2. O ambientalismo neopagão como religião global
Apesar disso, as ideias de White, segundo Zarraute (2023), fariam parte de uma longa batalha ideológica em desfavor do cristianismo, que iniciou-se ainda na Idade Média ocidental e atingiu o cume com a Revolução Francesa. O ambientalismo, portanto, seria tão somente uma faceta desse retorno ao neo-paganismo. No entanto, não seria o neo-paganismo igual em simplicidade e singeleza ao paganismo dos povos antigos, senão a manifestação de uma religião mundial, autoritária e preparatória para a vinda do Anticristo (Zarraute, 2023). Para tal corrente, pois, haveria uma força oculta impondo sub-repticiamente um novo paradigma mental baseado em uma pseudo-ciência, materialista e amparada pelos meios de comunicação. Essa corrente teria como fulcro o culto à natureza e ao ser Supremo, altamente divulgado durante a Revolução Francesa.
Para Zarraute (2019), as Cruzadas, expedições religioso-militares encabeçadas pela Igreja Católica para a reconquista da Terra Santa ou Palestina entre os séculos XI e XIII, contribuíram bastante para acentuar esse processo, pois o enorme fluxo de pessoas obrigou o surgimento de postos de abastecimentos em regiões antes desabitadas, fomentando, assim, o renascimento comercial (HODGETT, 1975); ademais, devido ao contato com outras civilizações, os cruzados perceberam que o dogma católico os deixava estagnados em relação às outras regiões do globo (FRANCO Jr, 1986). Logo,
Então, dizer que o ambientalismo atualmente seja uma espécie de religião que mescla paganismo e ciência não seria tão desarrazoável assim. Segundo Schneider (2019), o neopaganismo contemporâneo rejeita absolutamente o cristianismo, pois este seria o único obstáculo para o surgimento de uma religião global, mescla entre ciência, paganismo, misticismo oriental, feminismo radical, marxismo cultural e socialismo. Para ele, haveria uma espécie de neocolonialismo, no qual o multiculturalismo, o ecumenismo e o ambientalismo seriam meras propagandas de um imperialismo mundialista e plutocrático: o neopaganismo propagaria uma visão materialista, apocalíptica, base para o surgimento do profeta do anticristo.
Imagem: Celebração da festa do orgulho pagão
F onte: https://www.cliografia.com/religioes/neopaganismo/
Assim, seria em um contexto neopagão impositivo que se deveria pôr o ambientalismo radical, cuja expoente midiática de envergadura seria a ativista Greta Thunberg. Muller (2020) a trata como um ícone de uma sociedade pós-cristã, que retornaria ao paganismo socialista de Robespierre (2018), John Muir (1916), White (2007) e ao de O’Connor (1998). De fato, Thunberg possui um discurso apocalíptico, podendo enquadrar-se facilmente na corrente radical do ambientalismo: “I come from Sweden and I want you to panic. I want you to act as if your house was on fire” (THUNBERG, 2019, p. 01). Pela notoriedade que a moça tem, Maitra (2019) insinua que a mídia a idealiza com uma heroína viking ou com uma vítima da Inquisição, segundo os parâmetros hollywoodianos. Nelson (2019), no que lhe toca, assevera que a ambientalista foi escolhida por seus traços nórdicos, pela pouca idade e pelo rosto terno, justamente para cativar o público e calar os contrários por meio de chantagem emocional, pois ficaria mais difícil criticar duramente uma criança. Para ele, o dito pela jovem ambientalista torna-se perigoso para os ordenamentos jurídicos vigentes, pois legisladores estariam tomando decisões sob a égide de ideologias irrefletidas.
Imagem: “Greta, our perpetual teen of sorrow” (Maitra, 2019).
Fonte: Google.
Zarraute (2022) pondera que o discurso da ambientalista assemelhar-se-ia ao do papa Francisco. De fato, a encíclica Laudato Si’, para muitos uma apologética do paganismo e do anticapitalismo, traz o seguinte:
Muitos daqueles que detêm mais recursos e poder econômico ou político parecem concentrar-se sobretudo em mascarar os problemas ou ocultar os seus sintomas, procurando apenas reduzir alguns impactos negativos de mudanças climáticas. Mas muitos sintomas indicam que tais efeitos poderão ser cada vez piores, se continuarmos com os modelos atuais de produção e consumo” (FRANCISCO, 2015, p. 01).
Para não deixar dúvidas, o líder espiritual participou de um ritual em honra à Pachamama, no qual a xamã que o presidiu asseverou que plantar uma árvore “é acreditar numa vida a crescer e frutificar, para saciar a fome da criação da Mãe Terra” (apud URETA, 2019, p. 01). Outrossim, a xamã pediu a todos os presentes que se curvassem ante a estátua da deusa (DE SÁ, 2019).
Imagem: Papa Francisco em rito de adoração à Pacha Mama
Fonte: Instituto Plinio Corrêa de Oliveira.
Para Morás (2023), o papa estaria ferindo os princípios católicos tradicionais e deixando-se levar pelas pressões externas e, mais do que um respeitador das outras religiões, estaria permitindo a queda do catolicismo ao dar primazia a religiões indígenas, pagãs e orientais, por considerá-las mais respeitadoras do meio-ambiente (Dietrich; Almeida, 2020). Pensadores protestantes como César Vidal (2020), por sua vez, atestam que a Igreja Católica já possui, desde muito tempo, o panteísmo e o animismo dentro de seus quadros. Para quem pensa assim, pouco importa se a Igreja Católica aceitará ou não o panteísmo contemporâneo, pois o que lhes importa mesmo é que o discurso papal tem sido notoriamente anticapitalista e antiliberal, aceitando uma tendência que emergiu desde os anos sessentas, especialmente com a Teologia da Libertação (para muitos financiada pela URSS), de apontar o cristianismo como causa da crise ecológica. Daí haver uma miríade de textos de autores católicos a defender uma aceitação do animismo, mas acompanhada da crítica ao capitalismo. Tais autores tentam mostrar que a visão dada pelo Antigo Testamento se aproxima das religiões dos povos originários:
Na leitura de Gn 1, apesar dos problemas, se poderia intuir uma certa interdependência relacional na sequência ali apresentada: tudo começa com a água (1,2), depois vêm a luz e a organização das águas na terra e na atmosfera (1,3-10), depois vêm as plantas (1,11-12), os animais aquáticos e as aves (1,20-23) e por fim os répteis e os animais terrestres, entre os quais está a humanidade (1,24-27). Todos dependem uns dos outros e estão estreitamente ligados pela água, pela energia que vem do sol, pelo ar que respiram, pelos nutrientes dos quais se alimentam e pelas funções que desempenham. Muitas das religiões dos povos originários das Américas possuíam, e ainda possuem, essa compreensão relacional e não antropocêntrica da vida. Hoje sabemos pelas ciências da ecologia, e também pelas orientações das religiões ancestrais, que quando essas inter-relações são desconsideradas, produzem-se os desequilíbrios que abalam o sistema como um todo e ameaçam a grande teia mantenedora da vida (Dietrich; Almeida, 2020, p. 06).
E conclui que a hermenêutica correta da Bíblia deve levar a ter essa visão ecologista, fora disso deveria ser desconsiderada:
Assim, a leitura da Bíblia e a espiritualidade cristã podem guiar-nos a uma hermenêutica libertadora e ecológica sempre que acolherem os gritos da natureza, da vida especialmente das vidas ameaçadas. Leonardo Boff em seu livro Ecologia: Grito da Terra e grito dos pobres (1996), apregoa que devemos «Inter-relacionar o clamor dos oprimidos com o clamor da Terra». Boff afirma com veemência que «a Terra também clama. A lógica que explora as classes e submete os povos aos interesses de alguns países ricos e poderosos é a mesma que depreda a Terra e saqueia sua riqueza, sem solidariedade com o resto da humanidade e as gerações futuras». Ao deixar-se enriquecer pelas contribuições das espiritualidades dos povos originários das Américas e da África, e também pelos conhecimentos produzidos pelas ciências, o cristianismo estará mais capacitado a criticar, revisar, ressaltar ou relativizar práticas, doutrinas e instituições para coerentemente defender, promover e cuidar da vida ameaçada. Ao dar esse passo, o cristianismo estará também atualizando e permitindo que a experiência de salvação e libertação que está em sua espiritualidade original e no cerne de suas tradições sagradas, seja atualizada, reoxigenada, novamente vivida e concretamente experimentada no mundo de hoje. A Palavra de Deus é antes de tudo palavra a serviço da vida, de todas as formas de vida (DIETRICH; ALMEIDA, 2020, p. 06).
Por tal ótica, a Bíblia deve sujeitar-se a essa nova forma de entender o mundo, relacionando a proteção ambiental com as lutas de classes.
É verdade que o predecessor de Francisco, Bento XVI, foi mais arredio ao ambientalismo radical, lutando contra o progressismo dentro da Igreja (MORÁS, 2023). Isso não implica que tenha sido contrário a um governo mundial que ajudasse a proteger o meio ambiente, pois em 2009, a encíclica Caritas in Veritate propugnou de maneira imperativa a obrigatoriedade de um governo “para gestionar la economía global, para reavivar la economía golpeada por la crisis; para evitar cualquier deterioro de la presente crisis y los mayores desequilibrios que resultarían de ella; para proporcionar un desarme integral y en tiempo seguridad de alimentos y paz; para garantizar la protección del medio ambiente y regular la migración: para todo esto, existe una urgente necesidad de una verdadera autoridad política mundial” (BENTO XVI apud VIDAL, 2020, pp. 156-157).
A cúria romana, entretanto, percebendo que Bento XVI era impopular, e que o catolicismo tinha ainda como reduto forte a América, buscou alguém mais maleável e que pudesse agradar ao clero latino (mormente de cunho socialista e marxista) e a uma ala capitalista progressista, representada sobretudo pelo partido democrático norte-americano. Ou seja, um papa com sutileza política que pudesse se aproximar de quem realmente detinha o poder e que conservasse a instituição católica atuante ante um mundo cada vez mais complexo. A pessoa ideal seria o argentino e jesuíta Jorge Mario Bergoglio, quem, nas décadas de setenta e oitenta, pertencia à ala mais conservadora do peronismo, pactuando com a ditadura de Videla (MORÁS, 2023). Na década de noventa e inícios do século XX, ato contínuo, era rival dos Kirschner, mas, pela nova conjuntura, terminou por integrar o grande grupo considerado simplesmente “esquerda”, acatando a agenda progressista. Por isso, intensificou a política ecumenista, tentando conciliar cristianismo e paganismo:
Bergoglio fue elegido papa por varias razones. La primera que procedía de la única parte del mundo donde la Iglesia católico-romana no solo cuenta con influencia económica, política y social, sino donde además la mayoría de la población pertenece a esta confesión. En África y Asia, la Iglesia católicoromana tiene una presencia testimonial, y en Europa, ha ido retrocediendo de manera espectacular en las últimas décadas. En segundo lugar, Bergoglio era hispanoamericano, pero un hispanoamericano no étnico. Ni mestizo ni mulato, cualquier europeo o norteamericano podía identificarse racialmente con él, algo lógico porque, afín de cuentas, era hijo de italianos emigrantes a Argentina. En tercer lugar, Bergoglio era la persona idónea para mantener unas relaciones ideales con los dictadores del denominado socialismo del siglo XXI. No solo Fidel Castro sino Evo Morales, Hugo Chávez, Daniel Ortega o Rafael Correa podían sentirse más que a gusto con un papa que condenaba el libre mercado, que atacaba a los Estados Unidos, y que consideraba que existían enormes coincidencias entre la doctrina social católica y el comunismo castrista. Por añadidura, en el momento de su elección, parecía que ese tipo de regímenes se prolongaría en el tiempo y que incluso se extendería a otras naciones. En cuarto lugar, Bergoglio era un personaje en apariencia ideal para intentar neutralizar el avance de las iglesias evangélicas en Hispanoamérica, iglesias que han desplazado a la Iglesia católico-romana en zonas enteras del subcontinente como es el caso de la Amazonia. Finalmente, Bergoglio podía encarnar perfectamente el respaldo a la agenda globalista que ya había sido avanzado por pontífices como Juan XXIII, Juan Pablo II o Benedicto XVI. Debe reconocerse que Bergoglio, convertido en el papa Francisco, ha estado totalmente a la altura de esa misión (VIDAL, 2020, pp. 164-165).
Aqui deve-se chamar a atenção para dois pontos: a política geral da Igreja Católica e a postura individual do citado papa. Para Morás (2023), desde meados do século XIX, um segmento da Igreja Católica, aliando-se com sindicalismo e movimentos de esquerda, contrários à burguesia financeira e industrial, reagiu contra o predomínio do capitalismo financeiro de cunho burguês. Com isso, as lutas sociais ganharam força, e uma parte da Igreja Católica, - com sua tendência para a autossustentabilidade e vinculação à terra (afinal assim era na Idade Média), ao cooperativismo, ao ambientalismo e à agricultura familiar -, começou a combater o grande capital, da mesma forma que este a combateu durante a Revolução Francesa. Nesse sentido, a luta obreira por melhores condições laborais e salariais vincularam-se à luta entre três sistemas políticos-econômicos: um remanescente ainda do feudalismo, comandado por um segmento da Igreja; outro, comunista; e, por fim, o último, de base capitalista. Em termos gerais, pode-se afirmar que a Igreja Católica tem, desde o Concílio Vaticano II (1961-1965), adaptando-se ao novo paradigma mundial: aproximou-se em seus ritos do protestantismo, principalmente o neopentecostal, acatou muitas das reivindicações dos papas socialistas e marxistas, permitindo surgir a Teologia da Libertação, voltou-se para o ecumenismo e multiculturalismo e acenou para a corrente ambientalista (ZARRAUTE, 2023).
Sofria, entretanto, nesse ínterim, uma espécie de guerra civil entre duas grandes ordens: Opus Dei (considerada mais tradicional e valorizadora do trabalho e empreendedorismo) e Companhia de Jesus (criticada por ter mais viés socialista), estar atrelada ao poder e ser responsável pelo surgimento do comunismo (Morás, 2023). Perdendo cada vez mais prestígio, poder e fiéis para os evangélicos, a Igreja, durante a Guerra Fria, através de João Paulo II, apoiou as nações capitalistas, mas sem fechar definitivamente a porta para as comunistas. Não por acaso, em 1998, publicou-se o livro Diálogos entre Juan Pablo II y Fidel Castro, prefaciado por Jorge Bergoglio, então arcebispo de Buenos Aires, que postulava, no referido prefácio, que “a partir de la Encíclica Laborem Exercens, Juan Pablo II ha contribuido con un aporte notable a abrir el diálogo entre el cristianismo y el marxismo. Considera que es el sistema marxista el punto de partida para poder develar y visualizar los límites y los obstáculos erigidos contra la concreción de un proyecto humanístico”. Bergoglio insistia que “desde que en 1990 Fidel Castro propone una alianza estratégica entre cristianos y marxistas, no ha cesado en sus intenciones por encontrar y demostrar convergencias o puntos de conexión entre el catolicismo y los postulados de la revolución”. Demonstra ainda certo carinho ao regime cubando: “No hay otro país en mejores condiciones para comprender la misión del papa, ya que la labor desplegada por el pontífice coincide con la predicada por el gobierno cubano, especialmente en cuanto a la distribución equitativa de la riqueza y a las aspiraciones de globalización de la solidaridad humana”. E, por fim, arremata: “La doctrina de Carlos Marx está muy próxima al Sermón de la Montaña” É algo para se pensar, pois a diplomacia do Vaticano e a ditadura castrista estão numa mesma marcha, em se tratando de distribuição da riqueza e na busca de um governo global.
A igreja romana tenta reverter a perda de poder que, desde a Reforma Luterana, vem sofrendo. De um lado, prega um modo de viver mais ligado à terra, à agricultura familiar, tendo em muitos clérigos a Teologia da Libertação como a base. Esta teoria está ligada ao marxismo e aos movimentos socialistas e não rejeita o ambientalismo progressista atual.
O discurso do papa Francisco, entretanto, seria anticapitalista e ambientalista apenas na teoria, pois, na prática, segundo Morás (2023), ao instante em que o papa fazia ritos de louvores à mãe terra, o banco do Vaticano investia em combustível fóssil, demonstrando que o ambientalismo preconizado pelo líder do clero é mais uma política temporária do que uma convicção real no seio da Igreja. Isso leva Vidal (2020) e Morás (2023) a inferirem que a supracitada encíclica Laudato Si’ representaria a inteira submissão de Francisco à elite progressista norte-americana, patrocinada pelos Clinton, Gates e Soros, desenvolvimentistas, bélicos e capitalistas ao extremo, que desejariam um governo único, estatizante, que imponha normas sobre todas as nações e que leve o livre mercado e normas únicas para nações concorrentes como China e Rússia. A título de ilustração, conforme Morás (2023), em 2015, Francisco viajara aos Estados Unidos financiado pela fundação George Soros, para ajudar na campanha presidencial de Hillary Clinton:
August 23, 2016 (LifeSiteNews) – Leaked emails (19) through WikiLeaks reveal that billionaire globalist George Soros – one of Hilary Clinton's top donors (20) – paid $650,000 to influence Pope Francis’ September 2015 visit to the USA with a view to ‘shift[ing] national paradigms and priorities in the run-up to the 2016 presidential campaign.’ The funds were allocated in April 2015 and the report (21) on their effectiveness suggests that successful achievements included, ‘Buy-in of individual bishops to more publicly voice support of economic and racial justice messages in order to begin to create a critical mass of bishops who are aligned with the Pope.’ The monies were granted to two US entities that have been engaged in a long-term project, according to the report, of shifting ‘the priorities of the US Catholic church.’ Grantees were PICO, a faith-based community organizing group, and Faith in Public Life (FPL), a progressive group working in media to promote left-leaning ‘social justice’ causes. Soros has funded left-wing causes the world over and was just found (22) to have been funding an effort to eliminate pro-life laws around the globe (WESTEN, 2016, p. 01).
Depois disso, segundo Wikileaks, a maioria dos eleitores católicos voltou-se aos democratas. Não por acaso o acercamento entre Hillary Clinton e o papa:
Other faith traditions believe this, too — including mine. As a Methodist, I was taught that we have a sacred duty to care for God’s earth. “All creation is the Lord’s,” say the Methodist social principles, “and we are responsible for the way we use and abuse it.” As a person of faith, a mother, and a grandmother, I am deeply moved by Pope Francis’ recent teachings on climate change — to reflect and above all to act. The effects of climate change are too obvious to ignore. We can see them with our own eyes, in our own communities. In California, higher temperatures have worsened a brutal drought, which has lasted four years and shows no signs of abating. In New York, flooding from Hurricane Sandy was made worse by the fact that New York Harbor is nearly a foot higher now than it was 100 years ago. In Alaska, villages that were settled before the United States even existed are facing imminent destruction because of a rising ocean, retreating ice and more violent storms. There’s no time to waste. We have to act now. Pope Francis is right. All countries and all people are responsible for preventing the worst impacts of climate change. But countries like the United States have a particular role. We are rich, powerful, and blessed with many advantages. We must lead the charge. Climate change will have serious economic and public health consequences for the United States — but that’s nothing compared to what some other countries face. (Clinton, H, 2015, p. 01).
E se fosse eleita, Hillary Clinton faria:
And as president, I hope to follow his example. I will make combating climate change a top priority of my administration. We’ve made progress in promoting clean energy. Now we must do more to help developing countries embrace lower-carbon fuel sources, and continue to pick up our pace at home. We’ve made progress in managing our lands and waters. [...] We’ve made progress in cleaning our air over the last 40 years. Now we must do more to protect our poorest and most vulnerable citizens — including the elderly, children and communities of color — from the worst health effects of climate change (Clinton, H, 2015, p. 01).
Por tudo isso, Morás (2023) assegura que a assessoria do Vaticano aliou-se ao ambientalismo radical por meio de dois personagens principais, Jeffrey Sachs, então presidente do Instituto da Terra, da universidade de Columbia, órgão patrocinado pela fundação Bill Gates10 e pela Open Society, de George Soros; e Joseph Stiglitz, prêmio nobel de economia, ex-diretor do Council of Economic Advisers, durante o governo de Bill Clinton, e vice-presidente sênior de políticas para o desenvolvimento do Banco Mundial, defensor de uma moeda mundial única, crítico da livre empresa, neokeynesiano e favorável à uma nova ordem econômica mundial em que os donos de grandes fortunas (ao menos as dos seus rivais políticos) tenham seu poder político cerceado pelo Estado. Sobre isso, aponta as medidas que o Estado deve tomar nessa nova ordem para lidar com os magnatas conservadores:
La primera y más obvia es frenar su poder político. Si lo conseguimos estaríamos restaurando la democracia para cambiar las reglas del juego de manera que se frenaría su poder económico. Así crearemos una sociedad donde el poder se distribuya más equitativamente y estaría menos concentrado, por eso no se puede separar la política de la economía. El capitalismo progresista del que hablo puede cambiar las actitudes de la gente. No todo el 1% es tan egoísta como los Koch (23) o Trump, hay mucha gente en el 1% que usa su dinero para el bien público. Si hacemos que el capitalismo progresista funcione, ayudaríamos a que más gente trabaje por el bien público (STIGLITZ, 2020, p. 01).
Stiglitz defende, portanto, que deve-se frear o mercado e acabar com o que ele denomina “desequilíbrios políticos”, ou seja, aqueles que discordam da mensagem de um prognóstico catastrófico sobre o meio ambiente devem ser silenciados. Também defende a passagem para uma “economia verde”:
Al mismo tiempo, creo que hay muchas necesidades importantes que nuestra sociedad exige como gestionar nuestro camino a través de la transición ecológica. Las personas quieren trabajar y nuestra sociedad necesita trabajadores para hacer esta transición verde, por lo que nuestra primera responsabilidad debería ser proporcionar empleo a todos los que quieran trabajar (STIGLITZ, 2020, p. 01).
Basicamente, o que seria essa “transição verde”? O controle das grandes fortunas ligadas à terra, ao agronegócio, a criação de reservas infindáveis e intocáveis, tudo isso sob a égide de um governo mundial, controlado por um grupo de ricaços progressistas (VIDAL, 2023).
Como consequência de tudo isso, Maitra (2019) citou um evento ocorrido no Seminário Teológico de Nova York, no qual os alunos disseram haver confessado seus pecados contra os vegetais. Destacou também o ocorrido em uma reunião nos Alpes, onde um grupo de suecos organizou o funeral de uma geleira. Dessa forma, “o surgimento de temas pagãos nos círculos ambientalistas faz parte de uma tendência de afastamento das fés judaico-cristãs e de aproximação a religiões como a Wicca, que ganhou popularidade entre millennials, público-alvo mais preocupado com as mudanças climáticas” (PIERRE, 2019, p. 01). Na mesma linha, Gerard Baker considera os movimentos ambientais como “a religião secular do mundo moderno” (Wall Street Journal), sendo o grupo Extinction Rebellion 11 uma das faces dessa nova religiosidade.
Imagem. Ativistas do Extinction Rebellion: a face mais evidente da “religião secular do mundo moderno”.
Fonte: New York Times: https://www.nytimes.com/2019/10/28/opinion/extinction-rebellion-london.html
O grupo britânico faz passeatas e busca regenerar a cultura mundial. Contudo, para Pierre (2019) e Cann (2019), os neopagãos têm discursado muito sobre a paz e a democracia, rindo-se dos céticos e utilizando-se de dados e previsões falsas, adorando-se mais a si mesmos e menos a natureza e ameaçando por meio de violência aqueles que não aceitam ou fazem o que eles desejam.
Com o mesmo objetivo, estaria a ativista ambiental e deputada norte-americana Ocasio-Cortez, quem propôs o New Deal Green, cuja mensagem principal coloca a atividade humana como devastadora de geleiras, furacões e secas. Defende que se aumentarem 2ºC acima do período pré-industrialização, 350 milhões de pessoas serão vítimas de “estresse moral causado pelas ondas de calor”, ademais noventa e nove por cento dos recifes extinguir-se-iam. Em termos econômicos, assevera que a crise climática arruinaria a economia dos Estados Unidos, fazendo tal nação perder um trilhão de dólares “em danos à infraestrutura de imóveis costeiros”: O New Deal colocou “pilotos, agricultores e mineradores no mesmo balaio. Ele propõe que mobilizemos o país de uma forma não vista ‘desde a Segunda Guerra Mundial’ para eliminar os aviões e os bois flatulentos do planeta. Para isso, temos primeiro de ‘revolucionar o transporte e a agricultura’, o que quer dizer que o governo federal deve eliminar as indústrias do transporte e agricultura como elas existem atualmente” (PIERRE, 2019, p. 01).
O ambientalismo, para tais autores, toma alguns elementos da tradição judaico-cristã. Mead (2014), por exemplo, investigou as correntes ambientalistas e encontrou-lhes origem abraâmica. Ele considera os ativistas abraâmicos inconscientes ao possuiriam paradigmas mentais semelhantes aos das religiões abraâmicas. Logo, na cosmovisão ambientalista pós-moderna, o Éden terrenal seria anterior à Revolução Industrial: “Os homens foram expulsos da história ao começarem a desmatar o mundo e a queimar combustíveis fósseis emissores de gases poluentes para cuidar de sua prole e fazer a economia crescer” (Pierre, 2019, p. 01). Portanto, a destruição total virá “quando o homem deixar de reconhecer a ‘integridade da natureza não humana’ provocar uma catástrofe mundial que destruirá o planeta como o conhecemos” (Pierre, 2019, p. 01). Dessa forma, continua o autor, os fiéis ativistas pregariam o evangelho do conservacionismo ambiental, pretendendo como isso redimir os pecados ambientais praticados pelo homem:
Eles nos aconselham a nos abstermos de carnes para reduzirmos nossa ‘pegada de carbono’, e preveem que a Terra será destruída, a não ser que os governos de todo o mundo confiem no oráculo que lhes fez essa revelação. Os adoradores do clima se apropriam de aspectos do cristianismo para conclamar o mundo a se arrepender de seu ‘Pecado Original de uma revolução industrial baseada no carbono’ [...]. Conscientemente ou não, os fiéis dessa religião têm adotado o conceito cristão do Juízo Final ou Fim do Mundo (Pierre, 2019, p. 01).
No mesmo rumo, Peterson e Wood sustentam que o ambientalismo
like Christianity, offers a view of the Earth as once-pristine and pure but now fallen; it recognizes the sinfulness of humanity; it offers forms of expiation and absolution; and it puts these elements together in a master narrative of an impending catastrophe that will punish mankind for its iniquity. Sustainability, like Christianity, insists on our guilt, which is both collective and individual. Sustainability also elevates certain individuals as exceptional and able to show others the way. The prophets or saints or the elect of sustainability are those who foresee the catastrophe ahead and are warning us now. Unlike Christianity, which sees redemption ultimately actualized in the next life, sustainability’s adherents believe it is in their power to redeem themselves and other sinners here and now (PETERSON; WOOD, 2015, p. 30).
O ambientalismo aí, portanto, critica a noção de sustentabilidade, tratando a Terra como um lugar anteriormente puro, hoje, porém, maculado pela revolução científico-capitalista; apregoa ainda o traço pecaminoso do humano, sugerindo-lhe maneiras de expiação. Contudo, a redenção não seria espiritual ou para após a morte, a proteção ambiental asseguraria o paraíso neste mundo.
Nessa crítica ao capitalismo, o ambientalismo pagão adotaria traços ocultistas. Zarraute (2022), Nelson (2019), Schneider (2019) insinuam que o ambientalismo pagão sofre influências do movimento New Age, o qual se expandiu bastante na Europa durante os anos 80, embora já tivesse suas raízes fincadas no ocultismo de Madame Blavatsky, no movimento hippie e punk, por exemplo. Para Birchal (2006), o mundo contemporâneo gerou incertezas na mentalidade humana, pois os paradigmas considerados absolutos e garantidores de uma sensação de paz espiritual teriam sido sacudidos pela ciência iluminista e materialista. Com a Nova Era, a volatilidade das sensações reclamaria, pois, uma espiritualidade superficial, sem rigores doutrinários e adequada a uma existência baseada no carpe diem, no viver intensamente o presente como se não houvesse nada mais. Assim, as religiões tradicionais seriam questionadas ou adaptadas ao esoterismo, misticismo e ocultismo, dando uma camuflagem holística e sensual a uma fé niilista. Por conseguinte, a religiosidade assumiria um traço individualista, descompromissado com uma entidade superior, imediatista e sentimentalista, tratando de resgatar práticas da Antiguidade em ânsia de recuperar um reencantamento da realidade, sob a ótica, porém, de uma sociedade apressada e agitada como o é a globalizada. No contexto ocidental, o cristianismo seria mitigado por filosofias de matriz oriental e por uma noção de que o poder da mente humana é quase infinito, podendo fazer milagres se houver uma fé inquebrantável de que forças ocultas agem no cérebro do homem. Nessa nova perspectiva, haveria uma remodelação do sagrado, considerando-o como apto a ser desvelado por toda e qualquer religião que não tivesse os preceitos patriarcalistas, dogmáticos e apocalípticos, tais como as de matriz hebraica.
Imagem. A Contracultura hippie e a sociedade alternativa ambiental.
Fonte: Jacobin: https://jacobin.com.br/2021/04/os-hippies-sovieticos/
No entanto, o conhecimento pregado, embora não comprovado cientificamente, teria por objeto lograr o controle sobre o meio ambiente, dessa forma, cada vez mais, o termo religião passaria a ser trocado por magia, mitos e lendas. Como o cérebro seria a fonte irradiante de toda a religiosidade, careceria de meios para potencializá-lo, aqui entrariam os alucinógenos. Em transe estupefaciente, os homens atingiram a divindade, tal como o nirvana budista o pretende fazer:
Os errantes do subjetivismo New Age não demonstram a pretensão de encontrar uma unidade religiosa completa, posto que é o próprio caminhar por diversas tradições que lhes permite vivenciar situações que preencham sua porosidade religiosa dinâmica. Esta pluralidade de experiências, fruto do processo de secularização, é construída na ausência de sentidos, imediatismo, hedonismo, narcisismo, individualismo e consumismo, características próprias da mentalidade pós-moderna, profundamente introjetadas nos corações contemporâneos (BIRCHAL, 2006, p. 97-105).
Dessa forma, por trás dos dados supostamente científicos, que o ambientalismo usaria para defender o clima, estaria a adoração panteística de Gaia ou da Pacha Mama em simbiose com um esoterismo similar ao de Marcião de Sinope12, quem sustentava que o Deus hebreu era inconsistente, ciumento e genocida, e que o universo criado por ele era defeituoso, e Cristo não era o messias judeu, senão uma espécie de espírito enviado pelo Ser Supremo para combater ao Deus hebreu, permitindo a humanidade sair da armadilha em que estava (HARNACK, 1961, p. 01). Marcião via oposição irremediável entre o Antigo Testamento e a noção paulina de graça, contida nos Evangelhos. Aprofundou essa oposição ao extremo, concluindo que o Antigo Testamento era a negação do Evangelho de Jesus. Para ele, no Antigo Testamento, Deus havia estabelecido leis, retribuições, ameaças e castigos; já o Ser Supremo não julgaria nem ameaçaria, porquanto seria pura bondade, garantido a salvação para todo e qualquer humano. Acreditava que Deus, o Pai de Cristo, era diferente do Deus criador que inspirou a lei mosaica. Dessa forma, distinguia o Criador, Deus dos judeus, autor da Lei e do cosmos, e o Deus Supremo, Pai de Jesus, embora os evangelhos, assim como algumas cartas de Paulo, neguem tal oposição, inferiu, portanto, que inclusive os primeiros discípulos não compreendiam a verdade dos Evangelhos (MARCIÃO apud FERNÁNDEZ, 2001, p. 42).
Marcião eliminou de seu cânon tudo o que se referisse ao Antigo Testamento. Mesmo assim, o seu Ser Supremo pode ser identificado com Lúcifer, quem enganou a Eva: a maçã do texto sagrado é um símbolo de rebelião, porquanto o homem, em conluio com a serpente, tentou uma espécie de golpe de Estado, contestando os cuidados divinos. O castigo, infere-se, é estar sob a égide de Lúcifer. No fundo, a fruta comida representaria a obtenção de consciência e saber e, sobretudo, a capacidade de decidir o próprio destino. Ou seja, os primeiros humanos rejeitaram a proteção divina e se prostraram de joelhos àquilo que seu próprio esforço podia dar-lhes. A serpente os enganou prometendo-lhes liberdade, levando-os a crer que Deus mentia, que era opressor.13 O homem, a partir desse momento, começou a decair. Lúcifer deu à Eva a ciência, a capacidade de usar a razão, e as ferramentas obtidas por esta para alterar o meio circundante. Não é à toa que Lúcifer encontra-se representado na cultura greco-romana como Prometeu,14 quem havia roubado dos deuses o fogo (ou seja, a luz racional, a ciência e a tecnologia) para dá-lo ao homem. Zeus o castigou duramente por tal ato. A benevolência de Prometeu com o humano gerou tão contundente reação, colocando, aparentemente, a Zeus como um deus cruel. Na mitologia grega, Prometeu é resgatado por Hércules, e é tido como um benfeitor da humanidade, porque tirou dos deuses uma ferramenta de domínio (a reflexão racional) e a distribuiu para o homem; já Lúcifer, para a mentalidade judaico-cristã, é quem tirou a humanidade de um estado de equilíbrio e paz para lançá-la numa agitação constante, no medo e na falsa esperança de que a ciência-tecnologia finalmente liquidará a morte e trará o paraíso de volta à Terra.
Dessa consigna, Irineu de Leão (2020) inferiu que, para Marcião, todos os que trabalharam contra o Deus hebreu seriam bons: Caim e os que a ele se assemelha, assassinos, criminosos em geral, estupradores etc., ou seja, aqueles que se entregaram a iniquidades teriam sido salvos por Jesus quando ele desceu ao inferno. Por outro lado, Abel, Enoque e Noé, assim como os demais justos, os patriarcas, os profetas e todos que viveram conforme a vontade do Deus do Antigo Testamento, não conseguiriam salvar-se: “Los que agradaron al Dios justiciero del AT no están bien predispuestos a recibir una salvación gratuita. Al contrario, los injustos ante el Dios de la Ley están mucho mejor preparados para abandonarse con fe a un mensaje de salvación” (FERNÁNDEZ, 2001, P. 01). Assim, Jesus seria o equivalente hippie do paz e amor, rompendo com o moralismo e a doutrina rígida impetrada por Deus, pregando um liberalismo e o amor livre.