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As lágrimas de Barack Obama, a imprensa e a crise hegeliana ocidental

Agenda 06/01/2016 às 13:10

Crítica à forma como a imprensa trata de maneira desigual fatos semelhantes e interligados fomentando, assim, a barbárie.

O discurso emocionado feito pelo presidente dos EUA ao anunciar restrições ao comércio e porte de armas de fogo despertou grande admiração no Brasil. Obama foi descrito como um ser humano maravilhoso, humanista incomparável, homem digno do Nobel da Paz que recebeu, um exemplo a ser seguido, estadista capaz de emocionar as multidões, etc... A lista de elogios a César é grande.

Quando Dilma Rousseff lembrou, em lágrimas, as torturas que recebeu durante a Ditadura – regime que foi metodicamente construído pela CIA no Brasil – os jornalistas reagiram de maneira diferente. A presidenta do Brasil foi ignorada e até mesmo desdenhada pelos jornalistas.

As lágrimas do patrão são sempre mais valiosas do que as de alguém considerada subalterna a ele?

No mesmo dia que Obama chorou nos EUA, com grande repercussão no Brasil, foi anunciado o fim dos famigerados Autos de Resistência. A notícia deveria provocar lágrimas de alegria nos jornalistas, pois aqueles documentos vinham sendo utilizados para acobertar e legitimar milhares de assassinatos cometidos por policiais em serviço. A boa nova, porém, foi recebida com frieza por alguns veículos de comunicação. A imprensa raramente se preocupa com os familiares das vítimas fatais da violência policial.

Brasileiros pobres, pretos, pardos e favelados não são seres humanos?

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São, mas os jornalistas tem mais o que fazer. As prioridades deles são outras. Isto explica, por exemplo, porque ninguém foi capaz de lembrar que Obama nunca derramou lágrimas pelas centenas de crianças mortas no Paquistão por ataques de Drones que a administração dele autorizou. A hecatombe da infância na Síria, em parte provocada por terroristas que foram treinados, armados e remunerados pelos EUA, também foi convenientemente esquecida. 

Até em relação às lágrimas o mercado é desigual. Algumas delas tem muito valor. Outras são irrelevantes. E a maioria deve ser silenciosamente esquecida. Se há um problema histórico, este sem dúvida é o avanço da barbárie.

Não sou um grande fã de Georg Wilhelm Friedrich Hegel , mas respeito muito uma declaração feita por ele no livro Filosofia do Direito:

"La realidade objetiva del Derecho consiste, parte em ser para la conciencia, en general, un llegar a ser conocido; y, parte, en tener la fuerza de la realidad y ser válido, y por lo tanto, ser conocido también como lo universalmente válido." (Filosofia Del Derecho, Guillermo Federico Hégel, editorial Claridad, Buenos Aires, 1955, p. 183)

Ao reconhecer as lágrimas de Obama em prol das vítimas norte-americanas das armas de fogo, omitir as lágrimas das vítimas do governo dele no Paquistão e na Síria e dar bem pouca importância às lágrimas de Dilma Rousseff e das vítimas da violência policial no Brasil no momento em que os Autos de Resistência foram banidos, a imprensa brasileira fomenta a barbárie. Os jornalistas não reconhecem a existência de um só direito (aquele outorgado a todos os seres humanos pela ONU), não o considera válido em todos os lugares da mesma forma e ao invés de universalizar um único princípio civilizatório, eles conspiram para que alguns seres humanos sejam privados dos mesmos direitos que são atribuídos às lagrimas a outros.

Se há uma crise no ocidente, esta crise não foi provocada pela esquerda. Nem por Karl Marx ou pelos marxistas. A crise em curso foi chocada na imprensa a partir do momento que os jornalistas deixaram de entender e de aplicar um conceito hegeliano absolutamente trivial. 

Sobre o autor
Fábio de Oliveira Ribeiro

Advogado em Osasco (SP)

Informações sobre o texto

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