É inconcebível que, na alvorada de novo milênio da era vulgar, com descobertas científicas inimagináveis, ainda haja guerras religiosas, raciais e de opiniões e os homens de todos os credos, cor, origem e formação não se dêem as mãos e entrelacem suas almas e pensamentos, numa só vontade: paz e felicidade para toda a família humana, reconhecendo a sentença bíblica e a de todas as religiões de que Deus é eterno e será reconhecido Rei de todo o Universo e Um só será seu Nome e reinará para sempre. É inconcebível que se não respeite a liberdade de cada um ser o que é ou seguir seu próprio caminho.
A Constituição brasileira não permite distinção, de qualquer natureza, entre as pessoas, e garante não só aos brasileiros, mas também aos estrangeiros, residentes no País, a integridade física, ao inscrever categoricamente o direito à vida, à segurança, à igualdade e à liberdade. E obviamente ao estrangeiro, que se encontre momentaneamente em solo nacional, também é dispensada a mesma primazia. Nem outra poderá ser a interpretação do mencionado dispositivo, calcado nos princípios macros da sobrevivência humana, da liberdade e da dignidade.
Esse preceito fundamental encontra agasalho na Carta da ONU, fruto do trágico desenlace da Segunda Grande Guerra Mundial, que se esperava fosse a derradeira, entre os seres humanos, e que, no entanto, está-se fragilizando cada vez mais, pela insanidade que ainda domina os homens, aqui e acolá.
Neste novo mundo, de apenas quinhentos anos, ou no velho universo europeu e asiático ou africano, a verdade preambular e sonhadora da Carta Universal dos Homens de Boa Vontade ainda é uma quimera: preservar as gerações futuras do flagelo da guerra e praticar a tolerância e viver em paz.
Nem a Declaração dos Direitos Humanos serve de freio a essa loucura marginal, que varre novamente não só os países ditos de primeiro mundo, mas, absurdamente, também o Brasil, habitado por um povo nascido da miscigenação de tantos outros povos, de origem, religião e etnia diversas. Quem pretender impor a pureza racial neste País, não só comete o crime previsto na lei que pune a discriminação, como primacialmente atenta contra a natureza e a variedade de nosso povo.
Não é crível que o homem não tenha sorvido as lições do passado recente, que dizimou milhões de inocentes, imolados em nome da supremacia racial ou de um ideário que não resistiu sequer a um punhado de anos e foi pulverizado, não obstante se pretenda ressuscitar essa ideologia perversa. Ou em nome da religião, que se quer impor em nome de Deus, que, certamente, não comunga com a insensatez da hegemonia.
Para apenas fixar-se nestes últimos dias, basta citarem-se os acontecimentos trágicos da Espanha, da Irlanda e da Áustria, e aqui, no nosso nariz, o assassinato do pobre infeliz, em plena Praça da República, em São Paulo, pelo simples fato de sua opção sexual não se harmonizar com o da maioria, como diz a nota da imprensa. Ou ainda no Rio de Janeiro os malditos neonazistas lembrarem acontecimentos que já se pensavam sepultados, para sempre, no tempo e no espaço, ameaçando de seqüestro estudantes e crianças indefesas, rememorando a cantoria de um indigno senhor que, num almoço, no Rio de Janeiro, fazia apologia do nazismo.
É o bastante fazer parte de uma minoria de qualquer coisa, para ser objeto de discriminação ou vítima das maiores atrocidades!
Não pode o homem do ano 2000, que se aproxima do novo século, o século da cibernética e da espiritualidade, esmorecer e fazer vistas grossas, sob pena de novamente se ver dominado por monstros que emporcalharam a centúria dos anos que se foram, com pouca ou nenhuma saudade, sem embargo das coisas boas que também enriqueceram a humanidade.
A impunidade é a matriz e a geratriz de novos e insensatos acontecimentos e o desmoronamento do que ainda resta de bom na alma humana.
É preciso que a sociedade e os governos de todos os países se unam, imediatamente, e tomem uma só providência, para evitar que mal maior ocorra e vicejem idéias que transformem este novo século em um mar de lama e campos de batalha, jorrando o sangue de inocentes, cujo único crime é não partilhar do ideário nazista ou de qualquer pensamento esdrúxulo. Não pode e não deve submeter-se a essa besta, que causou sofrimento a milhões de pessoas.
Não há que falar-se em liberdade para os que sequer respeitam a liberdade dos que com eles não se afinam. A punição exemplar desses criminosos é a única maneira de extirpar o mal pela raiz, antes que seja tarde demais.