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Uma reforma política para os eleitores

Agenda 07/05/2015 às 00:06

A reforma política por um outro prisma.

Muito se fala em crise de representatividade e na mesma proporção é o debate do que deve ser mudado a fim de melhorar esse quadro político e as consequências de tais alterações, direta e colateralmente, para os partidos, candidatos e a governabilidade.

Tratando o processo eleitoral como um jogo, o sistema eleitoral seria a regra que estipula os ganhadores e perdedores.

Continuando com essa comparação, imagine que uma pessoa decreta determinada lei obrigando todas as pessoas com mais de dezoito anos a participarem de um jogo, independente de sua vontade, podendo ser torcedor ou jogador.

Ao criar a lei, o instituidor explica que esse jogo possui várias regras previstas em inúmeros regulamentos e elas estão disponíveis para a consulta de todos, mas irá resumir as principais, acerca do funcionamento, e faz da seguinte forma:

Cabe perguntar, somente com as informações dessas regras, será que o torcedor realmente entende o jogo? A sua sistemática? A sua importância? Pode com convicção dizer que o conjunto de todas as regras é bom? Ou só pode dizer se gosta ou não dessas regras que lhes foram ditas?

Havendo algumas mudanças nas regras do jogo, sem a devida informação aos torcedores, surtirá algum efeito em relação a esses?

E se os torcedores tivessem algumas informações somente das mudanças das regras, ou seja, fossem informados a eles apenas das novas regras alteradas, não explicando o restante do jogo, essas novas regras surtirão uma enorme mudança na forma do torcedor jogar o jogo?

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Ou o ideal seria explicar todas as regras, ou grande parte delas, para os torcedores poderem saber como realmente é o jogo e se as mudanças das regras passarão a ser eficaz ou não, boa ou ruim, ou até poder opinar com conhecimento a respeito da causa, ao invés de se limitar a dizer se gosta ou não daquelas que lhes foram passadas.

Voltando a reforma político-eleitoral, acredito que independentemente do modelo do sistema eleitoral e de financiamento que serão adotados, o avanço será mínimo se os eleitores continuarem não sabendo do funcionamento de cada elemento integrante do jogo eleitoral.

Importante salientar duas observações, a primeira: é sabido que o Brasil tem uma enorme quantidade de analfabetos.

A segunda: assim como dificilmente um engenheiro entenderá algo ao ler normas específicas para médicos, e o inverso também será reciproco, há de considerar não ser fácil uma pessoa que não é do direito ler e interpretar de forma correta o que a lei diz, inclusive, aplica-se isso até mesmo para os próprios juristas.

É natural que qualquer pessoa ao ler a respeito de algo que não entenda, desista com muita facilidade.

Por isso, defendo que a grande reforma política, direcionada exclusivamente aos eleitores, seria a criação de um texto objetivo, direto e escrito de forma simples e de clara compreensão para qualquer pessoa alfabetizada, informando o que é, para que serve, como funciona, enfim, acerca de cada particularidade dos elementos (partidos políticos, sistema eleitoral, financiamento de campanha, funções de cada cargo eletivo, etc.) do processo político-eleitoral.

O Estado tem que parar de tratar o eleitor como um irresponsável, um imaturo, ficar tutelando o que entende ser melhor para ele, ainda que esse nem saiba do que se trata. É necessário transformar o eleitor em responsável pelos seus atos, lhe dá maturidade, mas são imprescindíveis que lhes sejam dadas informações completas e necessárias para que possa pensar por si só, chegar a conclusões suas, sem interferência, ou mínimas, de outras pessoas interessadas.

A elaboração desse texto poderia ser feita por uma seleta comissão de integrantes do Tribunal Superior Eleitoral, Ministério Público Eleitoral, OAB, Congresso Nacional, professores renomados.

No meu simples modo de ver, há o que ser melhorado nos atuais sistemas políticos-eleitorais, mas a principal reforma a ser feita é deixar os eleitores cientes do processo como um todo, porque, somente assim, será possível sanar a crise de representatividade que assola nosso país.


[1] Texto originalmente publicado no blog: http://facilitandoeleitoral.blogspot.com.br

Sobre o autor
João Marcel Braga Maciel Vilela Junior

Bacharel em Direito pelo Centro Universitário CESMAC. Pós-Graduando em Direito Eleitoral pelo Instituto Brasiliense de Direito Público – IDP. Advogado.

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