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Real digital (Drex): o impacto das moedas digitais fiduciárias nas stablecoins

13/08/2023 às 10:43
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O Drex é a nova moeda digital centralizada do Brasil, prometendo rapidez, eficiência e segurança nas transações financeiras, além de estabilidade de valor.

Desde a invenção do Bitcoin em 2009, o mundo das criptomoedas tem experimentado uma evolução constante e, por vezes, tumultuada. O surgimento das criptomoedas marcou o início de uma nova era na forma como as transações financeiras são realizadas e como o valor é percebido.

No entanto, apesar da promessa de descentralização e autonomia, os criptoativos enfrentaram desafios significativos, principalmente em termos de volatilidade. Esta volatilidade, muitas vezes, tornou-as menos viáveis para transações diárias e como uma reserva de valor estável.

Foi neste contexto que surgiram as stablecoins. Estas são moedas digitais que têm seu valor atrelado a ativos mais estáveis, como o dólar americano ou o ouro. O objetivo principal das stablecoins é combinar a eficiência e a segurança das criptomoedas com a estabilidade de ativos tradicionais.

Ao vincular seu valor a ativos estáveis, como o dólar ou o ouro, as stablecoins prometem a estabilidade combinada com os benefícios tecnológicos da blockchain. Em vista disso, elas foram projetadas para serem usadas em plataformas de criptomoedas, facilitando transações sem a volatilidade associada a outras criptomoedas.

Todavia, enquanto as stablecoins tentavam preencher a lacuna entre moedas fiduciárias tradicionais e criptomoedas, uma nova tendência começou a emergir: as moedas digitais fiduciárias. Estas são moedas digitais emitidas e regulamentadas por bancos centrais de países. Ao contrário das criptomoedas tradicionais, que operam em um sistema descentralizado, as moedas digitais fiduciárias são centralizadas e têm o respaldo e a confiança do governo que as emite.

O novo Real digital (Drex), por exemplo, representa essa nova onda de moedas digitais. A ideia de criá-lo surgiu com a ascensão e popularidade das criptomoedas e a pressão para a digitalização dos sistemas financeiro, e consequentemente bancos centrais ao redor do mundo começaram a considerar a possibilidade de introduzir suas próprias moedas digitais. Logo, o Brasil, ao observar essas tendências globais e reconhecer as vantagens de uma moeda digital, decidiu entrar nesta iniciativa.

As motivações para a criação do Drex são variadas. Ele pode facilitar o acesso a serviços financeiros para uma grande parcela da população que ainda não participa do sistema bancário tradicional. Além disso, transações com Drex têm o potencial de serem concluídas com mais rapidez e eficiência do que as transações convencionais, especialmente quando se trata de grandes volumes.

Utilizando a tecnologia blockchain, o Drex também promete oferecer um nível de segurança que supera muitas outras formas de pagamento digital. Em um mundo em rápida digitalização, ter uma moeda que reflete essa realidade é crucial para a relevância econômica e competitividade do Brasil no cenário global.

Embora o Drex compartilhe algumas semelhanças tecnológicas com as stablecoins, existem diferenças cruciais entre eles. A principal é que, enquanto a maioria desses criptoativos operam em sistemas descentralizados, o Drex é uma moeda digital centralizada, sob a supervisão e regulamentação do Banco Central do Brasil. Ademais, ao contrário da volatilidade observada em muitas criptomoedas, o valor do Drex é atrelado ao Real, proporcionando uma estabilidade muito maior.

O Drex também possui reconhecimento legal no Brasil, o que o estabelece como uma forma oficial de moeda, diferentemente de muitas criptomoedas que ainda enfrentam desafios em termos de regulamentação. Portanto, o Drex foi arquitetado para ser uma representação digital da moeda nacional, marcando uma evolução significativa no mundo das moedas digitais ao combinar características das criptomoedas com a confiabilidade de uma moeda fiduciária tradicional.

A evolução das moedas digitais não se limita apenas ao Brasil. Na Europa, uma transformação semelhante está em andamento com a introdução do Euro Digital. Assim como o Drex, o Euro Digital é uma resposta dos bancos centrais à crescente demanda por soluções financeiras digitais e à popularidade das criptomoedas.

A motivação para a criação do Euro Digital também se baseia na preservação da soberania monetária na era digital. Isso porque com a crescente popularidade das criptomoedas e outras formas de dinheiro digital, os bancos centrais estão enfrentando a necessidade de adaptar seus sistemas e garantir que as moedas fiduciárias tradicionais mantenham sua relevância. Desse modo, o Euro Digital é uma tentativa de combinar os benefícios das moedas digitais, como transações rápidas e segurança aprimorada, com a estabilidade e confiança associadas às moedas tradicionais.

Então, é possível observar que a emergência das moedas digitais fiduciárias sinaliza uma mudança significativa no panorama financeiro global. Elas têm o potencial de combinar o melhor dos dois mundos: a eficiência e a inovação das criptomoedas com a estabilidade e a confiança das moedas tradicionais. Assim, à medida que mais países começam a explorar e adotar suas próprias versões de moedas digitais, é essencial entender o impacto que isso pode ter no ecossistema cripto existente e, em particular, nas stablecoins.

Enquanto as stablecoins ainda podem oferecer flexibilidade e soluções específicas em ambientes onde as moedas digitais fiduciárias ainda não são adotadas, a concorrência das moedas emitidas pelos bancos centrais podem levar a uma redução do público que busca as vantagens das stablecoins. Além disso, a capacidade das moedas digitais fiduciárias de integrar-se diretamente nos sistemas financeiros tradicionais também pode atrair investidores institucionais e empresas, que anteriormente poderiam ter considerado o uso de stablecoins.

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No entanto, vale ressaltar que as stablecoins não estão necessariamente fadadas ao desaparecimento. Elas ainda podem encontrar nichos de aplicação em regiões onde as moedas digitais fiduciárias não são amplamente adotadas ou em setores que requerem a agilidade e eficiência oferecidas pelas criptomoedas.

Por isso, a interação entre esses dois tipos de ativos digitais dependerá da dinâmica do mercado, das preferências dos usuários e das inovações que ambas as partes possam trazer para o cenário financeiro digital.

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Sobre o autor
Pedro Vitor Serodio de Abreu

LL.M. em Direito Econômico Europeu, Comércio Exterior e Investimento pela Universität des Saarlandes. Legal Assistant na MarketVector Indexes.

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

ABREU, Pedro Vitor Serodio. Real digital (Drex): o impacto das moedas digitais fiduciárias nas stablecoins. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 28, n. 7347, 13 ago. 2023. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/105546. Acesso em: 2 mai. 2024.

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