O que a verdade?
Descartes, filósofo e matemático francês, criador de um sistema para dirigir o raciocínio, denominado “Discurso do Método”, segundo o qual para alcançar a verdade é preciso, desfazermos de todas as opiniões que recebemos, a fim de reconstruir os nossos conhecimentos. A sua teoria parte da dúvida metódica, mas não é a dúvida que inicialmente desmitifica a verdade e sim através de um esforço mental para chegar a ela. A inobservância deste método, nos leva aceitar uma ideia falsa, um fato narrado de maneira equivocada, que comentado de pessoa a pessoa, passa como verdadeiro. Como já se disse, que uma mentira repetida várias vezes, torna-se verdade. A vida está sujeita a erros, acertos e enganos. Então é preciso muita cautela para aceitar uma ideia, um princípio, e até mesmo um diagnóstico médico, pois se este for equivocado pode trazer graves consequências ao doente. As pessoas passam as suas vidas enganadas e ninguém foge à regra. Isto acontece quando o estado do paciente é grave, o médico reúne a família e sentencia: ele está desenganado, isto significa NÃO ENGANADO? Portanto a vida é um ledo engano! Ilações à parte, quando Pilatos questionou a Cristo: o que é a verdade? Esta pergunta é até hoje é criticada pela Igreja Católica, mas não vejo nenhum reparo a fazer. Explico : Pilatos não acreditava que Cristo era Deus e sim pessoa humana. Nesta qualidade, a pergunta não poderia ser outra, pois a verdade que a envolve é baseada muitas vezes nos órgãos dos sentidos: audição, visão, tato e olfato. Logo basta que haja um dos órgãos deficiente, para invalidar o testemunho de uma pessoa que dependesse desse órgão. Quando Jesus curou o cego, impondo-lhe as mãos, perguntou se ele estava vendo e este respondeu que via homens como árvores. Segundo Vieira, o cego “ Errou na cor”; porque as árvores são verdes, e os homens cada um é da cor do seu vestido. Errou na figura; porque as árvores têm um pé, e os homens dois: os homens têm dois braços, e as árvores muitos. Errou no movimento; porque os homens movem-se progressivamente, e mudam lugares, e lugar”. Somente depois da segunda imposição das mãos, o homem que era cego, enxergou homens como homens, árvores como árvores, porque a cura foi realizada plenamente. Como se vê, como é relativa a verdade humana! Certo dia, questionei a um padre por qual razão Pilatos é homenageado no credo, em todas as missas celebradas no mundo. Resposta: ele não é homenageado. Então emendei: mas é lembrado... Ele concordou: lembrado, e encerrou-se o assunto. Ora judas, o traidor, é odiado por todo o mundo, sendo a sua personagem retratada fielmente em “ Caridade e Justiça” do poeta português, Guerra Junqueiro: “ Es traidor, hipócrita, assassino, perjuro. Tua alma lançada em cima de um monturo faria nódoa. É o que há de mais vil, desde o ventre do sapo, à barba do réptil”. Ora se Judas traiu Cristo, Pilatos O condenou, sabendo que Ele era inocente. Logo, quanto à culpabilidade, os dois estão no mesmo pé de igualdade. Seguindo este raciocínio, Pilatos deveria ser excluído do credo, que passaria a ser assim redigido: Sob o poder de um governante ímpio e injusto foi crucificado... O outro tipo de verdade diz respeito ao conhecimento que a pessoa julga tê-la, mas, por vaidade , a oculta de outras pessoas, como por exemplo o professor em sala de aula, o aprendiz de qualquer ofício, cujo instrutor não lhe transmite todo conhecimento que possui. Contra esta atitude, Frei Francisco Monte Alverne ao ser aclamado representante da filosofia do Brasil, em 10-12-1848, desabafa: “ Empreguei, é verdade, os anos da minha mocidade em dirigir as inteligências que me tinham sido confiadas: revelei verdades que meus antecessores não me tinham comunicado; ” A verdade que Pilatos estava longe de ver, era Cristo que hoje está presente sob as espécies de Pão e Vinho, nas celebrações da Eucaristia em todo mundo. Cristo disse eu sou a verdade, o caminho e a vida e os meus ensinamentos jamais passarão. Portando, Cristo é a verdade.