Capa da publicação Obsessão pela beleza: bullying, crime e depressão
Capa: Sora
Artigo Destaque dos editores

Bullying, crime e depressão: as faces ocultas da busca pela perfeição

Exibindo página 1 de 2

Resumo:


  • A sociedade tem presenciado uma explosão de técnicas e produtos voltados à estética, refletindo uma busca incessante por ideais de beleza.

  • A demanda por tratamentos estéticos aumentou significativamente nos últimos tempos, levantando questões sobre a saúde e segurança dos indivíduos envolvidos.

  • A busca por padrões de beleza, muitas vezes irreais, tem sido acentuada pelas redes sociais, podendo desencadear frustrações e até quadros de depressão.

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

A busca excessiva por estética idealizada causa impactos sociais e psicológicos graves. Como o culto à beleza nas redes pode gerar bullying, depressão e até crime?

Resumo: Nos últimos tempos a sociedade tem presenciado uma explosão de técnicas e produtos voltados à estética, no que parece ser uma busca incansável por ideais de beleza, nem sempre possíveis de serem alcançados. Neste trabalho será buscado compreender o que se oculta por trás da elevação na demanda por tratamentos dessa natureza, sobretudo, quando não se relacionam a meras correções ou suavizações de marcas decorrentes do processo natural de envelhecimento, mas sim quando os desejos de mudanças se apresentam precocemente ou quando as buscas são demasiadamente idealizadas. Analisaremos ainda esse fenômeno sob as ópticas filosófica e jurídica, como forma de projetarmos seu impacto social.

Palavras-chave: Beleza, Bullying, Crime, Depressão, Filosofia.


INTRODUÇÃO

Desde os primórdios, ao que parece, a espécie humana tem se fascinado pelo que é entendido como esteticamente bonito em cada época ou lugar. Até aqui, nada de anormal, pois esse comportamento humano tem sido, ao longo das gerações, considerado bastante razoável e, portanto, aceitável e até mesmo encorajado.

Em torno dessa busca pela beleza, naturalmente, desenvolveu-se uma indústria especializada nesse nicho do mercado dedicado a atender aos anseios daqueles que buscam melhorias nos seus aspectos físicos, como, por exemplo, correções decorrentes de acidentes ou moléstias, bem como, apenas suavizar algumas marcas que o decurso do tempo, implacavelmente, impõe a todos nós sem distinções.

Tudo isso é bastante natural e não pode ser alvo de qualquer reprovação, pois, como será observado, o Brasil sempre esteve muito atento através de seus órgãos fiscalizadores, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, bem como por meio dos órgãos reguladores das atividades de profissionais da saúde, como os Conselhos de Medicina, Enfermagem, Odontologia e outros, já que, em níveis diferentes, todos eles, respeitadas as normas e os limites, podem realizar procedimentos estéticos, inclusive com administração de substâncias e uso de técnicas destinadas a essa finalidade.

Ocorre que, como será demonstrado, nos últimos tempos tem surgido um fenômeno que parece forçar os limites impostos pelas boas técnicas e recomendações daqueles que, com seriedade, ética e profissionalismo, atuam no segmento da estética que, mesmo tendo atingido níveis de excelência, graças aos avanços farmacológicos e de técnicas comprovadamente eficazes, possui limites que não convém que sejam forçados, sob o risco de comprometer a saúde dos indivíduos e com potencial para se transformar numa verdadeira questão de saúde e, quiçá, de segurança pública, graças ao impulso dado pela ditadura das imagens, na qual se converteram as redes sociais.


VAIDADE DE VAIDADES! TUDO É VAIDADE

Aludindo ao texto bíblico (Eclesiastes 1:2), iniciemos este capítulo, no qual buscaremos demostrar, com os auxílios da filosofia e da história, o quão relevante é a imagem pessoal para os indivíduos. Alguns de nós até podemos considerá-la de pouca importância, – pelo menos da boca para fora – mas o fato é que todos nós temos, em certa medida, alguma vaidade relacionada à aparência física. Seja escolhendo uma roupa que nos cai bem e que, talvez, ajude a esconder alguns quilinhos extras, seja optando por um corte de cabelo que, quiçá, disfarce melhor aquela calvície que já começa a incomodar, todos buscamos, em maior ou menor grau, alguma melhoria no visual. Isso é tão natural quanto saudável, afinal de contas, autoestima e sentir-se bem são coisas muito positivas e não podem, sob nenhum prisma, serem reprováveis.

Até mesmo um dos mais célebres mestres do pensamento filosófico, para quem poderíamos imaginar que a aparência física nada tinha de relevante, visto que primava pelo intelecto aguçado, legou-nos, em suas obras, ensinamentos dos quais podemos inferir o exato oposto, senão vejamos:

A beleza é parcialmente análoga à saúde. Apesar de esse bem subjetivo não contribuir diretamente à nossa felicidade, mas apenas indiretamente, pela impressão que produz em outrem, tem, não obstante, uma grande importância até mesmo ao homem. A beleza é uma carta aberta de recomendação que nos conquista corações de antemão (SCHOPENHAUER, pág. 10, 1851).

O fragmento acima foi extraído da obra Aforismos para a Sabedoria de Vida, do filósofo polonês Arthur Schopenhauer (1788 – 1860). Na obra, ele analisa a vida humana, dividindo-a em três partes: 1) o que um homem é; 2) o que um homem tem e 3) o que um homem representa, sendo que na primeira parte, ou seja, analisando o que um homem é, o filósofo dedicou um capítulo a refletir sobre a importância da beleza em nossas vidas. Claro que não se pretende aqui invocar um nome da altura de Schopenhauer para desencorajar opiniões divergentes. Não é disso que se trata, mas sim, da necessidade de trazer ao bom debate uma figura que, indubitavelmente, detinha pensamentos bastante afiados e lúcidos da vida dos homens e dos costumes da sociedade, além de ser fato que ele não se podava de transcrevê-los com muita habilidade em suas obras, que até os dias hoje nos auxilia a viver e surpreende com seu caráter atemporal.

Mas se as palavras de um importante filósofo do século XVIII ainda não bastam para fazer crer na importância da beleza para a espécie humana e na sua relevância na vida em sociedade, retrocedamos ainda mais:

Os mais antigos indícios achados por arqueólogos datam do Egito Antigo, por volta de 3000 antes de Cristo. “Considerada uma arte pela civilização egípcia, a maquiagem se originou com o kohl”, afirma a físico-química Inês Joeques, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O kohl é um pigmento preto ainda hoje usado como sombra – isto é, para sublinhar o contorno dos olhos e escurecer cílios e sobrancelhas. Esse e outros antepassados da maquiagem também seriam desenvolvidos milênios mais tarde na Europa, tanto na Grécia como na Roma antigas, onde embelezavam não apenas as mulheres, mas igualmente os homens (Revista Superinteressante, 2011).

Pois é, ao que parece, não importa o contexto social e nem mesmo a região geográfica ou seu clima. A beleza sempre teve papel preponderante na história humana, já que parece transcender o bem-estar pessoal, impactando, por meio da visão, as pessoas com as quais temos contato, sendo, portando, como concluiu Schopenhauer, uma espécie de carta de recomendação e, neste sentido, encerra o potencial de levar a uma melhor aceitação por parte de indivíduos ou grupos sociais.

Logo, sendo um aspecto de tamanha relevância, o autocuidado com a aparência física, seja no sentido de manutenção, seja no sentido da busca por melhorias através de procedimentos estéticos, invasivos ou não, nada tem de anormal ou de estranho, mas apenas revela mais uma das muitas facetas da natureza humana.


ISSO É MESMO NECESSÁRIO?

Convencidos da importância da beleza nas vidas das pessoas, bem como da sua relevância social ao longo da história documentada da humanidade, talvez tenhamos agora condições de analisar e de diferenciar quando a busca por aspectos considerados belos se afiguram razoáveis e até necessários, de outras que parecem extravagantes e até precoces demais.

Frisa-se, desde logo, que as considerações feitas neste trabalho não constituem, sob nenhum aspecto, críticas à estética como recurso a ser buscado. Está bem distante disso. O que se pretende, na verdade, é lançar luz sobre alguns fenômenos que parecem ganhar cada vez mais força, como buscas por mudanças radicais na aparência física, o que, por vezes, força os limites das técnicas disponíveis, além da busca por tais recursos por pessoas cada vez mais jovens, como veremos:

A busca por cirurgias plásticas para deixar a aparência igual a de pessoas muito famosas também está relacionada ao dismorfismo. Nesses casos, a pessoa pode ter uma preocupação excessiva e irracional com a aparência e pode acreditar que, ao se parecer com um famoso ou corrigir uma parte do corpo, vai melhorar sua autoestima e sua vida como um todo. No entanto, é importante lembrar que a cirurgia plástica não é uma solução para problemas emocionais ou psicológicos. Além disso, o transtorno do dismorfismo corporal pode levar a um loop eterno de cirurgias e mais cirurgias, até atingir uma ‘perfeição’ que nunca chega (Portal de notícias Novo Momento, 2023).

O fragmento acima foi extraído da matéria intitulada Fez mais de 30 cirurgias plásticas pra parecer Ricky Martin, publicada em 03/07/2023 no portal de notícias Novo Momento, fazendo alusão à transformação pela qual o ator argentino Francisco Mariano Javier Ibanez tem se submetido para se parecer com o seu ídolo. A reportagem bem demonstra o que se quer dizer aqui com extravagâncias e exageros em tratamentos estéticos. Em entrevista ao portal e no bojo da mesma reportagem, o médico Luiz Anízio Wanna, que é membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, fez o alerta acima para as causas e as consequências de práticas desse tipo.

Outro fenômeno que abordaremos aqui é o da busca precoce por mudanças radicais na aparência física e como parece estar relacionado – ou tem sido acentuado – com o advento das redes sociais:

O Brasil é líder mundial no ranking de cirurgias plásticas em jovens. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), dos quase 1,5 milhão de procedimentos estéticos feitos em 2016, 97 mil (6,6%) foram realizados em pessoas com até 18 anos de idade. Entre as justificativas para o quadro está a insatisfação com a própria imagem e, segundo o psicólogo Michel da Matta Simões, pesquisador da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, boa parte é motivada por demandas sociais “que exigem dessas pessoas mais do que elas podem ou se sentem capazes de oferecer” (Jornal da USP, 2021).

Depreendemos do fragmento acima, extraído da matéria intitulada Cresce em mais de 140% o número de procedimentos estéticos em jovens, publicada em 11/01/2021 pelo Jornal da USP, reflete perfeitamente o que é buscado expor neste trabalho, ou seja, a precocidade na busca por tratamentos estéticos, instigada por padrões de beleza apresentados a pessoas cada vez mais jovens nas redes sociais. Mas constatações dessa natureza não ficam restritas ao jornalismo genérico ou revistas universitárias. A imprensa especializada em saúde, beleza e glamour já trata do assunto com preocupação, senão vejamos:

Pré-adolescentes têm rotinas anti-idade. Avós estão fazendo “glamma makeovers” (transformações glamourosas, em tradução livre). Em algum lugar no meio disso tudo, uma mulher de 38 anos está gastando 140 mil dólares em um lifting facial preventivo.

E prossegue:

As pessoas vão manter aquilo que as faz se sentir bem — um padrão bem fácil de atender quando todo o resto parece tão ruim. Dizem que a beleza dói, mas talvez o mais correto seja dizer que a dor alimenta a beleza. Quando o mundo parece instável, insuportável, fora de controle, as pessoas tentam controlar o que podem: seus rostos (DEFINO, 2025).

Fique sempre informado com o Jus! Receba gratuitamente as atualizações jurídicas em sua caixa de entrada. Inscreva-se agora e não perca as novidades diárias essenciais!
Os boletins são gratuitos. Não enviamos spam. Privacidade Publique seus artigos

Os fragmentos acima foram extraídos da matéria intitulada Estamos caminhando para um burnout da beleza? Publicada recentemente na tradicional Revista Vogue, que há anos aborda, com excelência, temas relacionados ao mundo da beleza, tratou do assunto com bastante profundidade, trazendo um panorama dos motivos que estão por trás do fenômeno da radicalização na busca de procedimentos, por vezes invasivos, motivados, sobretudo, pela aparente insatisfação com a própria imagem, desencadeada, em grande parte dos casos, pela busca de aceitação, que se viu recrudescida pela excessiva exposição nas redes sociais, que parecem ter assumido uma forma de comunicação imagética e, portanto, não verbal, na qual a imagem acaba se sobrepondo ao conteúdo escrito ou falado, que se veem relegados a um segundo plano, quando não são, simplesmente, inexistentes.


ESPELHO, ESPELHO MEU

Iniciemos este capítulo com a famosa frase extraída da obra Branca de Neve, dos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm, publicada pela primeira vez no distante ano de 1812 e, mesmo correndo o sério risco de parecer, a olhos menos atentos, um exemplo pueril do que pretende demonstrar, não nos desesperemos, pois tudo fará bastante sentido nos parágrafos vindouros, nos quais invocaremos, também, a filosofia em nosso auxílio.

No conto de fácil linguagem e bastante suavizado, como é de se esperar de textos dirigidos ao público infantil, deparamo-nos com uma aparente contradição, afinal de contas, a obra trata de coisas bastante adultas, como a inveja que é despertada na personagem da Madrasta Má, em relação a sua enteada, Branca de Neve. Mas o "cordão de Ariadne" entre o conto infantil e este trabalho consiste não apenas no sentimento negativo citado, que também é muito relevante, mas, talvez, nem tanto quanto o motivo que o fez despertar, ou seja, a beleza, senão vejamos:

Era uma vez uma princesa que se chamava Branca de Neve. Quando bebê, sua mãe faleceu, e seu pai se casou com outra mulher, que, embora fosse muito bonita, era cruel e vaidosa. E, todos os dias, a madrasta perguntava ao seu Espelho Mágico: — Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu? — Não, rainha! Em todo o mundo, não há beleza mais deslumbrante que a sua!

E prossegue:

Porém, Branca de Neve cresceu e se tornou uma jovem de beleza única. Certo dia, ao repetir a mesma pergunta ao Espelho, a rainha se surpreendeu: — Lamento, mas Branca de Neve se tornou a mais bela. Não se aguentando de inveja, a rainha chamou um de seus guardas e ordenou: — Conduza a princesa até o bosque e acabe com a vida dela (GRIMM, pág. 3. – 5, 2020).

Muita calma nessa hora! Ninguém tem a menor pretensão de destruir a infância de quem quer que seja, mas, ao que parece, esse conto de fadas deveria, no mínimo, receber uma nova classificação etária, pois, em apenas três páginas, deparamos com nada menos que uma mandante de homicídio qualificado por motivo torpe. Mas não há motivos para tanta aflição, afinal de contas, gerações foram educadas ouvindo ou lendo esse conto e, mesmo assim, parece que muitos de nós ainda não havíamos nos dados conta do quão vil é a estória. Esperemos, portanto, que as novas gerações tenham o mesmo grau inocência que nos livrou de ter notado isso em tão tenra idade. Mas talvez tenha sido devido ao fato de a ordem para matar a Branca de Neve não ter sido, afinal, executada, de modo que nossa bela personagem que dá nome ao conto de fadas não foi morta. Ainda bem. Mas na esteira do tom lúdico proporcionado pelo conto, façamos agora a transição do ensinamento moral encerrado na obra literária, para a realidade cotidiana.

Como dito, os fragmentos extraídos do conto citado, apesar de destinado ao público infantil, encerram duas verdades essenciais a este trabalho e bastante preocupantes: o peso que a aparência física tem nas vidas das pessoas – em maior grau para alguns que para outros – e o que pode ser despertado nos outros por esse aspecto, que, no caso do conto, tratou-se de inveja, ensejadora, inclusive, do desejo de ver outra pessoa – no caso, personagem – morta. Todavia, tudo indica que situações similares não se limitam aos contos de fada ou à ficção, pois os noticiários, infelizmente, estão recheados de casos nos quais os estopins de algumas tragédias familiares ou em ambientes escolares terem sido a chacota ou o bullying, por vezes relacionado a aspectos físicos, como segue:

Evidências indicam que, aliado a outros fatores, a vingança por bullying foi um dos motivos que levou Guilherme Taucci Monteiro, 17, e Luís Henrique de Castro, 25, a entrar na Escola Raul Brasil, em Suzano, SP, na manhã de quarta-feira 13, e atirar contra alunos e colaboradores da instituição. Ao menos oito pessoas morreram, 11 ficaram feridas e os dois jovens tiraram a própria vida após a ação. Mãe de Guilherme, Tatiana Taucci, 35, disse ao jornal Folha de S. Paulo que o filho deixou de ir à escola após sofrer provocações por conta das muitas espinhas no rosto (BARONE, 2019).

Para a nossa sorte, ainda bem que a minoria dos casos de abusos psicológicos relacionados a aspectos físicos não terminam em tragédias como a citada, o que não quer dizer que não inflijam sofrimentos severos àquelas pessoas que se veem alvos desta prática, como podemos inferir do trecho a seguir:

Rebeca Cavalcanti, de 24 anos, não tem boas recordações do primário. “Foi um período muito complexo para mim, e o tipo de bullying que eu sofri foi por causa das minhas características físicas. Hoje em dia em tenho um sério problema por causa da minha aparência”, lembra a estudante. Assim como Rebeca, dezenas de crianças e adolescentes são alvos de piadas e boatos maldosos, além de serem excluídos pelos colegas. (CALDAS, 2017).

Nas épocas das publicações de ambas as matérias jornalísticas, de cujos fragmentos acima foram retirados, já estava em vigor, há alguns anos, a Lei nº 13.185, de 6 de novembro de 2015, que instituiu o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying), que objetivava definir a prática e estabelecer medidas pedagógicas que a desencorajasse, sobretudo, no ambiente escolar, o que revela o quão difícil é identificar e prevenir ocorrências de eventos do tipo, especialmente quando ocorrem no território, aparentemente, sem leis das redes sociais e da internet de modo geral. Em 2024, com o aumento de ocorrências graves envolvendo a prática do bullying, entrou em vigor a Lei nº 14.811, de 12 de janeiro de 2024, que passou a criminalizar a prática.

Nesta esteira de raciocínio, talvez convenha trazer à baila do debate outra valiosa lição vinda de uma grande escritora e romancista, que bem pode nos servir como alerta para, quem sabe, refletirmos melhor nossas relações – e reações – com o próximo:

A história dos vilões é infinitamente mais fascinante que a dos heróis, porque os monstros não nascem, eles são forjados. Não emergem do vazio ou da escuridão por acaso, mas são esculpidos pelas cicatrizes do mundo. Cada vilão carrega em si o reflexo da dor mais profunda: rejeição, solidão, incompreensão. Um herói se destaca por seus feitos de bravura, mas um vilão é o resultado de um coração que um dia foi puro, e que, lentamente, foi devorado pela corrupção. Os monstros, em sua trágica existência, nos revelam uma verdade perturbadora: todos nós podemos nos perder, se o mundo nos abandonar (AGUIAR, 2024).

A sombria sentença acima é atribuída à escritora britânica Mary Shelley (1797 – 1851), autora do clássico romance Frankenstein. Do texto podemos extrair um alerta que não convém que seja ignorado: se em meados do século XIV, Shelley teve a sensibilidade e condições de perceber que nossas atitudes, de uns para com os outros, encerram o potencial de trazer à tona o pior que pode existir em cada um de nós, atualmente, na era da internet e das redes sociais, que se tonaram caixas de ressonância para tudo, inclusive ofensas, chacotas e, mais recentemente, para o dito cancelamento digital, nossa capacidade de produzir vilões parece ter sido exponencialmente ampliada.

Assuntos relacionados
Sobre os autores
Roanderson Rodrigues Coró

http://lattes.cnpq.br/6846173311525008 https://orcid.org/0009-0008-4976-6265

Lucas Rafael Cicone Coró

Cursando Letras - Português e Inglês- 8º Semestre - Unesp Faculdade de Ciências e Letras - Assis (Março de 2022 - Dezembro de 2025); Francês básico - Unesp Faculdade de Ciências e Letras - Assis (2022); Estágio - PIBID UNESP - Elaboração de aula de Língua Portuguesa para turma intermediária, preparação e aplicação de atividades escritas, responsável por relatórios de análise (Outubro de 2022 - maio de 2024).

Giovanna Cinthia Cicone Coró

Graduada em Enfermagem e Pós-Graduada em Auditoria Hospitalar pelas Faculdades Metropolitanas Unidas - FMU; Pós-Graduada em Saúde Estética Avançada pelo Centro de Treinamento Acadêmico - CTA; Pós-Graduada em Nutrição Aplicada à Estética pela Faculdade Venda Nova do Imigrante - FAVENI; Tem interesse em filosofia geral e possui o Curso de Extensão Filosofia: Principais Pensadores e Fundamentos pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS.

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

CORÓ, Roanderson Rodrigues ; CORÓ, Lucas Rafael Cicone et al. Bullying, crime e depressão: as faces ocultas da busca pela perfeição. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 30, n. 7990, 17 mai. 2025. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/113981. Acesso em: 5 dez. 2025.

Leia seus artigos favoritos sem distrações, em qualquer lugar e como quiser

Assine o JusPlus e tenha recursos exclusivos

  • Baixe arquivos PDF: imprima ou leia depois
  • Navegue sem anúncios: concentre-se mais
  • Esteja na frente: descubra novas ferramentas
Economize 17%
Logo JusPlus
JusPlus
de R$
29,50
por

R$ 2,95

No primeiro mês

Cobrança mensal, cancele quando quiser
Assinar
Já é assinante? Faça login
Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!
Colabore
Publique seus artigos
Fique sempre informado! Seja o primeiro a receber nossas novidades exclusivas e recentes diretamente em sua caixa de entrada.
Publique seus artigos