CAPÍTULO III – METODOLOGIA
As pesquisas ao longo dos anos como menciona Kara-Junior (2019), têm sido associadas à aplicabilidade do método científico em processos em que é necessário obter informações, compreender, verificar, corrigir ou aplicar conhecimentos em um determinado cenário.
Da mesma forma, para obter resultado de forma clara e precisa, Feijó (2016) explica que é necessário aplicar pelo menos um tipo de pesquisa, que fornece uma série de elementos e etapas necessárias para atingir o objetivo proposto ou para ser capaz de obter a informação necessária com base na análise de uma série de necessidades desenvolvidas dentro da investigação.
Um dos problemas mais discutidos nas práticas das investigações segundo Gerhardt e Silveira (2016) nos últimos tempos, refere-se como abordar o trajeto metodológico corretamente de uma pesquisa científica, onde deve-se levar em consideração qual desenho é o mais adequado para abordar com sucesso a pesquisa.
Na concepção de Stopa (2020), as comunidades científicas são “as escolas invisíveis” que justificam e validam a ciência de acordo com a forma como se articulam o método utilizado, o conhecimento obtido e o contexto em que as pesquisas são realizadas. Portanto, dependendo do paradigma que determinada comunidade científica conhece e assume, as pesquisas realizadas terão características peculiares. As razões apresentadas levam a avaliar as diferentes alternativas a ter em conta nos desenhos e estratégias metodológicas dos estudos qualitativos.
Neste capítulo, procura apresentar a metodologia trabalhada nesta investigação, fazendo referência aos autores que trazem a sustentação, assim como definir o desenho do estudo, o tipo de investigação e a forma de coleta de dados.
DESENHO METODOLÓGICO
De acordo com Cervo e Bervian (2016, p. 58) “O desenho de um estudo geralmente surge à medida que os dados são coletados, a análise preliminar é realizada e o contexto é descrito de forma mais completa”.
Para complementar esta abordagem sobre o design do estudo, Minayo (2012) esclarece que é aconselhável tomar notas sobre as decisões que o investigador pleiteia para a pesquisa. Para Feijó (2016), o design significa tomar decisões ao longo do processo de pesquisa e sobre todas as fases ou etapas que o compõem. O design é moldado a partir de critérios geradores de respostas.
A construção do conhecimento conforme Feijó (2016), é assumida como um processo subjetivo e intersubjetivo, ao passo que é o sujeito quem constrói o desenho da pesquisa, coleta a informação, organiza-a e dá-lhe sentido, a partir de suas estruturas conceituais anteriores, como os achados que surgem do próprio pesquisador, que depois é coletivizada e discutida na comunidade acadêmica.
Nesse sentido apoia também em Kara-Junior (2019), sobre conceito de design, bem como a chave para a flexibilidade do design quando compreende estudos qualitativos, que sugerem o desenvolvimento de um plano de investigação, que inclua muitos elementos durante a coleta de dados.
Dessa forma, o debate epistemológico que sustenta esta investigação situa-se entre os paradigmas empirista, que procura basear-se na racionalidade hermenêutica, que significa uma forma de abordar, estudar, compreender, analisar e construir o conhecimento a partir de processos de interpretação, onde a validade e a confiabilidade do conhecimento repousam, em última instância, no rigor do pesquisador.
Para responder a estas preocupações, como ressalta Minayo (2012, p. 79), é aconselhável referir-se a posições que considera que “A investigação com técnicas qualitativas que está sujeita a um processo de desenvolvimento” que se desdobra em cinco fases de trabalho: Definição do problema, desenho da investigação, recolha de dados, análise de dados. Cada uma das principais técnicas qualitativas confere uma marca particular a cada uma das fases.
Dessa forma, o desenho do estudo Segundo Jiménez-Domínguez (2000), baseado nos métodos qualitativos sustentam-se no pressuposto básico de que o mundo social é construído a partir de significados e símbolos. Portanto, a intersubjetividade é uma peça-chave da pesquisa qualitativa e um ponto de partida para capturar reflexivamente significados sociais. A realidade social vista desta forma é feita de significados compartilhados intersubjetivamente. O objetivo é o significado intersubjetivo que é atribuído a uma ação.
A investigação qualitativa como esclarecem Lakatos e Marconi (2003), pode ser vista como a tentativa de obter uma compreensão profunda dos significados e definições da situação tal como é apresentada pelas pessoas, em vez da produção de uma medida quantitativa das suas características ou comportamento.
A pesquisa qualitativa em sua abordagem como expõem Cervo e Bervian (2016), rejeita a pretensão racional de apenas quantificar a realidade humana, ao invés disso dá importância ao contexto, à função e ao significado dos atos humanos, valoriza a realidade tal como ela é vivida e percebida, com ideias, sentimentos e motivações dos seus atores. O objetivo da pesquisa qualitativa é responder perguntas sobre por que e/ou como os indivíduos tomam certas decisões. Este tipo de pesquisa teve como foco a compreensão das raízes do feminicídio sob uma perspectiva social e cultural.
Tipo de estudo
Conhecer os diferentes tipos de estudo como assegura Galliano (2016), permite saber e projetar qual a metodologia mais recomendada para resolver um determinado problema existente e assim, produzir uma investigação de qualidade. Isto, por sua vez, permitirá, de acordo com as suas características e objetivos, desenvolver projetos de investigação eficazes, testando hipóteses que contribuirão para a validação ou refutação de teorias existentes.
Da mesma forma, Demo (2014) coloca que estes tipos de métodos de investigação são utilizados nas diversas áreas das Ciências Naturais, Ciências Sociais, Engenharias e Humanidades. Os tipos de pesquisa são as formas pelas quais um estudo pode ser abordado de acordo com os aspectos que o definem, como título, profundidade, objetivos, tratamento da amostra e dos dados, tipo de inferência, manipulação de variáveis, temporalidade, entre outros.
Nesse sentido, Lakatos e Marconi (2003) discorrem que a escolha adequada de um tipo de pesquisa melhorará a compreensão do tema que o investigador está estudando, sendo importante aplicar os processos de coleta de dados mais eficazes.
No campo do conhecimento científico, Cervo e Bervian (2016) destacam que existem múltiplas formas de abordar os problemas existentes, dado que nem todos podem ser estudados da forma mais eficaz através da utilização de algumas metodologias, o que por sua vez tem levado à necessidade de implementação de novas. maneiras de abordar essas realidades presentes num estudo.
Assim, os tipos de investigações neste estudo foram baseados numa pesquisa descritiva, explicativa, documental e bibliográfica.
A pesquisa descritiva na concepção Minayo (2012) recebe esse nome porque é realizada por meio da aplicação de um método descritivo. Sua finalidade é descrever um fato ou objeto de estudo por meio da investigação e análise da realidade.
A pesquisa descritiva como aponta Galliano (2016), é responsável por especificar as características da investigação. Esta metodologia centra-se mais no “quê” do que no “porquê” do sujeito da investigação. Ou seja, seu objetivo é descrever a natureza de um segmento, sem focar nas razões pelas quais determinado fenômeno ocorre. Ou seja, “descreve” o tema da pesquisa, sem abordar “por que” ela ocorre. A pesquisa descritiva revelará então detalhes sobre as principais causas e motivos que levam à ocorrência de feminicídios, considerando fatores sociais e culturais.
A respeito da pesquisa explicativa, como ressalta Cervo e Bervian (2016), é um tipo de pesquisa que busca responder como e por que determinado fenômeno se evidencia. Nesse sentido, para abordar o nível de pesquisa deste trabalho foi necessário saber quais são as causas do fenômeno ou fato que está sendo estudado, procurando explicar sobre a perpetuação de estereótipos de gênero prejudiciais que podem levar à violência contra as mulheres.
A pesquisa explicativa segundo Stopa (2020), procura trazer o porquê de determinados fenômenos como funcionam, da maneira que funcionam, ou seja, busca relações de causa-efeito e sua quantificação. Buscar uma melhor compreensão de um fenômeno para a comunidade científica e com isso tentar deixar uma porta aberta para pesquisas mais complexas, quando possível no futuro. Dessa maneira, durante a realização da pesquisa explicativa procurou trazer as possíveis explicações a respeito da influência do patriarcado na perpetuação de estereótipos de gênero prejudiciais que podem levar à violência contra as mulheres, os padrões de relacionamentos abusivos e como eles contribuem para a vulnerabilidade das mulheres diante do feminicídio.
Conforme Minayo (2012), a pesquisa bibliográfica ou documental consiste na revisão do material bibliográfico existente a respeito do tema a ser estudado. Esta é uma das principais etapas de qualquer investigação e inclui a seleção das fontes de informação. Para Galliano (2016), é considerada uma etapa essencial porque inclui um conjunto de fases que abrangem a observação, a investigação, a interpretação, a reflexão e a análise para obter as bases necessárias ao desenvolvimento de qualquer estudo.
Segundo Silva & Menezes (2001: p. 21), “A pesquisa bibliográfica é elaborada com base em material já existente” Publicado, incluindo principalmente livros, artigos de periódicos, materiais fornecidos atualmente Internet".
Segundo Gil (2007: p. 64), "A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em materiais elaborados, inclui principalmente livros e artigos científicos. Dessa forma aa pesquisa bibliográfica foram utilizados livros, site, leis, periódicos e artigos científicos, além das Teses de doutorado e dissertação de mestrado publicas utilizando os seguintes descritores de forma isolada e associada: Violência de gênero + Feminicídio.
De acordo com Cervo e Bervian (2016) a pesquisa documental, apresenta uma série de métodos e técnicas de busca, processamento e armazenamento da informação contida em documentos, em primeira instância, e a apresentação sistemática, coerente e suficientemente argumentada de novas informações em um documento científico, em segunda instância. Dessa forma, a pesquisa documental não deve ser entendida ou esgotada como a simples busca de documentos relacionados a um tema. Para este estudo, buscou os documentos referentes as Leis já publicadas até 2023 que trata a respeito do feminicídio no Brasil.
Unidades de Análise
A unidade de análise conforme descreve Galliano (2016), é o que se deseja discutir após a investigação, provavelmente o que seria considerado a ênfase principal da pesquisa. O pesquisador deve planejar, discutir o tema principal ou objeto da pesquisa como unidade de análise.
Para Stopa (2020), a unidade de análise podem ser as pessoas ou coisas cujas qualidades devem ser medidas e analisadas. A unidade de análise é uma parte essencial de um projeto de pesquisa. Kara-Junior (2019) explica que a unidade de análise é a unidade principal que um pesquisador analisa em sua pesquisa. Uma unidade de análise é o objeto sobre o qual espera ter algo a dizer no final da sua análise, talvez o tema principal da sua pesquisa.
Como esclarece Feijó (2016), geralmente é aceito que os investigadores devem tentar encontrar uma unidade de análise que mantenha o contexto necessário para dar sentido aos dados. O autor coloca que, os pesquisadores devem levar em consideração os detalhes de sua pesquisa ao decidir a unidade de análise.
Dessa maneira foi levado em consideração a unidade de análise neste estudo, que a ênfase principal da investigação: influência do patriarcado no feminicídio
Coleta de dados
Segundo Lakatos e Marconi (2003, p. 91), as técnicas de coleta de dados são definidas como “um conjunto de procedimentos e métodos que são utilizados durante o processo de pesquisa, com a finalidade de obter informações relevantes aos objetivos formulados na pesquisa.” Do ponto de vista do autor, deve considerar o significado válido do conjunto de procedimentos de uma ciência para os instrumentos de coleta de dados, como o recurso utilizado pelo pesquisador para abordar os fenômenos e deles extrair informações.
Nesse sentido, a coleta de dados compreendeu um levantamento bibliográfico em que consistiu em fazer um inventário dos materiais escritos sobre o tema pesquisado. Foi necessário ser minucioso, sistemático e cauteloso em relação à seleção das informações que seria posteriormente sujeita a revisão. Da mesma forma, também foi necessário descartar informações de origem duvidosa, como aquelas provenientes de fontes não referenciadas.
Sobre as técnicas para coleta de dados na investigação documental conforme Minayo (2012), centram a sua função principal em todos os procedimentos que implicam a utilização dos recursos documentais disponíveis. Baseada numa investigação documental, a principal técnica utilizada foi a revisão documental.
Na pesquisa jurídica, a preparação de todos os tipos de arquivos de fontes de informação é uma tarefa básica do pesquisador jurídico. Na primeira etapa reuniu todos os documentos referente as Leis que tratam sobre o feminicídio no Brasil, com o propósito de buscar informações que foram úteis para a investigação.
Na segunda etapa, consistiu na leitura e interpretação das informações recolhidas, para a qual foi necessário organizar a informação em diversas fichas. Uma vez obtidos os dados qualitativos com base na leitura das informações obtidas, essas informações foram interpretadas através de uma avaliação para separar o material utilizado na pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Principais consequências da violência contra as mulheres
Após a pesquisa realizada, pode perceber durante a coleta de dados, embasados em vários teóricos que trouxeram sustentação para o estudo que as consequências que envolvem a violência contra as mulheres manifestam-se em todos os aspectos da vida das vítimas, desde a influência do patriarcado na perpetuação de estereótipos de gênero.
A maioria dos autores (MIURA E MEDEIROS, 2022; SOUZA e REZENDE, 2018; ÁVILA & AREOSA, 2023; ÁVILA & AREOSA, 2023; PAES GALVANI e GRAUPE, 2023 e outros) reconhecem que as lesões podem ser classificadas em físicas, psicológicas e sociais.
Sobre as lesões físicas mais comumente encontradas em mulheres vítimas de violência são: hematomas, facadas, ferimentos por arma de fogo, escoriações, hematomas e ferimentos superficiais na face, pescoço, cabeça, seios e abdômen (MIURA E MEDEIROS, 2022). Outro grupo de lesões pode ser encontrado próximo aos órgãos genitais, como hematomas e equimoses, caso a vítima tenha sofrido abuso sexual (SOUZA e REZENDE, 2018).
Entre as principais consequências psicológicas para as vítimas de violência contra as mulheres estão: transtornos adaptativos, transtornos de estresse agudo, transtorno de estresse pós- traumático (ÁVILA & AREOSA, 2023).
Outros sintomas psicológicos que aparecem após a violência são: ansiedade, depressão, reações de susto, percepções negativas de saúde e comportamento, uso de álcool e drogas, raiva, sentimento de culpa, entre outros. Também pode perceber a perda da autoestima, o impacto no sentido da vida e nas projeções futuras (PAES GALVANI e GRAUPE, 2023).
Do ponto de vista social, as consequências mais estudadas têm sido a mudança nas inter- relações pessoais; comportamentos de evitação e isolamento. Contudo, considera-se que os principais efeitos psicossociais estão ligados à perda de apoio de familiares e amigos, o que gerará a falta de fatores de proteção contra o risco de vivenciar esta violência (BRITTO E ANDRADE, 2020)
Os fatores de risco reconhecidos como geradores de violência contra as mulheres devem ser levados em consideração na concepção de programas de intervenção e/ou prevenção deste tipo de abuso. Fatores de risco são condições (não autossuficientes, mas capazes de influenciar) que geram situações agressivas contra as mulheres (MIURA E MEDEIROS, 2022).
A presença de qualquer um deles deve chamar a atenção para prevenir abusos e agressões contra as mulheres por parte de seu parceiro, empregador, médico ou qualquer membro da sociedade (SANTOS et al., 2023).
O ciclo da violência consiste em três fases. A primeira é a fase de acumulação de tensão. Caracteriza-se pelo aumento das hostilidades por parte do agressor, especialmente do ponto de vista verbal e psicológico, embora possa haver violência física; começam os conflitos de relacionamento e a mulher não consegue explicar a situação; Até justifica esse comportamento. O comportamento da mulher é submisso e ela se culpa pela situação (BARSTED, 2016).
Na fase de explosão ocorre uma intensificação da violência física e sexual, acompanhada de ataques verbais e psicológicos que podem atingir o seu ápice. Essa fase geralmente é quando se busca ajuda e o relacionamento é interrompido. A mulher sofre lesões físicas, sexuais e psicológicas significativas. Na fase de reconciliação, o agressor faz todo o possível para não se distanciar da vítima, expressando arrependimento e fazendo promessas e estratégias de manipulação emocional. Ao longo do ciclo, a violência aumenta. Com o passar do tempo, o ciclo de violência volta a funcionar, desta vez com aumento de ataques e lesões causadas às mulheres (BRITTO e ANDRADE, 2020).
Quando a mulher é espancada, vai aumentando a agressividade de forma gradual e rotineira. Os primeiros sinais de violência manifestaram-se como agressões verbais e abusos emocionais, além de pequenos sinais de agressão física, como tapas ou apertos de membros. A mulher age de forma passiva, o que reforça a agressividade do agressor. Com o passar do tempo, o comportamento agressivo torna-se mais agudo. O agressor pôde expressar suas intenções de mudança e mantem os comportamentos conciliatórios (ESQUITA, 2016)
Outro ponto fundamental neste estudo, a teoria do patriarcado, que está relacionada a aspectos culturais e geracionais e às heterogeneidades de gênero, o que leva à naturalização da violência. Estudiosos do assunto (ÁVILA & AREOSA, 2023; PAES GALVANI e GRAUPE, 2023 e outros) revelaram que a violência contra as mulheres está ligada a questões culturais que se perpetuam no meio. Esse tipo de violência é vivenciado por diversas gerações dentro de uma mesma família (JUNIOR, 2018).
A dominação masculina, perpetua a crença em estereótipos de gênero tradicionais que desvalorizam as mulheres, criando um ambiente propício para a violência de gênero, incluindo o feminicídio (LIRA e DE BARROS, 2015).
A teoria do patriarcado centra-se na explicação da necessidade de uma ordem social patriarcal para levar a cabo os processos econômicos e sociais. Quando aplicada ao ambiente familiar, esta teoria aponta que leva à submissão histórica e à opressão das mulheres pelas mãos dos homens (NIELSSON e PINTO, 2016).
A patriarcado deu origem a padrões históricos de abuso e violência contra as mulheres, que foram percebidas como seres inferiores, meios de troca, objetos sexuais, entre outros papéis (PAES, GALVANI e GRAUPE, 2023).
O machismo no patriarcado e na dominação masculina, que tradicionalmente naturalizam a superioridade dos homens e a submissão das mulheres, que por conviverem com a violência na família desde a infância, muitas mulheres acabam não reconhecendo tais situações como violência, naturalizando-as (PASINATO, 2012).
Discussão
Os resultados apresentados anterior foram analisados e discutidos sob a luz dos teóricos, na medida em que a hipótese geral afirmou que que existe uma relação significativa entre o patriarcado, como um sistema de poder que promove a dominação masculina, perpetua a crença em estereótipos de gênero tradicionais que desvalorizam as mulheres, criando um ambiente propício para a violência de gênero, incluindo o feminicídio.
A partir dessas palavras, infere-se que no cenário atual a violência contra a mulher é influenciada pelas questões culturais que permeiam o cotidiano das famílias, levando à violência intergeracional.
Nesse sentido, é visível a dificuldade imposta pelas barreiras culturais no reconhecimento das situações de violência, uma vez que as mulheres entendem que devem conformar-se com a realidade que lhes é imposta. Assim, a cultura muitas vezes minimiza e esconde o reconhecimento da violência.
Compreende-se, que a reprodução histórica da violência se deve à sua presença na vida das mulheres desde a infância, a partir das relações familiares. Por considerarem natural a vivência na família, as mães lembram às filhas que é uma situação comum e aceitável, legitimando-a.
Neste cenário, fortemente influenciado pelo machismo e pelo patriarcado, é culturalmente permitido que os homens superem as mulheres e assim possam exercer violência. A ideologia patriarcal que regula os papéis de gênero coloca as mulheres numa situação subordinada. Isto promove a perpetuação do comportamento agressivo por parte dos homens e deixa as mulheres vulneráveis à violência.
Os papéis de gênero foram construídos social e historicamente, estando enraizados nas relações de poder e autoridade entre homens e mulheres, naturalizando a violência contra eles. A naturalização da violência torna-se frequente, devido a uma cultura que propaga a imagem da mulher, como aquela que aceita ser dominada pelos homens. Dessa forma, a violência se expressa em todas as esferas da vida das mulheres e acaba se reproduzindo no cotidiano de forma natural.
A mulher que convive com a violência sente-se aprisionada por essa realidade, pois ela está incorporada na construção de sua identidade à condição de que a mulher tenha o dever de aceitar e submeter-se ao que é imposto pelos homens. Essa naturalização faz com que os homens dominem as diversas fases da vida e do corpo das mulheres.
As mulheres vivenciam esta violência, especialmente praticada por um parceiro íntimo. O uso da violência física pelos homens é uma construção que começa ainda na infância, quando são instigados a fazer piadas que incentivam o uso da força física por meio de brigas e do uso de armas. Enquanto as meninas são incentivadas a brincar de boneca, por exemplo. Nesta área, reforçam-se as desigualdades de gênero, em que as mulheres podem ser frágeis e delicadas e os homens podem ser fortes e ter poder.
As violências psicológica e moral, também citado neste estudo pelos teóricos como tipos de violência contra as mulheres sendo a violência a mais comum.
Corroborando este estudo, outras pesquisas mostram que essa violência se manifesta por meio de insultos, humilhações e desprezo às mulheres. São utilizadas com o objetivo de fazer com que se sintam inúteis, sendo consideradas pelas mulheres mais intensas que a violência física.
Ao buscar convencer as mulheres de que elas não têm valor, o agressor as leva a acreditar que não são capazes de viver sem ele, o que dificulta a saída delas da situação de violência. Ressalta-se que a violência psicológica e moral traz diversas repercussões na vida das mulheres, como a redução da autoestima, o que pode levar ao desenvolvimento de transtornos mentais como ansiedade e depressão, entre outros.
A violência sexual reside no fato do marido e/ou companheiro obrigar a mulher a manter relações sexuais com ele, uma das formas de fazê-la cumprir seu papel de esposa, satisfazendo sua vontade e novamente demarcando as desigualdades de gênero presentes na relação homem/mulher.
Dentre os tipos de violência contra as mulheres, a dependência financeira e emocional tem impacto na dificuldade de estas saírem do relacionamento abusivo e, portanto, tendem a consentir por diversos motivos. Uma delas é o fato de não se sentirem preparadas para enfrentar os desafios de viver sem o apoio financeiro do marido. A situação piora quando têm filhos, pois acreditam que sofreriam caso abandonassem o relacionamento. Outro motivo é o desejo de manter a família unida. A privação de liberdade é outro tipo de violência relatada contra as mulheres. Para exercê-la,
por meio de sua posição de superioridade, o homem dificulta e até impede que a mulher desfrute de atividades fora do ambiente doméstico, uma vez que suas funções estão ligadas ao lar e o homem à vida pública.
Assim, a dificuldade de conviver com outras pessoas devido ao controle por parte dos homens dificulta a busca de ajuda para acabar com situações de violência.
As duplas e triplas jornadas de trabalho desempenhadas pelas mulheres também são conhecidas como um dos tipos de violência. Estes dias estão ligados à divisão desigual do trabalho, que sobrecarrega as mulheres, pois elas têm a obrigação de cuidar do homem, da casa, dos filhos e do marido e/ou companheiro. Já o homem, como provedor da família, tem serviços com a geração direta de renda. Dado que as mulheres estão envolvidas em atividades que não têm impacto direto no rendimento, o seu trabalho é invisível.
A jornada de trabalho das mulheres está ligada às desigualdades de gênero, em que são subordinadas aos homens e, portanto, o seu trabalho é visto como uma ajuda, mesmo que trabalhem tanto ou mais que ele. Dessa forma, a organização social e do trabalho repercute no sofrimento das mulheres pela sobrecarga de trabalho e sua invisibilidade.
Portanto, os tipos de violência citados que promove a dominação masculina, estão relacionadas com uma construção sociocultural que reforça a fragilidade e a resignação das mulheres face aos homens. As mulheres nesse cenário, em geral, têm pouco estudo e jornadas excessivas de trabalho, restringindo a convivência com os. Isso tende a limitar as possibilidades de as mulheres enfrentarem a violência nesse cenário.