenvolvimento". [13]

Como proposta estaremos evidenciando os passos de uma pesquisa participativa quanto a Educação Ambiental.

Num primeiro momento é preciso conhecer a realidade local, o que poderá ser realizada com a inserção dos pesquisadores na área delimitada; pessoas estas que devem participar de todos os possíveis eventos realizados na comunidade, estar presente em reuniões, proceder visitas e a observação participante, de forma a se envolver com a comunidade.

Ainda se faz preciso conhecer a dimensão histórica da comunidade, conhecendo o processo em que vive o grupo envolvido, contextualizando-o numa visão socioeconômica. A qual poderá ser levantada através de levantamento e análise de documentos existentes sobre o local e ainda coleta e análise de depoimentos da comunidade, dando maior ênfase ao não direcionamento das perguntas. Os registros podem ser transcritos ou gravados.

Num segundo estágio da pesquisa, após a caracterização da área de estudo, é preciso de fazer um estudo detalhado sobre o tema, o que será possível por meio de revisão de literatura sobre educação ambiental e sobre os problemas ambientais do grupo; levantamento de grupos e movimentos sociais envolvidos direta ou indiretamente com a problemática ambiental; estudo de livros didáticos sobre educação ambiental e participação em eventos, fóruns de discussões e debates.

Para a terceira fase da pesquisa reserva-se um diagnóstico do ambiente de vida; que necessariamente deve ser realizado de forma participativa, onde todos os setores da comunidade em debates e discussões colocam seu ponto de vista. Nesta fase da pesquisa permeia-se a técnica do diálogo e a contribuição individual dos participantes. Permitindo que o pesquisador colha dados relevantes para se inserir na realidade, transforma-la e ser transformado por ela.

Na quarta fase da pesquisa está o planejamento e a implementação da ação, sendo possível após todo o processos das três primeiras fases. O planejamento também deve ser participativo, sobretudo porque visa formular soluções para a realidade daquela comunidade.

O planejamento da ação educativa compreende a determinação de objetivos educativos, relacionados a problemática levantada; à seleção de conteúdos e à seleção de estratégias educativas.

Quanto às estratégias as mais possíveis e viáveis são a de comunicação, visando a informação educativa e a produção de conhecimento; a de organização, onde se formam grupos de articuladores e a de treinamento, àquela em que capacita professores e outros representantes da comunidade para a ação.

Por fim a quinta fase refere-se à avaliação da pesquisa que se desenvolve em dois momentos básicos um de acompanhamento, onde a comunidade e os pesquisadores garantem a conquista dos processos participativos e outra refere-se à avaliação crítica e autocrítica permanente, possibilitando evidenciar os pontos que estão sendo mais aceitos e interiorizados, se está acontecendo a mobilização, sendo um processo que se realiza em todas as fases da pesquisa.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para se trabalhar a Educação Ambiental, necessariamente precisamos interligar a Universidade com a Comunidade, promovendo simultaneamente o desenvolvimento de conhecimento, de atitudes e de habilidades necessárias à preservação e melhoria da qualidade ambiental.

Acreditamos que somente fomentando a participação comunitária, de forma articulada e consciente, poderemos atingir nossos objetivos quanto a Educação Ambiental. Sendo preciso prover de conhecimentos necessários à compreensão do seu ambiente, de modo a suscitar uma consciência social que possa gerar atitudes capazes de afetar comportamentos.

O papel do educador/orientador deverá ser de facilitador da exploração do metabolismo natural, dos processos que ocorrem no meio ambiente, que afetam e que são afetados pelos próprios homens.

As Universidades ainda hoje, contam com grandes limitações no campo das pesquisas participativas, deixando de experimenta-las, talvez por preconceito ou por medo da necessidade de ousadia e criatividade, ou pela própria estrutura do sistema de ensino, que limita o estudo apenas àquilo que lhe é interessante.

Porém esperamos que com o avanço dos estudos nas áreas humanas e sociais, sobretudo com as constantes mudanças na educação, as pesquisas de caráter participativo passem a ser trabalhadas, provocando reais modificações na sociedade, visando a conquista da cidadania, onde o homem possa ter domínio sobre si, suas ações e conquistas.


BIBLIOGRAFIA

CHARLOT, B.A mistificação pedagógica: realidades sociais e processos ideológicos na teoria da educação.2.ed. Rio de Janeiro:Guanabara, 1986.p.61

DEMO, Pedro. Desafios modernos de educação, 2ª. ed. Petrópolis: Vozes, 1993, 128p.

_______.Participação é conquista: noções de política social participativa.2.ed. São Paulo:Cortez,1993.

DIAS, G.F. Educação Ambiental: Princípios e Práticas.2.ed. São Paulo: GAIA, 1993.p.24

LOUREIRO,CFB. Educação ambiental e universidade: proposta metodológica para pesquisa e extensão. In: REVISTA PARADOXA. Rio de Janeiro.Ano II – nº 4 – 1996/1997.

OLIVEIRA. Paulo de Tarso. A Pesquisa no ensino e o ensino da pesquisa. Revista da Universidade de Franca,

PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC, 1997.

POURTOIS, J. P. e DESMET, H. A educação pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1999, 30p.

SCARLATO, F.C. & FURLAN,S A.O ambiente em construção. São Paulo: Scipione, 1997.


Notas

1. DEMO, Pedro. Desafios modernos de educação, 2ª. ed. Petrópolis: Vozes, 1993, 128p.

2. POURTOIS, J. P. e DESMET, H. A educação pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1999, 30p.

3. OLIVEIRA. Paulo de Tarso. A Pesquisa no ensino e o ensino da pesquisa. Revista da Universidade de Franca,

4. Pourtois e Desmet, op. cit, p. 27

5. Pourtois e Desmet, op. cit, p. 29

6. POURTOIS, J. P. e DESMET, H. A educação pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1999, 30p.

7. SCARLATO, F.C. & FURLAN,S A.O ambiente em construção. São Paulo: Scipione, 1997.

8. PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC, 1997.

9. DIAS, G.F. Educação Ambiental: Princípios e Práticas.2.ed. São Paulo: GAIA, 1993.p.24

10. DEMO, P. Participação é conquista: noções de política social participativa.2.ed. São Paulo:Cortez,1993.

11. CHARLOT, B.A mistificação pedagógica: realidades sociais e processos ideológicos na teoria da educação.2.ed. Rio de Janeiro:Guanabara, 1986.p.61

12. DEMO, op.cit. p.66

13. LOUREIRO,CFB. Educação ambiental e universidade: proposta metodológica para pesquisa e extensão. In: REVISTA PARADOXA. Rio de Janeiro.Ano II – nº 4 – 1996/1997.

Sobre a autora
Cibélia Maria Lente de Menezes

corregedora-geral do Estado de Mato Grosso

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

MENEZES, Cibélia Maria Lente. A questão ambiental e a universidade:: uma proposta metodológica. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 7, n. 60, 1 nov. 2002. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/3496. Acesso em: 5 nov. 2024.

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