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A comunicação política no Brasil

Agenda 07/07/2015 às 01:15

As transformações sócioculturais, econômicas e tecnológicas e o crescimento exponencial das mídias exigem que a Campanha Política não leve apenas em consideração as Normas da Teoria da Comunicação no Discurso Político.

RESUMO

As transformações sócioculturais, econômicas e tecnológicas e o crescimento exponencial das mídias exigem que a Campanha Política não leve apenas em consideração as Normas da Teoria da Comunicação no Discurso Político, mas sim possua estratégias discursivas bem elaboradas para alcançar o interesse do eleitorado, saiba utilizar ferramentas como pesquisa, internet e que seja pautada em ações realizadas em prol do desenvolvimento, da saúde e da melhoria na qualidade de vida da população do país.

Introdução

As mudanças ocorridas nos setores das tecnologias de informação e de comunicação e as interferências da mídia sobre o modo de produção e de transmissão das informações exigem a reformulação do planejamento e desenvolvimento das ações gerenciais utilizadas na operacionalização de uma campanha política.

O ciclo de uma Campanha começa necessariamente com o planejamento dos objetivos a serem atingidos, e envolve as atividades básicas de levantamento de dados sobre o eleitorado; estabelecimento da plataforma, o enfoque das principais mídias a serem utilizadas; métodos de pesquisa, abordagem, acompanhamento e avaliação do eleitorado potencial; determinação da estrutura organizacional e das atribuições e responsabilidades de cada unidade na execução de planos e metas; acompanhamento, controle e avaliação do processo de obtenção de votos e por fim os ajustes necessários dos recursos e processos utilizados.

Nenhuma campanha política se consagra pela eficiência se não se observar certos fatores em sua estrutura organizacional: “Forma pela qual as atividades de uma organização são divididas, organizadas e coordenadas.” (STONER, 1992, p.230)[1]

O organograma de uma campanha bem estruturado é vital para o sucesso do candidato. Nele se mapeia as atribuições de toda a equipe envolvida, se determina o grau de hierarquia, a coordenação e subcoordenações. Assim é possível estabelecer prazos para a realização dos processos pertinentes, bem como responsabilizar os diversos elos que compõe seu fluxo organizacional. Cada qual deve obedecer e cumprir suas responsabilidades com empenho e dedicação.

O estudo do eleitorado não deve se basear em conjunturas e nem pode ser ocasional. A situação constatada tem que ser fundamentada, ter prioridades definidas, no que tange a obtenção, processamento e análise de dados, para se planejar as ações a serem executadas pela equipe.

O orçamento de uma campanha deve possuir previsão de despesas levando em consideração os recursos humanos, técnicos e materiais para assegurar, em tempo o cumprimento dos objetivos.

O candidato deve visitar as localidades, Estados, Municípios ou Bairros mais de uma vez. As classes menos favorecidas, a maioria dos eleitores vota em quem se conhece, em quem é acessível.

O Candidato e o Eleitorado

O candidato que deseja alcançar a vitória deve exercitar o discurso político simples, sistemático, didático, humilde e esclarecedor.

Nunca falamos descomprometidamente, sempre assumimos papéis, bem como, a avaliação que fazemos do discurso do outro também depende desse posicionamento sócio-histórico-ideológico-discursivo.

Bakhtin[2] afirma que todo signo é ideológico e que a ideologia é um reflexo das estruturas sociais. Ele considera que toda modificação de ideologia encadeia uma modificação da língua e a variação é inerente à língua e reflete variações sociais.

Para ele, o interlocutor não é um elemento passivo, ao contrário, desempenha um papel imprescindível ao diálogo. “Os signos só podem aparecer em um terreno interindividual. Ainda assim, trata-se um terreno que não pode ser chamado de ‘natural’ no sentido usual da palavra.” (BAKHTIN, 1979, p.21)[3]

A própria consciência individual é um fato sócio-ideológico. Inclusive, a etapa em que o indivíduo se conscientiza de sua individualidade e dos direitos que tem é ideológica, histórica e condicionada por fatores sociológicos. O pensamento é, ao mesmo tempo, pertencente e subordinado aos sistemas ideológico e do psiquismo.

Ao longo dos tempos modificações foram acontecendo, “o discurso político passa por uma profunda transformação na enunciação, tornando-se um discurso curto, descontínuo e ininterrupto, ao mesmo tempo que o sujeito falante re-emerge enquanto a máquina política é apagada.” (COURTINE, 1981, p.84)[4]

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O candidato que deseja se sobressair deve seguir três princípios fundamentais do discurso público. O primeiro princípio é praticar a oratória, e refere-se a uma antiga arte do discurso. Oratória era utilizada na Grécia e em Roma, durante suas civilizações e estudada como um componente da retórica. Esse princípio tem regras definidas e modelos enfatizados pelas artes liberais desde o Renascimento e a Idade Média. Oratória tem significado falar em público, pois constitui a composição e o planejamento do discurso.

O segundo princípio é o de usar recursos extralingüísticos, chamado de acompanhamento por gestos. O que uma pessoa diz, é tão importante quanto o que ela faz. Isso implica no uso consciente das expressões faciais, movimentos das mãos e posturas como seguimento da mensagem falada.

O último, porém não menos importante, é o controle da voz através de inflexão, de foro muito íntimo, o que torna o candidato entediante ou interessante para quem ouve. É a combinação das baixas e das elevações na qualidade da voz, do suave e profundo, dos recursos e comandos, esse princípio determina o efeito que o discurso vai produzir na platéia. Técnicas de utilização da voz são trabalhadas como dicção, impostação e modulação.

A longa experiência de promessas não cumpridas faz com que os eleitores desconfiem de colocações pouco palpáveis. “O discurso político realmente sofre de um certo descrédito que leva à rejeição de certas formas do discurso público.” (COURTINE, 1981, p.83)[5]

Grande parte desconhece ou tem uma ideia muito vaga de qual seja a função legislativa de um parlamentar. O interesse de votar é maior na medida da clareza da finalidade e objetivos a serem alcançados com participação do político. Nas eleições presidenciais o voto tem valor, aos olhos dos eleitores pode trazer modificações para país. Para governador é um pouco menos valioso, e assim sucessivamente, já que as atribuições dos cargos não são claras para a população.

Elemento indispensável é a pesquisa que fornece dados sobre as flutuações de opiniões e sobre novas oportunidades ou estratégias para uma campanha, possibilitando uma redução nos riscos das ações implantadas.

A pesquisa de opinião é o contínuo processo de aprender fatos e dados, e de adquirir conhecimentos que permitam a uma pessoa sobreviver em um meio que pode mudar constantemente. É uma forma de embasamento para que o candidato alcance suas metas, mediante o ajustamento de suas políticas e plataformas às cambiantes condições do eleitorado. Alicerça a campanha como um sistema de inteligência, prevenindo contra os perigos da competição, novos riscos, além de indicar para o político novas estratégias.

Bil Trancer[6], em seu livro “Click”, constata que se as pesquisas realmente funcionam como profecias autorrealisáveis (se meu candidato tem tão pouco apoio nas pesquisas, por que desperdiçar meu voto com ele?), resultados imprecisos podem alterar o comportamento dos eleitores e, em última análise, os da eleição.

Outra visão interessante é de Freud[7], em que descreve a dualidade entre ação individual do indivíduo e a atitude totalmente modificada quando o indivíduo age em grupo. Dessa forma, mudar e/ou fortalecer a imagem do candidato em relação à massa é a grande sacada do marketing político.

O planejamento da pesquisa consiste em arrolar os fatores que possam favorecer ou prejudicar a campanha ou a imagem do candidato. A reunião de alguns dados é indispensável para se alcançar o panorama efetivo da realidade, como mensurar o tamanho da população que se deseja atingir, verificar o poder aquisitivo e necessidades do eleitorado.

As Relações Públicas também se fundamentam na realidade, isto é, em fatos sobre o eleitor e o seu lugar na comunidade. Situações sobre o que o público pensa a respeito de um candidato, e nas próprias mudanças da opinião pública.

A competição política se intensifica a cada eleição, a disputa é acirrada, os políticos desejosos de conquistar votos, aumentam constantemente à multiplicidade de suas ofertas. O eleitor já não limita sua procura às mesmas promessas e aos mesmos jargões que faziam no passado, exige melhores condições de vida. Portanto, somente os candidatos que tiverem conhecimento adequado desta situação e estiverem melhores estruturados, poderão satisfazer tal procura.

Para ter sucesso em uma campanha devem-se fazer as perguntas certas às pessoas certas e assim buscar no candidato as características esperadas pelo público. Não adianta inventar. Tal como um produto, o eleitor não vai julgar apenas pela capa, é necessário conteúdo, empatia e capacidade de persuasão.

Encontrar a maneira certa de perguntar algo a alguém é o que dá qualidade a uma pesquisa. A análise sobre os pontos que realmente inferem em determinado tema devem ser explanados no questionário de forma clara e objetiva, evitando a fuga da resposta ou a sua distorção.

O interessante é descobrir quem é, e o que querem os eleitores. Principalmente os que não decidiram ainda ou os que tendem a mudar de voto.

Para elaboração, aprimoramento e conclusão das pesquisas utilizadas em uma campanha política é necessário consultar fontes de dados como jornais, publicações de instituições que trazem informações comerciais e dados econômicos, a fim de auxiliar o comércio e a indústria; associações profissionais, comerciais e trabalhistas também fornecem dados valiosos; algumas organizações internacionais, especialmente as afiliadas às Nações Unidas, produzem literatura de consulta obrigatória e serviços informativos de instituições governamentais, públicas e privadas, universidades, escolas técnicas, institutos de pesquisa, bibliotecas e associações de negócios oferecem amiúde, soluções para problemas das empresas e pessoas.

Uma campanha exige toda atenção e cuidado por parte da equipe de marketing na hora de montagem do plano estratégico. Grande repercussão se alcança utilizando programas de rádio ou de televisão já consagrados pelo público, em que se debatem principalmente problemas do dia-a-dia da população.

Gabriel Rossi[8] nas Eleições de 2010 em uma entrevista sobre seu artigo chamado “A Internet e as Eleições” disse que as mídias sociais são amplificadores de princípios cardinais que tornam uma marca política forte. E que antes de qualquer coisa, por exemplo, marcas políticas são alicerçadas em cima de carisma e narrativa e uma idéia única e diferenciada. Assim as mídias sociais fizeram este preceito mais verdadeiro do que nunca. Por causa disso, a metodologia de trabalho na internet considera diversas variáveis como: Proposta de campanha, tamanho do partido, as lideranças fortes agregadas, capilaridade, reputação, expectativa de votos, vulnerabilidade de relacionamento com diversos stakeholders, interesse geral do público-alvo pela eleição, orçamento da campanha, avaliação de carisma do candidato, votos de legenda, entre diversas outras coisas.

O número de usuários de Internet passou de pouco mais de 5 milhões, em 2000, para 75 milhões, em 2010. Os governos terão que lidar com a interferência direta de redes organizadas, redes que, por sua vez, irão facilitar a ação coletiva em busca de soluções para problemas comuns.

A inclusão de uma campanha política nas redes sociais, Orkut, Facebook, Twiter é indispensável, chamado atualmente de marketing viral dentro da internet, além da utilização dos SMS dos telefones celulares, considerados eficientíssimo em razão da leitura irresistível.

Conclusão

Dessa forma, mudar e/ou fortalecer a imagem do candidato em relação à massa é a grande sacada do marketing político. No Brasil, em que a corrupção e a quantidade de impostos superam-se a cada dia, o bom candidato é aquele, que na opinião da massa pode mudar o país ou não deixá-lo perder as conquistas que alcançou até agora.

“Não haveria, portanto, decisão nem ação possível no campo político sem a consideração da opinião, para cuja fabricação as mídias intervêm. Encontramo-nos, assim, em um jogo em que todos mudam sob a influência dos outros.” (CHARAUDEAU, 2006, p. 25)[9]

As redes atuais de comunicação fazem com que a participação esteja ao alcance de cada cidadão e não apenas da chamada sociedade organizada, que muitas vezes se forma em torno de grupos de interesse na defesa corporativa de posições de segmentos, em detrimento do coletivo.

Possibilidade concreta de aumentar o papel da sociedade na formulação, monitoramento e avaliação de políticas públicas. É importante ressaltar que o eleitorado como um todo que decide uma eleição e não uma classe específica da população. Se a grande maioria estiver insatisfeita com um determinado candidato, desista, é necessário um novo foco de campanha, novas alianças e uma nova estratégia, antes que seja tarde demais.

Referências Bibliográficas

[1] STONER, James / FREMAN, Edward. Administração. Rio de Janeiro: Prentice Hall, 1992.

[2] BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. Hucitec, 1979.

[3] Ibid.

[4] COURTINE, Jean-Jaques. Metamorfoses do Discurso Político - Derivas da Fala Pública. Clara Luz, 1981.

[5] IBID.

                [6] TANCER, Bill. Click: What Millions of People Are Doing Online and Why it Matters [Hardcover], 2008

[7] FREUD, Sigmund Freud: Psicologia das Massas e Análise do eu

[8] ROSSI, Gabriel / FORNAZIERI, Aldo. A Internet e as Eleições. O Estado de S.Paulo, 24/07/2010.

[9] CHARAUDEAU, Patrick. Discurso Político. São Paulo: Contexto, 2006.

Sobre a autora
Carla Viola

Advogada, Publicitária e Docente. Mestranda em Ciência da Informação, PPGCI/IBICT/UFRJ (2016), Graduada em Comunicação Social - Propaganda e Publicidade, FACHA (1985) e em Direito pela Universidade Santa Úrsula (1997). Pós graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pelo IGEC/FACHA (2011) e Direito do Consumidor Responsabilidade Civil pelo AVM/Candido Mendes (2013) com complementação em Didática do Ensino Superior. Membro do grupo de pesquisa Perspectivas Filosóficas em Informação (Perfil-i), do grupo de pesquisa Gênero, Ciência, Tecnologia e Sociedade, do Comitê de Defesa dos Usuários de Serviços de Telecomunicações - CDUST/ANATEL, do Conselho de Usuários da Região Sudeste OI TELEMAR e da Comissão de Direito Previdenciário - OAB/RJ, 57ª Subseção, Barra da Tijuca. Atua na área Jurídica em Direito Imobiliário, do Consumidor e Responsabilidade Civil com experiência no zelo pelos objetivos do cliente e na manutenção e integridade dos seus bens, facilitando negócios, preservando interesses individuais e coletivos, conforme princípios morais e fundamentos éticos. Experiência na área Administrativa com foco em coordenação, planejamento, desenvolvimento estratégico, elaboração de materiais audiovisuais, relatórios e manuais, realização de treinamentos funcionais, políticas de gestão, estruturação e racionalização, tendo em vista os objetivos da organização. Habilidade em planos de comunicação, atendimento ao consumidor, elaboração de briefing e de cronograma de atividades. Docente no âmbito do direito do consumidor e responsabilidade civil, com competência em elaboração, planejamento e execução de plano de aula e de curso.

Informações sobre o texto

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