A onda da migração nordestina para os grandes centros, especialmente para São Paulo, ocorrida entre as décadas de 50 e 80, foi interrompida, a partir dos anos 90 e 2000, com a instalação de novas empresas nos Estados do Nordeste. Com empregos na sua terra onde nasceu, o nordestino não precisou mais deixar sua família e ir para o Sudeste em busca de trabalho.
Ceará, Pernambuco, Bahia e Paraíba se tornaram polos calçadistas, com a instalação das maiores fábricas de calçados do Brasil, principalmente vindas do Rio Grande do Sul.
O motivo foi, além da abundância de mão de obra, a oferta de incentivos fiscais por estes Estados, ao atrair estas empresas calçadistas principalmente do Estado do Rio Grande do Sul. O mesmo ocorreu com indústrias automotivas instaladas no Nordeste nos últimos anos, onde podemos citar o polo de Camaçari na Bahia, a Fiat Chrysler FCA em Pernambuco, além da expansão de empresas de autopeças e montagem em Sergipe.
Estes Estados têm incentivado a vinda de indústrias, através de políticas fiscais, infraestrutura adequada e mão de obra qualificada, contribuindo para o desenvolvimento regional e geração de empregos. Com a cobrança do imposto sendo feita no destino onde os produtos serão consumidos e não onde produzidos, a reforma tributária irá reverter esta conquista de empregos e geração de renda no Nordeste. Essa alteração visa reduzir gradativamente a "guerra fiscal" entre os Estados, uma vez que os incentivos fiscais concedidos pelo ICMS perderão eficácia e serão eliminados ao longo do tempo.
Os efeitos da reforma, transcendem a área tributária, afetando a economia, os investimentos e as estratégias empresariais em diversos setores. Estados que historicamente usaram incentivos fiscais como meios para atrair empresas e fomentar o desenvolvimento regional precisarão repensar suas abordagens para permanecer competitivos. Aqui, além do Nordeste citamos, Goiás, Minas Gerais, Espírito Santo e Santa Catarina. Para as empresas, a nova abordagem tributária irá transformar a distribuição geográfica das atividades.
Com a extinção dos incentivos fiscais, algumas indústrias que dependem dessas isenções poderão fechar ou reduzir suas operações, agravando o desemprego em regiões que já enfrentam desafios socioeconômicos.
Com a cobrança no destino, é provável que as empresas se concentrem em Estados que possuem melhor infraestrutura e mercados consumidores maiores, potencialmente levando à descentralização da indústria das regiões menos desenvolvidas e aumentando o fluxo logístico para áreas mais desenvolvidas.
A experiência da migração nordestina ilustra que, sem políticas compensatórias adequadas, o deslocamento de investimentos pode exacerbar desigualdades e gerar novas ondas migratórias em busca de melhores condições econômicas