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Plano de carreira é impossível no “Admirável Mundo Novo”

Agenda 30/04/2015 às 09:37

Plano de carreira no "Admirável mundo novo", simplesmente é nascer condicionado a executar determinada função até a morte, sem chance de escolha.

O filme “Admirável Mundo Novo” (1980) é baseado em um livro de mesmo título, do autor Aldous Huxley, escrito em 1932. Ambos narram um utópico futuro, onde as pessoas são pré-condicionadas biologicamente e predestinadas a exercerem determinadas funções, em busca de uma total harmonia com as leis e regras da sociedade (chamada de civilizada), que é dividida por castas (Alfa, Alfa +, Beta, Beta +, Gama, Delta e Ípsilon).

Os valores morais e a religião presentes em nossa atual sociedade eram inexistentes na criada por Aldous e qualquer dúvida ou insegurança das pessoas era abolida pelo consumo de uma droga chamada “soma”, que lhes dava disposição e felicidade.

As crianças possuíam aulas de educação sexual já em seus primeiros anos de vida, além de terem as informações transmitidas por hipnopedia (método de ensinar durante o sono). Aliás, falando nas crianças, estas eram concebidas em laboratório, já que não existia casamento nem família. Nasciam já predestinadas a alguma função e com nomes inspirados em grandes nomes da história, como Karl Marx, Darwin, Freud, Ford, Napoleão Bonaparte, etc.

As mulheres se relacionavam fisicamente com os homens, porém sem nenhum laço afetivo maior. No mundo atual, seriam chamadas de prostitutas, porém, nesse mundo hipotético, era um ato totalmente natural. Além disso, elas eram proibidas de ficarem grávidas e, caso acontecesse, a criança era prontamente abortada (outro assunto considerado natural).

O filme começa com a apresentação desse Novo Mundo, totalmente tecnológico e diferente do mundo real que conhecemos. Já em um segundo momento, os personagens Linda e Thomas (Tomakin) viajam com destino ao Novo México, se deparando com os chamados povos primitivos, uma sociedade totalmente diferente da qual eles estavam acostumados. Em um dado momento, Linda se perde de Thomas e não consegue voltar para a civilização. Ela é acolhida pelo povo daquele lugar e descobre que está grávida de Tomakin. É dessa forma que nasce John, “o selvagem”. Ele cresce lendo um livro de Shakespeare e vendo sua mãe se relacionar com diversos homens da aldeia, fazendo com que ela fosse odiada por todas as mulheres de lá.

Ao mesmo tempo em que John, nasce Bernard Marx (Alfa +), mas este no laboratório da civilização. Ele se sente insatisfeito com o mundo em que vive, em parte porque é fisicamente diferente dos integrantes da sua casta. Quando parte com Lenina para o Novo México, encontra Linda (oriunda da civilização) e John e, com isso, vê uma possibilidade de conquista de respeito social pela apresentação de John como um exemplar dos selvagens à sociedade civilizada.

Como para a sociedade civilizada, ter um filho era um ato obsceno e impensável, Linda é prontamente rejeitada pelos mesmos. Até que morre na presença de seu filho. Este era apaixonado por Lenina, mas como ela não estava acostumada com o amor, só queria se relacionar fisicamente com ele.

John ouvia sempre de sua mãe que o Novo Mundo era o mundo perfeito, que a felicidade e todos os prazeres eram encontrados lá. Porém quando se depara com a realidade daquele lugar, se decepciona, pois percebe que ali não existem sentimentos, muito menos o livre arbítrio e que as pessoas eram condicionadas a agirem de determinadas formas e não questionavam nada, aliás, quando pensavam em fazê-lo, era só ingerirem a “soma” que se esqueciam de tudo. Não acreditavam em Deus e nem nos valores morais. Eram apáticas, como robôs.

John colocou aquele mundo de pernas para o ar, mostrou para as crianças que aquilo não era o correto, mas não se conteve em permanecer ali, foi mandado para uma ilha deserta. Porém não conseguiu paz, estava sempre cercado pelos civilizados, que queriam tocá-lo e vê-lo, afinal, ele era muito diferente deles, como se fosse um alienígena.

No final, não muito feliz, John se depara com Lenina morta e em seguida, se enforca.

A alienação exacerbada do filme tem uma semelhança muito grande com os dias de hoje, se compararmos a imbecilidade das pessoas pela mídia, músicas ou revistas e, além disso, são condicionadas a fugirem de seus problemas e a alcançarem prazeres imediatos.

Podemos encontrar semelhanças também no ambiente de trabalho, onde há a mesma “robotização” das pessoas em relação ao serviço a que devem executar, exercendo muitas vezes de forma automática e sem questionamento da sua utilidade no mercado de trabalho. Muitas das vezes é perceptível que trabalham sem se importar em aprender, mas sim em reproduzir algo da forma mais confortável possível, sem muito esforço. O filme mostra isso, mas de outra perspectiva, a de que os personagens são condicionados desde cedo a exercerem determinada função, reproduzindo seu papel também de forma monótona e rotineira.

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Os personagens nasciam condicionados a executar determinada função até a morte, sem chance de escolha. O que não acontece nos dias de hoje, pois cada um tem a chance de escolher uma profissão e se dedicar a ela, podendo dentro de uma empresa evoluir de função ou quem sabe ter o seu próprio negócio.

O filme também tem uma relação muito grande com o método de produção fordista, que se refere aos sistemas de produção em massa e gestão idealizados em 1913 pelo empresário americano Henry Ford. Trata-se de uma forma de racionalização da produção capitalista baseada em inovações técnicas e organizacionais que se articulam tendo em vista, de um lado a produção em massa e, do outro, o consumo em massa.

Nos dias atuais, há uma mistura do fordismo com o toyotismo, onde as empresas buscam cada vez mais a economia na produção, produzindo apenas o necessário e com melhor qualidade, mas sempre estimulando o consumo exagerado da sociedade.

Já o assunto reivindicação dos direitos não era tratada no filme, pois não havia nenhuma possibilidade de acontecer nenhuma revolta, mais ou menos como nos dias atuais, principalmente no Brasil, onde a população não se mexe o suficiente para conseguir o que tem direito, por isso, não há o medo da revolta populacional, pois todos sabem que é algo difícil de acontecer no nosso país.

O autor Aldous Huxley se mostrou muito evoluído para a sua época, já que previu discussões presentes em nossa sociedade atual e que, em seu tempo, estavam longe de cogitação. Assuntos como drogas, aborto, prostituição e religião foram abordados com uma naturalidade que não se vê hoje. Quem sabe suas ideias não sejam concretizadas no futuro? Afinal, tudo pode acontecer em um mundo que muda a cada dia.

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